
O aumento do pre�o da gasolina, como resultado da invas�o russa da Ucr�nia, tem gerado preocupa��o em todo o mundo e est� aprofundando o problema inflacion�rio que afeta v�rias economias do planeta.
Mas h� outro combust�vel derivado do petr�leo que ficou ainda mais caro — em junho atingiu seu pre�o m�ximo hist�rico — e est� causando dores de cabe�a ainda maiores do que a gasolina.
Trata-se do �leo diesel.
No fim de maio, o pre�o m�dio do litro do �leo diesel comum chegou a quase R$ 7, o maior valor registrado na s�rie hist�rica da Ag�ncia Nacional de Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�veis (ANP).
Isso causou grande insatisfa��o entre caminhoneiros, que criticam a pol�tica de pre�os da Petrobras.
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Como o projeto de lei j� havia sido aprovado na segunda-feira no Senado, ele seguir� agora para san��o do presidente Jair Bolsonaro (PL), defensor da proposta.
O governo vem pressionando a Petrobras para evitar aumentar o pre�o do �leo diesel — a estatal, por outro lado, alertou recentemente sobre o risco de desabastecimento do combust�vel se n�o houver reajuste.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, no entanto, afirmam que n�o h� garantias de que essa medida possa, de fato, reduzir o pre�o dos combust�veis.
O que mais preocupa � que a subida do pre�o do �leo diesel se deve ao fato de existir uma escassez global desse combust�vel, algo que, asseguram, dificilmente ser� revertido a curto prazo.
E os efeitos disso afetam o bolso de todos, mesmo que seu carro n�o seja movido a diesel.

Por qu�?
Porque o �leo diesel � o combust�vel utilizado pela maioria dos ve�culos de carga, dos caminh�es que transportam os nossos alimentos, medicamentos e at� a gasolina que abastecemos nos postos, aos navios que transportam mercadorias pelo mundo.
� tamb�m o que muitos �nibus e trens usam.
E � desse combust�vel que muitas ind�strias dependem para alimentar suas m�quinas — e que produtores agr�colas precisam para operar seus tratores e poder semear e colher.
Por isso, a falta de diesel est� gerando s�rios problemas em todo o mundo, que amea�am se espalhar se a demanda continuar superando a oferta.
Crise global
A escassez deste combust�vel est� causando problemas de mobilidade em lugares t�o dispersos como Sri Lanka, I�men e v�rios pa�ses africanos.
Al�m do Brasil, o aumento dos pre�os do diesel tamb�m gerou protestos de comunidades ind�genas e camponeses no Equador.
Outra regi�o onde a crise causou enorme preocupa��o � a Europa.
Isso porque — ao contr�rio do que acontece em muitas outras partes do mundo — no velho continente muitos dos motoristas de carros particulares usam diesel, porque � uma fonte de energia mais eficiente e menos poluente do que a gasolina.
Antes da guerra na Ucr�nia, a Europa importava da R�ssia cerca de dois ter�os do petr�leo bruto que refinava para produzir diesel.
Mas, ap�s as san��es econ�micas impostas a Moscou pelo Ocidente, a Europa passou a depender dos Estados Unidos para grande parte desse combust�vel.
Embora isso tenha evitado a escassez, o impacto nos bolsos foi not�rio, com pre�os recordes nos dois lados do Atl�ntico.
Enquanto os brit�nicos hoje pagam mais de 100 libras (US$ 125 ou R$ 629) para abastecer seu carro — no valor de cerca de US$ 2,30 por litro — os caminhoneiros nos EUA pagam US$ 1,50 o litro, o valor mais alto j� registrado naquele pa�s.

"Os aumentos de pre�os s�o t�o altos em alguns Estados que os caminhoneiros est�o tendo que pagar do pr�prio bolso para fazer o transporte de mercadorias, e muitos est�o sendo mais seletivos sobre as viagens que fazem", informou a revista Fortune em meados de maio.
"Algumas empresas de transporte rodovi�rio menores est�o lutando para pagar os sal�rios e est�o considerando reduzir ou at� fechar as opera��es devido aos altos custos."
Por sua vez, o jornal americano Wall Street Journal observou que "os custos est�o afetando particularmente as frotas de caminh�es menores que comp�em a maior parte do mercado de caminh�es dos EUA altamente fragmentado".
Escassez na Argentina
No outro extremo do continente americano, a escassez de diesel tamb�m est� gerando caos nos vizinhos do Brasil.
Nas rotas do centro e norte da Argentina, h� longas filas de caminh�es esperando para abastecer com esse combust�vel, cuja venda foi limitada em muitos lugares a 20 litros por ve�culo (uma pequena fra��o do tanque).
Dezenove das 23 prov�ncias argentinas t�m problemas de abastecimento, segundo um estudo realizado no in�cio de junho pela Federa��o Argentina de Entidades Empresariais de Transporte de Carga (Fadeeac).
"A falta de diesel amea�a prejudicar um dos momentos mais importantes para a debilitada economia argentina: a colheita e posterior plantio de gr�os e oleaginosas, como soja, milho e girassol, que s�o o maior bem de exporta��o do pa�s", diz Veronica Smink, correspondente da BBC News Mundo, o servi�o de not�cias em espanhol da BBC, em Buenos Aires, a capital argentina.
Smink explica que a falta de diesel se agravou na Argentina porque fatores locais se somaram � escassez de oferta em todo o mundo, o que complicou ainda mais o quadro.

"Quase um ter�o do diesel consumido no pa�s � importado e as empresas petrol�feras n�o s� t�m mais dificuldade de obter (o combust�vel), devido aos efeitos da guerra na Ucr�nia, como tamb�m import�-lo a pre�os correntes n�o � lucrativo para elas, devido aos baixos pre�os locais impostos pelo governo", diz.
Causas da crise
Mas a invas�o russa n�o � a �nica raz�o pela qual o diesel est� faltando.
Mesmo antes de Vladimir Putin ordenar a ofensiva russa, no fim de fevereiro, a demanda mundial por diesel j� superava a oferta.
O principal motivo desse descompasso, segundo especialistas, foi a pandemia do coronav�rus.
A paralisa��o econ�mica causada pelas quarentenas em 2019 e 2020 fez com que o uso de combust�vel despencasse, levando as refinarias a reduzir sua produ��o de diesel.
Algumas at� fecharam as portas permanentemente e outras decidiram converter-se para refinar combust�veis renov�veis, como parte de uma transi��o do setor energ�tico para fontes mais limpas e ecol�gicas.
� medida que o mundo se reabriu, a partir de 2021, a demanda por diesel rapidamente ultrapassou a oferta.

Al�m disso, houve a r�pida retomada dos voos comerciais, j� que o combust�vel de avia��o � feito da mesma quantidade de petr�leo bruto que o diesel.
O analista de mercado da Reuters John Kemp alertou que esse aumento da demanda levou muitos pa�ses da Am�rica do Norte, Europa e �sia a esgotar grande parte de seus estoques de diesel.
Na Europa e nos EUA, as a��es ca�ram para seus n�veis mais baixos desde a crise financeira de 2008, assinala ele.
Um funcion�rio do governo dos Estados Unidos disse a jornalistas no fim de maio que o presidente americano Joe Biden est� discutindo a possibilidade de usar um estoque emergencial de diesel, criado no nordeste do pa�s h� mais de duas d�cadas, e at� agora s� usado uma vez para aliviar os efeitos do furac�o Sandy, em 2012.
O objetivo seria aumentar a oferta de combust�veis para baixar os pre�os, o que contribuiu para os EUA registrarem sua maior infla��o em quatro d�cadas, algo que pode manchar o desempenho do governista Partido Democrata nas elei��es parlamentares de novembro.
No entanto, analistas alertam que os efeitos da libera��o da reserva de emerg�ncia do Nordeste ser�o limitados, j� que os milh�es de barris de diesel despejados no mercado n�o seriam suficientes para impactar os pre�os.
Impacto econ�mico
Para Kemp, a falta global de diesel "anuncia uma desacelera��o econ�mica iminente".
"A escassez global de diesel indica que o ciclo econ�mico est� chegando ao seu pico e que um per�odo de crescimento mais lento ou mesmo de recess�o � iminente para trazer o consumo de volta � produ��o", diz ele.
O �ltimo relat�rio econ�mico do Banco Mundial, apresentado nesta semana, confirma que o mundo passa por "uma forte desacelera��o do crescimento", e alerta que isso poder� gerar "estagfla��o", a combina��o de baixo crescimento econ�mico e infla��o elevada.
"Para muitos pa�ses ser� dif�cil evitar a recess�o", diz o americano David Malpass, presidente do Banco Mundial, ao lan�ar o relat�rio em 7 de junho.
O Banco Mundial estima que o crescimento da economia mundial em 2022 ser� de 2,9%, cerca de metade do que atingiu em 2021 (5,7%). Para o Brasil, a previs�o � de crescimento de 1,5%.
Por sua vez, a Organiza��o para a Coopera��o e Desenvolvimento Econ�mico (OCDE) reduziu sua previs�o de crescimento econ�mico global para este ano de 4,5% para 3%, e estimou que em seus 37 pa�ses membros haver� uma infla��o m�dia anual de 8,5%.
'Este texto foi originalmente publicado em https://www.bbc.com/portuguese/internacional-61842567'
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