
Kelman presidiu a for�a-tarefa criada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para investigar as causas do racionamento de 2001. Parte dos problemas foi corrigida. Mas algumas distor��es continuam. Uma delas � a quest�o das garantias f�sicas das usinas hidrel�tricas, que, segundo ele, continuam superestimadas. Ou seja, geram menos do que dizem que podem produzir num momento de seca. Outra quest�o � a falta de g�s para atender �s t�rmicas. "Parece um d�j�-vu."
Vamos ter racionamento?
N�o afasto a possibilidade, mas acho que n�o vai ocorrer. O racionamento pode ser evitado com o gerenciamento da oferta e demanda, o que j� est� sendo feito. Segundo estudo da (consultoria) PSR, a probabilidade varia de 2% a 20%. Em outubro e novembro, teremos preocupa��o com pot�ncia. Isso que dizer que na hora da ponta, que � o m�ximo do consumo no Pa�s, ser� necess�rio usar reservas (geradores que n�o est�o produzindo). Se a reserva n�o for suficiente, pode haver apag�o involunt�rio. Apesar disso, o porcentual que n�o seria atendido seria baixo.
Antecipar o corte seletivo � uma op��o?
A melhor maneira de equilibrar oferta e demanda � mostrar que o produto est� escasso. O certo � deixar claro para todos que, para evitar o racionamento, um mal maior, que � ligar t�rmicas caras, tem de ser feito. Como estamos em situa��o complicada, todas est�o ligadas e quem vai pagar a conta � o consumidor. Estamos gastando parte dos recursos que a popula��o n�o tem para manter todos sem restri��o do uso de energia. � bom que o consumidor saiba que est� caro e precisa reduzir o consumo.
As medidas vieram tarde?
Penso que o melhor rem�dio e a melhor postura � transpar�ncia. N�o havia d�vida que 2020 foi um ano seco e 2021 tamb�m seria. A seca que n�s estamos vivendo nos �ltimos sete anos � muito parecida com a seca da d�cada de 50. De fato, n�o � novidade, n�o foi em julho que se descobriu que est�vamos numa seca terr�vel. Nesse caso, em qualquer lugar do mundo, d�-se ampla publicidade e pede a todos que economizem. Deveria ter mais comunica��o.
E agora?
Temos duas agendas em 2021. No curto prazo, � gerenciar a oferta e demanda para passarmos raspando sem racionamento. Os reservat�rios estar�o muito baixos, ningu�m vai dormir tranquilo at� novembro. � uma situa��o preocupante. Estamos correndo mais risco. Suponhamos que chova em novembro e dezembro, a� temos de fazer uma nova reforma do setor.
Passar raspando neste ano, significa que podemos ter novos problemas em 2022?
As chuvas de novembro a abril ser�o determinantes para o custo da energia. Mas tem muita gera��o nova entrando em 2022. Mesmo que a chuva venha normal nesse per�odo, estaremos em recupera��o. Para continuar numa situa��o aflitiva, a seca tem de continuar na mesma intensidade dos �ltimos anos.
Essa nova gera��o � e�lica e solar? Isso resolve o problema?
N�s s� conseguimos expandir a energia e�lica e a solar porque temos hidrel�trica e t�rmica. Vou falar uma coisa que pode parecer uma heresia, mas sou favor�vel � retomada das avalia��es sobre a possibilidade de constru��o de usinas hidrel�tricas, de prefer�ncia com reservat�rios. Desistimos de construir hidrel�tricas com reservat�rios mesmo sem examinar quais os casos favor�veis. Nem todo local onde se cogita construir uma hidrel�trica � invi�vel. Mas n�s desistimos de todas, a meu ver, cedo demais.
Vamos continuar sendo ref�ns da hidrologia?
Ligar as t�rmicas quando tem seca faz parte da nossa op��o de hidreletricidade. O Brasil � o Pa�s que mais produz energia de fontes renov�veis, sendo a principal a hidreletricidade. Isso cobra um pre�o. Quando h� uma seca o sistema hidrel�trico exige a opera��o das t�rmicas. Adotamos esse modelo h� d�cadas e est� correto. Agora o sistema n�o deve ser projetado para que, quando ocorrer uma seca, fique todo mundo nervoso. Quando n�o tem oferta de energia algo esta errado. Algo estava errado em 2001 e algo est� errado agora. Passados 20 anos, estamos sofrendo as consequ�ncias exatamente do que ainda n�o foi corrigido nesse tempo, como a garantia f�sica das usinas, que � quanto realmente as usinas podem gerar. Essa garantia f�sica estava superdimensionada em 2001. E ainda hoje tem muita usina com garantia maior do que fato tem. Quando olhamos a capacidade te�rica do sistema, as usinas deveriam atender a demanda que temos hoje. Mas, se est� superdimensionado, numa seca, elas n�o conseguem atender.
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.