
Segundo os analistas, a demiss�o � uma a��o pol�tica do presidente Jair Bolsonaro (PL) para deixar claro � sua base em ano eleitoral seu descontentamento com a alta de pre�os dos combust�veis, ap�s o forte reajuste promovido pela Petrobras no in�cio de mar�o, com aumento de 25% do diesel, 19% da gasolina e 16% do g�s de botij�o.
Mas, assim como aconteceu com a demiss�o de Roberto Castello Branco em fevereiro de 2021, ap�s um reajuste de 14,7% no diesel e 10% na gasolina pela estatal naquele m�s, os economistas avaliam que a sa�da de Silva e Luna n�o deve resultar em uma mudan�a significativa nos rumos da empresa.
Ainda mais que o nome escolhido para substituir Silva e Luna � o do consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e que foi conselheiro para a �rea de energia da campanha de A�cio Neves (PSDB) em 2014.
O novo presidente da Petrobras foi um feroz cr�tico da pol�tica de controle de pre�os durante o governo de Dilma Rousseff (PT) e � um defensor vocal da paridade internacional — modelo em que o pre�o dos combust�veis no mercado interno segue a varia��o de itens como o pre�o do barril de petr�leo no exterior e a cota��o do d�lar.
Em entrevista � BBC News Brasil ao fim de fevereiro, por ocasi�o do in�cio da guerra na Ucr�nia, Pires defendeu que o petr�leo em alta � bom para o Brasil, apesar de gerar infla��o, porque o pa�s � produtor e exportador do �leo e, portanto, a arrecada��o de impostos da Uni�o, Estados e munic�pios cresce quando os pre�os sobem.
'N�o � f�cil alterar a pol�tica de pre�os'
"A mudan�a � ruim, porque mostra que o governo est� interferindo na empresa", avalia Gabriel Leal de Barros, s�cio e economista-chefe da gestora de recursos Ryo Asset.
"N�o quero minimizar essa interfer�ncia pol�tica, mas acredito que o mercado j� entendeu que a forma de Bolsonaro conduzir � ruidosa, sem que no final do dia tenha mudan�a material na pol�tica da empresa", observa.
"Foi o que aconteceu com a entrada do Silva e Luna. Estamos vivendo novamente o que vivemos quando Castello Branco saiu, que o mercado ficou superapreensivo e, no fim das contas, o Silva e Luna n�o alterou [a paridade de pre�os]. A verdade � que n�o � f�cil alterar a pol�tica e o mercado entendeu isso", conclui o analista.
Para Jos� Francisco Lima Gon�alves, economista-chefe do banco Fator, a descren�a do mercado com rela��o a uma mudan�a na pol�tica de paridade se reflete na pequena queda das a��es da Petrobras nesta segunda-feira.
As a��es ordin�rias da empresa (aquelas com direito a voto) ca�ram 2,63%, negociadas a R$ 34,08, e as preferenciais (sem direito a voto) recuaram 2,17%, cotadas a R$ 31,60.
Os pap�is j� estavam em queda mesmo antes da not�cia da prov�vel demiss�o, devido � baixa nos pre�os do petr�leo nessa segunda-feira, com o endurecimento do lockdown contra a covid-19 na China, que gera preocupa��es sobre o crescimento da economia do pa�s asi�tico.
"Uma queda de 2,6% � pouca coisa, aparentemente o pessoal n�o est� levando muito a s�rio", observa Gon�alves.
"Como j� aconteceu isso [a demiss�o de um presidente da Petrobras sob Bolsonaro ap�s reajuste de pre�os], isso � visto mais como uma 'esperneada', uma tentativa de Bolsonaro de dizer 'eu fa�o o que consigo, mas o pessoal n�o ajuda', como ele tem feito recentemente", observa.

Rafaela Vit�ria, economista-chefe do Banco Inter, compartilha da vis�o dos colegas, de que a mudan�a de pol�tica � improv�vel, mas refor�a que ela seria muito negativa para a economia e bastante malvista pelo mercado.
"Seria bem negativo, n�o s� para a Petrobras, mas tamb�m do ponto de vista fiscal, porque controle de pre�os nunca � bem visto. N�o funciona para a controlar a infla��o e s� cria mais estresse, porque o pre�o represado gera mais expectativa de infla��o no futuro", diz Vit�ria.
"Se de fato houver uma mudan�a na pol�tica e uma redu��o for�ada de pre�os, isso pioraria a expectativa de juros, num momento em que o Banco Central finalmente conseguiu ancorar as expectativas de alta para a Selic em 12,75%. O BC ter que subir mais juros, se as expectativas piorarem novamente, pode impactar no crescimento da economia", acrescenta.
'Petr�leo em alta � bom para o Brasil'
Cotado para assumir a presid�ncia da Petrobras, o consultor do setor de energia Adriano Pires � um defensor hist�rico da pol�tica de paridade de pre�os.
A Petrobras adotou o chamado PPI (Pre�o de Paridade de Importa��o) em 2016, ap�s anos praticando pre�os controlados, sobretudo no governo Dilma Rousseff. O controle de pre�os era uma forma de mitigar a infla��o, mas causou grandes preju�zos � petroleira.
Por essa pol�tica, em momentos como o atual, em que o petr�leo est� mais caro no mercado internacional devido aos efeitos da guerra na Ucr�nia, os pre�os dos combust�veis ficam mais caros no mercado interno.

Em entrevista � BBC News Brasil em 24 de fevereiro, quando o barril do petr�leo chegou a valores acima de US$ 100 pela primeira vez desde 2014, Pires disse que o petr�leo em alta � bom para o Brasil, apesar de gerar infla��o.
"O Brasil hoje, ao contr�rio do passado, virou um grande produtor e exportador de petr�leo. Ent�o o petr�leo caro aumenta a arrecada��o de Estado, munic�pio e Uni�o no Brasil. Isso � not�cia boa, um pa�s importador est� muito pior do que Brasil", disse Pires, na ocasi�o.
"�s vezes o pessoal me liga e pergunta: 'Adriano ser� que o petr�leo volta para US$ 50?' Eu digo: o Brasil � exportador, eu quero que o petr�leo v� a US$ 200. Pergunte � Ar�bia Saudita se ela prefere petr�leo a US$ 200 ou a US$ 50, agora n�s somos do time da Ar�bia Saudita", completou.
Pires defendeu ent�o usar parte do aumento de arrecada��o gerado pela alta do petr�leo para criar programas sociais voltados a p�blicos espec�ficos, como subsidiar as tarifas do transporte urbano, dar um aux�lio aos caminhoneiros aut�nomos e aumentar o n�mero de fam�lias beneficiadas com o aux�lio-g�s aprovado no Congresso ano passado.
Em fevereiro, o Senado aprovou um projeto para que o governo federal repasse aos munic�pios, Estados e Distrito Federal o valor da gratuidade dos idosos no transporte p�blico urbano. A proposta evitaria aumento da passagem esse ano, segundo prefeituras, mas ainda aguarda vota��o na C�mara.
O Senado tamb�m aprovou projeto que amplia acesso ao aux�lio-g�s para 11 milh�es de fam�lias e um aux�lio-gasolina para taxistas, motoristas de aplicativos e entregadores. As propostas tamb�m aguardam vota��o na C�mara, mas o aux�lio para motoristas s� seria poss�vel em 2023, devido � legisla��o eleitoral.
Gon�alves, do Fator, e Leal de Barros, da Ryo Asset, veem o nome de Pires com bons olhos.
"O Adriano � um cara do setor, um t�cnico cuja especialidade � o setor de �leo e g�s. Isso minimizaria o receio do mercado de um 'cavalo de pau' na pol�tica de pre�os", diz Leal de Barros.
"A mudan�a � ruim de qualquer forma, mas um fator que minimiza � o custo reputacional de um pr�ximo presidente especialista no setor de topar esse desgaste de credibilidade [que seria gerado por uma mudan�a na pol�tica de pre�os]. N�o � todo mundo que topa jogar seu nome no lixo para atender uma demanda pol�tica", completa.
Segundo Barros, a rea��o seria muito diferente se o escolhido for um nome como o de Caio Mario Paes de Andrade, atual secret�rio especial de Desburocratiza��o, Gest�o e Governo Digital do Minist�rio da Economia e antes presidente da Serpro (estatal de processamento de dados do governo).
O nome de Andrade circulou no mercado como poss�vel substituto de Silva e Luna nos �ltimos dias.
"Ele n�o tem nenhuma experi�ncia no setor e o mercado com certeza ia ver com maus olhos", conclui o economista da Ryo Asset.
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