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Estado de Minas EFEITO ESTUFA

Como a carne virou 'vil�' em mudan�a clim�tica e entrou na mira da COP26

Relat�rio preliminar da ONU diz que dieta � base de vegetais poderia reduzir em 50% emiss�es de gases poluentes, comparada � dieta Ocidental de alto consumo de carne. Mas ser� que cortar carne � mesmo o caminho? E por que prote�na de boi polui tanto?


08/11/2021 07:24 - atualizado 08/11/2021 07:53


vacas
Relat�rio preliminar da ONU diz que dieta � base de vegetais poderia reduzir em 50% emiss�es de gases poluentes, comparada � dieta Ocidental de alto consumo de carne (foto: REUTERS/Regis Duvignau)

A carne, principalmente bovina, tem ganhado fama de "vil�" no combate ao aquecimento global e entrou na mira das discuss�es da COP26, a confer�ncia das Na��es Unidas sobre mudan�as clim�ticas que ocorre at� o dia 13 de novembro em Glasgow, na Esc�cia.

A prote�na bovina � apontada como o alimento que mais contribui para emiss�es de gases do efeito estufa e desmatamentos na Amaz�nia e no Cerrado, segundo o mais recente relat�rio sobre clima da ONU.

Um acordo para redu��o de metano em 30% at� 2030 foi assinado por dezenas de pa�ses, inclusive o Brasil, durante as negocia��es da COP26. O entendimento atinge em cheio a agropecu�ria brasileira, j� que as emiss�es de g�s metano no rebanho bovino representaram 17% de todos os gases do efeito-estufa do pa�s, segundo estimativa do Observat�rio do Clima.

Mas h� quem v� al�m e defenda reduzir ou at� cortar por completo o consumo de carne como forma de combater o aquecimento. Uma pesquisa da Universidade de Oxford mostrou que a produ��o de carne bovina �, dentre todos os alimentos, o que mais emite gases do efeito estufa.

Segundo esse estudo, mesmo uma por��o de carne produzida com sustentabilidade � mais poluente que uma por��o de prote�na vegetal produzida sem contar com as melhores pr�ticas de redu��o de emiss�es.


gráfico 1
(foto: BBC)

Mas ser� que cortar carne da dieta � mesmo necess�rio para controlar as mudan�as clim�ticas? E por que a produ��o de prote�na bovina produz tantas emiss�es?

Dieta vegetal x dieta carn�vora

Um relat�rio preliminar das Na��es Unidas, elaborado para a COP26, diz que a ado��o de uma dieta com menos carnes e mais alimentos feitos de plantas ajudaria a combater a mudan�a do clima.

O documento, ao qual a BBC News teve acesso, � elaborado pelo Painel Intergovernamental sobre Mudan�as Clim�ticas (IPCC), principal �rg�o global respons�vel por organizar o conhecimento cient�fico sobre as mudan�as do clima e orientar as a��es para combat�-las.

Segundo o IPCC, a produ��o de carne � um dos principais fatores por tr�s do desmatamento na Amaz�nia e no Cerrado. Isso porque a vegeta��o nativa � muitas vezes derrubada para dar lugar a pastagens ou planta��es de soja, que alimentam rebanhos.

O relat�rio preliminar diz que "dietas � base de vegetais podem reduzir as emiss�es em at� 50% comparado com a m�dia de emiss�es da dieta Ocidental."

Por sua vez, um estudo da Universidade de Oxford, que calculou as emiss�es globais m�dias envolvidas na produ��o de 40 dos principais alimentos, com dados de 40 mil fazendas pelo mundo, chegou � conclus�o de que as carnes bovina e de cordeiro s�o as comidas que mais degradam o meio ambiente.

Segundo o estudo, publicado na revista Science , um quarto de todas as emiss�es de gases poluentes v�m da produ��o de alimentos. Mas h� diferen�as enormes entre o impacto que as diferentes comidas t�m no aquecimento global.

Carne e outros produtos derivados de animais s�o respons�veis por mais da metade das emiss�es, embora s� contribuam com um quinto das calorias consumidas pela popula��o mundial.


gráfico 2
(foto: BBC)

Mas � poss�vel reduzir muito o impacto clim�tico da produ��o de carne adotando pr�ticas relativamente simples, como rod�zio de bois em �reas de pastagem, suplementa��o alimentar e abate do animal quando mais jovem.

Afinal, n�o � simples substituir o consumo de carne em pa�ses como o Brasil, onde prote�na animal, por aspectos culturais e de produ��o, integra o dia-a-dia de grande parte da popula��o. Al�m disso, dificuldades socioecon�micas em diversas partes do mundo dificultam substituir prote�na animal por vegetal.

"� f�cil falar para o consumidor ficar atento � propor��o de g�s de efeito estufa dos alimentos aqui na Inglaterra, nos Estados Unidos, na Alemanha ou na B�lgica. Vai falar isso para uma pessoa que vive no Rio de Janeiro e que est� procurando osso jogado fora no lixo para poder comer prote�na", disse � BBC News Brasil o professor de f�sica aplicada da Universidade de S�o Paulo Paulo Artaxo, um dos cientistas que integram o IPCC.

Mas por que carne de vaca gera tanta polui��o?

As emiss�es de g�s carb�nico e metano, os dois principais gases do efeito estufa, ocorrem de tr�s maneiras na produ��o de carne: com o desmatamento de �reas usadas para pasto, pela eros�o do solo quando a pastagem � mal cuidada e pelos gases liberados pelo boi no processo de fermenta��o g�strica dos alimentos que ele ingere.

No caso do desmatamento, a derrubada de �rvores gera libera��o de CO2 armazenado por essas plantas no processo de fotoss�ntese. As plantas funcionam como armaz�ns de g�s carb�nico, porque absorvem esse g�s da atmosfera e o transformam em a�ucares para o funcionamento de seu metabolismo. Com a derrubada de �rvores, novas absor��es de g�s carb�nico deixam de ocorrer, al�m de haver libera��o de CO2 de volta para a atmosfera pela queimada ou pela decomposi��o da madeira cortada.

Outro impacto da pecu�ria est� na eros�o do solo usado para pasto. Segundo Isabel Garcia Drigo, gerente da �rea de Clima e Emiss�es do Instituto de Manejo e Certifica��o Florestal e Agr�cola (Imaflora), o solo f�rtil tamb�m absorve e armazena CO2. Se n�o h� cuidado em manter a grama e as plantas onde circulam os bois, o solo vai perdendo vegeta��o e os minerais que o torna f�rtil, com isso, perde tamb�m a capacidade de armazenar g�s carb�nico.

"A gente tem 81 milh�es de hectares de pastagens degradadas, com solo descoberto por capim. �reas sem componente vegetal, seja de capim ou �rvore, est�o emitindo gases poluentes. Essas pastagens degradadas est�o emitindo 39 milh�es de toneladas de carbono para a atmosfera", explicou Drigo � BBC News Brasil.

O terceiro fator poluente da pecu�ria est� associado � libera��o de g�s metano pelo que � popularmente conhecido como "arroto do boi". No processo de digest�o de capim e outros alimentos, o boi libera g�s metano.


Gado
Gado na Amaz�nia em chamas, no estado do Par� (foto: Greenpeace Photo / Daniel Beltra )

Em 2020, as emiss�es da agropecu�ria brasileira aumentaram 2,5% em rela��o a 2019 por uma raz�o contraintuitiva ligada ao "arroto do boi". O consumo de carne no pa�s diminuiu por causa da pandemia e a crise econ�mica.

Com isso, menos bois foram abatidos para consumo e as cabe�as de gado aumentaram em 2,6 milh�es, o que, por usa vez, aumentou as emiss�es de metano pela chamada fermenta��o ent�rica.

Como reduzir esse impacto negativo da carne?

A boa not�cia para quem se preocupa com o meio ambiente, mas quer continuar comendo carne � que, dependendo do cuidado adotado no processo de produ��o, o volume de emiss�es pode se reduzir consideravelmente.

Por isso, v�rios cientistas defendem que o enfoque de reuni�es sobre clima deve ser no fabricante da carne, n�o no consumidor. Ou seja, em acordos que exijam pr�ticas sustent�veis de produ��o e impe�am com�rcio de produtos ligados a desmatamentos.

Durante as reuni�es da COP26 em Glasgow, foram assinados dois acordos que poder�o ajudar a reduzir o impacto poluente da produ��o de carne. Um deles foca na prote��o das florestas e prev� zerar o desmatamento no mundo at� 2030.

Entre os trechos desse acordo, est� a defesa de mecanismos regulat�rios e de rastreamento para impedir que carne ligada a desmatamento de florestas chegue ao com�rcio internacional. O outro acordo prev� a redu��o de g�s metano na agropecu�ria em 30% at� 2030.


bois e vacas
(foto: REUTERS/Ricardo Moraes)

Isso significa que frigor�ficos e produtores brasileiros ter�o que adotar pr�ticas sustent�veis para garantir um impacto menor da pecu�ria no meio-ambiente.

Isabel Garcia Drigo, da Imaflora, destaca tr�s medidas que podem ajudar a reduzir significativamente as emiss�es na pecu�ria: fazer rota��o de pastagem, alternando a localiza��o dos bois de um pasto a outro para que a vegeta��o tenha tempo de se recuperar; utilizar suplementos alimentares para reduzir a presen�a de capim na alimenta��o dos bois e, com isso, as emiss�es de metano na fermenta��o g�strica; e cuidar da fertilidade do solo, com uso de nutrientes e leguminosas.

"Claro que alguma emiss�o voc� sempre vai ter, mas voc� consegue reduzir bastante se voc� usar manejo de pastagem, manejo da alimenta��o do boi com complementa��o alimentar e redu��o do tempo de vida do animal. Quanto mais jovem o boi � abatido, melhor para o clima, porque ele vai passar menos tempo vivendo, comendo e produzindo metano", diz a gerente do Imaflora.

Para Paulo Artaxo, um dos autores do relat�rio da ONU sobre mudan�a clim�tica, ao debater metas � preciso priorizar medidas. E, segundo ele, o foco atualmente n�o deve ser no corte de consumo de carne, mas sim em tornar a produ��o menos poluente.

"� importante deixar claro que n�o se falou em nenhum em redu��o de consumo de carne na reuni�o clim�tica, na COP26. N�o � essa a quest�o. A quest�o � melhorar a produtividade da pecu�ria com menores emiss�es de gases do efeito estufa", disse.

"Na �frica, voc� tem mais de 1 bilh�o de pessoas que n�o t�m renda para uma dieta com alto conte�do de prote�na animal ou vegetal. N�o pode haver uma resolu��o, por exemplo, que toque nesta quest�o (de determinar redu��o no consumo de carne), porque obviamente pessoas que hoje n�o t�m renda para ter uma dieta de alta prote�na animal t�m o direito de querer ter isso", defende.

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