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Estado de Minas SAUDADE DAQUELE BIFE

Com pre�o recorde, consumo de carne � o menor em 16 anos

Mistura de infla��o alta com aumento da pobreza vem tirando a carne bovina do card�pio de um n�mero cada vez maior de fam�lias no Brasil


15/12/2021 09:14 - atualizado 15/12/2021 10:23

Supermercado em Brasília, em 27 de fevereiro de 2021, com faixas de preços dos produtos na entrada.
Consumo de carne por habitante estimado para 2021 � o menor desde 2005 (foto: EPA)

A mistura de infla��o alta com aumento da pobreza vem tirando a carne bovina do card�pio de um n�mero cada vez maior de fam�lias no Brasil.

O consumo vem caindo h� tr�s anos consecutivos no pa�s. Em 2020, recuou expressivos 10% em rela��o ao anterior. Para 2021, a estimativa � de queda de 2%, um consumo de 5,24 milh�es de toneladas de carne bovina, o menor valor em 12 anos.

- Leia: Infla��o da carne salga pre�os de rod�zios 

Quando se considera o consumo por pessoa, o resultado � ainda mais modesto: 24,5 kg por ano, n�mero pr�ximo do registrado em 2005, 16 anos atr�s.

A estimativa foi calculada pelo especialista da Consultoria Agro do Ita� BBA Cesar de Castro Alves a pedido da BBC News Brasil e se baseia no chamado consumo aparente, ou seja, a produ��o de carne bovina inspecionada, descontadas as exporta��es e somadas as importa��es.

Os dados usados por Castro Alves consideram uma expectativa de produ��o de carne bovina de 7,4 milh�es de toneladas em equivalente carca�a (TECs), de exporta��es de 2,26 milh�es de TECs e de importa��es de 73 mil TECs.

Pre�os maiores e renda menor

Os dois lados da equa��o do consumo - o pre�o dos produtos e a renda das fam�lias - se deterioraram em 2021.

Do lado dos pre�os, as carnes assistiram a um aumento forte, especialmente no primeiro semestre. Em junho, considerando o acumulado em 12 meses, o brasileiro pagava quase 40% mais (38,17%) pelo produto do que um ano antes.

Os pre�os come�aram a ceder em setembro, mas continuam em patamar elevado: nos 12 meses encerrados em novembro, a infla��o das carnes estava em 10,81%, superior ao �ndice calculado para todo o grupo alimentos e bebidas, de 8,9%.

Mesmo com a redu��o em alguns supermercados, o produto continua inacess�vel para muitas fam�lias, especialmente se considerado que a renda dos brasileiros vem encolhendo.

Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios (Pnad) Cont�nua mostram que a renda m�dia real (ou seja, descontada a infla��o) de quem est� empregado vem diminuindo consecutivamente h� 12 meses, desde outubro de 2020.

Esse desempenho est� intimamente relacionado ao fen�meno da redu��o do desemprego, que vem sendo observado desde maio deste ano: as vagas geradas pela economia brasileira s�o mais prec�rias e pagam baixos sal�rios, o que explica a redu��o da renda m�dia por trabalhador.

A taxa de desemprego, apesar de estar recuando, se mant�m em patamar bastante elevado - 12,6% da for�a de trabalho no terceiro trimestre de 2021, ou 13,5 milh�es de desempregados.

Por que a carne ficou t�o cara

Pelo menos quatro fatores explicam porque o pre�o das carnes subiu tanto em 2021: o d�lar alto, a seca que afetou especialmente a regi�o Centro-Sul do pa�s, o aumento dos pre�os do milho e da soja e uma menor disponibilidade de bois (neste caso, uma quest�o estrutural ligada � bovinocultura).

O aumento do d�lar e a seca ajudam a explicar a alta expressiva na cota��o de commodities como o milho e a soja. Como estas s�o mat�rias-primas para a produ��o de ra��o para bovinos, aves e su�nos, alimentar os animais ficou mais caro.

No caso dos bovinos, a seca afetou ainda os custos de produ��o em outra frente: � medida que reduziu as �reas de pasto, obrigou muitos produtores a confinar o gado, elevando ainda mais as despesas com ra��o.

Toda essa quest�o conjuntural se deu em um momento em que o pre�o da carne j� estava pressionado por uma quest�o estrutural do setor. H� meses o pre�o do boi vinha batendo recordes porque h� uma menor disponibilidade de animais para o abate — reflexo do pr�prio ciclo da bovinocultura, que compreende os per�odos de reprodu��o e reposi��o dos animais.

Isso porque a cadeia de produ��o de carne bovina tem uma s�rie de particularidades. N�o � poss�vel aumentar e diminuir a quantidade de bois no pasto tempestivamente, a depender do n�vel de demanda.


Mulher diante de prateleira de supermercado
Alta do d�lar ajuda a explicar alta nos pre�os de uma s�rie de alimentos (foto: Getty Images)

O tempo de gesta��o das vacas � de cerca de 9 meses. O per�odo para que um bezerro se torne um animal pronto para o abate, por sua vez, gira em torno de dois anos. Tudo isso faz com que o ciclo seja mais longo que o de outras prote�nas e dure cerca de 6 ou 7 anos.

Quando o pre�o do boi est� elevado, como atualmente, a tend�ncia � que os pecuaristas mandem as f�meas (chamadas no setor de "matrizes") para o abate. Aos poucos, a oferta de animais aumenta e o pre�o do boi tende a reduzir.

Um volume menor de f�meas, contudo, significa uma menor produ��o de bezerros (chamados no setor de "animais de reposi��o"). E � por isso que, no momento seguinte do ciclo, a tend�ncia � de eleva��o nos pre�os dos bezerros.

Essa alta, por sua vez, estimula a reten��o de f�meas, de forma que os pre�os dos bezerros tendem aos poucos a recuar. Com menos f�meas dispon�veis para o abate, � o pre�o do boi que come�a a subir, e o ciclo tem in�cio outra vez.

Assim, o ciclo que come�ou em 2018, quando a ind�stria come�ava a se recuperar dos impactos da Opera��o Carne Fraca, deve se estender at� 2023 ou 2024, como ilustrou em entrevista � BBC News Brasil o pesquisador de pecu�ria do Cepea (Centro de Estudos Avan�ados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, Thiago Bernardino de Carvalho.

"O ciclo do frango, por exemplo, tem 60 dias — � muito menor."


Bois
Cota��o da arroba do boi gordo recuou cerca de R$ 60 em outubro - mas queda n�o chegou ao bolso do consumidor (foto: Ag�ncia Par�)

O embargo da China

Nem o embargo imposto pela China desde setembro, que derrubou as exporta��es da carne brasileira, foi capaz de reduzir os pre�os de forma substancial.

O pa�s asi�tico declarou embargo �s exporta��es brasileiras ap�s a identifica��o de dois casos de vaca louca em frigor�ficos em Minas Gerais e Mato Grosso. Apesar de a Organiza��o Mundial de Sa�de Animal afirmar que os casos eram at�picos e espont�neos e que, portanto, n�o apresentavam risco para a cadeia produtiva, o embargo segue mantido.

A suspens�o das compras pela China provocou queda forte no pre�o do boi em outubro, mas essa queda praticamente n�o chegou ao bolso dos consumidores - ou seja, � carne industrializada.

Entre as explica��es apontadas por Carvalho est�o, por exemplo, a autoriza��o dada em outubro pelo Minist�rio da Agricultura para o armazenamento por at� 60 dias em cont�ineres (e n�o apenas em c�maras frias, como coloca a legisla��o sanit�ria atual) do que foi produzido antes do bloqueio, em 4 de setembro.

Assim, a ind�stria pode manter o produto estocado e n�o precisou necessariamente disponibilizar o excedente para o mercado interno. Essa din�mica ajudou a segurar os pre�os elevados no mercado dom�stico.

No fim de novembro, a China deu o primeiro sinal de flexibiliza��o e permitiu a exporta��o da carne certificada pelo menos at� o dia anterior ao embargo (3 de setembro), que foi, ent�o, embarcada para a �sia. De l� para c�, a ind�stria vem reequilibrando seus estoques, enquanto o bloqueio segue mantido.

Outro fator colocado pelo pesquisador est� no �ltimo elo da cadeia, o varejo. Em sua avalia��o, os a�ougues e supermercados aproveitaram para comprar carne mais barata em outubro para estocar para as festas — e o processo de estocagem, que envolve refrigera��o, � custoso, ele pontua.

"O consumidor, se puder, n�o vai abrir m�o da carne, do churrasco no fim do ano. Ele vai cortar outros produtos antes, e o supermercado sabe disso."

H� ainda a possibilidade de o varejo ter aproveitado parte da redu��o de pre�os pelos fornecedores para aumentar suas margens de lucro.

Essa foi a hip�tese levantada em uma nota dura divulgada no fim de outubro pelo Sindicato das Ind�strias de Frigor�ficos de Mato Grosso (Sindifrigo-MT), que chamava de "distor��o" a diferen�a de pre�os entre atacado e varejo e afirmava que ela mostrava "a gan�ncia de um elo que n�o quer fazer parte de uma corrente da cadeia".

"Os balc�es dos a�ougues e supermercados precisam se engajar na cadeia e n�o se apresentarem como inimigos", conclu�a o comunicado.

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