
A cena vista em todos os cantos do pa�s � praticamente corriqueira nos �ltimos meses: motoristas se espremem nos postos para completar o tanque e tentar driblar mais um reajuste dos combust�veis feito pela Petrobras. Em 2022, a empresa estatal j� anunciou por tr�s vezes o aumento da gasolina e outras quatro o do diesel, frustrando motoristas e caminhoneiros que j� vivem � merc� de um Brasil com forte infla��o e crise econ�mica.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) fez press�o sobre o ent�o presidente da Petrobras, Jos� Mauro Ferreira Coelho, que deixou o cargo nesta ter�a-feira (21/6), culpando-o sobre o aumento abusivo dos pre�os dos combust�veis.
A repercuss�o do alto reajuste chegou � C�mara dos Deputados, j� que o presidente da casa, Arthur Lira (PP-AL), tamb�m disparou contra a pol�tica da empresa em custear os combust�veis nas bombas.
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Apesar das reclama��es de Bolsonaro, os combust�veis em seu governo n�o pararam de subir. De acordo com a Ag�ncia Nacional do Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�veis (ANP), os reajustes foram muito superiores ao aumento do sal�rio m�nimo e do pr�prio �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA), a infla��o do pa�s.
Em Minas, por exemplo, o etanol encareceu 72% desde que Bolsonaro tomou posse, em janeiro de 2019, passando de R$ 2,96 para R$ 5,12 por litro. A gasolina comum teve aumento de 60,9%, passando de R$ 4,55 para R$ 7,47. Na mesma toada, o diesel aumentou 98%, enquanto o diesel S10 subiu 95,4%.
O G�s Natural Veicular (GNV) teve reajuste de 60% por metro c�bico, enquanto o G�s Liquefeito de Petr�leo (GLP) encareceu 64,75% no per�odo.
De 2019 para c�, o sal�rio m�nimo aumentou 21,44%, aparecendo hoje com o valor de R$ 1.212. H� tr�s anos, era de R$ 998. Enquanto isso, o IPCA acumulado desde ent�o foi de 25,73%, segundo c�lculos do Banco Central.
Desde 2016, a Petrobras tem como pol�tica parear os reajustes nos combust�veis aos valores internacionais do barril de petr�leo, ao pre�o do d�lar e at� mesmo ao custo de transporte ao pa�s. O governo Bolsonaro manteve a pol�tica que elevou os pre�os para o consumidor final. Desde mar�o, o produto vem subindo assustadoramente em virtude das tens�es provocadas pela guerra entre R�ssia e Ucr�nia.
A pol�tica de pre�os � uma das respons�veis pelas trocas no comando da estatal desde que Bolsonaro assumiu o governo. Coelho � o terceiro a ocupar a presid�ncia da Petrobr�s desde o in�cio do governo do ex-militar. Entre janeiro de 2019 e fevereiro de 2021, a empresa foi capitaneada por Roberto Castello Branco. Ele foi substitu�do pelo general Joaquim Silva e Luna, que permaneceu no cargo at� mar�o deste ano.
IPCA
Especialistas afirmam que o combust�vel � um dos itens que mais influenciam na infla��o do m�s no Brasil. "Quando h� reajuste na gasolina ou no diesel, toda a cadeia produtiva � automaticamente afetada. Os fretes se tornam mais caros para os produtores. Logo, os pre�os dos demais produtos acabam sofrendo varia��o de pre�o", explica Ven�ncio Ara�jo, coordenador da pesquisa do IPCA em Minas Gerais.
Para o economista da Funda��o Get�lio Vargas, Andr� Braz, o �ltimo aumento dos combust�veis anunciado pela Petrobras ainda n�o vai inferferir na infla��o deste m�s. "O reajuste da gasolina e do diesel acontece num momento que n�o pega o IPCA, cujo c�lculo � feito at� 15 de junho. Logo, o �ndice que antecipa a infla��o deste m�s n�o vai captar o reajuste dos combust�veis. Vai ficar para o IPCA do m�s de junho. E mesmo assim, vai aparecer apenas metade do aumento da gasolina e do diesel. Boa parte da coleta j� foi realizada".
Apesar de pesar no bolso do consumidor, o economista explica que o reajuste dos combust�veis n�o � repassado totalmente. "No caso do consumidor, a gasolina n�o vai subir tudo o que vai na distribuidora. O reajuste na distribuidora � de 5,2%, mas na bomba � algo de um ter�o, que pode chegar a 2% em m�dia. J� o diesel vai subir 14,3% na distribuidora, mas na bomba atinge em torno de 5%. Considerando o impacto que o consumidor vai pagar, que o caminhoneiro vai pagar, o efeito da infla��o entre a infla��o de junho e julho ser� de 0,14% para a gasolina e de 0,04% para o diesel".
Infla��o abaixo de 10%
A pr�pria FGV trabalha com uma infla��o em torno de 9,2% no pa�s em 2022, ficando abaixo dos �ltimos dois anos. De acordo com Braz, a redu��o do Imposto Sobre Circula��o de Mercadorias e Servi�os (ICMS), aprovada pelo Congresso, poder� reduzir a infla��o at� o fim do ano.
"A infla��o de 2022 pode subir, mas h� a medida do ICMS que pode mitigar esse aumento. Vamos ver nos pr�ximos meses para ver como a redu��o do imposto para avaliar de fato o impacto na infla��o de 2022. Minha estimativa deve ficar mais abaixo, considerando efeitos diretos e indiretos desse reajuste. Os efeitos indiretos correspondem aos aumentos que o frete pode representar e o cont�gio que tudo isso pode afetar na cadeia produtiva", ressalta.
"Se vier a redu��o do ICMS, a infla��o pode ficar abaixo de 9%, descontando parte esse reajuste determinado pelo aumento do pre�o do barril de petr�leo no mercado internacional, cujo pre�o � superior a US$ 120", complementa.