
Declara��es do apresentador americano Anderson Cooper, �ncora da emissora CNN, a respeito de n�o deixar sua fortuna para seu filho voltaram a agitar o debate a respeito de heran�as milion�rias e meritocracia.
Cooper, cuja fortuna � estimada em cerca de US$ 200 milh�es (R$ 1 bilh�o na cota��o atual) e que recebe anualmente em torno de US$ 12 milh�es da CNN, declarou que n�o pretende deixar "um pote de ouro" para seu filho, que hoje tem um ano e meio de idade.
"N�o acredito em passar adiante grandes quantidades de dinheiro", disse Cooper em epis�dio que foi ao ar neste fim de semana no podcast Morning Meeting.
"N�o estou t�o interessado em dinheiro, mas n�o pretendo passar adiante algum tipo de pote de ouro para meu filho. Vou fazer o que meus pais me disseram: 'sua faculdade ser� paga, e em seguida voc� precisa seguir (por conta pr�pria)'."
Cooper � descendente, por parte de m�e, dos Vanderbilts, que foram em seu tempo uma rica dinastia americana e que come�ou a definhar antes de o apresentador nascer - e sobre a qual ele escreveu um livro.
O apresentador afirmou ao podcast que "cresceu vendo dinheiro ser perdido" pelos Vanderbilts e sempre evitou ser associado � fam�lia de sua m�e. Segundo ele, a fortuna do magnata Cornerlius Vanderbilt, erguida ainda no s�culo 19, "foi uma patologia que infectou as gera��es seguintes".
"(O dinheiro) n�o os levou a grandes atos de generosidade ou � cria��o de funda��es duradouras que ajudassem outras pessoas, mas sim ao anseio de entrar para a alta sociedade (de Nova York)."
A fala de Cooper se insere em um debate maior entre uma parcela de milion�rios e bilion�rios internacionais a respeito da destina��o de suas riquezas - e tamb�m em meio a cr�ticas sobre responsabilidade social e impostos sobre fortunas em um momento de grande desigualdade e concentra��o de renda em todo o mundo.
Al�m disso, traz � tona tamb�m a lembran�a de casos famosos de magnatas que ativamente evitaram deixar o dinheiro para seus herdeiros.
Andrew Carnegie
Quando vendeu sua Carnegie Steel Company, no in�cio dos anos 1900, o magnata do a�o escoc�s-americano Andrew Carnegie obteve uma soma que, � �poca, j� era gigantesca: US$ 480 milh�es. E fez dele o homem mais rico do mundo em seu tempo.

Esse dinheiro, por�m, n�o foi para seus herdeiros. Carnegie foi autor de um hoje centen�rio manifesto chamado O Evangelho da Riqueza, que tem esta como uma de suas frases mais famosas: "o homem que morre rico morre em desgra�a".
A fortuna de Carnegie foi usada em sua maioria para financiar a constru��o de bibliotecas, institutos educacionais, fundos e funda��es nos EUA e na Europa.
"� por esse motivo que o cl� Carnegie n�o aparece na lista da Forbes de fam�lias mais ricas dos EUA", aponta reportagem da pr�pria Forbes de 2014. Segundo esta, quando Andrew Carnegie morreu, em 1919, deixou para sua mulher alguns bens pessoais, como uma casa em Manhattan (Nova York) e uma resid�ncia de f�rias na Esc�cia - que acabaria sendo vendida por conta de seus altos custos de manuten��o.
Sua �nica filha, Margaret, herdou um pequeno fundo, "o suficiente para ela (e o restante da fam�lia) viverem confortavelmente, mas nunca tanto dinheiro quanto (receberam) os filhos de outros magnatas, que viviam em enorme luxo", disse � Forbes o bi�grafo de Carnegie, David Nasaw.
Chuck Feeney
A trajet�ria de Andrew Carnegie foi marcante para outro bilion�rio americano - este contempor�neo -, Charles "Chuck" Feeney.
Em 2020, o empres�rio, ent�o com 89 anos, j� havia doado para a��es de filantropia os US$ 8 bilh�es acumulados ao longo de sua carreira (ele foi cofundador, ainda nos anos 1960, da empresa de varejo em aeroportos Duty Free Shoppers, ou DFS).
Feeney defendeu em entrevistas que "com a riqueza vem a responsabilidade".
"As pessoas devem se definir ou sentir a responsabilidade de usar parte de seus recursos para melhorar a vida de seus pares, ou ent�o criar�o problemas insol�veis %u200B%u200Bpara as gera��es futuras."
Feeney leva uma vida frugal, sem casas ou carros de luxo, embora em 2012 tenha dito � Forbes que havia reservado cerca de US$ 2 milh�es para a aposentadoria dele e de sua mulher.

Sobre sua filosofia de doar uma quantidade bilion�ria para causas ainda em vida, ele declarou � revista: "vejo poucos motivos para adiar essa doa��o, quando tanto bem pode ser alcan�ado ao apoiar causas valiosas. Al�m disso, � muito mais divertido doar enquanto voc� est� vivo do que quando j� est� morto."
Kevin O'Leary
"Voc� amaldi�oa uma crian�a quando elimina todo o risco de suas vidas", disse � emissora americana CNBC, em setembro deste ano, o empres�rio canadense Kevin O'Leary.
"Muitos de n�s conhecemos crian�as ricas e mimadas que n�o se importam em buscar uma carreira e n�o t�m incentivo para tal porque sua vida foi totalmente desprovida de risco."
Por conta dessa filosofia, O'Leary - empreendedor que come�ou sua fortuna com softwares de inform�tica e se tornou celebridade televisiva em seu pa�s por aparecer em programas como Shark Thank (na vers�o brasileira, Negociando com Tubar�es) - contou � CNBC que, quando ganhou dinheiro com seu primeiro IPO (oferta inicial de a��es, na sigla em ingl�s), estabeleceu um fundo para todas as crian�as de sua fam�lia.
Esse fundo garante, at� mesmo depois da morte de O'Leary, que todas elas tenham suas despesas pagas desde seu nascimento at� sua universidade. "Depois disso, ningu�m recebe nada."
Yu Pengnian
Ainda em 2010, o empres�rio chin�s Yu Pengnian, que teve uma vida humilde mas tornou-se bilion�rio dos ramos imobili�rio e hoteleiro, anunciou que j� havia doado cerca de US$ 1,2 bilh�o a causas filantr�picas.
Quando Yu morreu, em 2015, aos 93 anos, n�o deixou nada para seus herdeiros: seu testamento, segundo a imprensa chinesa, previa que todo o dinheiro restante fosse destinado � filantropia.
"Se meus filhos s�o mais capazes do que eu, n�o � necess�rio que eu lhes deixe muito dinheiro. Se eles s�o incompetentes, muito dinheiro ser� prejudicial a eles", disse Yu ainda em 2009, segundo o jornal China Daily.
Ele afirmou que seus filhos concordavam com sua decis�o de doar sua fortuna.
Em seu testamento, ele tamb�m pediu que sua fam�lia mantivesse vivo seu legado de benfeitorias, que v�o desde cirurgias de catarata para pessoas necessitadas a bolsas de estudo em universidades chinesas.
Doar dinheiro em vida

Outros bilion�rios de diversos setores - desde mercado financeiro at� tecnologia e ind�stria do entretenimento - t�m ido a p�blico dizer que pretendem doar parte substancial de sua fortuna ainda em vida.
Nomes como Richard Branson, Warren Buffet, Michael Bloomberg e Bill e Melinda Gates participam do The Giving Pledge (compromisso de dar, em tradu��o livre), autodescrito como "um compromisso dos indiv�duos e fam�lias mais ricos do mundo em dedicar a maioria de sua fortuna a devolver (� sociedade)".
No Brasil, um caso recente de ades�o a esse pacto foi o de David V�lez (fundador do Nubank) e sua mulher, Mariel Reyes.
Em carta divulgada em agosto, o casal afirmou que vai doar seu dinheiro para projetos sociais na Am�rica Latina porque "qual o sentido de morrer com muitas posses materiais, quando um gesto pode radicalmente transformar a jornada de outra pessoa?"
Al�m disso, disseram, "depois de um certo ponto, riqueza adicional n�o traz felicidade ou utilidade adicionais. Mas a satisfa��o de criar uma vida de prop�sito, essa n�o tem fim. (...) Achamos que permitir que nossos filhos adquiram um senso de prop�sito, construindo seu pr�prio caminho e n�o andando sob o (caminho) de outros, vai ajudar a moldar sua autoconfian�a e um car�ter forte."
Isso, por�m, n�o isenta grandes bilion�rios de cr�ticas. Muitos questionam se o Giving Pledge tem de fato resultado em doa��es significativas e volumosas - em rela��o ao tamanho do patrim�nio de seus signat�rios - com a velocidade necess�ria para resolver problemas sociais urgentes.
Em 2014, veio � tona uma mensagem do milion�rio Robert Wilson dizendo que n�o pretendia aderir ao pacto porque "esses rica�os adoram jogar alguns milh�es (de d�lares) por ano de forma a se manterem socialmente aceit�veis. Mas para por a�".
Para outros cr�ticos, o compromisso de doar fortunas n�o dispensa a necessidade de se discutir elevar a taxa��o dos indiv�duos mais ricos da sociedade.
Em janeiro deste ano, relat�rio da organiza��o Oxfam apontou que a fortuna somada dos dez homens mais ricos do mundo havia crescido em US$ 540 bilh�es durante a pandemia de covid-19, causando aumento da desigualdade social "durante a maior crise econ�mica no per�odo de um s�culo".
A organiza��o instou governos a aumentar os impostos sobre fortunas.
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