
A tonelada de trigo para panifica��o fechou hoje em 438,25 euros no Euronext, um recorde absoluto para o gr�o, que j� estava sendo negociado a pre�o de ouro no mercado mundial.
"Este � um recorde absoluto para todos os vencimentos do Euronext. O recorde anterior remonta a 7 de mar�o de 2022, quando o trigo fechou em 422,50 euros por tonelada", disse � AFP Damien Vercambre, corretor da Inter-Courtage.
A �ndia, o segundo maior produtor mundial de trigo, proibiu no s�bado a exporta��o do gr�o, a menos que haja uma autoriza��o especial do governo. A decis�o foi adotada no momento em que o pa�s vive uma queda de produ��o devido a ondas de calor extremo.
Nova D�lhi, que havia se comprometido anteriormente a fornecer trigo aos pa�ses fr�geis dependentes das exporta��es da Ucr�nia, alegou que a decis�o tem como objetivo garantir a "seguran�a alimentar" de seus 1,4 bilh�o de habitantes.
Tamb�m no s�bado, os ministros da Agricultura do G7 afirmaram que a suspens�o das exporta��es de trigo indianas "agravariam a crise" de abastecimento mundial de cereais provocada pela guerra da Ucr�nia.
Agora, "os mercados reagem com mais for�a, pois o embargo da �ndia a suas exporta��es de trigo contradiz suas promessas anteriores sobre o fornecimento mundial", destaca Gautier Le Molgat, analista da consultoria agr�cola Agritel.
Alternativas para o trigo da Ucr�nia
Nos mercados mundiais, a preocupa��o � ainda maior, pois a �ndia, inicialmente um exportador mediano de trigo, estava a caminho de se transformar em um importante ator do setor: exportou 7 milh�es de toneladas em 2021 e apostava em chegar a 10 milh�es este ano, convertendo-se em uma das alternativas poss�veis ao trigo ucraniano.
Antes do conflito, iniciado com a invas�o russa em 24 de fevereiro, a Ucr�nia era o quarto exportador mundial de milho e estava se tornando o terceiro maior fornecedor global de trigo.
Sua produ��o de trigo pode se reduzir gravemente este ano, segundo as previs�es do Departamento de Agricultura americano (USDA, na sigla em ingl�s), que considera que Kiev ter� apenas capacidade de exportar 10 milh�es de toneladas em 2022, contra 19 milh�es de toneladas um ano antes.
O pre�o do trigo aumentou 40% desde o in�cio da guerra e segue alto devido aos riscos de seca nos Estados Unidos e na Europa ocidental.
Nesse contexto, e com a guerra da Ucr�nia se prolongando no tempo, a promessa de trigo indiano havia aliviado um pouco os mercados, em especial no Oriente M�dio e na �sia, clientes tradicionais da �ndia.
Para os observadores, os pre�os v�o seguir altos, pois "a demanda sempre vai existir".
Momento de cautela para o mercado brasileiro
Para o presidente do Sindicato e Associa��o Panifica��o e Confeitaria de Minas Gerais (Amip�o), Vinicius Dantas, a decis�o � preocupante para o mercado brasileiro.
“Quem importa da �ndia vai passar a importar de outro mercado e, consequentemente, traz uma alta de pre�os para o Brasil. N�s somos hoje importadores da Argentina, al�m de Estados Unidos e Canad�. Mas grande parte do trigo que entra no Brasil vem da Argentina.”
Dantas lembra que o pa�s est� no per�odo de entressafra. “S� teremos trigo brasileiro a partir de setembro e outubro.” Al�m disso, tem a guerra entre R�ssia e Ucr�nia, dois dos maiores produtores do gr�o no mundo. “Acredito que n�o se consegue baixar o pre�o do trigo. Ele se estabiliza no patamar em que est� porque houve uma queda de venda.”
O presidente da Amip�o acredita que o momento � de cautela. “Para o setor da panifica��o, o momento � de gest�o. Esse conflito (no Leste Europeu) mexeu muito com a panifica��o. Tivemos um in�cio de repasse, precisamos alinhar para garantir um pre�o poss�vel para o consumidor, j� que o sal�rio n�o est� subindo nos patamares de aumento da mat�ria prima. Precisamos achar um equil�brio.”
Dantas ressalta que al�m do trigo, para fabrica��o do p�o existem ainda custos com loca��o, energia el�trica, pagamento de funcion�rios. “O percentual de 15% a 20% do custo do p�o � trigo. Precisamos administrar e tentar segurar um pouco esse repasse porque ele pode ser perigoso para o setor.”
Ele destaca que existem outras ind�strias que concorrem com a da panifica��o, como a do biscoito, por exemplo. “Em uma mudan�a de h�bito do consumidor por uma quest�o de pre�o, pode afetar o segmento.”