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Estado de Minas ECONOMIA

PIB recua 0,1% no 3� tri e Brasil entra em 'recess�o t�cnica'. E agora?

Economistas divergem sobre rumos do Brasil em 2022; h� quem aposte em pequena alta da economia, estagna��o e em mais recess�o


02/12/2021 10:43 - atualizado 02/12/2021 12:23


Sem teto sentado no chão enrolado na bandeira do Brasil
Infla��o, alta de juros e ano eleitoral comprometem consumo e investimentos � frente. (foto: Getty Images)

O PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro registrou varia��o negativa de 0,1% no terceiro trimestre, em rela��o ao trimestre anterior, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica).

Ap�s queda de 0,4% no segundo trimestre (dado revisado, ante recuo de 0,1% divulgado anteriormente), o consenso dos analistas � de que a economia brasileira est� estagnada e que n�o h� perspectiva de melhora no quarto trimestre do ano, quando � esperado novo resultado pr�ximo de zero para o PIB na compara��o trimestral.

A perda de renda da popula��o, com a infla��o acima dos 10% no acumulado de 12 meses, e uma retomada do emprego puxada pela informalidade t�m inibido o consumo.

Empresas e fam�lias tamb�m t�m adiado decis�es de compra e investimentos, diante da alta de juros para conter a infla��o e da incerteza gerada pelas elei��es presidenciais de 2022.

Com dois trimestres seguidos de PIB negativo, a economia brasileira pode ser considerada em "recess�o t�cnica".

Mas os economistas preferem falar em estagna��o, j� que as quedas at� agora foram pequenas e, segundo eles, mostram mais uma economia "andando de lado" do que em franca decad�ncia como na crise de 2015-2016 ou no ano de 2020, quando a atividade foi duramente afetada pela restri��o de circula��o necess�ria para conter a pandemia do coronav�rus.

Mas o que esperar de 2022? Podemos em pleno ano de elei��o voltar � recess�o mais aguda, com alta do desemprego?

Os economistas divergem: h� quem aposte em uma pequena alta do PIB no pr�ximo ano, quem veja a continuidade da estagna��o e quem aposte sim na recess�o — que seria a terceira num per�odo de oito anos, um mal desempenho sem precedentes.

Nesse �ltimo grupo est�o grandes bancos como o Ita� e o Credit Suisse, ambos com proje��o de queda de 0,5% para o PIB brasileiro em 2022.

Em 2021, o consenso do mercado aponta para uma alta de cerca de 4,8% do PIB. Mas grande parte desse desempenho se deve � base de compara��o fraca de 2020, quando a economia encolheu em 3,9% (o dado foi revisado de uma queda de 4,1% divulgada antes).

Entenda o que esperar para o desempenho da atividade no pr�ximo ano.

Por que isso importa? Porque � o desempenho do PIB e do mercado de trabalho, junto � trajet�ria da infla��o, que v�o definir o bem estar da popula��o. E isso tem influ�ncia direta na escolha que ser� feita nas urnas em outubro do ano que vem.

O que diz quem aposta em recess�o em 2022

O Ita� foi o primeiro grande banco a passar a prever recess�o em 2022, ainda em setembro deste ano.

Em sua revis�o de cen�rio mais recente, feita em meados de novembro, o maior banco privado do pa�s reiterou a expectativa de uma queda de 0,5% para o PIB em 2022 e reduziu sua proje��o para 2021, de um crescimento de 5% para 4,7%.

"O setor de bens — ind�stria e com�rcio — j� est�o em contra��o", observa Luka Barbosa, economista do Ita� Unibanco, acrescentando que o que tem segurado a atividade � o setor de servi�os, que ainda se recupera do per�odo de maior distanciamento social.


Barbeiro corta o cabelo de um menino na favela da Rocinha, Rio de Janeiro
Setor de servi�os impediu desempenho ainda pior do PIB este ano, mas impulso gerado pela reabertura da economia p�s-pandemia ser� menor em 2022 (foto: Getty Images)

"Esse quadro deve se manter no quarto trimestre. No ano que vem, com a alta de juros e queda do cr�dito, e sem esse impulso de reabertura sobre o setor de servi�os, acreditamos que o PIB dever� ser levemente negativo", diz Barbosa.

O Ita� espera que a Selic — taxa b�sica de juros da economia brasileira, que serve de par�metro para todas as demais — v� a 9,25% ao ano na reuni�o do Copom (Comit� de Pol�tica Monet�ria) de dezembro e a 11,75% no in�cio do pr�ximo ano.

A alta de juros tem por objetivo trazer a infla��o de volta � meta — que � de 3,5% para 2022 e 3,25% em 2023, ante uma taxa acumulada atualmente de 10,67% em 12 meses at� outubro.

"Os juros mais altos v�o impactar os setores sens�veis a cr�dito", diz Barbosa. Esses setores incluem os investimentos das empresas e o consumo de bens dur�veis — como im�veis, autom�veis e eletrodom�sticos — para as fam�lias.

"Esperamos tamb�m alguma desacelera��o da economia global", acrescenta o economista.

Aqui, as maiores preocupa��es s�o a China, cujo setor imobili�rio enfrenta perda de dinamismo, ap�s uma crise de endividamento que afetou grandes empresas do segmento; e os Estados Unidos, que devem come�ar a subir juros no pr�ximo ano para conter a infla��o por l�.

Como os dois pa�ses s�o os maiores parceiros comerciais do Brasil, um menor crescimento das duas economias tende a afetar nossas exporta��es de commodities e o PIB brasileiro.

"Al�m disso, o governo tem uma d�vida p�blica elevada, o que diminui o espa�o para ele fazer uma expans�o fiscal relevante", diz o analista do Ita�, sobre as perspectivas de gasto da gest�o federal. "Ent�o tudo isso indica uma contra��o do PIB no ano que vem."

Para Barbosa, o Aux�lio Brasil de R$ 400 n�o � suficiente para reverter esse quadro.

"O problema � que, para pagar esses R$ 400, o governo mudou o teto de gastos, gerando preocupa��o no mercado com rela��o � sa�de das contas p�blicas. Ent�o a taxa de juros vai ter que subir mais, elevando o custo da d�vida p�blica", afirma Barbosa.

"Voc� coloca mais dinheiro na m�o das pessoas de um lado, mas de outro, os juros mais altos t�m impacto na economia. Ent�o o efeito l�quido dessa combina��o, na nossa leitura, � negativo."

Com a proje��o de queda no PIB do pr�ximo ano, o Ita� espera que a taxa de desemprego deve voltar a subir, indo de 12,2% ao fim desse ano, para 13,3% em dezembro de 2022.

O que diz quem espera PIB estagnado

Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, est� no time que prev� que a economia deve ficar no zero a zero em 2022. Nem em recess�o, nem com crescimento moderado, mas sim parada.

"No ano passado, a economia teve uma 'quebra' no segundo trimestre, devido � pandemia. Gradativamente, as coisas foram se normalizando. Primeiro em bens, com o aux�lio emergencial, e a partir desse ano, em servi�os, devido ao avan�o da vacina��o", lembra Vale.

"Mas, ao longo dos �ltimos trimestres, a acelera��o da infla��o diminuiu a renda dispon�vel da popula��o, atrapalhando tamb�m a recupera��o de servi�os. Al�m do efeito da precariza��o, com uma taxa de desemprego que cai, mas muito baseada no emprego informal", observa.

Nesta semana, o IBGE informou que a taxa de desemprego do pa�s recuou para 12,6% no terceiro trimestre, ante 14,2% no segundo trimestre e 14,9% no terceiro trimestre de 2020.

No entanto, 54% das vagas criadas no terceiro trimestre foram informais, o que levou a taxa de informalidade da m�o de obra (percentual de informais em rela��o ao total de trabalhadores) a 40,6%, n�vel pr�ximo do recorde de 40,9% registrado em 2018.


Catador de recicláveis usando máscara de proteção contra a covid-19
Taxa de desemprego do pa�s recuou para 12,6% no terceiro trimestre, mas 54% das vagas criadas no per�odo foram informais (foto: AFP)

"Nesse cen�rio, o investimento tamb�m vai paralisando. O investidor vai pensar duas vezes antes de investir, porque tem riscos econ�micos muito fortes e uma incerteza pol�tica tamb�m muito presente, pois n�o sabemos qual ser� a sa�da da elei��o ano que vem", diz Vale.

Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Fibra, tem avalia��o semelhante. Ele espera um PIB ligeiramente negativo para o quarto trimestre e uma alta de apenas 0,2% em 2022.

"� preciso levar em conta que o crescimento de 4,8% esperado para 2021 parece alto, mas boa parte dele � explicado pelo carregamento estat�stico. A heran�a deixada pelo PIB do ano passado para o deste ano foi muito alta, de 3,8%, ent�o boa parte do crescimento desse ano se deve � base fraca do ano passado", explica o analista.

"Em 2022, vai acontecer o contr�rio, a gente pode come�ar o ano 'devendo', com um n�mero muito baixo ou at� negativo da chamada heran�a estat�stica. Isso vai acabar impossibilitando um n�mero muito forte de PIB no ano que vem", acrescenta o economista.

E o que diz quem acredita em PIB positivo em 2022

Ningu�m est� super otimista e acha que o Brasil vai ter um crescimento acima dos 2% em 2022, por todos os fatores j� apontados.

Mas h� quem veja exagero nas previs�es de recess�o ou estagna��o para o pr�ximo ano.

� o caso, por exemplo, do ministro Paulo Guedes. Em entrevista recente ao Financial Times, o titular da Economia disse que os bancos que esperam PIB zero ou negativo no pr�ximo ano est�o errados e tentam influenciar as elei��es de 2022.

"� claro que [os bancos] est�o errados. Ou est�o errados ou s�o politicamente militantes. Eles est�o tentando afetar a elei��o... Eles ainda n�o aceitaram a elei��o de Bolsonaro", disse Guedes ao jornal brit�nico.

Na vis�o do ministro, � mais prov�vel que o Brasil tenha algum crescimento e infla��o ainda alta em 2022, ao inv�s de infla��o mais baixa e nenhum crescimento.

"Vamos voltar a surpreender o mundo", disse Guedes.


Guedes gesticulando em entrevista coletiva
Bancos tentam influenciar a elei��o ao prever recess�o ou estagna��o em 2022, considera Paulo Guedes (foto: Reuters)

Br�ulio Borges, economista-s�nior da LCA Consultores e pesquisador do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro da Economia Funda��o Getulio Vargas), tamb�m avalia que uma queda do PIB em 2022 � improv�vel, por um conjunto de fatores.

O primeiro deles � o bom desempenho esperado para o setor agropecu�rio em 2022.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a produ��o agr�cola brasileira deve chegar a 289,8 milh�es de toneladas na safra 2021/2022, aumento de 14,7% em rela��o � safra anterior.

Mais conservador, o IBGE prev� um crescimento de 7,8% para a safra em 2022, que ainda assim, representaria um novo recorde para a produ��o agr�cola.

Os altos pre�os das commodities em 2021 explicam o avan�o da produ��o, com os agricultores expandido as �reas plantadas na tentativa de se beneficiar dos valores favor�veis.

"O PIB agro representa 5% ou 6% do PIB brasileiro, mas se considerarmos a ind�stria de insumos, de maquin�rio agr�cola, o agroneg�cio como um todo responde por 25% do PIB. Ent�o a perspectiva muito favor�vel para o setor agro ano que vem pode dar uma segurada no PIB", acredita Borges.

Ele destaca ainda a melhora do quadro clim�tico, com a normaliza��o das chuvas, recupera��o dos reservat�rios e baixas temperaturas no in�cio da primavera, que contribu�ram para um menor crescimento do consumo energ�tico.

Tudo isso diminui o risco de uma crise hidro energ�tica em 2022, o que era considerado pelos economistas uma das principais amea�as para o desempenho da economia no pr�ximo ano.

Al�m disso, a combina��o de safra recorde e melhora da situa��o energ�tica pode ajudar a conter a alta da infla��o no ano que vem, o que aliviaria a renda dos trabalhadores.


Cartazes de preços em barraca de frutas numa feira livre
Combina��o de safra recorde e melhora da situa��o hidro energ�tica pode ajudar a conter a alta da infla��o no ano que vem, acredita Br�ulio Borges, da LCA (foto: AFP)

Por fim, o economista da LCA acredita que o Banco Central pode mudar de postura com rela��o � pol�tica monet�ria no ano que vem.

Segundo ele, levar a infla��o dos cerca de 10% de 2021 para 3,5% em 2022 exigiria um choque de juros que resultaria necessariamente em recess�o.

Mas o Banco Central n�o � imune ao fato de 2022 ser um ano eleitoral e, al�m disso, desde que teve sua autonomia aprovada pelo Congresso, a autoridade monet�ria passou a contar com um segundo objetivo: o de suavizar os ciclos econ�micos e promover o pleno emprego.

Assim, Borges acredita que, no in�cio do ano que vem, o BC vai passar a olhar para 2023 como horizonte relevante para que a meta de infla��o seja atingida, interrompendo a alta de juros.

Gesner Oliveira, professor da FGV e s�cio da consultoria GO Associados, tamb�m n�o acredita em recess�o no pr�ximo ano, mas por motivos diferentes.

"H� um quadro conjuntural mais adverso com a quebra do teto de gasto, mas existe um outro lado da equa��o que precisa ser avaliado, que � o impacto da transfer�ncia de renda [do Aux�lio Brasil de R$ 400] sobre a demanda", observa Oliveira.

"Para essa parcela da popula��o, o que voc� entregar de transfer�ncia de renda vai direto para o consumo. Eles t�m uma alt�ssima propens�o a consumir, pois est�o num n�vel de renda muito baixo. Ent�o isso tem um impacto sobre consumo que, aliado � recupera��o do setor de servi�os, n�o nos permite ver ainda uma queda do PIB no ano que vem", diz o economista, que participou da equipe econ�mica durante os governos de Itamar Franco e FHC.

"Devemos ter o mesmo crescimento de 2017, 2018 e 2019 [anos em que o PIB avan�ou em torno de 1%]. Um crescimento med�ocre, mas crescimento", conclui, ponderando que os principais riscos para suas proje��es s�o eventuais problemas na implementa��o do novo Aux�lio Brasil ou algum repique na pandemia, como o que acontece agora na Europa, que leve a uma retomada das restri��es � circula��o em 2022. A evolu��o da variante �micron � observada de perto pelos economistas.

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