
A situa��o est� longe de ser isolada na capital mineira. Empreendedores de variados ramos aliment�cios – bares, restaurantes e padarias –relatam experi�ncias semelhantes, frequentes desde a chegada da pandemia.
Como era de se esperar, a escassez dos produtos acompanha forte alta nos pre�os. Itens como marmitex e talheres de pl�stico acumulam reajustes superiores a 150% ao longo dos �ltimos onze meses, fator que tem contribu�do para reduzir o j� combalido or�amento tanto do com�rcio de alimentos, quanto do consumidor final.
Atribu�do ao crescimento da demanda pelo delivery durante o per�odo pand�mico e � escassez de mat�ria-prima na ind�stria, o fen�meno parece beneficiar ao menos um setor: o de embalagens. Algumas empresas da Grande BH comemoram aumento m�dio de tr�s vezes nas vendas.
Atribu�do ao crescimento da demanda pelo delivery durante o per�odo pand�mico e � escassez de mat�ria-prima na ind�stria, o fen�meno parece beneficiar ao menos um setor: o de embalagens. Algumas empresas da Grande BH comemoram aumento m�dio de tr�s vezes nas vendas.
Preju�zo
“Quando o cliente vem � loja, eu ainda posso sugerir que ele fa�a a refei��o na hora. O pior � n�o ter material para atender pedidos de delivery feitos pelos aplicativos”, queixa-se o comerciante Luiz Fernando de Oliveira, que administra duas lanchonetes em BH – uma na Savassi e outra no Centro.
O consumo mensal de embalagens em apenas um dos estabelecimentos � estimado em 15 mil unidades. “Isso s�o s� os itens de papel, como caixas de salgadinho e hamburger. Pl�stico n�o entra nessa conta”, ressalta o empres�rio.
O consumo mensal de embalagens em apenas um dos estabelecimentos � estimado em 15 mil unidades. “Isso s�o s� os itens de papel, como caixas de salgadinho e hamburger. Pl�stico n�o entra nessa conta”, ressalta o empres�rio.
A solu��o encontrada por Oliveira para evitar novos preju�zos foi triplicar as encomendas junto �s distribuidoras. O �ltimo pedido feito, diz ele, foi de quase 100 mil unidades, suficientes para suprir seis meses de atividades. O alto volume n�o rendeu os descontos de praxe. “Comprei muito e paguei caro. Cerca de 30% a mais na compara��o com o per�odo anterior � pandemia”, afirma o empreendedor.
Custos e prazos
O chef Fl�vio Fantini, que comanda um restaurante no Bairro de Lourdes, na Regi�o Centro-Sul, n�o chegou a ter o neg�cio paralisado pelo desabastecimento de recipientes no mercado. Manter os estoques, contudo, demandou malabarismos log�sticos e financeiros. Ele relata que encontrar marmitex, o protagonista de suas entregas, virou miss�o imposs�vel. Sacolas e at� os selos para lacrar os vasilhames tamb�m andaram desaparecidos.“A gente aqui usava muito papel –marmitas de papel personalizadas e sacolas de craft. Os marmitex, n�s tivemos que diversificar, usar tamb�m os de isopor. Tamb�m passamos a comprar em S�o Paulo, por meio de pedidos enormes, j� que eles s� atendem em larga escala. Tudo obviamente bem mais caro, calculo que pelo menos 25%”, diz o propriet�rio.
“Quanto �s etiquetas de lacre, as gr�ficas t�m levado dois meses para entregar. Alegam falta de mat�ria-prima para imprimir”, complementa.
Veterano do ramo de self-service, Fabiano Campos teve que abolir os talheres de pl�stico do delivery. Ele diz que desistiu de correr atr�s dos utens�lios, que subiram mais de 100%. “O marmitex, eu tamb�m tive que adaptar. Aqueles com capacidade de 1,1 litros sumiram h� mais de quatro meses. Quando o cliente compra uma quantidade de comida maior, eu divido o conte�do em v�rias unidades”, relata.
Nas padarias, as boleiras de acr�lico � que se tornaram raridade, vendidas a peso de ouro. S�cio de duas tradicionais situadas na Regi�o Centro-Sul, Pedro Santiago de Moraes conta que virou “ref�m” dos fornecedores dos produtos.
"N�o estou podendo escolher de quem comprar, nem o modelo da embalagem. Assim que acho, tenho que fechar o neg�cio e pagar o pre�o pedido. Sen�o, fico sem. Os valores cobrados est�o exorbitantes. Neste m�s de janeiro, gastei o triplo do que gastaria antes da pandemia em embalagens", ressalta o empreendedor.
Aquecimento
A Associa��o Brasileira de Embalagens (Abre) diz que o atual cen�rio � pressionado sobretudo por dois fatores. O primeiro seria o aumento da demanda pelo delivery provocado pela pandemia, j� que bares e restaurantes permaneceram fechados por v�rios meses em todo o Brasil.
"Vamos lembrar que as pessoas tamb�m passaram a cozinhar mais em casa, o que demanda a compra de ingredientes em supermercados. Tudo isso requer embalagens. Some-se a isso o aquecimento do consumo de forma geral, influenciado por pol�ticas como o aux�lio emergencial, que ajudou a girar com mais for�a o mercado de alimentos”, explica Luciana Pellegrino, diretora-executiva da Abre.
"Vamos lembrar que as pessoas tamb�m passaram a cozinhar mais em casa, o que demanda a compra de ingredientes em supermercados. Tudo isso requer embalagens. Some-se a isso o aquecimento do consumo de forma geral, influenciado por pol�ticas como o aux�lio emergencial, que ajudou a girar com mais for�a o mercado de alimentos”, explica Luciana Pellegrino, diretora-executiva da Abre.

“Num primeiro momento, a ind�stria desacelerou a produ��o, com medo de tomar preju�zo. No in�cio da pandemia, era tudo muito incerto e obscuro. Ent�o, o que elas fizeram? Queimaram seus estoques e pararam de produzir. Da�, veio a acelera��o do consumo e as f�bricas ficaram sobrecarregadas, sem condi��o de atender as demandas com a celeridade necess�ria. Vai levar um tempo at� que elas consigam normalizar as entregas”, projeta Pellegrino. Ela acredita que a cadeia produtiva ser� regularizada a partir do segundo trimestre deste ano.
Analistas do setor industrial preveem um terceiro benef�cio nos pr�ximos tr�s meses. No caso, a recupera��o das ind�strias petroqu�micas, como a Braskem. A gigante brasileira, que � a maior fornecedora de termopl�sticos das am�ricas e dos Estados Unidos, amargou preju�zo de R$ 1,4 bilh�o no segundo trimestre de 2020, causado pela crise do coronav�rus, varia��es no pre�o do barril de petr�leo e desastres ambientais.
Lucro
Enquanto isso, distribuidoras de embalagens da Grande BH comemoram o bom momento das finan�as. Apesar de haver dificuldade em atender a clientela em fun��o da escassez de mat�rias-primas, diversas empresas registram recordes de faturamento. � o caso da Distripack, com filiais situadas em Belo Horizonte, Contagem e no Norte de Minas. O setor de compras do empreendimento chegou a registrar aumento m�dio de at� tr�s vezes na venda de produtos.
A Sellpack, com lojas espalhadas pela capital mineira, Grande BH, Esp�rito Santo e Rio de Janeiro, tamb�m est� com a agenda de pedidos lotada. “O lado ruim � que alta demanda faz com que a gente n�o consiga atender dentro do prazo de costume, mas isso � por causa das f�bricas. Para voc� ter uma ideia, os canudos, que s�o muito b�sicos, �s vezes demoram 40 dias para chegar. Antes, eram entregues em uma semana, 10 dias, no m�ximo. O cliente, com isso, acaba deixando de ser fiel a n�s. Mas girando, o mercado est�. Bastante”, analisa o gerente de compras Arley Monteiro de Souza.