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Estado de Minas MERCADO DE TRABALHO

Desempregados lutam por chance num Brasil de poucas oportunidades

Com mais de 12 milh�es de brasileiros sem ocupa��o, as dificuldades para recoloca��o profissional variam conforme a faixa et�ria e a escolaridade


14/03/2022 04:00 - atualizado 14/03/2022 07:27

Jackson Gonçalves, de 31 anos, da faixa etária em que é maior o percentual de desempregados, segundo o IBGE
"Mandei uns curr�culos, mas o mercado ficou muito seletivo. Tem muita gente procurando emprego, e isso impede que todos tenham oportunidades", Jackson Gon�alves, de 31 anos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

O caminho �rduo e o olhar distante pelas ruas de Belo Horizonte demonstram misto de tristeza e preocupa��o para Jackson Gon�alves, de 31 anos, um morador entre tantos outros do Bairro Serra que lutam para encontrar  trabalho fixo. S�o praticamente cinco anos sem carteira assinada, o que levou Jackson abrir m�o de desejos e conquistas para sua fam�lia. O drama dele se repete em lares dos cerca de 12 milh�es de brasileiros que vivem � procura de emprego, segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE).

 

Jackson pertence � faixa et�ria que mais sofre com a desocupa��o desde 2020. Entre os trabalhadores de 25 a 39 anos, o percentual de desempregados atingiu a marca de 35,2%. J� os jovens de 18 a 24 anos sem ocupa��o correspondem a 30,8% do total, como aponta a pesquisa Pnad Cont�nua do IBGE, referente ao quarto trimestre do ano passado.

 

A dificuldade se agrava j� que, quanto mais tempo o trabalhador passa desempregado, mais complexa ser� a reinser��o no mercado de trabalho. No �ltimo emprego fixo, Jackson foi  auxiliar de limpeza, em 2016, numa empresa de inform�tica. A demiss�o dele ocorreu devido a cortes de despesas. Desde ent�o, contou com a ajuda da mulher, Gislene, que trabalha como diarista, para garantir a alimenta��o do casal e dos dois filhos pequenos. Para aumentar a renda da fam�lia, ele faz servi�os como auxiliar de pedreiro, carrega m�veis e faz pequenos favores em troca de gorjetas. No fim do m�s, recebe, no m�ximo, R$ 800.

 

Giovana Lima, de 15 anos, que há seis meses busca vaga de menor aprendiz e esbarra na cobrança de experiência
"Quase nunca d�o chance para quem nunca trabalhou. A pandemia tamb�m complica, pois muitas empresas deixaram de contratar menores. A economia est� devastada", Giovana Lima, de 15 anos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

 

“�s vezes, voc� tem uma oportunidade e espera ficar um bom tempo trabalhando, mas a vaga s� dura dois meses. Foi assim comigo. Mandei uns curr�culos, mas o mercado ficou muito seletivo. Tem muita gente procurando emprego, e isso impede que todos tenham oportunidades”, afirma Jackson, que atribui a dificuldade de inser��o ao mercado � falta de estudo. Ele cursou somente at� a s�tima s�rie do ensino fundamental.

 

Em outra face da mesma dificuldade, a estudante Giovana Lima, de 15, tamb�m encontrou barreiras ao procurar uma vaga de menor aprendiz na �rea administrativa. H� seis meses ela vem tentando vaga, mas s� encontra negativas. Nesse per�odo, fez cursos de inform�tica para se qualificar melhor. “A idade � um fator importante, porque quase nunca d�o chance para quem nunca trabalhou. A pandemia tamb�m complica, pois muitas empresas deixaram de contratar menores. A economia est� devastada. Deveriam abrir mais vagas, o que incentiva as pessoas a comprarem e consumirem mais. Logo, tudo se recuperaria”, avalia.

 

Segundo o analista do IBGE Alexandre de Lima Veloso, o que pesa contra os trabalhadores mais jovens � justamente a falta de experi�ncia: “A inser��o no mercado de trabalho da for�a mais jovem historicamente sempre foi mais dif�cil. Com a pandemia, tivemos a redu��o dos empregos formais. Quem j� estava inserido e conseguiu trabalhar de casa foi menos afetado do que quem estava buscando nova oportunidade, como � o caso de trabalhadores nessa faixa. Essas pessoas trabalhavam h� menos tempo, com menos qualifica��o e experi�ncia, o que ajuda a explicar o cen�rio negativo”.

 

Paulo Roberto de Souza, de 57 anos, que não consegue recolocação na construção civil, esbarrando em questões como qualificação e preconceito
"Procuro emprego todos os dias, mas, como passei dos 50, isso me impede de conseguir algo mais concreto. N�o tenho tanto pique como antigamente para um servi�o pesado",Paulo Roberto de Souza, de 57 anos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)

 

Para quem tem mais idade, muda o motivo, mas o problema da falta de trabalho se repete. Paulo Roberto de Souza, de 57, tenta novo emprego na constru��o civil. Com apenas a quinta s�rie, ele est� h� tr�s anos desempregado. Separado da mulher desde o ano passado, passou a morar sozinho nas ruas da capital, vivendo de lavar e cuidar de carros na �rea central. Para ele, o fato de n�o ter conquistado nova oportunidade se deve � idade. “Procuro emprego todos os dias, mas, como passei dos 50, isso me impede de conseguir algo mais concreto. N�o tenho tanto pique como antigamente para pegar um servi�o pesado. N�o tenho tanta escolaridade e isso dificulta. E tamb�m n�o tenho quem me indique uma oportunidade”, enumera.

 

INFORMALIDADE


A taxa de desemprego m�dia no Brasil no ano passado foi 13,2%, inferior aos 13,8% de 2020. Apesar disso, � o segundo maior �ndice j� apurado pelo IBGE na s�rie hist�rica de dados da Pnad Cont�nua, iniciada em 2012. Segundo a consultoria Trading Economics, que leva em considera��o 24 pa�ses de v�rios continentes, das na��es desenvolvidas �s emergentes, a taxa brasileira � a quarta mais alta, superada apenas por �frica do Sul, Espanha e Turquia.

 

Para Rodolpho Tobler, economista da Funda��o Getulio Vargas (FGV), a pandemia da COVID-19 s� ajudou a ampliar os problemas vividos anos anteriores no Brasil: “� preciso lembrar que antes da pandemia a taxa de desemprego j� estava muito elevada. Tivemos uma grande crise entre 2014 e 2016, e o mercado de trabalho se recuperou muito lentamente, com informalidade, sal�rios e produtividade mais baixos. O resultado que vemos agora � o desfecho de um per�odo longo em que enfrentamos esses problemas, acentuado pela COVID-19. Estamos recuperando boa parte disso, mas ainda com sal�rios baixos e empregos de menor qualidade.”

 

At� mesmo para quem est� empregado a situa��o j� � dif�cil. De acordo com o IBGE, o rendimento m�dio dos trabalhadores no Brasil foi estimado em R$ 2.447 de outubro a dezembro de 2021, tendo apresentado redu��o de 3,6% frente ao 3º trimestre de 2021 (R$ 2.538) e de 10,7% frente ao quarto trimestre de 2020 (R$ 2.742). Ou seja, diante da alta infla��o no pa�s, os brasileiros est�o cada vez recebendo menos.

 

Tobler diz que o desafio para o pa�s � justamente ter um crescimento econ�mico amplo, com melhora nos n�meros do Produto Interno Bruno (PIB) e surgimento de novas empresas, para uma mudan�a de cen�rio. Nesse sentido, a informalidade � mais uma etapa a ser vencida: “A informalidade seria uma sa�da para as pessoas que n�o conseguiram nenhum tipo de trabalho, pois n�o precisam de processos seletivos e de burocracia para obter ocupa��o. Essa informalidade tem ocorrido por necessidade. As pessoas t�m buscado porque n�o t�m op��o. Isso gera perda de poder de compra, o que afeta o crescimento econ�mico”.

 

O �ndice de desemprego em Minas foi inferior � m�dia nacional (11,7%), mas ainda � a terceira maior taxa da s�rie. O total de pessoas desocupadas no estado passa de 1 milh�o. Em rela��o ao pa�s, Minas tem historicamente taxas um pouco abaixo da m�dia nacional. Os estados do Norte e Nordeste contam com taxas bem acima da m�dia. “o desafio em 2022 � passar pela turbul�ncia pol�tica e que a economia deixe para tr�s os efeitos da pandemia e seja capaz de gerar maior quantidade de empregos e com mais qualidade, com carteira assinada e benef�cios previdenci�rios, mais seguran�a e remunera��o”, ressalta Alexandre de Lima Veloso.

 

Ofertas localizadas frente � crise geral

 

Ainda que o Brasil enfrente situa��o de pen�ria no surgimento de vagas, alguns setores apresentaram destaque na reinser��o no mercado de trabalho. No fim do ano passado, a alimenta��o e o alojamento, com 23,9% de postos a mais que em 2020, e a constru��o civil, com 17,4%, foram aqueles que mais apresentaram ofertas de trabalho, mesmo que com remunera��es mais baixas.

 

Contudo, o professor de economia M�rio Rodarte, da UFMG, ressalta que essas �reas n�o s�o capazes de melhorar a situa��o do trabalhador brasileiro: “Vemos uma retomada de alguns empregos que antes estavam pressionados pelo isolamento da COVID-19, com remunera��o mais baixa. O trabalhador continua com a mesma renda nominal, mas n�o teve poder de barganhar aumento. As expans�es ocorrem em setores mais requintados, mas a maioria dos trabalhadores est� numa situa��o mais prec�ria”.

 

Segundo ele, a crise econ�mica impediu que as classes trabalhadoras tamb�m lutassem por melhores condi��es de vida e remunera��es mais qualificadas: “V�rias categorias mal conseguem o reajuste para recompor as perdas do per�odo. O mercado, muitas vezes, n�o est� aquecido, e isso acaba enfraquecendo o processo de negocia��o feito pelos trabalhadores”.

 

Empreendedores por necessidade

 

A pandemia de COVID-19 tamb�m pode ter ampliado o empreendedorismo por necessidade em Minas Gerais. Entre os microempreendedores individuais (MEIs) que come�aram um neg�cio ap�s o in�cio da pandemia, 40% empreenderam por falta de alternativa de trabalho e renda, contra 36% dos que haviam iniciado o neg�cio antes desse per�odo pelo mesmo motivo. Os dados s�o da Pesquisa Perfil e Comportamento do Microempreendedor Individual de Minas Gerais, feita pelo Sebrae Minas.

 

Segundo o estudo, o surgimento de microempresas ocorre com mais frequ�ncia entre pessoas acima de 45 anos, que cursaram o ensino m�dio ou o t�cnico incompleto. A pesquisa mostra tamb�m que nove a cada 10 microempreendedores no estado contribuem com o or�amento dom�stico, sendo 40% os �nicos respons�veis pela manuten��o da casa. Outros 18% s�o os principais mantenedores do domic�lio e 35% complementam a renda.

 

“A crise econ�mica desencadeada pela pandemia teve v�rios reflexos sociais, entre os quais o desemprego. Esse cen�rio s� agravou a dificuldade que as pessoas com mais de 45 anos e com menor escolaridade t�m de conseguir um emprego com rendimento satisfat�rio. No caso dos que t�m menor escolaridade, a baixa qualifica��o � um dificultador; quanto aos de mais idade, um motivo pode ser o preconceito enfrentado ao procurar emprego”, avalia Paola La Guardia, analista da Unidade de Intelig�ncia Empresarial do Sebrae Minas.    


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