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Estado de Minas ECONOMIA

Fam�lias brasileiras t�m at� cinco gera��es de consumidores

Se antes a bisav� sonhava em comprar o tecido mais caro para fazer um lindo vestido, hoje, a bisneta quer o celular de �ltima gera��o


20/02/2022 10:26 - atualizado 20/02/2022 11:09

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(foto: The LightBulb Conspiracy/Divulga)

Devido ao aumento da longevidade dos brasileiros, nos dias atuais, � poss�vel ver cinco gera��es de consumidores numa mesma fam�lia: bisav�, av�, m�e, filha, neta e bisneta. Desde os anos 1940, a expectativa de vida do brasileiro aumentou em 31,1 anos, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Est�tica (IBGE). Com isso, as fam�lias passaram a ter, cada vez mais, diferentes h�bitos de consumo e objetos de desejo.

Se antes a bisav� sonhava em comprar o tecido mais caro para fazer um lindo vestido, hoje, a bisneta quer o celular de �ltima gera��o. As longas filas em lojas ou falta do produto em estoque tamb�m n�o fazem mais sentido para as novas gera��es: agora, tudo pode ser encontrado em um �nico clique pela internet, via celular, tablet ou computador.

O professor Carlos Eduardo Freitas Vian, do departamento de economia e administra��o da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de S�o Paulo (Esalq-USP), explica que o avan�o das legisla��es e dos meios tecnol�gicos impulsionou novas maneiras de consumir. "[A evolu��o das formas de consumo] est� relacionada aos aspectos da legisla��o, como mudan�as em rela��o �s quest�es trabalhistas, al�m de outros fatores importantes, como o avan�o tecnol�gico", afirma.


O estudo "Os Novos Consumidores Brasileiros", desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) em parceria com a AGP Pesquisas, faz uma radiografia dos principais h�bitos de consumo dos jovens entre 16 e 22 anos e revela que 75% dos jovens fazem compras pela internet, com a maioria deles concentrada em lojas virtuais com marca pr�pria ou em sites de revenda.

Mesmo morando com os pais ou av�s, que costumam comprar pelas formas tradicionais, as gera��es mais novas j� se adaptaram aos novos h�bitos virtuais de consumo. De acordo com o estudo, 69% dos jovens entrevistados moram com os pais e pouco mais da metade (57%) n�o possui uma atividade remunerada — o que influencia o baixo consumo dessa faixa et�ria. Mesmo assim, a maioria das compras dos jovens � feita on-line.

Na fam�lia da servidora p�blica Danilla Veloso, 41 anos, quatro gera��es de mulheres consumidoras se misturam, com costumes diversos. A av�, Elda Maria Fonseca, de 80 anos, n�o se adaptou ao mundo digital e segue com as velhas maneiras na hora de comprar, que s�o diferentes das da filha Joselma Fonseca, da neta Danilla e da bisneta Larissa. "Ela vem de uma gera��o mais afastada das demais. A minha m�e, que tem 60 anos, sempre trabalhou como analista de sistemas, ent�o, a tecnologia fazia parte da rotina dela. A Bisa n�o usa nem WhatsApp, pela falta de familiaridade com a tecnologia", detalha.

J� a gera��o mais nova, os filhos de Danilla, est� dentro das estat�sticas dos jovens que preferem a internet. "Eu ainda 'sou old school' e curto o anal�gico, talvez at� mais que a minha m�e", brinca. "A minha filha, Larissa, de 24 anos, � superadaptada e prefere as compras on-line", acrescenta.

Avan�o tecnol�gico

Essa diferen�a brusca entre os h�bitos das gera��es mais recentes e das mais antigas pode ser explicada pela revolu��o tecnol�gica, que, nos �ltimos anos, fez as evolu��es ocorrerem mais r�pido e de forma mais intensa, na avalia��o de Vian.

"Gosto de ressaltar a velocidade em que estas mudan�as est�o acontecendo. No consumo, elas sempre ocorreram, mas os processos eram mais lentos. H� mais ou menos 20 anos, e com a revolu��o tecnol�gica, tudo come�ou a evoluir muito mais r�pido. A rela��o que eu tinha com os meus pais n�o era t�o diferente da rela��o que os meus pais tiveram com os meus av�s, mas as pr�ximas gera��es est�o vendo as mudan�as mais rapidamente", afirma o professor. "A nova gera��o tem outra vis�o, porque eles cresceram em um ambiente mais conectado e passaram a valorizar outras coisas e outros h�bitos. As tradi��es mudaram", diz.

Estrat�gias para aumentar o consumo

Al�m do avan�o tecnol�gico, as mudan�as nos h�bitos dos consumidores nas �ltimas d�cadas podem ser explicadas por estrat�gias incorporadas, tanto pelas empresas quanto pelos governos, para recuperar a economia ap�s as grandes guerras, de acordo com o coordenador do n�cleo de Direito do Consumidor da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), especialista em Sociedade de Consumo.

Com o passar do tempo, a durabilidade dos produtos vem diminuindo, a fim de turbinar o consumo, que � o principal motor de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) das sociedades capitalistas. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE), as despesas de consumo das fam�lias responderam por 62,9% do PIB brasileiro de 2020. Os investimentos responderam por 15,9% do PIB e os gastos do governo, por 20,5%.

"Nos �ltimos 80 anos, grandes transforma��es sociais foram incorporadas a partir das rela��es humanas. O consumo passou a fazer parte necess�ria � vida da sociedade e tamb�m do Estado. No contexto p�s-Segunda Guerra Mundial, foram desenvolvidos mecanismos e estrat�gias para alavancar, cada vez mais, os atos de consumo da popula��o, porque foi visto como alternativa, como via de supera��o das dificuldades econ�micas. Ent�o, a forma �bvia encontrada na �poca foi desenvolver o consumo", explica.

De acordo com o especialista, para as primeiras gera��es, entre os anos 1940 e 1960, os bens de consumo ainda eram muito dur�veis. Isso se manteve at� por mais ou menos o in�cio dos anos 1990. "Por�m, paulatinamente, foi incorporando um elemento chamado obsolesc�ncia programada, que acaba for�ando a utiliza��o ou a realiza��o de mais atos de consumo do que a gera��o anterior. A gera��o seguinte come�ou a lidar com produtos com durabilidade come�ando reduzida. E n�o apenas a durabilidade menor, o surgimento de novidades tamb�m afetou o comportamento do consumidor", detalha.

"Para a gera��o dos anos 1940, a rela��o com os bens de consumo �, muitas das vezes, pautada pela parcim�nia, pelo comprar menos e ter contato, ainda hoje, com produtos que foram comprados h� muito tempo. Era comum, h� alguns anos, encontrar na casa da av� uma m�quina de lavar roupa de 30 anos de idade. As pessoas acabam se vinculando a esse elemento", destaca.

Volatilidade

Comarela avalia que a diferen�a mais dr�stica do comportamento entre as gera��es mais jovens se deve ao fato que uma gera��o passa para a gera��o seguinte algum comportamento. Mas a gera��o seguinte evolui rompendo com alguns paradigmas anteriores. Ent�o, esse relacionamento entre eles acaba n�o atuando no mesmo ambiente de consumo e nem mesmo em rela��o ao mesmo objeto de desejo.

As gera��es mais novas, portanto, passaram a ter uma rela��o muito mais vol�til, acelerada e mais relacionada com um prazo de vida do produto muito menor do que os comprados pelos familiares mais velhos. "Essas novas gera��es, principalmente dos anos 1990 para frente, foram submetidas � amplifica��o da obsolesc�ncia. Seja pela obsolesc�ncia programada dos produtos para eles durarem pouco, seja pela grande oferta de novos produtos e modelos em um espa�o tempo menor", explica o coordenador da UFOP. "Todas essas gera��es t�m em comum que elas fazem parte de um paradigma social que � a sociedade de consumo. Cada um foi contribuindo de alguma forma para chegar ao que n�s somos hoje, onde o ato de consumir caracteriza muita das vezes quem n�s somos perante a sociedade", acrescenta.

O pr�prio tamanho das fam�lias tamb�m influencia os h�bitos de consumo, de acordo com Carlos Eduardo Freitas Vian, do departamento de economia e administra��o da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de S�o Paulo (Esalq-USP). Os grupos familiares est�o ficando menores, a necessidade de compartilhar e trocar coisas foi diminuindo, e houve um barateamento dos itens de consumo. A revolu��o tecnol�gica mudou isso. Na minha gera��o, n�o precis�vamos de um celular. Hoje, temos uma oferta de muitos servi�os e de produtos que s�o mais baratos", detalha o acad�mico.

 

*Estagi�ria sob a supervis�o de Rosana Hessel

 



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