
Leia: Desmatamento avan�a no Cerrado e aumenta risco de apag�o el�trico no pa�s
A crise h�drica,que entrou no radar com falta de chuva nas regi�es respons�veis pelo abastecimento da energia hidr�ulica, j� est� doendo no bolso do brasileiro. Um ter�o da alta hist�rica de 0,83% no �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio, por exemplo, ocorreu devido aos reajustes da energia el�trica. E, para piorar, essa fatura subir� ainda mais com a sinaliza��o da Aneel.
Essa queda dos n�veis dos reservat�rios das usinas hidrel�tricas devido � estiagem j� era esperada por todos que atuam no setor desde 2014, mas, de acordo com especialistas, faltaram investimentos, seja em t�rmicas, seja em energias alternativas (solar, e�lica e biomassa) para evitar o cen�rio atual. Com isso, o pa�s corre o risco de reviver o ano de 2001, quando a popula��o e as empresas foram obrigadas a diminuir o consumo em 20% para evitar apag�es. Para a maioria dos analistas, neste ano, h� risco de racionamento, mas n�o de apag�es. O problema maior, no entanto, ser� em 2022.
De acordo com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, em 2001, o Brasil n�o tinha um sistema interligado de energia el�trica como hoje. “Nossa matriz el�trica, em 2001, era muito mais dependente de hidrel�tricas, cerca de 85%. Hoje, � diferente. A depend�ncia reduziu para cerca de 65% da gera��o hidr�ulica”, afirma o ministro. Ele conta que, para esclarecer a popula��o, o Minist�rio de Minas e Energia (MME) e a Empresa de Pesquisa Energ�tica (EPE) lan�aram a cartilha Escassez H�drica e o Fornecimento de Energia El�trica no Brasil, na qual compara a matriz el�trica e a evolu��o das linhas de transmiss�o no Brasil, “que duplicou de extens�o entre 2001 e 2020”.
Jerson Kelman, ex-diretor-geral da Aneel, alerta que o setor n�o est� preparado para a pior crise em 91 anos, mas tamb�m n�o aceita a compara��o com 2001. “No passado, n�o constru�ram usinas suficientes e chegamos com insuficiente �gua em estoque e poucas t�rmicas para fazer frente ao consumo m�dio. N�o � essa a situa��o, de hoje, gra�as, em grande parte, � entrada de novas gera��es: e�lica, solar e t�rmicas”, afirma. Para ele, ainda d� tempo de tomar medidas para evitar uma grave crise h�drica.
Mas a falta de energia em hor�rios de pico, segundo Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil, pode ter s�rios impactos, n�o somente no bolso do consumidor, mas no crescimento econ�mico. Sales avalia que eventuais altera��es na energia podem for�ar as empresas a mudar a rotina ou reduzir a capacidade de produ��o. “Qualquer mudan�a for�ada significa uma certa perda”, acrescenta.
N�veis hist�ricos
O n�vel dos reservat�rios no Brasil poder� atingir o pior da s�rie hist�rica, iniciada em 1931, em novembro, pelas informa��es do Operador Nacional do Sistema El�trico (ONS).
Atualmente, as represas das hidrel�tricas na regi�es Sudeste e Centro-Oeste — respons�veis por mais da metade da energia brasileira — est�o com cerca de 30% da capacidade, o pior patamar dos �ltimos 20 anos.
A falta de investimentos � a t�nica de qualquer lado que se consulte, seja entre os representantes das usinas t�rmicas, seja dos alinhados ao vento e ao sol. Roberto D’Araujo, diretor do Instituto Ilumina, explica que n�o houve mudan�as no sistema de produ��o e transmiss�o de energia desde a d�cada de 1990, e as t�rmicas t�m lucrado, prejudicando a natureza e o bolso do consumidor. “No governo de Fernando Henrique Cardoso, foi criado um plano priorit�rio para as t�rmicas. Quando elas s�o desligadas, v�o ao mercado livre e vendem, na verdade, a energia das h�dricas. O mercado brasileiro � diferente do da maioria do mundo. N�o h� liga��o direta entre oferta e demanda”, lamenta.
E esse privil�gio �s t�rmicas poluentes, segundo ele, tende a se perpetuar com a Medida Provis�ria que trata sobre a privatiza��o da Eletrobras, a MP 1031/2021. “Foi colocado um jabuti (emenda n�o relacionada ao tema principal da mat�ria) na proposta da privatiza��o que apoia essas usinas em detrimento de energias alternativas”, critica. Aprovada na semana passada no Senado Federal, a MP precisa ser votada at� amanh� (22), pela C�mara dos Deputados, caso contr�rio, perder� a validade. “E n�o adianta privatizar a Eletrobras pensando que os empres�rios v�o investir em hidrel�tricas. N�o v�o. O setor privado s� constr�i usinas quando tem o governo como s�cio”, afirma D’Araujo.
Larissa Rodrigues, gerente de Projetos e Produtos do Instituto Escolhas, concorda que, nos �ltimos anos, o pa�s deixou de investir em fontes de energia renov�veis. “Hoje, grande parte da energia el�trica do pa�s ainda vem de usinas hidrel�tricas, mais de 60% do total. Solar, e�lica e biomassa s�o pouco mais de 19%. Por isso, a gente fica preso nas hidrel�tricas e termel�tricas. Quando tem mais chuva, se aciona as hidrel�tricas e, menos chuvas, as termoel�tricas. E a conta do consumidor acaba subindo. Por isso, existem bandeiras tarif�rias. Quando ela chega � cor vermelha, estamos acionando mais as t�rmicas”, resume Larissa, que tamb�m critica a MP Eletrobras e os jabutis que devem onerar o consumidor, deixando a conta mais cara.
N�vel dos reservat�rios
Regi�o- Em %
Brasil40,70
Sudeste/Centro-Oeste30,40
Sul60,58
Nordeste60,95
Norte84,02
Como a sociedade pode contribuir?
» Voc� pode evitar o desperd�cio de �gua verificando poss�veis vazamentos em descargas ou tubula��es, fechando sempre bem as torneiras e tendo aten��o com banhos prolongados.
» Evite tamb�m o desperd�cio de energia el�trica, cuidando para que aparelhos eletr�nicos n�o fiquem ligados sem necessidade e mantendo as luzes apagadas durante o dia.
» Troque equipamentos que consomem mais energia, como o ar-condicionado, por produtos mais eficientes. Observar se t�m selo A do Procel tamb�m � uma �tima op��o.
Fontes: MME e EPE