
Os dados fazem parte da Pesquisa de Endividamento e Inadimpl�ncia do Consumidor (Peic), elaborada pela Fecom�rcio MG, com dados da Confedera��o Nacional do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo (CNC).
Foram entrevistados consumidores em potencial moradores da capital mineira. A margem de erro da pesquisa � de 3,5% e o n�vel de confian�a � de 95%.
A an�lise tamb�m mostrou que a inadimpl�ncia n�o acompanhou essa expans�o do endividamento, e encerrou 2021 em estabilidade.
O n�mero de consumidores que n�o ter�o condi��es de pagar suas d�vidas foi de 15,5%, inferior ao apurado em novembro. Acompanhando a estabilidade, os consumidores inadimplentes apresentaram uma queda em rela��o ao m�s anterior, assumindo o valor de 39%.
Segundo a economista da Fecom�rcio MG, Gabriela Martins, esse aumento do endividamento das fam�lias j� era esperado, diante da situa��o socioecon�mica enfrentada no pa�s.
"Acrescido ao aumento do endividamento, acompanhamos um �ndice de inadimpl�ncia muito elevado em Belo Horizonte que, apesar da leve queda entre os meses de novembro e dezembro, ainda se encontra entre um dos maiores patamares da s�rie hist�rica observada a partir de 2014", destaca.
Cart�o de cr�dito segue liderando
A pesquisa apontou, ainda, que a principal modalidade de endividamento continua sendo o cart�o de cr�dito. Em dezembro, 79,6% utilizaram essa modalidade para compras, seguido pelo uso dos carn�s (25,9%), cheque especial (8,7%), financiamento de carro (8,1%), cr�dito pessoal (7,6%) e financiamento de casas (6,1%).
Gabriela explica que um dos principais motivos para o uso do cart�o de cr�dito � o aumento da infla��o, que afeta a compra de bens essenciais como alimentos, combust�veis e energia. "Dessa forma, as fam�lias procuram cada vez mais o cr�dito para seu consumo b�sico."
A auxiliar de servi�os gerais, Maria Jesus de Souza, de 49 anos, moradora de Sabar�, � um exemplo. Ela tem d�vidas no cart�o de cr�dito. Apesar de n�o revelar o valor da d�vida, Maria conta que j� chegou a pagar R$ 2 mil.
"O dinheiro que recebi do meu 13° foi tudo (para pagar a d�vida). Fiquei zerada, mas ainda tenho que pagar uma que acho que n�o � alta. Ainda n�o olhei quanto est�."
Segundo ela, as d�vidas surgiram devido a pandemia. A auxiliar de servi�os gerais tinha uma renda extra por trabalhar tamb�m em outro emprego, mas o local acabou fechando.
"Eu trabalhava e recebia um extra por fora. Mas, ele foi cortado e n�o recebo mais. Agora recebo um sal�rio, pago aluguel, outras contas e n�o sobra nada. Agora tive que ir para a casa da minha m�e e acabei passando no cart�o de cr�dito de novo. N�o teve jeito. Ent�o, no m�s que vem vai vir de novo, s� vai acumulando."
Maria conta que n�o � a primeira vez que enfrenta dificuldades para pagar as contas. "J� tive uma d�vida de R$ 8 mil no cart�o de cr�dito tamb�m. Os juros foram subindo. Fiz uma d�vida de R$ 500, quando fui pagar eles me disseram que j� estava em R$ 8 mil."
Foi preciso fazer um acordo para ela conseguir quitar o valor.
"A gente espera ajuda do governo, mas n�o vem. Tem coisas que n�o estou pagando, estou deixando para eu n�o passar fome. E o neg�cio vai acumulando."
Maria mora sozinha, mas ajuda nas despesas da casa da m�e. "S� a aposentadoria dela n�o d�. L� tem umas seis pessoas, tenho um irm�o na cadeira de rodas. A gente vai empurrando com a barriga', desabafa.

A aposentada Silvana Souza, de 62 anos, diz que est� endividada como "qualquer brasileiro".
"Mas acho que estou pior. Eu pedi a portabilidade de pagamento no Banco Santander, s� que a prefeitura fez conv�nio com o Bradesco e n�o me deixa ficar em um banco s�. O conveniado est� cobrando tarifa banc�ria muito acima do normal e quando meu pagamento chega, eles s�o os primeiros que pegam meu sal�rio e o que resta eles mandam para o banco da portabilidade."
Ela conta que se endividou ap�s pegar cr�dito pessoal e usar o cart�o de cr�dito. A aposentada tamb�m reclama que a situa��o piorou com a pandemia.
"Eu n�o posso arrumar outra coisa pra fazer. Vendia Minascap, mas fui obrigada a parar porque o meu filho implicou com a empresa, rasgou minhas cartelas, meu uniforme. Agora eu fico s� aguardando o pagamento chegar". Atualmente, ela recebe apenas a aposentadoria.
"Para comprar as coisas agora, s� com cart�o de cr�dito. �gua, luz, eu estou dando conta de pagar. Mas cortamos a carne, que � o mais caro, e estamos comendo ovo e soja. De vez em quando, compro um quilo de frango quando o pagamento cai. Fora isso, s� legumes mesmo."
Silvana mora com uma tia, tamb�m aposentada, e um filho de 29 anos, que est� desempregado. Segundo ela, o filho � outro que est� endividado. "Ele pediu um empr�stimo e n�o pagou."
Para tentar quitar as d�vidas, a aposentada diz que s� com um milagre. "Eu tenho jogado bastante na Mega-Sena, compro Telesena tamb�m. Eu espero s� um milagre, porque tenho mais de 60 anos e n�o consigo emprego em lugar nenhum, j� mandei curr�culo para v�rios lugares e n�o consegui nada."

Brasileiros endividados
O n�vel de endividamento m�dio das fam�lias brasileiras em 2021 foi o maior em 11 anos, segundo a mesma pesquisa, divulgada na ter�a-feira (18/1) pela CNC.
De acordo com o levantamento, o �ltimo ano apresentou recorde do total de endividados, registrando uma m�dia de 70,9% das fam�lias brasileiras, enquanto dezembro alcan�ou o patamar m�ximo hist�rico com 76,3% do total de fam�lias. Segundo a CNC, as fam�lias recorreram mais ao cr�dito para sustentar o consumo.
Ao contr�rio dos indicadores de endividamento, no �ltimo ano, os n�meros de inadimpl�ncia apresentaram queda. De acordo com a pesquisa, o percentual m�dio de fam�lias com contas e/ou d�vidas em atraso diminuiu na compara��o com 2020, chegando a 25,2%.
Ap�s come�ar 2021 em patamar superior em rela��o ao fim do ano anterior, o percentual mensal de inadimpl�ncia teve redu��o at� maio, mas passou a apresentar tend�ncia de alta desde ent�o, alcan�ando 26,2% em dezembro e ficando acima da m�dia anual.
(Com informa��es da Ag�ncia Brasil)
*Estagi�ria sob supervis�o do subeditor Jo�o Renato Faria