H� mais de um ano, o setor de bares e restaurantes foi obrigado a parar temporariamente com suas atividades, que at� ent�o eram respons�veis por movimentar boa parte da economia de Minas Gerais – conhecida como a terra dos botecos – e do Brasil. O vazio e o sil�ncio representam o atual cen�rio dos locais que viviam lotados de clientes e, agora, tentam se reerguer da crise financeira e dos impactos causados pela pandemia de COVID-19.
Antes da pandemia, o setor contava com 133 mil estabelecimentos e cerca de 800 mil postos de trabalho em Minas Gerais. Agora, 30 mil empresas decretaram fal�ncia e 250 mil trabalhadores perderam o emprego.
O avan�o do novo coronav�rus no estado e o decreto da onda roxa, a mais restritiva do programa Minas Consciente, que resultou em mais um fechamento do com�rcio, pode agravar ainda mais a situa��o.
O avan�o do novo coronav�rus no estado e o decreto da onda roxa, a mais restritiva do programa Minas Consciente, que resultou em mais um fechamento do com�rcio, pode agravar ainda mais a situa��o.
Em Belo Horizonte, dos 12 mil estabelecimentos, 3.500 fecharam as portas, e 30 mil das 72 mil pessoas que trabalhavam no setor est�o desempregadas.
No interior de Minas, a retomada desses empregos parece ocorrer em ritmo melhor do que na capital, em raz�o das restri��es mais r�gidas em BH, que vive incerteza maior em rela��o � retomada econ�mica.
No interior de Minas, a retomada desses empregos parece ocorrer em ritmo melhor do que na capital, em raz�o das restri��es mais r�gidas em BH, que vive incerteza maior em rela��o � retomada econ�mica.
O n�mero de fal�ncias e desempregos na Regi�o Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) se mostra expressivo, visto que a capital mineira tem influ�ncia sobre cidades vizinhas em diversos aspectos.
Ao todo, a RMBH tinha 22 mil bares e restaurantes em funcionamento, o que gerava cerca de 135 mil empregos. Com a chegada da pandemia, 7 mil estabelecimentos n�o suportaram a crise e encerraram as ativididades, o que levou � demiss�o de 50 mil profissionais da �rea.
Ao todo, a RMBH tinha 22 mil bares e restaurantes em funcionamento, o que gerava cerca de 135 mil empregos. Com a chegada da pandemia, 7 mil estabelecimentos n�o suportaram a crise e encerraram as ativididades, o que levou � demiss�o de 50 mil profissionais da �rea.
Segundo o presidente do Sindbares/BH, Paulo Pedrosa, o setor teme um aumento ainda maior de desemprego e fal�ncias. S� nos tr�s primeiros meses de 2021, 73% das empresas tiveram de dispensar pessoal.
“Uma situa��o extremamente delicada, uma crise jamais vista na hist�ria da categoria. S� em 2020, aproximadamente, contando gastronomia e hotelaria, tivemos 17 mil pessoas desempregadas e mais de 2 mil empresas encerraram as atividades, trocaram de ramo, deram baixa no CNPJ”, afirmou.
“Se a gente somar Belo Horizonte e as 34 cidades da Regi�o Metropolitana, atingimos 3.500 empresas fechadas e as demiss�es passam de 20 mil”, completa.
Preju�zo irrepar�vel
O abre e fecha do com�rcio, desde o in�cio da pandemia, fragilizou a situa��o financeira dos bares e restaurantes, que tentam se recuperar dos preju�zos.
De acordo com Matheus Daniel, presidente da Associa��o Brasileira de Bares e Restaurantes de Minas Gerais (Abrasel-MG), o rombo no ano passado foi enorme.
“O impacto que a gente sentiu no �ltimo ano, em termos financeiros, foi da ordem de R$ 2 bilh�es na perda de receita em Belo Horizonte. O que significa hoje pra gente, que est� fechado, cerca de R$ 15 milh�es por dia de preju�zo, podendo vender s� por delivery”, disse.
A queda no poder aquisitivo da popula��o e a alta no pre�o da mat�ria-prima dos produtos tamb�m teve reflexos no caixa.
“Por exemplo, uma carne de porco, que voc� pagava R$ 7,90 o quilo, hoje voc� paga R$ 17,90, mais que o dobro. A soma de seis aumentos de g�s, 17% de IGPM dos alugu�is, mais os aumentos dos insumos e a taxa de consumo... A conta n�o tem como fechar”, destaca Matheus Daniel.
“O preju�zo � irrepar�vel. O dinheiro que a gente perdeu n�o vai conseguir recuperar. Um dos nossos questionamentos com a prefeitura � a isen��o dos impostos de 2020 e 2021, de IPTU dos restaurantes e bares, de todas essas taxas. N�o justifica pagar por um servi�o que n�o foi prestado. Cito como exemplo a licen�a de cadeiras e toldos. As empresas pagam isso para a prefeitura por metro quadrado. Pagaram e n�o utilizaram. A gente precisa voltar a abrir seguindo os protocolos. A Abrasel � a favor dos protocolos”, defende.

Paulo Pedrosa afirma que “a quebradeira vai ser total e muito maior que o previsto”, caso o prefeito Alexandre Kalil n�o atenda aos anseios da categoria.
“Vamos ter uma inadimpl�ncia superior a 50% de todo o com�rcio, de bares, de restaurantes, de hot�is e lojistas. Como que paga os impostos sem dinheiro? Poucas empresas t�m uma reserva. O cen�rio est� grave, a coisa est� feia”, ressalta.
O presidente da Abrasel-MG diz que a falta de dinheiro em caixa impossibilitou o pagamento de sal�rios em fevereiro e mar�o deste ano. Segundo ele, 76% dos empres�rios enfrentam esse tipo de problema.
Pesquisa da Abrasel, realizada com 453 empres�rios do setor em Minas Gerais, entre 1º e 5 de abril, revelou que 90% deles est�o com dificuldades.
As d�vidas acumuladas em 2020 precisam ser pagas e o setor se v� em uma situa��o cr�tica, sem ter como honrar d�bitos passados e atuais.
As d�vidas acumuladas em 2020 precisam ser pagas e o setor se v� em uma situa��o cr�tica, sem ter como honrar d�bitos passados e atuais.
“Com o fechamento da maior parte do Brasil, a faixa dos estabelecimentos que faturavam acima de R$ 140 mil/m�s caiu de 19% em mar�o de 2020 para apenas 6% em mar�o deste ano. Isso mostra uma queda brutal no faturamento, atualmente sustentado apenas pelo delivery na maior parte do pa�s”, comenta Matheus Daniel.
Delivery � a sa�da
Luciene Zucherato � gerente do Vila Cintra Gastrobar, no Bairro Cidade Nova, Regi�o Nordeste de Belo Horizonte. Ela conta que no dia da inaugura��o, em mar�o do ano passado, ocorreu o primeiro fechamento do com�rcio por causa da COVID-19.
“Est� sendo muito penoso pra gente. Temos estoques, funcion�rios. No dia que a gente ia inaugurar, fechou. Ficamos quase seis meses parados. Pra conseguir recuperar o preju�zo vai demorar. Ainda mais que fizemos um investimento pra inaugura��o no ano passado”, diz a gerente.
A v�lvula de escape foi o delivery. “Apostamos no delivery. Depois dos seis meses parados, partimos para o delivery. Estamos batalhando nas entregas. Tem dia que est� bom, tem dia que est� ruim, depende muito. A gente vai ganhando a clientela, eles (clientes) gostam muito dos pratos, gra�as a Deus”.
A gerente relata sobre as demiss�es e as mudan�as nos quadros de hor�rios dos funcion�rios: "Fizemos um banco de horas para poder aliviar. Demos folga, dobramos quando reabriu. N�o pod�amos deix�-los na m�o tamb�m. Mas demitimos, tivemos que reduzir os funcion�rios. Estamos trabalhando com a escala m�nima".
Antes da pandemia, o Vila Cintra Gastrobar contava com 12 funcion�rios. Agora, s�o quatro na ativa. “A gente at� est� chamando mais freelancers. N�o temos mais gar�ons, porque n�o tem ningu�m para atender”.
“Em 30 anos eu nunca imaginei passar por uma situa��o dessa. Parece n�o ter sa�da”
A frase acima � de Geraldo Linhares Proen�a, de 65 anos. Ele � dono de um bar h� mais de 30 anos, no Bairro Serra Verde, na Regi�o de Venda Nova. O local, que � conhecido pelas por��es e caldos, tem tido dificuldades para manter as portas abertas.
“Sem dinheiro como que faz? � complicado porque a gente batalha a vida toda pra passar dificuldade tanto tempo depois. Eu s� n�o fechei o bar porque ainda tenho esperan�a de levant�-lo. Ele est� ca�do, mas vai levantar”, disse.
Geraldo ainda teve de se afastar do trabalho por fazer parte do grupo de risco. Foi o filho que “segurou as pontas”, mas os esfor�os n�o trazem efeitos positivos.
“Parei de ir frequentemente por causa da pandemia e a minha esposa e meus filhos tamb�m n�o deixavam. S� que foi complicando. Em 30 anos eu nunca imaginei passar por uma situa��o dessa. Parece n�o ter sa�da”, lamenta.
O n�mero de funcion�rios reduziu e o delivery � a �nica forma de o bar continuar vendendo. “Demitimos porque n�o tinha jeito de continuar pagando. Agora, temos um motoboy que faz as entregas. S� que depender apenas de delivery n�o d�. � pouco demais”.
Clamor por apoio
A Abrasel-MG tem implantado a��es para auxiliar as empresas que est�o no aperto.
“A gente procura a todo tempo dar as orienta��es pra trazer com clareza o que estamos fazendo. Estamos buscando parcerias de v�rios modelos, de v�rias empresas para poder oferecer desconto para os associados”, explica o presidente Matheus Daniel.
Recentemente, uma parceria da entidade com a Rappi, aplicativo de entregas, foi firmada. “A pessoa est� vendendo s� por delivery, a taxa est� alta, ent�o vamos correr atr�s de um benef�cio”, diz.
Matheus afirma que est� sendo estudado com o Estado e o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), a��es para linhas de cr�dito.
“Estamos conversando com o governo estadual e com o BDMG tamb�m para ter uma linha de cr�dito especial para o pequeno empres�rio e n�o s� para os donos de bares e restaurantes”, ressalta.
“Com o abre e fecha, muitos empres�rios n�o conseguiram trabalhar e a� ficaram negativados. A proposta que fiz para o Zema (Romeu, governador), para oferecer pelo BDMG, � a seguinte: quando voc� vai fazer um empr�stimo, eles sempre fazem uma avalia��o, tipo posso te emprestar R$ 100 mil. Se a pessoa deve R$ 10 mil, empresta os R$ 10 mil e ela vai quitar a d�vida e limpar o nome. Depois disso, empresta os outros R$ 90 mil. Assim, voc� realmente estar� ajudando um comerciante a se reeguer”, detalha Matheus.
J� o presidente nacional da Abrasel, Paulo Solmucci, diz que “est� h� mais de dois meses � espera de uma nova MP dos sal�rios, que permita a suspens�o de contratos ou a redu��o de jornada, com a contrapartida do benef�cio emergencial.
"Em janeiro, j� alertamos o governo federal de que a situa��o ficaria cr�tica. Sem isso, mesmo caminhando para a reabertura, muitos estabelecimentos n�o ir�o aguentar. As ajudas em alguns estados e munic�pios foram bem-vindas, mas insuficientes”, relata.
A demora na prorroga��o do prazo de car�ncia do Programa Nacional de Apoio �s Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), a principal linha de cr�dito para micro e pequenas empresas, piora ainda mais o cen�rio.
A prorroga��o por tr�s meses j� foi aprovada pelo governo federal, no entanto, os bancos t�m autonomia para aderir ou n�o � decis�o.
A prorroga��o por tr�s meses j� foi aprovada pelo governo federal, no entanto, os bancos t�m autonomia para aderir ou n�o � decis�o.
Uma das maiores cr�ticas dos empres�rios � que a Caixa Econ�mica Federal, institui��o financeira ligada ao governo e a que mais libera concess�es de empr�stimo pelo Pronampe(respons�vel por cerca de 41,5% do valor total emitido), ainda n�o efetuou as prorroga��es.
“O empres�rio se sente v�tima de uma enorme jib�ia: cada vez que tenta respirar, o aperto vem mais forte e o f�lego diminui. A onda de fechamentos em fevereiro e mar�o agravou demais uma situa��o j� muito dif�cil. Al�m da queda no faturamento, que dificulta o pagamento de compromissos, a car�ncia dos empr�stimos feitos em 2020 come�a a vencer, e os bancos n�o t�m piedade, ignoram at� mesmo a determina��o do governo em postergar por tr�s meses a cobran�a”, afirma Solmucci.
Dos estabelecimentos que solicitaram empr�stimo pelo Pronampe, 80% declaram n�o ter prorrogado o vencimento das parcelas – 55% deles alegam ter recebido a negativa do banco, por estarem fora dos requisitos do decreto de prorroga��o ou pelos pr�prios requisitos do banco, apesar da determina��o do governo federal.
“� muito urgente resolver a quest�o do cr�dito. Fomos impedidos de trabalhar, portanto, o m�nimo esperado � a prorroga��o da car�ncia e que se destravem novas linhas. Nosso levantamento aponta que 77% dos empres�rios pretendem contratar novo empr�stimo do Pronampe, caso o programa seja reaberto”, conclui Paulo Solmucci.
*Estagi�rio sob supervis�o da subeditora Kelen Cristina