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Estado de Minas NOVO PRESIDENTE

Troca de comando na Petrobras: Bolsonaro repete interfer�ncia de Dilma na estatal?

A��es da empresa despencaram com expectativa de que presidente vai segurar reajuste de pre�os dos combust�veis


23/02/2021 05:59 - atualizado 23/02/2021 08:18

Comando da empresa foi trocado pelo presidente Bolsonaro(foto: REUTERS/UESLEI MARCELINO)
Comando da empresa foi trocado pelo presidente Bolsonaro (foto: REUTERS/UESLEI MARCELINO)

As a��es da Petrobras derreteram depois que o presidente Jair Bolsonaro decidiu mudar o comando da empresa. Na noite de sexta-feira (19/02), Bolsonaro anunciou o general da reserva Joaquim Silva e Luna para substituir o atual presidente da estatal, Roberto Castello Branco, economista liberal e nome de confian�a do ministro da Economia, Paulo Guedes.

As a��es preferenciais da estatal fecharam com queda de 21,5%, a R$ 21,45 nesta segunda-feira (22/02), ap�s j� terem recuado na sexta. Com isso, a perda de valor da empresa nos dois �ltimos preg�es da Bolsa de Valores chegou a R$ 102,5 bilh�es.

Por tr�s da troca est� a insatisfa��o do presidente da Rep�blica com os recentes reajustes no pre�o da gasolina e do diesel, algo que bate direto no bolso de muitos brasileiros, impactando a popularidade do governo. Com os novos reajustes na semana passada, o pre�o da gasolina vendida nas refinarias pela Petrobras j� subiu neste ano 34,78%, e o diesel, 27,72%.

A decis�o levou economistas e pol�ticos a comparar Bolsonaro � ex-presidente Dilma Rousseff, que durante seu governo impediu reajustes nos pre�os dos combust�veis, de olho no controle da infla��o, e causou perdas bilion�rias � Petrobras.

"A troca do presidente da Petrobras indica somente uma coisa: v�o controlar o pre�o dos combust�veis na canetada. Vimos esse filme recentemente com a Dilma. O final a gente lembra: quebradeira na estatal", criticou no Twitter o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP), um dos l�deres dos protestos pelo impeachment da petista em 2016.

E como aconteceu na era Dilma, essa tentativa de Bolsonaro de conter a alta dos combust�veis pode ter o efeito oposto daquele desejado pelo presidente. Ao inv�s de resultar em queda da infla��o, a medida pode levar a uma acelera��o dos pre�os, devido � desvaloriza��o do real frente ao d�lar, como resultado do aumento da incerteza.

Nesta segunda-feira, a expectativa do mercado para o IPCA (o �ndice de pre�os do IBGE) em 2021 subiu de 3,62%, na semana passada, para 3,82%. Com isso, o �ndice oficial de infla��o fecharia o ano acima do centro da meta, que � de 3,75% para este ano.

At� mesmo ex-integrantes do governo fizeram a cr�tica: "Nunca o governo Bolsonaro foi t�o parecido com o governo Dilma como hoje", postou tamb�m Paulo Uebel, ex-Secret�rio Especial de Desburocratiza��o do governo Bolsonaro.

Entenda melhor a seguir em tr�s pontos por que a pol�tica de combust�veis gera forte desgaste entre Pal�cio do Planalto e Petrobras h� v�rios governos e como as pol�ticas de combust�vel de Bolsonaro e Dilma se aproximam ou n�o.

1) Por que a interfer�ncia nos combust�veis gera tanta cr�tica?

O pre�o dos combust�veis tem impacto direto na infla��o, j� que boa parte do transporte de carga no Brasil � feito por rodovias. Ou seja, quando o diesel fica mais caro, por exemplo, o custo do frete tamb�m aumenta e isso � repassado para o consumidor final.

Al�m disso, o aumento do combust�vel tamb�m impacta o pre�o do transporte p�blico, como �nibus, e pesa no bolso dos brasileiros que usam carro ou moto para se locomover.

Por isso, o governo federal � pressionado por caminhoneiros e pela popula��o em geral a agir contra o aumento do pre�o dos combust�veis.

O problema � que os pre�os dos combust�veis vendidos pela Petrobras s�o impactados pela cota��o internacional do petr�leo e pela cota��o do d�lar, j� que a estatal exporta parte do �leo bruto que extrai no Brasil e importa combust�vel refinado. Quando a empresa n�o repassa as oscila��es da cota��o de petr�leo e da taxa de c�mbio para o pre�o dos combust�veis, ela acaba tendo preju�zo.

Quem defende que a estatal deve controlar os pre�os argumenta que a empresa � p�blica e deve estar a servi�o dos brasileiros. J� os que defendem uma pol�tica de pre�os livres ressaltam que a empresa tem capital aberto — ou seja, embora o Estado brasileiro seja o maior acionista, h� tamb�m investimento privado na estatal.

Al�m disso, esse grupo argumenta que deixar a estatal no preju�zo vai afetar a sustentabilidade da empresa no longo prazo, limitando sua capacidade de investimento, algo que seria negativo para todos os brasileiros.

Nesse contexto, interven��es na Petrobras tendem a influenciar a cota��o do d�lar ao aumentarem as incertezas sobre a economia (e a pol�tica econ�mica) do pa�s, numa esp�cie de efeito cascata, inclusive afetando os mais pobres.

E essa taxa de c�mbio influencia o pre�o de todas as commodities, incluindo os alimentos vendidos no Brasil. Pesa ainda sobre os custos da ind�stria, que acabam sendo repassados ao consumidor ou prejudicando a sa�de financeira das empresas.

A piora na percep��o de risco no pa�s tamb�m tende a travar os investimentos das companhias tende a travar os investimentos das companhias, levando a uma redu��o das expectativas de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) neste ano. E, com a piora do quadro inflacion�rio, o Banco Central pode ser levado a antecipar a alta da taxa b�sica de juros (Selic), o que afetaria tamb�m as perspectivas para o desempenho da atividade econ�mica em 2022.

2) Dilma tentou usar Petrobras para segurar infla��o no pa�s

O governo Dilma Rousseff foi marcado por infla��o alta — no seu primeiro mandato o IPCA, �ndice de pre�os do IBGE, teve m�dia anual de 6,17%, acima do centro da meta de infla��o do Banco Central, que era de 4,5%.

J� em 2015, �ltimo ano antes do seu impeachment, a infla��o bateu 10,67%.

Foi nesse contexto que seu governo intensificou o controle de pre�os da Petrobras, impedindo que as oscila��es do mercado internacional fossem repassadas ao mercado interno e pressionassem ainda mais a infla��o.

Segundo c�lculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), as perdas acumuladas pela Petrobras entre 2011 e 2014 (primeiro mandato de Dilma) por causa dessa pol�tica de pre�os superaram R$ 70 bilh�es.

Com o impeachment da petista, o novo presidente, Michel Temer, adotou uma pol�tica bastante diferente, permitindo repasses di�rios da oscila��o do mercado internacional para os pre�os dos combust�veis no mercado interno.

Isso contribuiu para que a estatal se recuperasse financeiramente, mas culminou em uma forte greve de caminhoneiros em maio de 2018, que afetou o desempenho da economia naquele ano. Al�m de protestar contra os aumentos, a categoria reclamava que os reajustes di�rios impediam a previsibilidade do custo do frete.

Para evitar novas paralisa��es, o governo estabeleceu temporariamente subs�dios no pre�o dos combust�veis para os caminhoneiros.

3) Como tem sido a pol�tica de pre�os no governo Bolsonaro?

O presidente foi eleito em 2018 com a promessa de uma gest�o bastante liberal na economia, em que o ministro Paulo Guedes teria grande autonomia para conduzir a pol�tica econ�mica.

Isso inclu�a manter a pr�tica do governo Temer de permitir que a Petrobras reajustasse os combust�veis sempre que necess�rio para manter a lucratividade da empresa.

No entanto, j� em abril de 2019, poucos meses ap�s Bolsonaro assumir o cargo, ele ligou para o presidente da estatal, Castello Branco, para vetar novo reajuste no pre�o do diesel. Isso fez os pap�is da empresa recuarem mais 8% em um dia, o que significou uma perda de R$ 32 bilh�es no valor de mercado da estatal.

Com a repercuss�o negativa, logo depois o pre�o do diesel foi reajustado, mas em percentual um pouco abaixo do anunciado pela empresa inicialmente. Para agradar os caminhoneiros, o governo na ocasi�o anunciou uma linha de cr�dito para a categoria e investimentos para melhorar rodovias.

Agora, a decis�o do governo de trocar o comando da estatal vem em um novo momento de alta acentuada no pre�o dos combust�veis.

Bolsonaro tem respondido �s cr�ticas � mudan�a na presid�ncia da Petrobras lembrando que ele tem a prerrogativa de indicar o comando da empresa, j� que a Uni�o � o maior acionista.

"Dia 20 de mar�o encerra o prazo da vig�ncia do atual presidente (da Petrobras). � direito meu reconduzi-lo ou n�o. Ele n�o ser� reconduzido. Qual o problema? � sinal de que alguns do mercado financeiro est�o muito felizes com a pol�tica que s� tem um vi�s na Petrobras, atender aos interesses pr�prios de alguns grupos do Brasil, nada mais al�m disso", disse o presidente a apoiadores nesta segunda-feira (22/02).

Ele tamb�m negou que esteja interferindo nos pre�os da estatal e disse que sua exig�ncia � por "transpar�ncia e previsibilidade" nos pre�os.

O especialista no setor de petr�leo, David Zylbersztajn, professor da PUC-Rio, considera que ainda � cedo para dizer que Bolsonaro "dilmou" no comando da estatal, j� que realmente n�o houve at� o momento uma represamento no repasse da varia��o internacional para os pre�os dom�sticos.

Ele ressalta, por�m, o efeito negativo das falas do presidente, que tem constantemente criticado os reajustes da estatal. Isso, afirma Zylbersztajn, gera uma expectativa no mercado de que haver� uma mudan�a na pol�tica de pre�os.

Segundo o professor da PUC-Rio, a forma como o presidente est� conduzindo a quest�o tamb�m deve impactar negativamente os investimentos em refino de petr�leo no Brasil.

Desde de o governo Temer, a Petrobras tem um plano de venda de refinarias, para focar seus investimentos em extra��o de petr�leo no pr�-sal. A gest�o Castello Branco tem dado andamento a esse processo, por considerar que as refinarias criadas nos governos PT foram um investimento ruim para a estatal.

A perspectiva de que a Petrobras possa voltar a subsidiar os pre�os, por�m, deixar� investidores preocupados com a concorr�ncia no mercado de combust�veis, diz Zylbersztajn.

"Quem vai entrar com dinheiro para comprar uma refinaria, que � um investimento alt�ssimo, n�o pode correr riscos de amanh� voc� mudar a pol�tica de pre�os", ressalta.


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