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Estado de Minas TEND�NCIA

Por que bolsa brasileira tem 'perdido' empresas para Wall Street

Em dezembro, banco digital estreia na bolsa de Nasdaq, nos EUA, seguindo caminho trilhado por pelo menos outras dez companhias brasileiras


22/11/2021 08:54 - atualizado 22/11/2021 12:03


Fachada do Nubank
Em dezembro, Nubank chega � bolsa de Nova York, nos EUA, seguindo caminho de pelo menos outras dez companhias brasileiras (foto: Divulga��o)

O Nubank apareceu em 2013 com a proposta de transformar em neg�cio a ideia de que muitos brasileiros sentiam que pagavam caro aos bancos tradicionais por servi�os ruins.

Em 2014, o banco digital lan�ou um cart�o de cr�dito sem anuidade, seu primeiro produto. A inscri��o, por meio de um aplicativo, era feita pelo celular com a submiss�o da imagem de um documento e uma selfie do futuro cliente, aprovado ap�s uma an�lise de cr�dito. Anos depois, vieram a conta corrente sem taxas e com TED gratuita, o programa de fidelidade, a conta PJ, produtos de seguro.

Foram bilh�es em rodadas de investimento, com recursos de diferentes fontes - inclusive o fundo do superinvestidor Warren Buffett, o Berkshire Hathaway -, e, menos de um d�cada depois da funda��o, a empresa do tipo fintech conseguiu formar uma base de 40 milh�es de clientes e expandir os servi�os para pa�ses como M�xico e Col�mbia.

Neste ano, a Nubank chega � bolsa de valores, mas n�o a brasileira - a B3, que fica em S�o Paulo. Previsto para acontecer em algumas semanas, no in�cio de dezembro, o IPO (sigla para Initial Public Offering, ou oferta p�blica inicial) vai acontecer em Wall Street, na New York Stock Exchange (NYSE).

A decis�o n�o � in�dita. Na realidade, � parte de uma tend�ncia que vem se consolidando desde 2017.

Nos �ltimos quatro anos, pelo menos outras 11 empresas brasileiras optaram pelas bolsas dos EUA. Na NYSE, al�m do Nubank, h� outras tr�s: a mineradora Nexa Resources, ligada ao grupo Votorantim, que chegou em 2017 (tamb�m � bolsa de Toronto, no Canad�); a companhia de meios de pagamentos PagSeguro (2018) e a empresa de software de com�rcio eletr�nico VTEX (2021).

Na Nasdaq, outra bolsa de valores com sede em Nova York, conhecida por listar big techs como Google e Facebook, est�o Stone (2018), de meios de pagamentos, a XP Investimentos (2019) e as gestoras de recursos Vinci Partners (2021) e P�tria Investimentos (2021).

Al�m de quatro empresas do setor de educa��o: Arco Platform (2018), ligada ao grupo cearense Ari de S�, Afya Educacional (2019), focada no segmento de medicina, a Vasta Educa��o (2020), subsidi�ria do grupo Cogna (antiga Kroton), e Vitru (2020), companhia catarinense de ensino � dist�ncia.


Fachada da B3 com touro dourado em frente
Bolsa brasileira tem cerca de 400 empresas listadas, contra mais de 6 mil nos EUA (foto: Sebasti�o Moreira/EPA)

B3 vs. Wall Street

Ao comunicar a decis�o de abrir o capital na bolda de Nova York, o Nubank foi econ�mico. Afirmou que a empresa j� vinha se internacionalizando e que, portanto, "fazia sentido que o IPO tamb�m fosse global". � semelhan�a de outras empresas, contudo, o banco vai emitir no Brasil as chamadas BDRs, sigla para Brazilian Depositary Receipts - certificados que representam as a��es que est�o l� fora -, e que foram oferecidas aos correntistas nas �ltimas semanas.

Mas a internacionaliza��o n�o � a �nica raz�o que tem levado empresas brasileiras para os EUA. A XP, por exemplo, admitiu que o fato de a legisla��o americana ser mais flex�vel pesou e chegou a falar que n�o queria "colocar em risco o controle da empresa".

"Optamos pela listagem na NYSE porque acreditamos que nos conectar� com os principais investidores do mundo, trazendo as melhores pr�ticas internacionais para a nossa empresa, al�m de nos dar espa�o para novas emiss�es de a��es, sem colocar em risco o controle da empresa e a sua total independ�ncia - fato esse que n�o seria poss�vel por meio da legisla��o brasileira atual", disse em comunicado na �poca.

Nos EUA existe a figura das "super voting stocks", a��es com maior peso nas vota��es, que podem fazer com que acionistas com um percentual pequeno dos pap�is tenha um peso maior nas tomadas de decis�o.

Isso n�o acontece hoje no Brasil. As empresas listadas no segmento de Novo Mercado da B3 - uma esp�cie de "selo de qualidade" que indica que a companhia segue uma s�rie de boas pr�ticas de governan�a - t�m de emitir apenas a��es ordin�rias, em que uma a��o significa um voto das assembleias de acionistas.

Sob a regra de "uma a��o, um voto", com a chegada � bolsa de valores e a entrada de novos investidores, os fundadores podem acabar virando voto vencido nas assembleias gerais de acionistas, por exemplo.

Esse � um tema controverso no mundo da governan�a corporativa, que discute as boas pr�ticas na gest�o de empresas. Se, de um lado, os fundadores podem perder influ�ncia sobre decis�es-chave para o crescimento de longo prazo da empresa, de outro acionistas minorit�rios podem se ver prejudicados por uma concentra��o excessiva de poder nas m�os desses mesmos fundadores.

� o caso do Facebook, listado na Nasdaq. Apesar de ter apenas 14% das a��es da empresa, Mark Zuckerberg det�m 58% dos pap�is com direito a voto. Em 2018 e 2019, parte dos acionistas minorit�rios chegou a lan�ar uma campanha para tentar remover Zuckerberg da presid�ncia do conselho do grupo e limitar seus poderes, sem sucesso.

"Acredito no direito dos acionistas e os acionistas, ou acionistas menos o Mark, h� anos pedem por uma a��o, um voto. E a raz�o pra isso �, estou bem segura de que eles escolheriam outra lideran�a se tivessem op��o", disse recentemente a ex-funcion�ria que denunciou o Facebook ao Senado americano, Frances Haugen, ao jornal Observer.

"Sob a �tica de governan�a, essa quest�o da concentra��o de votos � bastante critic�vel", ressalta a coordenadora do Centro de Estudos em Finan�as da FGV-EAESP, Claudia Yoshinaga.

Em sua vis�o, a raz�o que tem levado as empresas brasileiras �s bolsas americanas tem mais rela��o com a visibilidade que elas conseguem alcan�ar nos EUA.

"� um mercado com muito mais investidores, n�o s� com mais recursos, mas alguns estrat�gicos", avalia.

Enquanto a B3 tem cerca de 400 empresas listadas e 3,8 milh�es de investidores pessoa f�sica, nos Estados Unidos cerca de metade da popula��o, ou cerca de 160 milh�es de pessoas, tem algum tipo de investimento, direto ou indireto, na bolsa. A NYSE contabiliza 2,8 mil empresas, e a Nasdaq, 3,3 mil.

"� poss�vel acessar mais bolsos e bolsos mais fundos", ressalta Caio Cossermelli, s�cio de mercado de capitais do Mattos Filho Advogados, com experi�ncia no assessoramento de diversos IPOs de empresas brasileiras.

Dadas essas caracter�sticas, "os m�ltiplos" nos EUA s�o significativamente maiores, diz o analista da �rama Investimentos Phil Soares, referindo-se � rela��o entre o pre�o das a��es das companhias e seus indicadores operacionais, como receita e lucro.

Ou seja, conseguir acessar as bolsas americanas pode ser uma chance de vender as a��es por pre�os maiores - e em d�lar.

"Acaba sendo mais rent�vel estar l�", diz Cossermelli.


Placa de endereço com os dizeres 'Wall Street' e bandeiras dos EUA ao fundo
NYSE foi fundada em 1792 e a Nasdaq, em 1971 (foto: Andrew Kelly/Reuters)

A rea��o e o futuro

A diretora de emissores da B3, Fl�via Mouta, lembrou que, em agosto, o Congresso brasileiro aprovou uma mudan�a na legisla��o para permitir o chamado "voto plural", mecanismo semelhante �s "super voting stocks" americanas, que deve ser institu�do no mercado brasileiro em algum momento.

"A B3 participou ativamente das discuss�es acerca das mudan�as na lei e acredita que a autoriza��o para o voto plural pode impactar positivamente o n�mero de aberturas de capital de empresas no pa�s, trazendo mais flexibilidade e mantendo a solidez do mercado."

"Se de um lado h� alguns casos de companhias que est�o mirando o exterior, h� casos contr�rios tamb�m. J� tivemos 45 IPOs no mercado brasileiro s� em 2021", acrescenta.

Ainda assim, de acordo com os especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, pelo menos no curto prazo, a tend�ncia � que a bolsa brasileira fique ainda menos interessante para algumas empresas.

A atual crise pol�tica e econ�mica pode diminuir significativamente o apetite dos brasileiros por a��es. Com a taxa b�sica de juros em 7,75% e caminhando para os dois d�gitos, investimentos com menor risco, como os de renda fixa, passam a pagar mais e podem se tornar mais atraentes.

Assim, o Brasil vai criando um cen�rio em que cada vez menos as empresas da chamada "nova economia" - inovadoras e ligadas � tecnologia - s�o incentivadas a abrir capital no pa�s, reflete a professora Claudia Yoshinaga, da FGV.

"Quando a gente olha nossa B3, � essencialmente velha economia, � ind�stria, utilities [�gua e esgoto e energia, por exemplo]. As boas empresas que t�m ganhado visibilidade est�o indo pra fora."

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