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Estado de Minas EMPR�STIMO

Consignado do Aux�lio Brasil: o que pensa quem vai pegar empr�stimo e quem vai passar longe

Benefici�rios relatam situa��es dram�ticas que levam � decis�o de tomar cr�dito com juros de at� 79% ao ano. 'Evid�ncia de uma falha da sociedade, da pol�tica de cuidado e da gest�o econ�mica', diz educadora financeira.


17/08/2022 07:27 - atualizado 17/08/2022 08:52


Mulher de baixa renda com filho recebe cesta básica em Belo Horizonte
Benefici�rios do aux�lio relatam situa��es dram�ticas que levam � decis�o de tomar empr�stimo com juros de at� 79% ao ano. 'Evid�ncia de uma falha da sociedade, da pol�tica de cuidado e da gest�o econ�mica', diz educadora financeira. (foto: Getty Images)

Mayara quer reformar seu barraco que pegou fogo. Elton pretende arcar com as despesas do nascimento da quarta filha, fruto de uma gravidez de risco que deve deix�-lo fora do mercado de trabalho por algum tempo, enquanto ele cuida da esposa em recupera��o.

Benefici�rios do Aux�lio Brasil (programa que substituiu o Bolsa Fam�lia), ambos pretendem recorrer ao empr�stimo consignado (quando as parcelas s�o descontadas diretamente da fonte — sal�rio, aposentadoria ou benef�cio, por exemplo) aprovado pelo governo federal, como parte do pacote de medidas para estimular a economia, �s v�speras das elei��es de outubro, quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) tenta ser reeleito.

Com juros de at� 79% ao ano, segundo institui��es financeiras consultadas pela BBC News Brasil, o valor a ser devolvido pelos benefici�rios ser� quase o dobro do emprestado.

Com renda familiar mensal de at� R$ 210 por pessoa, pelos crit�rios do Aux�lio Brasil, eles se dizem cientes dos riscos, mas apostam em uma melhora incerta das condi��es de vida � frente para pagar parcelas que devem consumir at� 40% do benef�cio durante 24 meses.

E isso num momento em que mais de 78% dos lares brasileiros est�o endividados e 29% t�m contas em atraso, segundo dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimpl�ncia do Consumidor (Peic) referentes a julho desde ano. Ambos os indicadores est�o em patamar recorde, no n�vel mais alto registrado em 12 anos.

Quem j� decidiu que n�o vai tomar o cr�dito consignado cita o medo de se endividar ainda mais e ficar em situa��o pior � frente como principais motivos por tr�s da decis�o de passar longe da nova modalidade de empr�stimo.

"Eu at� pensei em pegar, mas depois fui analisar e pensei assim: a gente vai contrair uma d�vida de dois anos e o aux�lio aumentou agora para R$ 600, mas isso s� vai at� dezembro", diz a diarista Tamires Santos, de 33 anos e moradora de Guaianases, na zona leste de S�o Paulo.

"Vem o dinheiro agora, mas no m�s seguinte voc� vai estar com mais uma d�vida, porque esse dinheiro n�o vai dar para resolver todas as d�vidas que voc� j� tem. Ent�o optei por n�o pegar, porque na realidade eu acho que � uma grande ilus�o, voc� s� vai se endividar mais ainda."

O governo publicou na sexta-feira (12/8) decreto no Di�rio Oficial da Uni�o regulamentando o empr�stimo consignado do Aux�lio Brasil (Decreto nº 11.170/2022). A libera��o do cr�dito pelas institui��es financeiras ainda depende, no entanto, da regulamenta��o de normas complementares pelo Minist�rio da Cidadania, ainda sem data definida.

Segundo o ministro da Cidadania, Ronaldo Bento, a expectativa � de que a opera��o seja iniciada at� o in�cio de setembro.

Enquanto grandes bancos optam por n�o conceder o novo empr�stimo temendo preju�zos financeiros e de reputa��o, especialista em finan�as pessoais alerta que o consignado do aux�lio pode endividar ainda mais os mais pobres, comprometendo com o pagamento de parcelas e de juros um benef�cio que � usado para sobreviv�ncia.

Na segunda-feira (15/8), entidades jur�dicas, de defesa do consumidor e personalidades de diferentes setores lan�aram uma campanha pedindo o adiamento do consignado do aux�lio, at� que estudos e an�lise t�cnica de especialistas sejam realizados.

Entre os apoiadores da "Nota em Defesa da Integridade Econ�mica da Popula��o Vulner�vel", est�o o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), a Defensoria P�blica do Estado de S�o Paulo e o Programa de Apoio ao Endividado da Faculdade de Direito da USP Ribeir�o Preto.

"A concess�o de cr�dito consignado para benefici�rios de programas de transfer�ncia de renda, no presente momento, tende a trazer ainda mais dificuldades para essa popula��o. Se os valores atuais s�o insuficientes para garantir uma vida digna, a possibilidade de comprometer at� 40% desse valor com empr�stimos condenar� essas fam�lias ainda mais � mis�ria", diz a nota.

'Vai ficar apertado, mas seja o que Deus quiser'

Mayara Cristina Passarinho, de 31 anos e moradora da favela Capad�cia, na Brasil�ndia, regi�o noroeste de S�o Paulo, quer usar o dinheiro do empr�stimo do Aux�lio Brasil para reformar seu barraco, que pegou fogo e atualmente tem paredes de madeirite (um tipo de compensado de madeira).


Moradores observam incêndio em favela (Paraisópolis, 2017)
'Pegou fogo na parte de cima do meu barraco e hoje ele � de madeirite. Ent�o eu quero construir o mais r�pido poss�vel', diz Mayara Passarinho, sobre por que est� decidida a tomar o empr�stimo (foto: Rovena Rosa/Ag�ncia Brasil)

Antes da pandemia, ela trabalhava como diarista, mas perdeu os clientes durante a crise sanit�ria e agora j� est� desempregada h� quase tr�s anos.

Com tr�s filhos, de tr�s, seis e oito anos, a fam�lia se sustenta com o Aux�lio Brasil e os bicos de ajudante de pedreiro feitos pelo companheiro de Mayara.

Esse trabalho espor�dico rende a ele cerca de R$ 600 por m�s, o que d� � fam�lia uma renda mensal de R$ 120 por pessoa, sem o benef�cio do governo.

O Aux�lio Brasil � destinado a fam�lias em situa��o de pobreza e extrema pobreza, com renda mensal por pessoa abaixo de R$ 210 e R$ 105, respectivamente. A fam�lia de Mayara est�, portanto, muito perto dessa segunda linha, a dos mais vulner�veis do pa�s.

"Quero terminar de construir meu barraco, para ver se eu consigo fazer pelo menos umas paredes de tijolo e pagar algumas d�vidas", diz Mayara. Ela conta que tem d�vidas de cart�o de cr�dito e de fazer fiado nos mercadinhos do bairro, devido � situa��o dif�cil.

Pelas regras definidas pelo governo federal, at� 40% do valor do Aux�lio Brasil poder� ser descontado para pagamento do empr�stimo.

Para concess�o do cr�dito, as institui��es financeiras consideram o valor recebido pela fam�lia antes do atual aumento tempor�rio do benef�cio para R$ 600. Assim, uma fam�lia que recebia R$ 400 at� julho, por exemplo, pagaria parcelas de R$ 160 por 24 meses.

Com isso, se o valor do benef�cio voltar a R$ 400 em janeiro de 2022, essa fam�lia teria R$ 160 descontados na fonte, passando a receber apenas R$ 240, de um benef�cio utilizado principalmente para a compra de alimentos.

E isso se a fam�lia continuar no programa durante todo o per�odo, pois caso seja descredenciada do Aux�lio Brasil por algum motivo, ainda assim ter� que arcar com a d�vida contratada.

"Eu acho que vai ser um pouco complicado", diz Mayara, sobre o momento em que seu benef�cio for reduzido pelo pagamento da d�vida.

"Mas n�o tem o que fazer, porque h� um tempo atr�s pegou fogo na parte de cima aqui do meu barraco e hoje ele � de madeirite. Ent�o eu quero construir o mais r�pido poss�vel. Tendo a oportunidade de fazer, eu vou ter que fazer", afirma.

"Vai ficar [apertado], mas seja o que Deus quiser. Est� na m�o de Deus. Quem sabe Deus prepara algum emprego bom para mim ou para o meu esposo? Porque pior n�o pode ficar."

Dinheiro extra para enfrentar uma gravidez de risco

Elton de Barros, de 39 anos e morador de Concei��o da Barra, no Esp�rito Santo, tem tr�s filhos e sua esposa est� esperando a ca�ula, numa gravidez considerada de risco.

Desempregado, faz bicos do que aparecer e ele souber fazer. "Limpo quintal, pinto muro, ajudante de pedreiro, seguran�a, o que tiver", enumera. Seu �ltimo emprego com carteira assinada foi na caldeiraria de uma usina de �lcool.


Barriga de mulher grávida
'Como minha esposa est� para ganhar nen�m e eu estou fazendo bico, � um dinheiro que ajudaria na despesa', diz Elton de Barros (foto: Getty Images)

Natural de Linhares, tamb�m no Esp�rito Santo, a esposa de Elton, que � cabeleireira, ainda tem poucos clientes na cidade do marido, para onde eles se mudaram h� cerca de oito meses.

Com uma renda de pouco mais de R$ 1 mil para cinco pessoas (que logo ser�o seis), a fam�lia recebe o benef�cio do governo desde a pandemia, quando ainda era Aux�lio Emergencial.

"Esse empr�stimo me ajudaria bastante. Como minha esposa est� para ganhar nen�m e eu estou fazendo bico, � um dinheiro que ajudaria na despesa", diz Elton.

O pai de fam�lia simulou o consignado pelo Banco Pan, que ofereceu a ele um cr�dito de R$ 2.025, a ser pago em 24 parcelas de R$ 160. Assim, ao quitar a d�vida, ele ter� pagado ao banco R$ 3.840, quase o dobro do valor emprestado inicialmente.

Questionado sobre como vai ser quando seu aux�lio for reduzido devido ao valor das parcelas descontado na fonte, Elton diz que est� sendo cauteloso, e colocando tudo na ponta do l�pis para decidir se o empr�stimo vai de fato caber no seu or�amento.

"� uma preocupa��o que n�s temos, mas como eu tenho meu bico, acredito que n�o vai pesar muito. E estou fazendo porque � necess�rio", explica.

"A gravidez da minha esposa � de risco, ela n�o vai ganhar nen�m aqui na minha cidade. Estou contando com esse dinheiro cair antes do parto, porque vamos ter que nos locomover de uma cidade para outra e ela vai ficar 60 dias de cama", relata.

"Eu vou ter que ficar um per�odo com ela tamb�m. Calculo que vou ficar parado no m�nimo duas semanas cuidando da minha esposa, ent�o n�o vou ter ganho nenhum. Por causa disso, estou fazendo o empr�stimo. E crian�a pequena de in�cio gasta muito, ent�o seria bem-vindo esse dinheiro. Se eu estivesse trabalhando de carteira assinada, n�o faria esse empr�stimo."

'Eu ia viver s� pagando conta'

Bruna Pereira, de 30 anos e moradora do Jardim Sapopemba, na zona leste de S�o Paulo, faz parte de outro grupo dos benefici�rios do Aux�lio Brasil: aqueles que n�o pretendem pegar o empr�stimo consignado.

Com uma filha de 3 anos que ela cria sozinha, Bruna mora com a tia e faz bicos de diarista quando aparece trabalho. Ela cobra R$ 50 por faxina. Por m�s, calcula que ganhe cerca de R$ 150 com seu trabalho.


Favela
Aux�lio Brasil � destinado a fam�lias em situa��o de pobreza e extrema pobreza, com renda mensal por pessoa abaixo de R$ 210 e R$ 105, respectivamente (foto: Rovena Rosa/Ag�ncia Brasil)

Com uma renda t�o restrita, o aux�lio que recebe do governo � fundamental para Bruna comprar as coisas de que sua filha necessita, como leite, roupas e produtos de higiene. Mas a tia de Bruna aconselhou a jovem a ficar longe do empr�stimo consignado.

"Ela disse para eu n�o pegar, porque o valor que eu vou ter que devolver vai ser muito mais do que eu peguei. E eu n�o tenho condi��es [de pagar], porque n�o estou trabalhando fixo e todo o dinheiro que recebo do aux�lio � para comprar as coisas da minha filha", afirma, explicando que, para a alimenta��o, tem contado com a ajuda de uma doa��o de cesta b�sica.

"Eu ia viver s� pagando conta, entendeu? Porque eu n�o tenho ajuda do pai da crian�a e com esse aux�lio eu compro todas as coisas para ela. N�o d� para eu pegar [o empr�stimo], para depois ter que ficar pagando. � essa minha situa��o."

'Empr�stimo � uma ilus�o'

Tamires Nascimento Santos, a moradora de Guaianases de 33 anos que tamb�m decidiu n�o pegar o empr�stimo consignado, acredita que muitos dos que v�o contrair essa d�vida agora poder�o se arrepender mais � frente.

Casada e m�e de tr�s filhos — de tr�s, oito e 12 anos —, ela � diarista, assim como Bruna e Mayara. Com poucas di�rias desde a pandemia, faz cerca de R$ 600 por m�s com o trabalho de limpeza, complementados pelo marido, que faz bicos de pintor.

Benefici�ria do aux�lio federal h� cerca de um ano e endividada no cart�o, ela n�o quer saber de uma nova d�vida. "Eu ia usar [o empr�stimo] para pagar minha d�vida, mas a� eu iria contrair outra d�vida de dois anos, que � muito pior", avalia.


Mulher comprando frutas em feira livre
Com aux�lio de R$ 600 at� dezembro, Tamires Santos espera incluir mais frutas, verduras e legumes na dieta da fam�lia (foto: Getty Images)

O fato de as parcelas serem descontadas diretamente do aux�lio tamb�m a desestimulou.

"Eu uso esse aux�lio para ajudar na alimenta��o das crian�as. Se voc� compromete, e a� depois, quando ele j� vem descontado? Vai ficar elas por elas. Na realidade, � uma ilus�o", afirma.

Como todos os brasileiros, num momento em que a infla��o acumula alta de 10% em 12 meses, mesmo ap�s a defla��o de 0,68% registrada em julho, Tamires tem sofrido com os altos pre�os dos alimentos.

"Est� tudo muito caro, tudo subiu um absurdo. O leite, tem lugar que est� quase R$ 10 o litro", lamenta. "Ent�o est� bem apertado nosso or�amento, mas estamos sobrevivendo, economizando um pouquinho aqui, outro ali."

Assim, o aumento tempor�rio do Aux�lio Brasil para R$ 600 at� dezembro � considerado por ela muito bem-vindo. Com o valor adicional, a diarista espera incluir mais frutas, verduras e legumes na dieta da fam�lia, pois atualmente tem priorizado arroz, feij�o e mistura.

Mas Tamires diz que esse aumento do aux�lio n�o vai afetar em nada seu voto em outubro.

"Para mim n�o muda em nada. Eu nunca votei nesse governo, nem vou votar. Para mim n�o influi em nada, porque a gente tem que ver o que est� acontecendo", afirma.

"Muita coisa ficou a desejar. A gente que vive nas periferias sente nas quest�es de sa�de, est� faltando muito rem�dio. Al�m disso, subiu [o pre�o de] muita coisa. Teve tamb�m o aux�lio que foi cortado ainda n�o tinha acabado a pandemia", cita.

"Ent�o muita gente est� passando necessidade. Porque esses R$ 400 [valor do Aux�lio Brasil antes do aumento tempor�rio para R$ 600], para quem n�o tem outra ajuda, n�o d� para nada. Ficou muita gente vulner�vel mesmo."

Grandes bancos dizem n�o ao consignado do aux�lio

Alguns dos maiores bancos brasileiros — como Bradesco, Ita�, Santander, Nubank e BMG — indicaram que n�o devem oferecer o empr�stimo consignado do Aux�lio Brasil a seus clientes.

"Estamos falando de pessoas vulner�veis. Em vez de ser uma boa opera��o para o banco e para o cliente, entendemos que a pessoa ter� mais dificuldade quando o benef�cio cessar, e por isso preferimos n�o operar", disse o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari J�nior, durante apresenta��o de resultados do segundo trimestre.

O Ita� deu justificativa similar: "Entendemos que n�o � o produto certo para p�blico vulner�vel. Assim, o banco preferiu n�o operar", disse Milton Maluhy Filho, presidente do Ita� Unibanco, em entrevista coletiva sobre resultados.

Para Luis Santacreu, analista de setor banc�rio da Austin Rating, os bancos est�o considerando na decis�o de n�o aderir ao consignado riscos financeiros — relacionados � instabilidade do aux�lio e �s taxas de juros elevadas — e reputacionais, devido � perspectiva de inadimpl�ncia dos mais vulner�veis, que pode se tornar um problema para a imagem dos bancos perante a sociedade.

"O benef�cio foi aumentado para R$ 600, mas s� at� o final do ano. Isso gera imprevisibilidade quanto ao valor que o benefici�rio receber� a partir do ano que vem, o que � um fator de incerteza para a concess�o de cr�dito", diz Santacreu.

Ele destaca que o prazo de dois anos para a quita��o da d�vida, que representa a metade de um mandato presidencial, tamb�m � um fator de incerteza, j� que as pr�prias regras do programa social podem sofrer mudan�as nesse per�odo.

"O segundo ponto � que, como n�o h� um limite para as taxas de juros, h� a� uma quest�o de ESG [sigla em ingl�s para boas pr�ticas ambientais, sociais e de gest�o das empresas], de governan�a", diz o analista.

"Estamos falando de uma popula��o em situa��o de vulnerabilidade, que depende em muitos casos desse aux�lio para comer. Ao criar um endividamento para essa pessoa, voc� pode estar asfixiando o tomador de cr�dito, criando um problema maior para pessoas que n�o t�m uma educa��o financeira para avaliar se esses juros s�o compat�veis com seu or�amento familiar", observa.

Assim, com a desist�ncia dos grandes bancos, a concess�o de cr�dito consignado para benefici�rios do aux�lio dever� ser feita por institui��es financeiras de m�dio porte, como Pan, Safra e Facta Financeira. Al�m dos bancos p�blicos federais, como Caixa e Banco do Brasil, que, no entanto, ainda n�o confirmaram se e como participar�o da nova modalidade de empr�stimo.

'Consignado � um empr�stimo perverso'

A educadora financeira Evelin Bonfim refor�a que o cr�dito consignado representa um risco para os benefici�rios do aux�lio e avalia a decis�o do governo de conceder esse cr�dito �s v�speras da elei��o como uma pol�tica p�blica equivocada.

"O consignado, de maneira geral, � um empr�stimo perverso, porque ele n�o d� uma chance para o consumidor de, numa situa��o de emerg�ncia, n�o pagar a parcela e ficar em atraso", afirma.

Isso porque, no empr�stimo consignado, o valor da parcela � descontado na folha de pagamento, antes mesmo de a pessoa receber o dinheiro na conta.

"Isso � excelente para o banco emprestador, mas significa que o consumidor n�o tem escolha", diz Evelin. Ela observa que h� pa�ses onde � poss�vel tirar uma "folga" das d�vidas por um per�odo determinado, possibilidade que n�o existe no consignado brasileiro.

A educadora financeira destaca ainda que o Aux�lio Brasil � um benef�cio destinado � parcela mais vulner�vel da popula��o, que usa esse dinheiro para subsist�ncia.

"A pessoa usa esse dinheiro para sobreviver: para comprar o arroz e feij�o, pagar o aluguel e trocar o g�s em casa. Ent�o a pessoa vai comprometer [com o pagamento das parcelas] 40% de um benef�cio que � necess�rio para ela ter o m�nimo", diz Evelin.

"A pessoa vai pegar o dinheiro do empr�stimo agora e, no pr�ximo m�s, as necessidades delas s�o as mesmas. Mas nesse pr�ximo m�s, o benef�cio dela ser� menor, porque ela s� ter� o valor que sobrar depois do pagamento da parcela", explica.

E isso considerando que a pessoa continue recebendo o benef�cio. Evelin lembra que, diferente de uma aposentadoria, o Aux�lio Brasil pode acabar, pode ter seu valor reduzido, ou a pessoa pode ser desenquadrada, caso deixe de cumprir os crit�rios do programa.

"Ningu�m deveria se endividar para comprar comida, e � isso que vai acabar acontecendo com muitos dos benefici�rios", diz a especialista em finan�as pessoais.

"Isso � uma evid�ncia de uma falha muito grande da sociedade, da pol�tica de cuidado com as fam�lias mais vulner�veis e da gest�o econ�mica como um todo", acrescenta.

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62527996

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