
A Petrobras anunciou nesta segunda-feira (05/04) um reajuste de 39% no pre�o do g�s natural vendido �s distribuidoras, com vig�ncia a partir de 1º de maio.
Num ano em que a estatal j� aumentou os pre�os da gasolina em 46,2%, do diesel em 41,6% e do g�s de botij�o em 17%, o reajuste de quase 40% de uma s� vez no g�s natural assustou os consumidores.
Mas muito do susto vem de uma confus�o comum: a de achar que g�s natural e g�s de botij�o s�o a mesma coisa. N�o s�o.
No Brasil, 91% das fam�lias usam g�s de botij�o para cozinhar, enquanto apenas 8% usam g�s encanado (como � chamado o g�s natural), segundo dados de 2019 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica).
O g�s natural � destinado principalmente para a ind�stria (43%), gera��o de energia el�trica (38%) e ve�culos movidos a g�s (9%), com as resid�ncias respondendo por apenas 2% do consumo desse combust�vel no pa�s, conforme dados de 2020 da Abeg�s popularmente (Associa��o Brasileira das Empresas Distribuidoras de G�s Canalizado).Mas isso n�o significa que o consumidor n�o tenha com o que se preocupar.
Segundo especialistas, embora o efeito do reajuste do g�s natural n�o seja t�o imediato para as fam�lias como o aumento da gasolina e do g�s de botij�o, esse impacto deve sim chegar aos consumidores finais, mas de forma indireta.
Isso porque o g�s natural representa um gasto expressivo para parte relevante da ind�stria, que deve repassar a alta de custos para o consumidor atrav�s dos produtos vendidos.
O consumidor tamb�m deve sentir a alta do g�s natural na conta de luz, j� que o custo para gera��o t�rmica deve subir, o que tende a ser repassado aos pre�os pelas distribuidoras de energia, por ocasi�o de seus reajustes anuais.
Entenda a seguir como o reajuste de 39% do g�s natural vai afetar o seu bolso.
1. Qual a diferen�a entre g�s natural e g�s de botij�o?
O g�s natural � aquele que chega �s resid�ncias encanado, vendido por distribuidoras como a Comg�s, em S�o Paulo, e a Gasmig, em Minas Gerais.
J� o g�s de botij�o tem o nome t�cnico de GLP (g�s liquefeito de petr�leo) e � vendido por distribuidoras como Ultragaz, Liquig�s, Supergasbras, Nacional G�s e Copagaz.
Segundo Adrianno Lorenzon, gerente de g�s natural da Abrace (Associa��o Brasileira dos Grandes Consumidores de Energia), a principal diferen�a entre os dois combust�veis � que o GLP � produzido a partir do refino de petr�leo, assim como a gasolina e o diesel, enquanto o g�s natural � extra�do diretamente de reservat�rios no subsolo.
"Do ponto de vista f�sico, o GLP tem mais mol�culas de carbono e o g�s natural tem menos. Na pr�tica, isso significa que o GLP pode ser pressurizado num botij�o e ele vira l�quido - voc� consegue transportar ele facilmente para as donas de casa", diz Lorenzon.
"J� o g�s natural s� tem uma mol�cula de carbono. Como ele � muito leve, n�o d� para fazer isso, por isso ele � sempre comercializado encanado", completa.

2. O que levou ao reajuste de 39% do g�s natural de uma vez?
Segundo a Petrobras, em comunicado divulgado nesta segunda-feira, s�o tr�s os fatores que levaram a esse reajuste impressionante: a alta recente do petr�leo, a taxa de c�mbio e o reajuste da parcela do pre�o referente ao transporte do g�s pelo IGP-M (�ndice Geral de Pre�os - Mercado), �ndice de infla��o que acumula alta de 31% em 12 meses at� mar�o.
Diferentemente da gasolina, diesel e g�s de botij�o, que s�o reajustados pela Petrobras sem uma periodicidade fixa, o g�s natural � reajustado pela empresa trimestralmente. Isso significa que a alta ou queda de custos fica represada durante tr�s meses, at� ser repassada pela estatal �s distribuidoras.
Entre janeiro e mar�o, o pre�o do petr�leo teve alta de 38%, segundo a estatal.
"O pre�o do barril do petr�leo reflete a volta do mundo � normalidade", explica Andr� Braz, coordenador de �ndices de pre�os no Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas).
"Grandes economias est�o fazendo investimentos tanto no combate � covid, como na recupera��o da atividade. Esses dois movimentos t�m ajudado v�rios pa�ses a voltarem � sua normalidade e, com isso, a demanda por derivados de petr�leo aumenta, puxando o pre�o do barril", afirma.
O economista lembra ainda do inverno rigoroso este ano no Texas, importante produtor de petr�leo dos Estados Unidos, que contribuiu para reduzir a oferta do �leo, levando os pre�os para cima.
J� o d�lar encerrou 2020 cotado a R$ 5,19 e chegou, na �ltima sexta-feira (02/03), a R$ 5,71, em uma valoriza��o de 9,9% em rela��o ao real.
"A nossa moeda oscila em fun��o da incerteza dom�stica que paira sobre dois pilares: o primeiro ligado ao aumento dos casos de covid e � falta de uma estrat�gia de vacina��o mais r�pida; e o outro � o aumento do d�ficit p�blico", diz Braz.
"J� v�nhamos com uma rela��o entre d�vida p�blica e PIB muito elevada e essa situa��o gera muita incerteza, o que provoca desvaloriza��o cambial, ao afastar investimentos estrangeiros do pa�s."
O IGP-M, �ndice de infla��o que tamb�m corrige os alugu�is, tem um peso muito grande das commodities na sua composi��o. Assim, a alta de 31% em 12 meses at� mar�o reflete esses mesmos dois movimentos apontados pelo economista da FGV: a alta das commodities devido � recupera��o econ�mica global e a desvaloriza��o do real causada pela incerteza dom�stica.
3. Como o reajuste de 39% do g�s natural deve afetar as fam�lias?

Segundo Andr� Braz, o reajuste anunciado pela Petrobras na segunda-feira (05/04) deve chegar ao consumidor de duas formas, uma direta e outra indireta.
O repasse direto deve afetar a parcela de consumidores que usam g�s encanado no Brasil. Esse repasse n�o � imediato e deve acontecer � medida que os reajustes anuais das distribuidoras estaduais forem autorizados pelas ag�ncias reguladoras.
O g�s encanado � mais consumido no Brasil por fam�lias de maior renda, que moram nas regi�es centrais onde h� oferta de g�s canalizado, e na regi�o Sudeste, que responde por 91% do g�s encanado residencial consumido em todo o pa�s, segundo a Abeg�s.
Por isso, o peso do g�s encanado no IPCA (�ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo) � muito menor (0,13%) do que o peso do g�s de botij�o (1,14%). Assim, um reajuste do g�s natural tem impacto menor do que um reajuste do GLP no �ndice oficial de infla��o.
J� o repasse indireto deve afetar todos os consumidores de bens industriais e de energia el�trica.
"Existe uma vasta produ��o industrial que utiliza o g�s como recurso energ�tico", diz o economista. "Setores que s�o muito dependentes do g�s acabam absorvendo esse aumento em seus custos de produ��o e repassando isso aos produtos."
4. Quais setores da ind�stria consomem mais g�s natural?
Segundo Lorenzon, da Abrace, entre os segmentos industriais que mais consomem g�s em seu processo produtivo est�o fertilizantes, siderurgia, vidro, papel e celulose, qu�mica, cer�mica, cimento e alum�nio.
"Se a empresa vai exportar e est� competindo globalmente, ela tem um espa�o muito pequeno para repassar esse aumento, porque n�o estamos vendo esse n�vel de reajuste no resto do mundo", diz o gerente de g�s natural. "A empresa acaba ficando espremida, o que ajuda a explicar o movimento de desindustrializa��o do Brasil."
"Para quem est� atuando no mercado interno, a� sim haver� um repasse de custos e isso vai acabar impactando na infla��o, atrav�s do a�o que vai entrar no autom�vel, do vidro que vai fabricar a garrafa e assim por diante. � assim que isso chega ao consumidor."

J� no setor el�trico, a alta do g�s natural deve afetar termoel�tricas movidas a esse combust�vel.
"Cada termoel�trica tem seus contratos de g�s natural. Esses contratos ser�o reajustados e � medida que as usinas receberem esse aumento v�o repassar isso para a energia gerada, que � vendida �s distribuidoras, que v�o repassar aos consumidores finais", explica Lorenzon.
"Novamente aqui, h� um efeito inflacion�rio indireto grande ao longo da cadeia."
5. O g�s natural poderia ser mais barato no Brasil?
Na avalia��o do representante da Abrace, um passo importante para a redu��o do pre�o do g�s natural no pa�s foi tomado com a aprova��o em mar�o do novo marco legal do setor pelo Congresso.
A expectativa � de que a mudan�a legal permita a competi��o no mercado de g�s natural, hoje praticamente monopolizado pela Petrobras.
"A lei deve ser sancionada pelo presidente essa semana, quando vencem os 15 dias para san��o presidencial", diz Lorenzon. "Vai faltar ent�o colocar a lei para funcionar, com toda a regulamenta��o necess�ria ap�s a san��o. Entendemos que, ao se cumprir todas as diretrizes previstas na lei, isso vai possibilitar a entrada de novos agentes no mercado, competindo com a Petrobras e a� as leis de mercado v�o come�ar a funcionar."
J� a Abeg�s (Associa��o Brasileira das Empresas Distribuidoras de G�s Canalizado) defende que uma forma de baixar o pre�o do g�s no pa�s seria aumentar o consumo de g�s nacional.
"Hoje s�o reinjetados, mensalmente, mais de 50 milh�es de metros c�bicos de g�s natural nacional, que em grande parte poderiam estar chegando ao mercado consumidor, contribuindo, com esse aumento de oferta, para a redu��o de pre�os", disse a entidade, em nota.
O Brasil reinjetou 13,3 bilh�es de metros c�bicos de g�s natural entre janeiro e agosto de 2020. O volume corresponde a 43% do g�s produzido no pa�s no per�odo. O g�s � reinjetado como parte do processo de produ��o de petr�leo, mas tamb�m devido � falta de infraestrutura para escoamento do combust�vel at� a costa.
"Os aumentos no pre�o do g�s natural n�o trazem benef�cios para as distribuidoras", afirma a Abeg�s. "Ao contr�rio, acabam tirando competitividade do g�s natural em rela��o �s outras fontes de energia como a gasolina, �leo combust�vel, GLP (g�s de botij�o) e eletricidade."
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