O setor era respons�vel por movimentar, anualmente, R$ 250 bilh�es em eventos corporativos e R$ 17 bilh�es em eventos sociais. Por�m, o cen�rio atual � de dificuldades financeiras na grande parte das empresas – o que gera preocupa��o tanto para quem atua no ramo quanto para aqueles que contratam esse tipo de servi�o.
Al�m disso, apenas 8% dos eventos est�o ocorrendo; 40% das empresas mudaram o modelo do neg�cio; 60% encerraram as atividades e 95% registraram queda brusca de faturamento. Contudo, muitos aderiram aos novos formatos que ganharam for�a, como eventos h�bridos, festas em casa e/ou online e “drive-in”.
Luciano Campos � um dos donos do Benvenuto Buffet e do Espa�o Villa Domenica, em Belo Horizonte e Nova Lima, respectivamente. Para ele, a falta de respaldo do governo foi um fator crucial que contribuiu para a crise no setor.
“Come�ou a complicar muito a situa��o para as empresas do ramo porque agora n�o tem mais o que fazer. �s vezes a empresa n�o tem nem caixa para continuar com as atividades. Tem mais de um ano que n�o entra nada no bolso”, conta Luciano.
A estrat�gia encontrada foi manter a sa�de financeira da empresa em dia e viver das economias. Segundo Campos, a maior dificuldade � na hora de pagar os alugu�is e os funcion�rios. “A gente vai se virando e reinventando”, disse.
As vendas ca�ram consideravelmente no �ltimo ano e os cancelamentos passaram a ser frequentes.
“A gente est� vendendo poucas festas. At� porque os clientes est�o com medo de fechar por causa da incerteza que o mercado de eventos est� hoje oferecendo”, diz.
“Mais do que nunca muitos come�aram a cancelar o evento. Os eventos que seriam para 200, 300 pessoas diminu�ram para 20, 30. S� nesse m�s de mar�o eu tinha um evento para 130 pessoas, que provavelmente n�o vai acontecer pelo fechamento da cidade”, complementa.
O empres�rio, que atende principalmente casamentos, relata que perdeu R$ 60 mil em uma semana, em decorr�ncia de cancelamentos. O preju�zo total de um ano, ele conta, � at� dif�cil de calcular. “Deixou de entrar muito dinheiro, muito dinheiro. N�o � pouco n�o. � muito”.
“Se os noivos e outros clientes n�o nos ajudarem a ficar vivos, vai ter muita empresa no ramo de evento que vai quebrar quando voltar o mercado. N�o vai ter dinheiro para fazer o evento”, enfatiza.
Demiss�es
Antes da pandemia, o mercado de eventos gerava 8 milh�es de postos de trabalho que, infelizmente, deram lugar a um n�mero expressivo de desempregados. Luciano conta que teve de demitir muitos funcion�rios.
“Infelizmente, tivemos que suspender os funcion�rios por um tempo e depois demitir alguns. Atualmente estou com seis, sete funcion�rios, mas antes da pandemia eu tinha quase 20. Eu tive que mandar todo mundo embora. N�o tive o que fazer”, explicou.
O n�mero � ainda maior em termos gerais. O presidente do Sindicato Intermunicipal das Empresas de Buf� de Minas Gerais (Sindbuf�-MG), Jo�o Teixeira, informou que mais de 5.000 pessoas foram demitidas somente em BH e Regi�o Metropolitana.
“Perdi o meu emprego, mas n�o desisti de tudo”
Acostumada h� mais de dez anos com a rotina intensa de eventos, especialmente nos finais de semana, a auxiliar de cozinha Ros�ngela Maria Tavares, 47, perdeu seu emprego em um buffet de Contagem, Regi�o Metropolitana de BH, logo depois que a pandemia come�ou.
“Me vi em uma situa��o de desespero porque era a minha �nica fonte de renda. Tenho dois filhos e n�o tenho marido para sustentar n�o. Sempre foi eu e Deus”, conta.
Naquele momento, a alternativa foi come�ar a trabalhar como aut�noma. Como sempre se deu bem na cozinha, resolveu fazer marmitas.
“Perdi o meu emprego, mas n�o desisti de tudo na vida. Resolvi come�ar a fazer marmitas, j� que sempre trabalhei na cozinha. No come�o o medo era maior, mas consegui levantar um pouco de dinheiro. Foi a salva��o em um momento onde tudo parecia ser o fim”, disse.
“Muita gente perdeu emprego, muita gente que trabalhava comigo perdeu o emprego. Essa �rea de eventos envolve muitas pessoas e com tudo parado � muito dif�cil manter a gente na empresa”, completa.
Ros�ngela agora trabalha em um supermercado – oportunidade que veio no momento certo. No entanto, tem o desejo de voltar a cozinhar.“Quero muito voltar. Quem sabe quando tudo melhorar eu consigo voltar para alguma outra empresa do ramo onde eu possa continuar naquilo que eu sempre fiz”.
N�o � hora do setor retornar
De acordo com Ricardo Dias, presidente da Associa��o Brasileira de Eventos (Abrafesta), que representa o setor em todo o Brasil, n�o � poss�vel os profissionais da �rea trabalharem com a capacidade de p�blico t�pica dos eventos, visto que a sa�de deve ser prioridade no atual momento.
“As a��es adotadas pelo governo n�o est�o surtindo efeito. Desse modo, h� a clandestinidade e o desrespeito aos profissionais que trabalham corretamente. Seguimos no cumprimento de nosso papel como associa��o. Entendo que o quanto antes conseguirmos controlar a contamina��o da popula��o, ser� poss�vel ao setor retomar as atividades, sempre respeitando as leis e os protocolos oficiais. � preciso reflex�o e entendimento neste momento tr�gico”, ressaltou.
Mas, na vis�o de Luciano Campos, o setor de eventos � essencial e merece uma aten��o maior por parte das autoridades.
“Com certeza � essencial. E n�o � porque � meu ganha p�o n�o, na verdade eu acho que � essencial para a quest�o de entretenimento mesmo da pessoa. � uma v�lvula de escape, pois a pessoa coloca o lado emocional nisso. A pessoa deixa �s vezes de comprar um carro melhor para fazer uma festa de casamento, por exemplo”, afirmou.
Disse ainda que o ramo foi deixado de lado. “N�o tenho d�vidas disso. A gente tem at� uma comiss�o e fizemos muito tentando mostrar que o aumento da transmiss�o (COVID-19) n�o se devia do setor de evento. Entrar em um �nibus � muito pior do que estar em um espa�o de festa aberto com todos os cuidados. Por que n�o tentar voltar? � uma hipocrisia. Todo mundo s� olha para o pr�prio umbigo”.
A Abrafesta tem realizado a��es junto ao poder p�blico, como a participa��o da cria��o dos protocolos de retomada, discuss�es nas prefeituras de v�rios munic�pios do pa�s, bem como di�logo entre estados e governo federal para uma poss�vel retomada gradual do setor.
“Seguimos orientando aos profissionais e empres�rios do setor sobre novos rumos, possibilidades e negocia��es; como lidar com cancelamentos ou adiamentos de eventos. Al�m disso, seguimos exercendo nosso papel associativo e cooperativo, abrindo novas regionais em estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Acre, Distrito Federal, Cear� e Mato Grosso, ajudando a reformular processos, apontar caminhos e solu��es para o setor em todo o territ�rio nacional”, aponta Ricardo Dias.
“Vivemos o ano mais dif�cil de nossas vidas”
Dono de um buffet de churrasco e de um restaurante, Gilberto Dias enfrentou muitos obst�culos e viu de perto o trabalho de 23 anos ser interrompido inesperadamente.
"Esse �ltimo ano n�o foi nada f�cil para o nosso setor. Todos os eventos cancelados, devolu��o de valores aos clientes que fizeram pagamentos antecipados, v�rios colaboradores sem o seu ganha p�o”, diz Gilberto.
“Nosso buffet havia acabado de adquirir um espa�o pr�prio para eventos e um restaurante, mas fomos pegos por um tsunami. Toda nossa luta di�ria de 23 anos de empresa foi arrastada para um abismo”, reiterou. A maneira encontrada por ele para evitar uma crise maior foi inaugurar o espa�o e o restaurante em plena pandemia.
Segundo ele, essa foi a �nica solu��o encontrada, mesmo com muitas opini�es contr�rias de que n�o daria certo por causa da pandemia.
Entretanto, algumas atitudes e decis�es n�o agradaram o empres�rio.”Fomos muito castigados pelas autoridades. Um abre e fecha dos com�rcios que parece n�o ter fim”.
“Vivemos o ano mais dif�cil de nossas vidas”, concluiu Gilberto Dias.