Ap�s longos per�odos de fechamento, empresas estimam retorno de 40%
a 70% da clientela, que ainda teme riscos de contamina��o pelo coronav�rus
(foto: Marcos Vieira/EM/D.A Press
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No universo dos pequenos neg�cios, os sal�es de beleza e as cl�nicas de est�tica foram dois dos segmentos mais afetados pelos efeitos da pandemia de COVID-19 sobre a economia. Em Belo Horizonte, com o avan�o da vacina��o e a recente reabertura do com�rcio, as empresas veem o faturamento voltar a crescer, mas a recupera��o ainda � lenta. O retorno dos clientes tem sido gradativo, no ritmo da seguran�a aos poucos retomada de contratar os servi�os, o que leva os propriet�rios desses estabelecimentos a cortarem gastos e buscar medidas para reverter o preju�zo financeiro causado ap�s um ano e sete meses do surgimento da COVID-19 no Brasil.
Segundo pesquisa feita pela Associa��o Brasileira de Sal�es de Beleza (ABSB) com parceria do Servi�o Brasileiro de Apoio �s Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), 45% das empresas do setor ouvidas no pa�s venderam, em maio deste ano, 50% menos frente ao mesmo m�s em 2019, portanto, antes da crise sanit�ria. Para 21% deles, o per�odo foi ainda pior, tendo em vista queda de 80% da receita em id�ntica base de compara��o. Os dados foram levantados junto a 200 sal�es de beleza, entre 1º e 10 de julho.
Nesta oitava reportagem da s�rie que o Estado de Minas publica desde domingo mostrando como as empresas se recuperam ap�s a mais recente flexibiliza��o da quarentena em BH, os empreendedores da �rea de beleza revelam misto de determina��o e otimismo, a despeito das dificuldades. “O setor de beleza sofreu muito com essa pandemia. Esse � um setor que trabalha muito em fam�lia e tem muitos microempreendedores que s�o comissionados. Com isso, tivemos fam�lias inteiras que ficaram sem nenhuma renda, j� que tiveram que fechar seus estabelecimentos. A realidade � que n�s n�o conseguimos trabalhar em home office, ent�o passamos por um per�odo bem amargo”, diz o presidente do Sindicato dos Profissionais da Beleza de Minas Gerais (SindBeleza-MG), Jos� Laerce.
Ainda como impacto dessa redu��o repentina na receita, 60% dos sal�es pesquisados pela ASBS informaram que t�m pagamentos de algum imposto em atraso, outros 32% e 24%, com o aluguel e empr�stimos vencidos, respectivamente. Em Minas Gerais, o cen�rio de dificuldades financeiras � diferente. O presidente do SindBeleza-MG ressalta que o setor mineiro viu o lucro desaparecer nos momentos mais graves de avan�o da doen�a respirat�ria, enquanto as despesas se acumulavam.
“Tivemos fechamento de quase 30% de estabelecimentos e eles n�o conseguiram reabrir. Outros tamb�m migraram para trabalhar em casa, e isso trouxe um desequil�brio muito grande para os sal�es. Eles est�o pagando tamb�m as d�vidas acumuladas, a vida n�o parou, os impostos n�o pararam, as contas de luz e de �gua n�o pararam e os alugu�is tamb�m n�o. Al�m dos empr�stimos que alguns fizeram”, afirmou. Contudo, Jos� Laerce destaca que o setor tem grande participa��o na economia brasileira.
Despesa inesperada
Para quem estava acostumado ao dia a dia corrido e movimentado de um sal�o de beleza, a r�pida mudan�a de espa�o cheio para cadeiras vazias foi, no m�nimo, complicado de administrar. O propriet�rio do Spa�o Capital, Al�cio Omar, conta que por causa do fechamento do com�rcio de BH o ac�mulo de d�vidas come�ou a atingir seu estabelecimento, localizado na Regi�o Central da cidade. Os investimentos, antes recorrentes na sua empresa, tamb�m tiveram que ser adiados.
"N�o deixamos a peteca cair. Corremos atr�s de divulga��o e preparamos pacotes de servi�os"
Isaac Santos, empreendedor do ramo de beleza h� 16 anos
"Nenhuma empresa se planeja para um tempo t�o longo fechada. Voc� tem um fluxo de caixa para pouco tempo. Foi bem dif�cil, mas temos que tentar segurar para na frente ser otimista, conseguir compensar os preju�zos nos pr�ximos tr�s anos e voltar � normalidade”, afirma. Situa��o semelhante vive Isaac Santos, dono do sal�o que leva seu nome, situado na Regi�o Centro-Sul da capital.
No ramo h� 16 anos, o empreendedor diz que ao ver as poucas perspectivas de reabertura do com�rcio com o agravamento da COVID-19 na capital, buscou logo alternativas para garantir a sobreviv�ncia do estabelecimento. A empresa passou a oferecer vouchers promocionais com a presta��o de servi�os combinados. Pagando para ter mechas no cabelo, o cliente ganhava como b�nus corte e escova. A promo��o era v�lida para compra antecipada somente nos per�odos em que o sal�o estava fechado por causa da pandemia. Ap�s o pagamento, o consumidor acumulava o cr�dito para utilizar assim que a prefeitura liberasse o funcionamento do setor.
“Consegui pagar parte das contas. Gra�as a Deus, foi poss�vel segurar, negociar o aluguel e com os funcion�rios que est�o com a gente h� muito tempo. Vamos dando um jeito”, disse Isaac. Apesar dos desafios enfrentados, h� otimismo. O cen�rio de melhoria nos indicadores da COVID-19 em BH, e, principalmente, o avan�o gradual da vacina��o, estimulam grande parte da clientela a voltar aos sal�es de beleza.
"Retomamos quase 70% (dos clientes) do que era antes. Ent�o, para a gente j� � muito positivo"
Al�cio Omar, propriet�rio
Vacina��o
De acordo com informa��es da Prefeitura de BH, foram imunizados 82,5% do p�blico-alvo da campanha com a primeira dose e a dose �nica. Outros 50,1% completaram o esquema vacinal. Em quatros meses em funcionamento, desde a mais recente flexibiliza��o das atividades econ�micas na capital mineira, o Spa�o Capital recebe um n�mero de clientes cada vez mais pr�ximo da �poca pr�-pandemia.
“Pelo que n�s passamos, estamos bem demais. Em um ano e sete meses de pandemia, ficamos fechados quase oito meses, a situa��o foi muito feia nesse tempo. Mas, agora, j� retomamos quase 70% do que era antes. Ent�o, para a gente j� � muito positivo”, afirma Al�cio Omar. A expectativa do emprendedor � boa tamb�m devido � proximidade com eventos, em parte liberados pelo Executivo municipal, e as festas t�picas de fim de ano.
O movimento � crescente, da mesma forma, no sal�o de Isaac Santos. “A retomada depende de cada empresa. N�o deixamos a peteca cair. Corremos atr�s de divulga��o nas redes sociais e preparamos pacotes de servi�os para atrair os clientes. Acho que tem gente que espera as coisas ca�rem do c�u.”
Cliente confere preven��o
A inseguran�a dos clientes, fruto do medo de se contaminarem, ainda consiste em barreria para os sal�s de beleza e servi�os de est�tica. “Elas verificam tudo. Algumas pessoas s�o mais estressadas, outras mais tranquilas. Se houver algu�m com a m�scara mal colocada, elas v�o embora. Ent�o, estamos todo o tempo fiscalizando tudo e todos”, conta a gerente do sal�o de beleza Bia Cabeleireiros, Margot Rocha.
(foto: Leandro Couri/EM/D.A Press)
"Um dos poucos lugares que frequento � o sal�o de beleza, porque os cuidados est�o sendo tomados, com distanciamento, �lcool em gel e uso de m�scara'
Cl�udia Marcela Nascimento, defensora p�blica
A empresa estima o retorno de 40% da cientela que era atendida antes da pandemia de COVID-19. “Parte dessa clientela que ainda n�o veio � porque perdeu algu�m, tem muito receio ou viu a doen�a de perto. Mesmo a gente explicando que tem um espa�o reservado no segundo andar para atender separadamente, elas ainda ficam receosas. Acho que da mesma forma que demoramos a acreditar que realmente haveria uma pandemia, a passos lentos elas tamb�m est�o preocupadas se isso realmente v� se extinguir em algum momento”, afirma Margot.
Al�cio Omar verifica o mesmo comportamento atento dos cliente, que verificam o cumprimento das medidas sanit�rias determinadas pela prefeitura. “No primeiro momento, na primeira vez em que o cliente vem, a maioria chega receosa. Quer ver como est� a situa��o, se est� seguro, com distanciamento social e seguindo as regras. Depois, ao ver que estamos fazendo tudo ‘direitinho‘, ele retorna. Aqueles que vinham toda semana para fazer unha e cabelo est�o frequentando normalmente”, declarou o empreendedor.
De acordo com protocolo emitido pela PBH de funcionamento dos servi�os de cabeleireiros, manicure e pedicure, os clientes devem ser atendidos um por vez, somente com hora marcada, mantendo dist�ncia m�nima de 2 metros. Al�m disso, � proibido o atendimento de um cliente por mais de um profissional no estabelecimento e a perman�ncia de frequentadores fora do hor�rio do servi�o, por isso as salas de espera e recep��o devem permanecer desativadas pelos sal�es.
Cuidados
Da mesma forma que Al�cio, Margot Rocha destaca que esses e outros protocolos contra o coronav�rus definidos pela autoridades m�dicas de Belo Horizonte est�o sendo adotados cautelosamente no Bia Cabeleireiros, que fica localizado na Regi�o-Centro Sul. Para a gerente, esses cuidados s�o dever para com a seguran�a da clientela e funcion�rios.
“N�s temos um sal�o muito grande e espa�oso, seguimos todas as normas da Vigil�ncia Sanit�ria, fazemos tudo que � preciso para atender nossos clientes e tamb�m nos prevenir. O sentimento de confian�a ainda est� meio que na balan�a depois de tudo por que as pessoas j� passaram”, afirma.
Sob o olhar de quem � atendido nos sal�es de beleza, o zelo com a beleza deixou uma lacuna durante o per�odo mais duro de isolamento social, como observa a defensora p�blica Cl�udia Marcela Nascimento. Al�m da import�ncia dos servi�os de est�tica, o ambiente de acolhimento e aquelas conversas t�picas de serem travadas num sal�o de beleza fizeram falta no longo per�odo em que se afastar das pessoas foi necess�rio para a seguran�a coletiva.
“Um dos poucos lugares que frequento � o sal�o de beleza, porque realmente tomam todos os cuidados, com distanciamento, �lcool em gel, uso de m�scara. Eles tamb�m est�o deixando � disposi��o m�scaras para os clientes, ent�o me sinto segura. Senti muita falta desse ambiente”, afirma Cl�udia Nascimento.
*Estagi�ria sob supervis�o da subeditora Marta Vieira