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Estado de Minas PERMAN�NCIA NO GOVERNO EM XEQUE

Por que Paulo Guedes agora preocupa investidores estrangeiros

Credibilidade do ministro da Economia e vacina��o no Brasil s�o fatores fundamentais para recupera��o econ�mica, na avalia��o de investidores


21/05/2021 08:44 - atualizado 21/05/2021 09:27


Proximidade de Paulo Guedes com o presidente Bolsonaro ainda é um fator importante para investidores estrangeiros(foto: Reuters)
Proximidade de Paulo Guedes com o presidente Bolsonaro ainda � um fator importante para investidores estrangeiros (foto: Reuters)

Por anos, analistas de mercado e investidores estrangeiros insistiram em uma tese sobre a economia brasileira: a de que a aprova��o de reformas estruturais seria vital para que o pa�s entrasse em uma trajet�ria de crescimento semelhante a de outros emergentes, como �ndia e China.

A equipe do ministro da Economia, Paulo Guedes, vem correndo contra o tempo para aprovar ainda este ano algumas dessas reformas desejadas por investidores — antes que o calend�rio do Congresso fique praticamente paralisado por conta das elei��es de 2022.

No entanto, consultorias que trabalham diretamente com investidores estrangeiros disseram � BBC News Brasil que hoje a maior preocupa��o dos investidores estrangeiros n�o � com a aprova��o de reformas — mas sim com a credibilidade e perman�ncia do ministro Paulo Guedes no governo e com o andamento da pandemia de coronav�rus.

Na vis�o dos analistas, as duas reformas com maior expectativa de serem votadas neste ano — a tribut�ria e a administrativa — s�o vistas como importantes por investidores estrangeiros para melhorar as perspectivas de longo prazo do Brasil, mas nenhuma delas t�m impacto imediato no que eles enxergam como o grande desafio da economia: que � evitar que a trajet�ria da d�vida brasileira saia de controle.

O Brasil tem hoje uma rela��o d�vida/PIB pr�xima de 90% — um patamar considerado alto para alguns pa�ses emergentes.

A forma de reduzir o tamanho do endividamento � produzindo super�vits fiscais, ou seja, com a m�quina p�blica arrecadando mais dinheiro do que gasta. No entanto, o Brasil vem produzindo d�ficits fiscais, e a pandemia agravou ainda mais essa situa��o, j� que o governo se viu obrigado a gastar mais para compensar a redu��o brusca na atividade econ�mica.

Caso o endividamento sa�sse de controle, investidores estrangeiros passariam a duvidar da capacidade do Brasil de controlar sua infla��o (j� que, sem recursos suficientes de arrecada��o, seria necess�rio emitir mais moeda ou refinanciar os empr�stimos) e uma recupera��o econ�mica — com a volta de empregos e crescimento — estaria amea�ada.

Para investidores estrangeiros, mesmo que as duas reformas na pauta n�o passassem este ano no Congresso, a trajet�ria da d�vida nos pr�ximos anos n�o dependeria exclusivamente delas.

Eles est�o mais preocupados com o compromisso do governo de Jair Bolsonaro de n�o estourar o teto de gastos — ou seja, de aumentar desenfreadamente o gasto do or�amento, sem se preocupar se o Brasil tem capacidade ou n�o de suportar esses custos.

As duas maiores amea�as para a economia brasileira seriam uma eventual sa�da de Paulo Guedes, com entrada de um ministro da Economia mais "gastador", e uma piora da pandemia, que exigiria mais gastos, como o com aux�lio emergencial, visto como vital para os brasileiros nos momentos de agravamento da pandemia.

Paulo Guedes, de Messi a goleiro

A vis�o dos investidores estrangeiros contrasta fortemente com o otimismo que se registrava antes da pandemia — quando havia uma empolga��o geral com o discurso de Paulo Guedes, que prometia reformas profundas no gasto p�blico e uma agenda robusta de privatiza��es.

"O investidor estrangeiro, e o mercado em geral, achava que o Paulo Guedes seria o Messi: o n�mero dez da economia, que ia fazer gola�o de tudo que � jeito, de calcanhar, de bicicleta", diz Lucas de Arag�o, s�cio da Arko Advice, uma das principais empresas de an�lise pol�tica do Brasil.


Guedes deixou de ser
Guedes deixou de ser "Messi" e passou a ser visto como um "goleiro" por investidores, afirma Lucas de Arag�o (foto: Reuters)

"Mas hoje o investidor v� o Paulo como um goleiro, que vai evitar alguns desastres maiores. E ele at� j� evitou recentemente, como quando convenceu o presidente que tirar o Bolsa Fam�lia do teto de gastos n�o era uma boa ideia. Eles (os investidores) t�m medo que, com a sa�da do Paulo Guedes, entre algu�m no minist�rio que n�o tenha esse mesmo compromisso ou a mesma proximidade com o Bolsonaro."

A Arko Advice, sediada em Bras�lia, elabora relat�rios e mant�m conversas semanais com cerca de 150 bancos e fundos estrangeiros que t�m investimentos ou interesse no mercado brasileiro.

Os clientes da Arko incluem investidores estrangeiros dos mais diferentes n�veis: desde fundos que entram no mercado brasileiro atrav�s de aquisi��o de a��es de empresas nacionais na bolsa a multinacionais e outros grupos privados, que t�m interesse em abrir opera��es e filiais no Brasil ou adquirir empresas atrav�s de fus�es ou aquisi��es.

Segundo Arag�o, para o investidor estrangeiro, a principal fun��o do "goleiro Guedes" seria segurar o teto de gastos, contendo �mpetos que v�m de dentro do pr�prio governo para que se gaste mais.

Muitos entendem que o Brasil j� "furou" em parte o teto, pois precisou gastar mais com aux�lios emergenciais devido � pandemia — algo que muitos outros governos no mundo tamb�m tiveram de fazer, alguns em escala muito maior. No entanto, esses gastos s�o vistos como excepcionais e n�o-recorrentes.

"O maior temor dos investidores hoje, que � o que eu mais recebo de perguntas, � sobre um rompimento total do teto de gastos. Ele j� foi meio rompido, est� com uns furos. Mas eles t�m medo agora de esse teto virar um 'rooftop' (terra�o aberto) de gastos, onde n�o existe mais teto e se gasta � vontade."

Pandemia

A outra grande amea�a ao teto de gastos, segundo as consultorias, seria o agravamento da pandemia de coronav�rus, j� que o Brasil foi um dos pa�ses mais seriamente afetados pela covid-19.


Atraso na vacinação ou agravamento da pandemia são considerados grandes riscos para a economia brasileira(foto: Reuters)
Atraso na vacina��o ou agravamento da pandemia s�o considerados grandes riscos para a economia brasileira (foto: Reuters)

O grupo Eurasia tem escrit�rios em diversas partes do mundo e envia relat�rios semanais a investidores atribuindo notas de riscos associadas a cada pa�s.

Antes da pandemia, o Brasil era classificado pela Eurasia como "positivo" — tanto na trajet�ria de curto prazo como na de longo prazo. Mas hoje — depois da deteriora��o fiscal forte que aconteceu com a pandemia — o Brasil aparece como "neutro".

"A preocupa��o maior no curto prazo � sobre o que vai acontecer com o Brasil se a pandemia piorar. O maior risco � que se fa�a uma abertura muito prematura da economia, e com isso venha uma terceira onda da pandemia e uma nova rodada de discuss�es em Bras�lia sobre como estender o aux�lio emergencial", diz Christopher Garman, da Eurasia em Bras�lia.

Entre os poss�veis riscos, que teriam repercuss�es negativas na economia brasileiras, est�o o atraso na vacina��o, a reabertura precoce da economia e o surgimento de novas variantes. Qualquer um desses fatores poderia desencadear um aumento nos n�meros de casos, hospitaliza��es e mortes por covid — levando governo e Congresso a precisarem ampliar seus gastos de ajuda econ�mica.

E as reformas?

Lucas Arag�o, da Arko, afirma que nos �ltimos anos o Brasil foi um dos pa�ses que mais fizeram reformas na sua economia.

Ele cita reformas trabalhistas, fim do imposto sindical, lei das licita��es, saneamento, autonomia do Banco Central, lei do g�s, nova lei de governan�a das estatais, entre outras.

Para os investidores estrangeiros com quem ele conversa, as duas principais reformas na pauta do Congresso hoje — a trabalhista e a administrativa — s�o importantes para mostrar que o pa�s segue comprometido em melhorar o ambiente de neg�cios no pa�s.


Aprovação de reformas depende da relação entre o Congresso e o presidente. Na foto, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, juntos com Jair Bolsonaro(foto: Reuters)
Aprova��o de reformas depende da rela��o entre o Congresso e o presidente. Na foto, os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da C�mara, Arthur Lira, juntos com Jair Bolsonaro (foto: Reuters)

Christopher Garman, da Eurasia, ressalta que as duas reformas s�o importantes para mostrar aos investidores que o pa�s n�o perdeu seu rumo, no entanto, elas s�o menos urgentes do que a reforma da Previd�ncia, aprovada no primeiro ano do governo Bolsonaro.

Aquela era uma reforma com impacto direto no gasto fiscal brasileiro e na trajet�ria da d�vida do pa�s.

As reformas de agora ter�o apenas impactos de longo prazo. A reforma administrativa, por exemplo, s� afetar� novas contrata��es feitas pela m�quina p�blica — ela n�o vai mexer com sal�rios, carreiras e benef�cios de servidores atuais.

E mesmo que a reforma venha a ser aprovada neste ano, Garman acredita que ela demorar� a ser implementada, pois precisa ser regulada atrav�s de outras leis complementares, que precisar�o ser discutidas em min�cias no Congresso.

Tanto Arag�o quanto Garman tamb�m n�o acreditam em uma reforma tribut�ria ampla — mas apenas em mudan�as mais pontuais e modestas, como a unifica��o apenas de impostos federais em um s� tributo. Essa reforma tamb�m n�o mudaria profundamente o valor arrecadado e a situa��o fiscal do pa�s — mas serviria mais para racionalizar o confuso sistema tribut�rio do pa�s, uma tarefa que segundo eles � praticamente um consenso nacional.

Arag�o e Garman acreditam que ainda h� tempo para se aprovar ambas as reformas at� abril de 2022 — que seria o limite para o Congresso Nacional fazer grandes mudan�as, antes de parlamentares se engajarem totalmente nas elei��es.

No entanto Arag�o alerta que essa aprova��o n�o vir� sem dificuldades.

"O Congresso Nacional nos �ltimos anos est� muito mais independente e aut�nomo. Aquela base aliada do passado que digeria toda e qualquer pol�tica p�blica do governo n�o existe mais. Hoje � um caminho de imensa discuss�o", diz o analista da Arko.

Outro problema seria o tempo finito do Congresso Nacional para lidar com diferentes assuntos ao mesmo tempo ao longo de um ano. Com a agenda atualmente dominada por quest�es consideradas hoje mais urgentes pela popula��o, como os efeitos da pandemia e a CPI da Covid, quest�es como as reformas administrativa e tribut�ria podem acabar ficando relegadas a um segundo plano.

Elei��es 2022

Al�m das quest�es econ�micas existe tamb�m na cabe�a do investidor internacional a preocupa��o com o cen�rio pol�tico eleitoral e o que vai acontecer com a equipe econ�mica depois da elei��o de 2022.

Na an�lise que Garman passa a seus clientes, ele afirma que dificilmente um candidato de terceira via comprometido com reformas — visto por muitos investidores como ideal — tenha chances de ganhar a elei��o.

A Eurasia acredita que a maior probabilidade � de uma disputa entre Jair Bolsonaro e Luiz In�cio Lula da Silva.


Investidores estrangeiros perguntam bastante sobre o futuro de Lula, segundo consultorias(foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)
Investidores estrangeiros perguntam bastante sobre o futuro de Lula, segundo consultorias (foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

Arag�o afirma que investidores estrangeiros costumam ser menos passionais e mais pragm�ticos do que os nacionais na hora de analisar os candidatos e suas propostas.

"At� o momento, o que o investidor internacional me pergunta � muito direto ao ponto. Tipo: o Lula vai concorrer mesmo? Ele tem chances? Se ele concorrer, como ser� a campanha? E se ele ganhar, como ser� o Lula que entra na Presid�ncia? � um Lula mais centrista, como vimos no Lula 1 (primeiro mandato, entre 2002 e 2005), ou mais � esquerda?", diz ele.

"Recentemente o Lula afirmou que os Estados Unidos t�m uma rela��o d�vida/PIB de 120% e questionou por que o Brasil n�o poderia aumentar mais a sua d�vida. O investidor nacional olha aquilo e fica apavorado enquanto o estrangeiro para e pergunta: 'ele est� querendo dizer isso mesmo ou � mais bravata?'. Ele � mais s�brio."

"Mas n�o vejo nenhum desespero do investidor internacional em rela��o ao Brasil. Se eles perceberem que as coisas n�o v�o do jeito do que gostam, eles 'viram a m�o' ou saem por um tempo e voltam depois", diz Arag�o.

Virar a m�o � uma refer�ncia � forma como se pode investir no mercado acion�rio — de "comprado" em empresas nacionais (quando ele acredita em uma alta das a��es) a "vendido" (quando ele acredita que as a��es cair�o).

"Eles n�o precisam estar no Brasil, se n�o quiserem."

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