
O primeiro reajuste de combust�veis da gest�o do general Joaquim Silva e Luna na Petrobras pegou os caminhoneiros de surpresa. H� menos de uma semana, membros do Conselho Nacional do Transporte Rodovi�rio de Cargas (CNTRC) se reuniram com o presidente da estatal e pediram para que o pre�o do diesel n�o subisse. “Deixamos claro, na reuni�o, que se o diesel subisse, ia afetar seriamente n�o s� os caminhoneiros, mas a sociedade em geral, que j� est� muito pressionada”, disse Pl�nio Nestor Dias, presidente do CNTRC.
A alta do diesel afeta toda a cadeia produtiva, que depende do frete rodovi�rio para distribui��o no pa�s. Dias afirmou que a greve dos caminhoneiros, marcada para o pr�ximo dia 25 de julho, continua de p� e ganha for�a com a alta. Segundo ele, o CNTRC enviar� uma carta � Petrobras, reafirmando a posi��o da categoria. “Vamos tra�ar nossa estrat�gia para ningu�m sair prejudicado, mas vai ter greve”, disse o representante dos caminhoneiros.
Os petroleiros tamb�m criticaram. Segundo o coordenador geral da Federa��o �nica dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, o aumento veio da press�o de importadores de combust�veis e de investidores do mercado financeiro. “� mais uma clara demonstra��o da equivocada pol�tica de pre�o de paridade de importa��o (PPI), adotada pelo governo Bolsonaro contra a popula��o brasileira e que penaliza, sobretudo, os mais pobres”, criticou o sindicalista.
Bacelar chama a aten��o sobre o impacto que os aumentos ter�o na infla��o em efeito cascata, que, junto com a eleva��o das tarifas de energia el�trica, achatam a renda do trabalhador. “� inadmiss�vel que, com este novo aumento no g�s de cozinha nas refinarias da Petrobras, a partir desta ter�a-feira, o sexto aumento somente neste ano, o g�s de cozinha j� acumule uma alta de 37,9%”, ressaltou Bacelar.
Ele destacou que nos �ltimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 8,06%. “Ou seja, em sete meses, o aumento do g�s de cozinha j� � quase cinco vezes a infla��o de um per�odo de um ano”, disse.
VALORES
VALORES
Os novos valores entram em vigor nesta ter�a-feira (6/7). Em comunicado, a estatal informou que o aumento dos pre�os acompanhou a eleva��o dos patamares internacionais. Assim, os valores m�dios de venda do litro da gasolina e do diesel ser�o reajustados em 6,3% e 3,7%, ou R$ 0,16 e R$ 0,10 o litro, respectivamente, para R$ 2,69 e R$ 2,81. Enquanto isso, o pre�o m�dio de venda do g�s de cozinha para as distribuidoras sofrer� reajuste de 5,9%, ou R$ 0,20 o quilo, para R$ 3,60 o quilo. Ou seja, um botij�o de 13 quilos passar� a custar R$ 46,68 para as revendas e acumula alta de 38% no ano.
Esse � o primeiro aumento nos pre�os da gasolina e do diesel na gest�o do general Joaquim Silva e Luna, que substituiu Roberto Castello Branco em abril. “Os pre�os praticados pela Petrobras seguem buscando o equil�brio com o mercado internacional e acompanham as varia��es do valor dos produtos e da taxa de c�mbio, para cima e para baixo”, informou a nota da estatal.
Em 18 de fevereiro, insatisfeito com a pol�tica de reajuste adotada por Castello Branco, o presidente Jair Bolsonaro reclamou em uma rede social. “Teve um aumento, no meu entender, e vou criticar, um aumento fora da curva da Petrobras. Dez por cento hoje na gasolina e 15% no diesel, � o quarto reajuste no ano. A bronca sempre vem para cima de mim, s� que a Petrobras tem autonomia”, disse. No dia seguinte, em 19 de fevereiro, Castello Branco foi demitido.
O reajuste anunciado ontem pela Petrobras teve repercuss�o imediata. Analistas que previam, no boletim Focus do Banco Central desta semana, o �ndice de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) a 6%, admitem que est�o revendo os n�meros. Espera-se uma nova estimativa para cima. Alguns n�o descartam o IPCA acima de 7% no fim do ano e de 9% no acumulado em 12 meses de julho ap�s acharem que o pico seria em junho, de 8%, nessa base de compara��o.
“A gasolina e o g�s de cozinha t�m um peso importante no or�amento dom�stico. Esses reajustes, junto com o aumento da energia, ter�o um impacto de mais 0,5 ponto percentual no IPCA de julho. Eu diria que este m�s os vil�es ser�o os itens energ�ticos, que v�o ditar a infla��o deste m�s e podem encerrar em alta at� o fim do ano”, avaliou o economista Andr� Braz, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas. O FGV Ibre elevou de 0,5% para 1% a estimativa de alta do IPCA deste m�s e pretende elevar de 7% para 7,4% a estimativa de alta do IPCA no fim do ano. “O recuo no pre�o da energia, que est� no patamar mais alto, a bandeira vermelha 2, vai depender do volume de chuvas a partir de outubro”, emendou.
Pre�o defasado
Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o reajuste da Petrobras deu uma m� sinaliza��o para o consumidor, que vai pagar mais caro pelos combust�veis, mas foi positivo para o mercado, porque afastou o risco de interven��o no momento em que h� muita tens�o no governo, com a popularidade em queda. “Havia uma grande d�vida se o presidente Jair Bolsonaro iria interferir na nova pol�tica de pre�os da Petrobras ap�s trocar o comando da estatal e impedir que os reajustes ocorressem no mesmo m�s em que houve forte alta nos pre�os da energia el�trica”, afirmou. “Foi um reajuste corajoso e que vai na dire��o de manter a autonomia da Petrobras na pol�tica de pre�os”, acrescentou Pires.
De acordo com o especialista em infraestrutura, o reajuste na gasolina anunciado reduziu parcialmente a defasagem do pre�o da gasolina no mercado interno em rela��o ao internacional, de 14% para 7%. E, no caso do diesel, ainda h� uma defasagem em torno de 3%. A recente valoriza��o do real frente ao d�lar, que chegou a ficar abaixo de R$ 5, nos �ltimos dias, evitou que esse reajuste fosse maior. “Mas � prov�vel que, como a tend�ncia l� fora � de que o pre�o do barril do petr�leo continue subindo, a Petrobras poder� fazer um novo reajuste em agosto para corrigir a defasagem”, explicou Pires. Ele reconheceu que a gasolina e a energia el�trica dever�o ser os grandes vil�es do IPCA deste ano.
O mercado pode respirar aliviado, mas o consumidor reclama. “Acho um absurdo aumentar os combust�veis em plena pandemia, quando a maioria brasileiros hoje precisam do seu ve�culo por estar na pandemia, evitar aglomera��o de transporte p�blico”, criticou o policial militar Danilo Ferreira, 37 anos. “� totalmente desproporcional � realidade atual que vivemos. O aumento no �leo diesel vai impactar de forma mais dr�stica os pre�os de produtos nos supermercados, como os alimentos”, acrescentou Ferreira, morador de Valpara�so.
O mec�nico Pedro Henrique Marques, 24 anos, engrossa o coro de protestos. “Acho muito errado o fato de ter tanto aumento na gasolina. Para muitas pessoas, o carro � um meio de trabalho, e, com isso, o aumento do combust�vel afeta diretamente a popula��o”, destacou o morador de Santa Maria.
O mec�nico Pedro Henrique Marques, 24 anos, engrossa o coro de protestos. “Acho muito errado o fato de ter tanto aumento na gasolina. Para muitas pessoas, o carro � um meio de trabalho, e, com isso, o aumento do combust�vel afeta diretamente a popula��o”, destacou o morador de Santa Maria.
* Estagi�ria sob a supervis�o de Carlos Alexandre de Souza