
A alta do pre�o dos combust�veis foi um dos fatores de maior impacto para a vida de quem depende de um carro para trabalhar. Estima-se que uma em cada quatro pessoas que aluga um autom�vel para esse fim abandonou a atividade no Brasil. Atualmente, h� 170 mil ve�culos locados para essa categoria, mas o potencial, segundo a Abla, seria de 250 mil, caso o pre�o do litro ficasse em torno de R$ 4 ou R$ 5.
Valden�sio Ferreira de Lima, 65 anos, atua como motorista de aplicativo h� quase quatro anos. Ele conta que, no in�cio, as taxas e os repasses da empresa para os condutores compensavam as corridas. Agora, com altas constantes da gasolina e taxas menores por viagem, Valden�sio limitou as atividades. "S� fa�o corridas pelo Plano Piloto, e das 10h �s 16h. � porque preciso. Se houvesse alternativa para ter renda, eu teria parado", desabafa.
O motorista diz que evita negar corridas, mas reconhece que a conduta tem aumentado entre os trabalhadores das plataformas de transporte. "Eu n�o cancelo muito, mas vejo passageiros reclamarem que est� dif�cil conseguir as viagens. Isso acontece porque algumas s�o para muito perto, e n�o compensa o gasto da gasolina com o valor a ser recebido. Ou o motorista cancela porque � longe e vai gastar muito combust�vel", relata Valden�sio.
Preju�zos
Profissional de educa��o f�sica, Brunna Modesto, 32, tem um carro em casa, mas o ve�culo costuma ficar com a m�e dela. Por isso, o uso de aplicativos de corrida no dia a dia se tornou uma necessidade. Contudo, com os aumentos progressivos dos pre�os dos combust�veis, ela enfrenta dificuldades frequentes quando precisa de transporte. "Houve uma vez em que tive de voltar do N�cleo Bandeirante para �guas Claras, onde moro, e esperei uma hora. Tr�s motoristas cancelaram a viagem. Desisti e chamei minha m�e", conta.
No �ltimo fim de semana,
uma hist�ria inusitada marcou um dos dias mais esperados por Nath�lia Lira de Andrade
, 34. Ap�s ter a viagem cancelada 20 vezes por motoristas de aplicativo, ela precisou assumir a dire��o para conseguir chegar ao pr�prio casamento. Com maquiagem, vestido e sapato de noiva, ela dirigiu do Jardim Bot�nico at� a Asa Sul, a tempo da cerim�nia. "O casamento estava previsto para iniciar �s 17h. Quando deu o hor�rio, come�amos a saga do motorista", relata a advogada.
Nath�lia persistiu, mas n�o teve sucesso. Como s� a noiva sabia dirigir em Bras�lia - as duas madrinhas com quem ela estava eram do Recife -, pegou o carro e partiu para o altar. "A ju�za de paz estava reclamando por causa do atraso, e nada de um motorista nos atender. Eram 18h quando eu disse: 'Sinto muito, mas vamos no meu carro'. E fui, toda pronta, toda montada", brinca.
Desequil�brio
Procurada pela reportagem, a Uber informou que a demanda por motoristas cresceu nos �ltimos meses e, por isso, os usu�rios t�m esperado mais tempo por uma viagem. Com essa instabilidade tempor�ria no setor, podem ocorrer cancelamentos com mais frequ�ncia ou recusa de viagens pelos condutores. "A empresa tem implementado iniciativas adicionais que buscam promover o reequil�brio do mercado no curto e no longo prazo. Nos momentos de desequil�brio localizado, o mecanismo de pre�o din�mico entra em vigor automaticamente. Com o aumento dos combust�veis, a Uber tem intensificado esfor�os para ajudar motoristas a reduzir gastos, com parcerias que oferecem descontos", informou a plataforma.
Em nota, a 99 comunicou que n�o observa redu��o no n�mero de motoristas, mas aumento da demanda de passageiros. A empresa n�o registrou altos �ndices de cancelamentos porque permite que motoristas e passageiros rejeitem viagens antes de serem confirmadas. "Recentemente, como forma de manter o equil�brio da plataforma diante dos constantes reajustes dos combust�veis, que impactam negativamente o transporte por aplicativo, a 99 reajustou os ganhos dos motoristas parceiros entre 10% e 25%", resumiu a companhia.