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Estado de Minas 'O POSTO IPIRANGA'

Fim do ministro liberal? Economistas veem guinada 'eleitoral' de Paulo Guedes

Chamado de "Posto Ipiranga" por responder sobre o projeto econ�mico de Bolsonaro, ministro vem tendo dificuldades para implementar agenda que angariou apoio do mercado � �poca da elei��o e � alvo de cr�ticas por apoiar estouro do teto de gastos.


26/10/2021 06:56 - atualizado 26/10/2021 08:35


Guedes gesticulando em entrevista coletiva
Chamado de 'Posto Ipiranga' por responder sobre o projeto econ�mico de Bolsonaro, ministro Paulo Guedes se mostrou alinhado com as perspectivas eleitorais do presidente ao apoiar aumento do valor do Aux�lio Brasil (foto: Reuters)

Apresentado na campanha do ent�o candidato � Presid�ncia Jair Bolsonaro como o nome que garantiria pol�ticas e reformas pr�-mercado, Paulo Guedes declarou na semana passada que � a favor de estourar o limite de gastos do governo para alcan�ar um valor maior do Aux�lio Brasil, novo programa social que vai substituir o Bolsa Fam�lia.

O an�ncio do ministro, que contrariou expectativas de sa�da do cargo por discordar dos rumos econ�micos do Planalto, foi interpretado como o fim de seu compromisso com princ�pios de responsabilidade fiscal e de sinaliza��o de alinhamento com as perspectivas eleitorais do presidente.

"Depois de sexta-feira est� mais do que claro que o que interessa para o Guedes � a reelei��o do Bolsonaro. Se a economia vai sair machucada disso ou n�o, n�o me pareceu ter muita preocupa��o sobre isso", afirmou Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados.

Os t�cnicos do Minist�rio da Economia sugeriram que o Aux�lio Brasil ficasse em R$ 300. Guedes disse que atenderia o desejo do presidente de fixar o valor em R$ 400 e pediu "uma licen�a" para gastar R$ 30 bilh�es fora do teto de gastos. Com a PEC dos Precat�rios, que prev� uma mudan�a no c�lculo do reajuste do teto de gasto, o governo deve abrir um espa�o de ao menos R$ 83,6 bilh�es a mais para gastar em ano eleitoral.

- Leia:  Antes queridinho do mercado financeiro, agora Paulo Guedes perdeu voz
- Opini�o sem medo:  'A trajet�ria do fiasco de Paulo Guedes'

Guedes negou que seja um "fura-teto", sustentou que a proposta do benef�cio est� "muito longe de afetar a sustentabilidade fiscal" e declarou que, se Bolsonaro fosse populista, "teria pedido R$ 600, R$ 700" para o aux�lio.

O ministro tamb�m citou a necessidade de assist�ncia � popula��o. "N�s entendemos a pol�tica que diz o seguinte: 'Olha, o teto � um s�mbolo de austeridade, � um s�mbolo de compromisso com as gera��es futuras'. Mas n�s n�o vamos deixar milh�es de pessoas passarem fome para tirar 10 em pol�tica fiscal e tirar zero em assist�ncia aos mais fr�geis."

Em defesa de suas credenciais econ�micas, Guedes citou na entrevista coletiva o Pr�mio Nobel Milton Friedman, um dos maiores expoentes do neoliberalismo e que defendeu em 1962 uma esp�cie de renda b�sica, o "imposto de renda negativo".

"N�o existe essa ant�tese entre o liberal e o social. Quem inventou a renda m�nima foi Milton Friedman, quem trouxe para o Brasil foi o [ex-senador Eduardo] Suplicy e quem apoia a renda b�sica familiar � o presidente Bolsonaro."

Na vis�o de Vale, da MB Associados, "a popula��o est� passando fome, o governo precisa dar esses recursos. Mas do jeito que foi feito � um tiro no p� e vai causar um efeito negativo para a pr�pria popula��o: mais taxa de c�mbio, mais infla��o, mais juros e menos crescimento. Ent�o se dificulta a pr�pria vida dos mais pobres e mais ainda o resto da popula��o que n�o vai receber esses recursos".

A BBC News Brasil entrou em contato com o Minist�rio da Economia sobre as cr�ticas feitas a Paulo Guedes na condu��o do minist�rio, mas n�o obteve resposta.

Superministro


Bolsonaro e Guedes em entrevista coletiva na última sexta-feira (22/10)
Bolsonaro e Guedes em entrevista coletiva na �ltima sexta-feira (22/10) (foto: Reuters)

Paulo Guedes come�ou o governo Bolsonaro com o status de "superministro". Conseguiu o comando de uma nova e poderosa estrutura que reuniu pastas como Fazenda, Planejamento, Previd�ncia e Ind�stria com o objetivo de executar um programa que passaria por privatiza��es de grandes estatais e a realiza��o de um pacote de reformas para conter o crescimento da d�vida p�blica. Ainda na campanha, ele disse que seria poss�vel zerar o d�ficit fiscal j� no primeiro ano do governo.

No entanto, o ministro saiu derrotado em diversos epis�dios na gest�o Bolsonaro e teve colocada em d�vida a capacidade de cumprir o seu projeto inicial — e a do pa�s de reverter o d�ficit nas contas p�blicas.

"A quest�o fiscal j� estava sendo descontru�da ao longo de muito tempo. O que aconteceu nos �ltimos dias foi o ponto culminante de toda uma condu��o muito err�tica e mal feita ao longo desses quase tr�s anos", disse Vale.

"As inten��es l� atr�s j� mostravam um candidato a ministro que n�o tinha muita no��o de onde estava indo. Havia, talvez, uma confian�a excessiva no potencial do governo Bolsonaro para reformas. Aquelas ideias de vender R$ 1 trilh�o em privatiza��es eram parte de um plano mirabolante que n�o fazia sentido econ�mico. Ficou mais do que provado que era um plano de voo muito limitado e falsamente liberal, com pouqu�ssimas propostas e reformas de peso."

Ainda na campanha presidencial, o futuro ministro disse que poderia ser arrecadado R$ 1 trilh�o na privatiza��o de estatais "peixe grande" e tamb�m citou o objetivo de obter R$ 1,1 trilh�o em vendas de im�veis da Uni�o. Cr�ticos e t�cnicos do governo afirmaram que as propostas do ministro tinham, na realidade, potenciais de arrecada��o mais modestos. E Guedes admitiu no fim do m�s passado que "n�o andamos no ritmo que gostar�amos" dentro do programa de desestatiza��o.

Para Sergio Vale, "havia um excesso de otimismo, completamente exagerado, que n�o olhava a realidade e que acabou se optando por uma solu��o que n�o tinha como dar certo". E diz que o fator Bolsonaro n�o foi levado em conta.

O presidente, durante seus mandatos como deputado federal, votou contra a aprova��o do Plano Real e contra reformas administrativa e previdenci�ria na d�cada de 1990. Por esse hist�rico de Bolsonaro como parlamentar, economistas liberais disseram desconfiar da carta branca dada a Guedes quando se uniu � campanha bolsonarista. O ministro era chamado de "Posto Ipiranga" por ser a voz autorizada para responder sobre o desenho econ�mico do governo.

"Na verdade, o projeto do Guedes e do pr�prio Bolsonaro era um projeto anti-PT. O mercado queria qualquer coisa que n�o fosse o PT", afirma.

Na vis�o da consultora econ�mica Zeina Latif, "qualquer que seja o pensamento do Paulo Guedes l� atr�s, ele perdeu uma batalha pol�tica. A pol�tica econ�mica n�o est� na m�o dele. Na hora que ele fala 'a gente vai flexibilizar', ele est� seguindo a decis�o tomada pelo Centr�o com o presidente. Ele perdeu o controle da agenda".

Ela concorda com a ideia de que o projeto de reformas liberalizantes de Guedes n�o estava bem alicer�ado.

"Tivemos a reforma da Previd�ncia, tivemos algumas coisas importantes, mas n�o se enxergava um programa mais estruturado na verdade. Tinha ali grandes defesas de alguns temas, mas isso nunca se traduziu numa agenda de forma concreta. A pr�pria Previd�ncia foi um caminho que j� vinha sendo trilhado pelo governo (Michel) Temer e que encontrou condi��es favor�veis no Congresso."

As reformas tribut�ria e administrativa propostas pelo governo ainda est�o em tramita��o no Congresso.

Declara��es e desculpas


Notas de dólar
Em 2019, Guedes afirmou que os brasileiros deveriam 'se acostumar' com o c�mbio mais alto (foto: Reuters)

Paralelo a um desempenho que frustrou expectativas do mercado, foi revelado no come�o do m�s que Paulo Guedes tem uma empresa offshore nas Ilhas Virgens Brit�nicas, um conhecido para�so fiscal, com saldo de US$ 8 milh�es.

Em nota enviada � BBC News Brasil, a assessoria do ministro afirmou que as atividades privadas dele anteriores � sua posse como ministro foram informadas aos �rg�os competentes.

Guedes tamb�m se notabilizou por declara��es p�blicas que resultaram depois em explica��es ou retrata��es.

Em fevereiro de 2020, comparou servidores p�blicos a "parasitas" e o governo a um "hospedeiro" ao defender a reforma administrativa: "O hospedeiro est� morrendo, o cara (o funcion�rio p�blico) virou um parasita, o dinheiro n�o chega no povo e ele quer aumento autom�tico".

Poucos dias depois, ao defender que a alta do d�lar era favor�vel ao pa�s, Guedes ironizou que empregadas dom�sticas iam � Disneyl�ndia na �poca de baixa da moeda norte-americana.

"N�o tem neg�cio de c�mbio a R$ 1,80. Vou exportar menos, substitui��o de importa��es, turismo, todo mundo indo para a Disneyl�ndia. Empregada dom�stica indo pra Disneyl�ndia, uma festa danada."

Dias depois, declarou que pedia "desculpas, se puder ter ofendido" as empregadas dom�sticas.

Para o economista e professor da Unicamp Luiz Gonzaga Belluzzo, "Paulo Guedes tem restri��es culturais muito graves, uma vis�o, um horizonte bastante estreito das transforma��es da economia".

"Na verdade ele assumiu um teto fiscal que j� estava l� e ele veio com a proposta das reformas que est�o encontrando dificuldades [de serem aprovadas] pelo fato de que a economia, tal como ela existe hoje, n�o se conforma mais ao modelo das reformas liberais."

No entanto, o professor da Unicamp critica a busca do cumprimento do limite de despesas como norte econ�mico em meio ao quadro social e �s dificuldades econ�micas causadas pela pandemia de covid-19. "Essa corrida em torno do teto de gastos n�o pode fazer as pessoas morrerem de fome ou elas v�o buscar a comida do lixo."

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