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Estado de Minas ENTREVISTA

"Crescer muito e melhorar imagem" � aposta do agroneg�cio para 2022

O presidente da Federa��o da Agricultura e Pecu�ria de Minas Gerais (Faemg), Ant�nio de Salvo, diz que o setor deve trabalhar a integra��o da cadeia produtiva


13/02/2022 04:00 - atualizado 13/02/2022 07:33

Antônio Pitangui de Salvo vai comandar a Faemg pelos próximos quatro anos
'O agroneg�cio vai crescer muito, pois vamos amadurecer, aprender a conversar entre as cadeias e melhorar nossa imagem junto do homem urbano' (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

A produ��o agropecu�ria brasileira teve resultados expressivos em 2021, num mercado internacional ainda afetado pelos efeitos da pandemia de COVID-19 sobre a economia. As exporta��es do agroneg�cio apuraram receita de US$ 120,6 bilh�es, impulsionadas pela forte demanda de soja e do a��car na Europa e na �sia. A expectativa para 2022 � que o pa�s possa contar com desempenho ainda melhor do agroneg�cio, afirma o presidente da Federa��o da Agricultura e Pecu�ria do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ant�nio Pitangui de Salvo.

Eleito para comandar a entidade nos pr�ximos quatro anos, o engenheiro-agr�nomo de 57 anos se anima com a possibilidade de Minas Gerais e o Brasil ampliarem, principalmente, as vendas externas de carne.

“A perspectiva � sempre boa. O agroneg�cio como um todo vai crescer muito, pois vamos amadurecer, aprender a conversar entre as cadeias, ter gest�o mais profissional e melhorar nossa imagem”, avalia. Ant�nio de Salvo se mostra tamb�m preocupado com o protecionismo de mercados e os elevados n�veis de desmatamento no planeta, convencido de que existe uma campanha deliberada contra o Brasil. “A persegui��o ambiental � gigante, porque o mundo devastou tudo o que tinha.” Nesta entrevista ao Estado de Minas, ele fala tamb�m sobre a infla��o, o corte de parte do seguro agr�cola feito pelo Congresso e a eleva��o dos custos de produ��o nos �ltimos anos.

O agroneg�cio bateu recorde de exporta��es em 2021, com receita superior a US$ 120 bilh�es. Qual o balan�o que o senhor faz desses n�meros?
Vamos pensar primeiro pelo lado positivo. Esse slogan usado na pandemia dando conta de que o “agroneg�cio n�o parou” � verdade. Ele n�o pode parar. Voc� n�o pode impedir um crescimento vegetativo de uma planta de soja, de milho ou de algod�o. Voc� n�o pode impedir a gesta��o e lacta��o de uma vaca. E voc� n�o pode determinar que uma granja de frangos encerre seu trabalho no meio do ciclo. E falo sempre que o campo, antes um lugar entediante, se transformou em lugar seguro, principalmente no come�o da pandemia. Isso fez com que o agroneg�cio brasileiro, pela pr�pria presen�a do agricultor dentro das propriedades, tivesse mais efici�ncia. H� uma correla��o de melhorias de gest�o com a presen�a do homem do campo l� dentro. Os n�meros positivos da exporta��o se deram porque, primeiro, somos um pa�s essencialmente agr�cola e pecu�rio. � remar a favor da mar�. � sempre bom lembrar que a soja e o algod�o foram melhorados pelas condi��es do cerrado brasileiro. A pecu�ria tamb�m. As vaquinhas que temos s�o indianas, o que corresponde a 80% do rebanho brasileiro e os capins s�o africanos. Isso n�o estava no Brasil e o produtor s� usufruiu deles. Trouxemos e melhoramos. J� o ponto negativo � que existe um desequil�brio dentro dos elos dos segmentos das cadeias produtivas, onde o que sobra de receita para o setor prim�rio normalmente � pequeno. H� um estudo americano que prova que a cada US$ 100 gastos nas determinadas cadeias, US$ 93 ficam nas agroind�strias e somente US$ 7 ficam no setor prim�rio. Precisamos melhorar e equilibrar isso, porque sen�o voc� tem uma vis�o ampla do agroneg�cio muito boa, mas uma vis�o do produtor ainda passando por dificuldades para se manter com rentabilidade e qualidade de vida.

Como � poss�vel solucionar esse equil�brio?
Falta di�logo entre as cadeias. Temos a cadeia do leite, do caf�, da carne... Voc� pode pegar uma lista de produtos, principalmente em Minas, mas se n�o tivermos um relacionamento com as cadeias que existem at� hoje, � mais dif�cil. A cafeicultura conversa mal com as cooperativas, os produtores conversam mal com os latic�nios e as cooperativas de leite, o produtor de carne bovina conversa mal com os frigor�ficos. Eles t�m relacionamento n�o amistoso. N�o precisamos ser amigos, mas precisamos de lealdade dentro da cadeia. Esse elo � fundamental para a produ��o brasileira. Melhoramos de vida, aprendemos a ter gest�o melhor, a usar mais tecnologia dentro do campo, mas as cadeias precisam interagir melhor, inclusive para a sociedade urbana, que consome nossos alimentos.

Qual � a expectativa que o senhor tem para 2022, tendo em vista os desafios impostos por barreiras fitossanit�rias e a prote��o de mercados?
S�o dois problemas em que vamos ser eternamente perseguidos. O primeiro � a quest�o ambiental. Preservamos 66% de nossas �reas brasileiras se somarmos o que temos de reserva dentro das propriedades, de �reas ind�genas e do governo federal. A persegui��o ambiental � gigante, porque o mundo devastou tudo o que tinha, principalmente a Europa, que tem em m�dia 5% de �rea preservada. Eles tiraram e n�o querem que n�s tiremos. A quest�o sanit�ria � outra press�o. Ambas canalizam para uma coisa chamada mercado. A partir do momento em que o Brasil ultrapassa os EUA na produ��o de soja, passa a ser o maior exportador de carne, come�a a incomodar os pa�ses que antes eram os maiores exportadores, como Argentina, Uruguai, Austr�lia e Irlanda. Voc� come�a a levar um produto barato, de qualidade espetacular e sustent�vel. Se est� dif�cil concorrer mercadologicamente com os fazendeiros brasileiros, vamos come�ar a falar que o gado n�o tem sa�de e tem problemas sanit�rios. Os produtores t�m de ficar atentos, para que possamos defender e validar nacional e internacionalmente a qualidade sanit�ria do nosso rebanho, que � muito boa. E, mais do que isso, temos uma coisa que o mundo inteiro n�o tem. O Brasil tem qualidade de bem-estar animal. As fazendas de Minas, S�o Paulo ou Mato Grosso contam com pastos verdes, �rvores, com uma boiada deitada na sombra, comendo braqui�ria limpa e bebendo �gua limpa. O agroneg�cio como um todo vai crescer muito, pois vamos amadurecer, aprender a conversar entre as cadeias, ter gest�o mais profissional e melhorar nossa imagem junto do homem urbano.

As eleva��es dos custos de produ��o, por sua vez, servem de justificativa para os alimentos que chegaram mais caros � mesa do consumidor em 2021. Como o ano come�ou para o setor desse ponto de vista?
Alguns produtos est�o em falta porque a popula��o mundial ficou sem trabalhar um ano. Houve aumento de insumos, como a energia el�trica, seca, d�lar e �leo diesel, e essa conta chegou agora. Infelizmente, apesar de o agroneg�cio n�o ter parado, a alta dos insumos alcan�ou entre 50% e 70% e isso implica o custo maior do produto final. Ningu�m quer isso. Engana-se quem pensa que vendemos carne pelo pre�o atual e estamos ganhando dinheiro. Nossa margem talvez tenha diminu�do. O segmento todo ficou parado. E a popula��o est� impedida de comprar a quantidade necess�ria dos produtos que ela queria. Isso n�o � bom para ningu�m. Mas tudo vai tender a voltar para a normalidade em breve, desde que a pandemia seja entendida como endemia.

Al�m da lideran�a do Brasil em produtos como soja e carnes, as exporta��es de frutas conquistaram recorde inusitado. Como o senhor avalia o potencial do setor neste ano?
Uma fruta, como manga, abacaxi ou qualquer outra, precisa de �gua para sobreviver e crescer e, depois que vira fruto, do brix (doce). Somos e seremos um grande produtor de frutas tropicais, principalmente. Vamos abastecer o mundo com frutas de qualidade e muito bem produzidas de forma sustent�vel e com t�cnicas de irriga��o importadas de Israel, com gotejamento enterrado, que gasta pouqu�ssima �gua. A fruticultura mineira e brasileira tem um pacote tecnol�gico muito bacana. Vamos crescer muito tamb�m na produ��o de mel, sobretudo nesta pandemia, quando as pessoas come�aram a ingerir mais pr�polis para a garganta.

A infla��o dos alimentos tem sido atribu�da, em boa parte, como no caso das carnes e do �leo de soja, � boa performance das exporta��es desses produtos. H� motivos para que o consumidor deixe de esperar o mesmo comportamento neste ano?
Havia um tempo em que a culpada pela infla��o era a cebola. Depois, a culpa era do alho. A infla��o se deve � paralisa��o do trabalho mundial. Todos os produtos aumentaram de pre�o, puxados pela alta do d�lar. Culpar alguns bodes expiat�rios � injusto. Vale lembrar que, no caso da carne, passamos por um longo per�odo de pre�os abaixo da m�dia hist�rica. E o que aconteceu? Quando voc� produz e n�o est� sendo bom neg�cio, mata a matriz. A partir do momento em que tem um n�mero de abates maior que o normal no Brasil, 42% ou 43%, e passa de 55%, diminui o rebanho reprodutivo e a curva de bezerros vai cair. Consequentemente, cai tamb�m a curva de bois magros e gordos. Logo, o mercado puxar� o pre�o para cima. Culpar carnes e gr�os n�o � verdade.

O seguro rural entrou no rol de cortes promovidos no Or�amento de 2022. O Congresso aprovou R$ 990 milh�es, abaixo da quantia de R$ 1,5 bilh�o prometida. O senhor tem esperan�a de que a redu��o seja revertida?
Tenho esperan�a de que o Brasil caminhe para a frente de uma forma justa, correta e equilibrada. Sabemos que temos um pa�s com riquezas naturais boas, com a maior reserva de �gua doce do mundo, sem maremotos, tuf�es, terremotos ou furac�es. Temos um povo que em sua grande maioria � ordeiro, honesto e trabalhador, vivendo num pa�s com muitas oportunidades. N�o tenho a menor d�vida de que o seguro vai voltar, como as finan�as brasileiras, desde que tenhamos governantes que olhem para todos de forma igual. Quem n�o quer uma melhoria de vida? Desde a classe E e a A, todos querem melhorar. Mas temos 42 milh�es de pessoas sem saneamento b�sico. Temos pessoas abandonadas na Amaz�nia sem contatos com m�dicos e internet. N�o � justo. Temos a ind�stria da seca, que h� 50 anos vive de abastecimento de caminh�es-pipa. As melhorias passam pelo aumento do seguro de safra. Quer�amos R$ 10 bilh�es em vez de R$ 1,5 bilh�o e de reservas financeiras. Para isso, precisamos gerar riquezas e elas surgir�o com uma gest�o decente do pa�s.

Segundo os meteorologistas, a seca, que atingiu boa parte do pa�s no ano passado, promete ser ainda mais intensa a partir de abril. Como os produtores v�o se preparar para esse per�odo?
No ano passado, tivemos uma seca a partir de fevereiro, que foi algo muito anormal. Quase n�o houve chuva em mar�o e, a partir de abril, n�o choveu nada. Perdemos milho em toda a regi�o central, no Parana�ba… E a cafeicultura sofreu muito, principalmente no Sul de Minas, onde os caf�s n�o s�o irrigados. Depois, vieram as geadas. Este ano, h� expectativa boa de chuva, acima da m�dia normal em algumas regi�es. Ser� normal se a chuva se encerrar em abril ou maio. N�o vejo a quest�o clim�tica como um poss�vel problema. Tivemos seca em 1908, quando n�o t�nhamos desmatamento ou eucaliptos. Temos de nos prevenir, ter mais maturidade e conhecimentos para que algumas lavouras sejam melhor utilizadas. O seguro agr�cola ainda � muito pouco utilizado no Brasil. Precisamos de mais garantias de ressarcimento para o investimento que os produtores fizeram. N�o tenho medo de efeitos clim�ticos. Tenho medo de efeitos pol�ticos.

Qual ser� o maior desafio da Faemg em seu mandato?
� uma responsabilidade muito boa. O Roberto (Sim�es, ex-presidente, que ficou 16 anos no cargo) fez uma administra��o muito correta, pois a casa est� muito organizada, com um nome, mas o que vemos � uma necessidade de transformar essa casa em algo mais eficaz, no que diz respeito � atua��o junto ao produtor rural, nosso homem do campo, que est� muitas vezes distante de Belo Horizonte. O principal slogan de nossa campanha � “Menos BH, mais interior”. Notamos que o distanciamento da pandemia foi aumentado em rela��o � pouca conectividade entre o sistema Faemg com os sindicatos do homem do campo. Estamos fazendo a aproxima��o para que essa sensa��o de pertencimento esteja mais viva dentro do nosso produtor rural. Esse afastamento pode ter ocorrido por v�rios motivos, por acomoda��o, por distanciamento ou por empatia. N�o quero julgar isso. Tenho o diagn�stico de que esse afastamento existe, j� que visitamos 40 mil quil�metros em todo o estado. 



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