
O Pix, sistema de pagamento instant�neo lan�ado pelo Banco Central, completa o primeiro ano de opera��o hoje. Ao longo desses primeiros 365 dias de funcionamento, os n�meros mostram um salto significativo no uso da ferramenta. De acordo com dados do Banco Central, foi registrado crescimento de 639% em quantidade de usu�rios, indo de 13,7 milh�es de pessoas f�sicas em novembro de 2020, na sua estreia, para 101,3 milh�es em setembro deste ano.
As institui��es financeiras comemoram. A Federa��o Brasileira de Bancos (Febraban) relatou que em um ano de funcionamento do Pix, os volumes significativos de transa��es e de ades�es de clientes � ferramenta de pagamento instant�neo comprovam a efici�ncia e a aceita��o. “Trouxe conveni�ncia e facilidades para os clientes no dia a dia. Apenas no m�s de setembro de 2021, tivemos 1,04 bilh�o de transa��es com o Pix, totalizando um volume de R$ 554 bilh�es e mais de 330 milh�es de chaves cadastradas. Neste m�s, pouco mais de 101 milh�es de pessoas fizeram ou receberam, pelo menos, um Pix”, declarou.
Conforme a Febrabran, desde o lan�amento, o Pix se mostra uma importante oportunidade para o Brasil reduzir o uso de dinheiro em esp�cie em transa��es comerciais e os altos custos de transporte e log�stica de c�dulas, que totalizam cerca de R$ 10 bilh�es anuais. “O Pix � uma poderosa ferramenta para impulsionar a bancariza��o no pa�s, trazendo novos clientes para o sistema financeiro. Um dos focos da agenda de evolu��o e aprimoramento do Pix � adicionar funcionalidades nas transa��es entre pessoas e empresas. Entre eles est�o o Pix Saque, Pix Troco, Pix Garantido e D�bito Autom�tico no Pix. A incorpora��o de novas funcionalidades ser� um processo permanente”, ressaltou.
Lucas Gonzalez, estrategista da Koin, fintech do Grupo Decolar, destaca que o Pix mostrou que a ind�stria financeira do Brasil est� � frente da de outros pa�ses da Am�rica Latina e at� de muitos desenvolvidos. Ainda est� em per�odo de ajuste, mas, mesmo assim, nesse ano, j� representa 8% de todas as transa��es da empresa. “Um percentual muito alto. Ajudou muito a impulsionar as vendas e a baixar o custo dos comerciantes. Cada transa��o, que custava entre R$ 7 e R$ 10, hoje, est� por R$ 1 para o consumidor, ou seja, uma queda de, praticamente, 90%”, contabiliza Gonzalez.
ADAPTA��O
Richard Bento, superintendente de Seguran�a Corporativa do Ita� Unibanco, explica que o Pix foi uma grande novidade para todo o mercado, e os brasileiros se adaptaram muito bem. “Os pagamentos instant�neos t�m gerado uma economia independente de numer�rio e �, muitas vezes, como a porta de entrada para muitas das pessoas que estavam fora do sistema financeiro. Entre os pontos disruptivos do Pix, podemos citar a possibilidade de fazer transfer�ncias 24 horas por dia, sete dias por semana e 365 dias por ano, algo que n�o t�nhamos anteriormente”, explica.
“Al�m disso, a cria��o das chaves de endere�amento, permitindo que as transfer�ncias aconte�am pelo n�mero de celular, e-mail ou CPF tamb�m foi um ponto bastante relevante. E a chegada do QRcode para pagamento de compras em estabelecimentos comerciais surgiu como mais uma op��o aos clientes”, afirma. De acordo com Bento, al�m do que j� est� previsto na agenda de inova��o do BC, o Ita� est� preparando uma s�rie de iniciativas. “A tecnologia do Sistema de Pagamentos Instant�neos permitir� transa��es internacionais com o Pix. � o futuro, embora a funcionalidade ainda esteja em avalia��o na agenda regulat�ria do BC”, declarou.
A internacionaliza��o do Pix poder� ocorrer ap�s aprova��o do Novo Marco Legal do C�mbio (Lei 5.387/2019) e permitir� o fluxo de recursos para o exterior de maneira mais simplificada, explica Pedro Lafraia, analista chefe do TC Matrix. O projeto j� foi aprovado na C�mara dos Deputados e segue para o Senado. “Caso aprovado, o BC ainda ter� um ano para atualizar e adaptar as regras administrativas ao novo texto legal. Esse Projeto de Lei, entre outros benef�cios, simplificar� os processos de empresas exportadoras e importadoras ao facilitar suas opera��es, permitindo n�o s� entrar mais d�lares no pa�s como aumentar a circula��o do real l� fora, estimulando sua relev�ncia no mercado internacional", destaca Lafraia.
Juan Ferr�s, s�cio-fundador da Teros, consultoria de pricing e open banking que desenvolve solu��es tecnol�gicas customizadas para empresas, concorda que o Pix foi uma solu��o que ajudou pessoas f�sicas e tamb�m o com�rcio. Ele n�o acha, entretanto, que � uma ferramenta que vai substituir todos os meios de pagamento. “At� porque o cart�o de d�bito e o cart�o de cr�dito tamb�m se reinventaram, de certa forma. Mas o Pix vai trazer muita concorr�ncia”, assinala. O Estado de Minas entrou em contato com Bradesco, Santander, Caixa, Banco do Brasil e Nubank, mas, at� o fechamento da mat�ria, n�o houve retorno.
Inseguran�a obrigou BC a mudar regras
Nem tudo, por�m, � not�cia boa. O Pix se tornou arma para bandidos, o que obrigou o Banco Central a mudar as regras. H� v�rias quest�es a serem observadas, na an�lise de Juan Ferr�s: a jornada do varejista, que tem sido complexa; a adapta��o dos participantes; e os problemas de seguran�a do usu�rio final. “Em rela��o ao usu�rio, grande parte dos problemas decorre do mau uso da ferramenta, por pessoas com pouca familiaridade, al�m de situa��es espec�ficas do pa�s, como, por exemplo, roubo ou furto do celular. O BC achou, a princ�pio, que isso, obviamente, � uma quest�o de seguran�a do pa�s”, pondera.
O fato, segundo Ferr�s, � que houve uma antecipa��o no lan�amento do produto para a sociedade, e a ferramenta acabou “sendo extremamente sofisticada para a realidade”. "Como se fosse usar uma Ferrari no Uber. Mas, por outro lado, quem tem uma Ferrari obviamente vai querer usar todas as funcionalidades. Agora, acho que o BC est� atento, e embora n�o tenha o papel de seguran�a p�blica, n�o pode ignorar a realidade, porque o BC tamb�m � o Estado.” As alternativas encontradas, como por exemplo limitar os saques noturnos, foram boas, diz Ferr�s. “O saldo geral � positivo. Afinal, pagar em dinheiro tamb�m representava risco”, assinala.
Para Pedro Lafraia, o Pix tem o potencial de aumentar a competitividade e a efici�ncia no mercado, preenchendo uma s�rie de lacunas na cesta de instrumentos de pagamentos dispon�veis atualmente � popula��o. Entretanto, os mecanismos de seguran�a no Pix e nos demais meios de pagamento n�o s�o capazes de eliminar por completo a exposi��o de seus usu�rios a riscos. O BC precisou adotar medidas de controle para mitigar a exposi��o dos usu�rios aos riscos da opera��o.
Em parte, elas t�m ajudado a reduzir os golpes. Um exemplo � o limite de transfer�ncias entre pessoas f�sicas entre 20h e 6h, al�m da solicita��o de aumento instant�neo dos limites das opera��es, cita o planejador da TC Matrix. “Dessa forma, as institui��es financeiras ter�o prazo m�nimo de 24 horas, e m�ximo de 48 horas, para efetivar o pedido do correntista, caso feito por canal digital. Por fim, h� tamb�m a possibilidade de os clientes colocarem os limites de suas transa��es em zero, reduzindo o incentivo a crimes contra a popula��o, nos meios de pagamento. Uma alternativa � estabelecer hor�rios para a verifica��o em duas etapas, por exemplo, entre 20h e 6h”, afirma.
Fuga das taxas e m�quinas de cart�o
A empreendedora, Mariana Martins Ribeiro, de 24 anos, do Riacho Fundo (DF), � dona da Retr� Club Coffee. Ela afirma que usa o Pix com frequ�ncia. “Em torno de quatro dias por semana. Para n�s, que abrimos a loja recentemente, tem sido uma fuga das taxas das m�quinas de cart�o, sem falar da facilidade de o dinheiro cair na conta no ato da compra”, afirmau. Para Mariana, o Pix traz seguran�a.
“Acho seguro por que elimina muita movimenta��o de dinheiro. Locais com grande burburinho tendem a atrair furtos. Sempre verificamos tamb�m, para n�o sofrermos fraude, falha por erro de dados ou cobran�a indevida. Afinal, a gente n�o s� recebe como tamb�m paga fornecedores por meio do Pix”, explica. Ela ressalta que aconselha essa nova forma de transa��o a qualquer pessoa. “Sempre indico para os conhecidos: muita praticidade, taxa zero e dinheiro na m�o na hora. Sem burocracia e sem dor de cabe�a”, refor�a Mariana.
J� a estudante, Andrezza Correia, de 23, de Santa Maria (DF), conta que usa o Pix com menos regularidade. “Apenas uma vez por m�s. Gosto do fato de mostrar os dados de quem vai receber o Pix sempre antes de enviar. Assim, posso ter a tranquilidade de que est� indo para pessoa certa”, afirma. “Eu gosto muito do Pix, pois n�o tenho costume de sacar dinheiro e, quando vou fazer algum servi�o, opto ou pelo cart�o ou mesmo pelo Pix, j� que � livre de taxas”, observa a estudante.
Antes de tudo, informam especialistas, � preciso ter cuidado com as senhas e onde deix�-las guardadas. As informa��es pessoais tamb�m devem ser resguardadas. Logo, ter bastante aten��o nas liga��es e quais dados sens�veis passar. Uma excelente forma de mitigar a exposi��o de dados � evitar qualquer tipo de cadastro em sites desconhecidos e tomar cuidado com links suspeitos.
O ano de 2021 j� foi um ano de avan�o em termos de funcionalidade e servi�os, em breve o Pix Saque e o Pix Troco entram em opera��o e isso, de certa forma, vai democratizar o acesso � moeda f�sica, lembra Pedro Lafraia. “Em 2022, ter�o outras novidades como o Mecanismo Especial de Devolu��o (MED), que vai permitir ao pagador solicitar a devolu��o de um valor pago erroneamente. Tamb�m ter� o Pix Garantido, que � uma esp�cie de parcelamento de pagamentos, at� ent�o s� presente nos cart�es de cr�dito", informa.