
O emprego dom�stico sem carteira foi o que mais puxou o �ndice, ainda timidamente, de redu��o da taxa de desemprego no Brasil no semestre terminado em agosto (o trimestre nacional � m�vel), segundo a Pnad Cont�nua do IBGE. As ocupa��es no servi�o dom�stico sem carteira cresceram 28,7% na compara��o com o mesmo trimestre do ano passado, representando 925 mil vagas a mais.
Quanto aos postos de trabalho com carteira, houve crescimento de 40 mil no per�odo, 3% a mais. Frente ao trimestre anterior, o trabalho dom�stico aumentou 9,9%, e agora emprega 5,5 milh�es no pa�s. Essas taxas de crescimento no trimestre e no ano foram as maiores em toda a s�rie hist�rica da ocupa��o dos trabalhadores dom�sticos.
"Os pedidos de servi�o s�o muitos, as pessoas ainda est�o em casa, algumas trabalhando, e n�o t�m tempo ou n�o d�o conta do servi�o dom�stico"
Marilene Rocha, de 49 anos
Gustavo Fontes, analista do IBGE e coordenador da Pnad/MG, avalia tratar-se de um momento importante para trabalhadores dom�sticos sem carteira assinada, uma alta de 9,9% em rela��o ao segundo trimestre do ano e 21,2% em rela��o ao ano anterior. Por�m o aumento de trabalhadores informais do setor foi de 23,3%.
"� preciso levar em conta que n�o foi s� entre dom�sticos. Parte da popula��o volta ao mercado na informalidade. Quando falamos do mesmo trimestre do ano anterior, at� agosto de 2020, foi no in�cio da pandemia, onde mercado de trabalho j� estava afetado. N�vel de ocupa��o era muito baixo", aponta o analista.

Segundo Fontes, se observar o setor econ�mico dom�stico, houve uma aumento significativo em compara��o com o trimestre anterior e o mesmo per�odo do ano passado. Mas houve tamb�m crescimento no com�rcio, na constru��o e na ind�stria. "Setores como restaurantes, bares e hot�is, muito afetados, apresentaram alta expressiva."
Jo�o L�cio da Rocha Pinto, 56 anos, trabalha desde os 15 anos em servi�os dom�sticos, tendo trabalhado, inclusive, em resid�ncias na It�lia. De volta ao Brasil, durante a pandemia praticamente ficou parado. Jo�o trabalha de dia em resid�ncias e � noite, nos finais de semana, em um bar.

"Trabalho de quarta a domingo, na segunda e ter�as-feiras cuido de minha casa, plantas e cria��es, mas se pintar servi�o eu fa�o." Ele reconhece de forma positiva a retomada de suas duas atividades. "Trabalho de 8 at� 21 horas em faxina, a partir de sexta-feira pego servi�o no bar das 16h at� quando terminar o movimento. Na It�lia, trabalhava por hora, ent�o fazia tr�s a quatro faxinas por dia. No Brasil � diferente, aqui fica-se um dia inteiro em uma �nica resid�ncia." Jo�o Pinto disse que ap�s a flexibiliza��o j� chegou a recusar trabalho por n�o ter hor�rio na agenda.
A falta de espa�o na agenda � tamb�m relatada por Marilene Rocha, de 49 anos. "Os pedidos de servi�o s�o muitos, as pessoas ainda est�o em casa, algumas trabalhando, e n�o t�m tempo ou n�o d�o conta do servi�o dom�stico." o per�do mais dr�stico da pandemia foi muito dif�cil para Marilene, mas ela garante que reocupou a agenda. Trabalha todos os dias, de domingo a domingo. Alguns clientes ela atende duas vezes por semana, outros, a cada 15 dias. Os pre�os s�o os mesmos de antes da pandemia. "Cobro R$ 150, levo minha marmita e pago minha passagem. �s vezes, quando o dinheiro da passagem de volta n�o d�, as colegas ajudam."
"Embora tenha havido um crescimento bastante acentuado no per�odo, o n�mero de trabalhadores informais ainda se encontra abaixo do n�vel pr�-pandemia"
Adriana Beringuy, coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE
Maria do Socorro dos Santos, de 48, conta que o ano passado e o primeiro semestre deste ano "n�o foram f�ceis". Das oito casas que atendia, somente uma permaneceu. Agora estamos retomando, muita gente procurando e n�o tenho hor�rio mais. O pre�o continuou o mesmo."
Gislaine Perp�tuo Silva, 38, trabalha fixo em duas casas, mas conta que vem sendo sondada com frequ�ncia. J� dispensei algumas faxinas e indiquei outras pessoas que estavam muito precisadas. Ela diz que os pre�os subiram um pouco devido � grande procura. "Se for casa, o pre�o � maior, tem gente que chega a cobrar R$ 200; em apartamento, por volta de R$ 150. O servi�o tamb�m aumentou, como � o caso de pessoas que n�o comiam em casa e passaram a usar a cozinha."
"Parte significativa da recupera��o da ocupa��o deve-se ao avan�o da informalidade. Em um ano, a popula��o ocupada total expandiu em 8,5 milh�es de pessoas, sendo que desse contingente 6 milh�es eram trabalhadores informais", explica a coordenadora de Trabalho e Rendimento do IBGE, Adriana Beringuy. "Embora tenha havido um crescimento bastante acentuado no per�odo, o n�mero de trabalhadores informais ainda se encontra abaixo do n�vel pr�-pandemia e do m�ximo registrado no trimestre fechado em outubro de 2019, quando t�nhamos 38,8 milh�es de pessoas na informalidade", acrescenta.
N�mero de pessoas ocupadas avan�a
De acordo com a Pnad, o n�mero de pessoas ocupadas (90,2 milh�es) avan�ou 4,%, com mais 3,4 milh�es no per�odo. Com isso, o n�vel de ocupa��o subiu dois pontos percentuais para 50,9%, o que indica que mais da metade da popula��o em idade para trabalhar est� ocupada no pa�s. Em um ano, o contingente de ocupados avan�ou em 8,5 milh�es de pessoas.
A ocupa��o foi impulsionada pelo aumento de 1,1 milh�o de trabalhadores (4,2%) com carteira assinada no setor privado (31 milh�es). Os postos de trabalho informais tamb�m avan�aram, com a manuten��o da expans�o do trabalho por conta pr�pria sem CNPJ e do emprego sem carteira no setor privado. Inclusive, isso fez com que a taxa de informalidade subisse de 40% no trimestre encerrado em maio para 41,1% no trimestre encerrado em agosto, totalizando 37 milh�es de pessoas.
O trabalho informal inclui trabalhadores sem carteira assinada (empregados do setor privado ou trabalhadores dom�sticos), sem CNPJ (empregadores ou empregados por conta pr�pria) ou trabalhadores familiares auxiliares.
O trabalho por conta pr�pria manteve a trajet�ria de crescimento e atingiu, novamente, o patamar recorde de 25,4 milh�es de pessoas, um aumento de 4,3%, com mais 1 milh�o de pessoas. Em rela��o ao mesmo trimestre do ano passado, o contingente avan�ou 3,9 milh�es, alta de 18,1%.
Renda cai Apesar do crescimento da popula��o ocupada no trimestre at� agosto, o rendimento m�dio real dos trabalhadores recuou 4,3% frente ao trimestre encerrado em maio e reduziu 10,2% em rela��o ao mesmo trimestre de 2020, ficando em R$ 2.489. Foram as maiores quedas percentuais da s�rie hist�rica, em ambas as compara��es. A massa de rendimento real, que � soma de todos os rendimentos dos trabalhadores, ficou est�vel, atingindo R$ 219,2 bilh�es.
"A queda no rendimento est� mostrando que, embora haja um maior n�mero de pessoas ocupadas, nas diversas formas de inser��o no mercado e em diversas atividades, essa popula��o ocupada est� sendo remunerada com rendimentos menores. A ocupa��o cresce, mas com rendimento do trabalho em queda", explica Beringuy.
N�meros
TRABALHO DOM�STICO
Sem carteira
28,7%
4 925 mil vagas a mais entre junho e agosto
Com carteira
3%
4 40 mil postos a mais
4 Total de empregados
5,5 milh�es
TRABALHO INFORMAL
23,3%
4 foi o aumento de trabalhadores informais em rela��o a 2020
RENDA
4,3%
4 foi o recuo do rendimento m�dio real dos trabalhadores frente
ao trimestre encerrado em maio
10,2%
4 a menos em rela��o
ao mesmo trimestre de 2020, ficando em
R$ 2.489
