
O pre�o da gasolina vendida nos postos do pa�s est� em alta h� duas semanas consecutivas, segundo dados da Ag�ncia Nacional do Petr�leo, G�s Natural e Biocombust�veis (ANP).
Isso acontece apesar do atraso da Petrobras em repassar o aumento no pre�o do litro no mercado internacional para as refinarias locais.
Segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a estatal est� h� seis semanas vendendo gasolina nas refinarias abaixo do Pre�o de Paridade de Importa��o (PPI). J� o diesel segue sem reajuste h� quatro semanas.
Na ter�a-feira (25/10) a gasolina da Petrobras estava 12,27%, ou R$ 0,46 por litro, mais barata que os pre�os internacionais. O diesel segue 14,13%, ou R$ 0,80 por litro, abaixo do valor.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil atribuem o aumento do pre�o m�dio dos combust�veis nos postos brasileiros a um ajuste natural do mercado motivado pelo crescimento na demanda e � subida nos valores da gasolina e do diesel vendidos pela refinaria privada de Mataripe, na Bahia, respons�vel por cerca de 14% da capacidade total de refino do pa�s.
"H� primeiro de tudo o que eu entendo como ajustes naturais do mercado. Cada posto tentando recuperar sua margem, dado que tivemos uma redu��o grande nos �ltimos meses", diz Pedro Rodrigues, s�cio-diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE).Segundo o analista, as diversas quedas seguidas registradas nos meses anteriores aumentaram o consumo entre os brasileiros - de acordo com a ANP, as vendas de gasolina no Brasil pelas distribuidoras no primeiro sementes deste ano cresceram 10,8% em rela��o ao mesmo per�odo de 2021 -, motivando os pr�prios postos de gasolina a subirem os pre�os.
Os pre�os dos combust�veis s�o livres no Brasil, ou seja, cada posto pode estipular o pre�o da gasolina, do diesel ou do etanol que desejar.
"A defasagem do pre�o for�a uma maior demanda. E as empresas acabam repassando esse aumento ao consumidor porque identificam um descompasso dentro do pr�prio mercado", resume Juliana Inhasz, economista e professora do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa).
Al�m disso, a refinaria de Mataripe tem sido mais veloz do que a Petrobras para repassar as varia��es das cota��es internacionais aos pre�os de seus produtos.
No in�cio do m�s, a refinaria elevou o pre�o da gasolina em 9,7% e o do diesel S-10, em 11,3%.
A empresa diz que seus pre�os "seguem crit�rios de mercado, que levam em considera��o vari�veis como custo do petr�leo, que � adquirido a pre�os internacionais, d�lar e frete, podendo variar para cima ou para baixo".

Quanto a gasolina subiu?
Segundo a ANP, que monitora semanalmente os pre�os dos combust�veis nos postos brasileiros, entre 25 de setembro e 1 de outubro, a m�dia do litro vendido nos postos era de R$ 4,81.
Na semana de 16 a 22 de outubro, por�m, o pre�o m�dio avan�ou para R$ 4,88, o que j� representava uma alta de 0,41% frente � semana anterior (R$ 4,86).
Entre 16 a 22 de outubro, o valor mais alto do litro encontrado pela ag�ncia foi de R$ 6,90. No mesmo per�odo, a regi�o onde a gasolina est� mais cara � o Nordeste, com uma m�dia de pre�o de R$ 5,10.
A alta atingiu tamb�m o diesel, que registrou nos mesmos dias seu primeiro aumento desde o fim de junho. O pre�o m�dio do litro avan�ou de R$ 6,51 para R$ 6,59 em uma semana, um aumento de 1,22%.
E a Petrobras?
Os pre�os est�o subindo apesar da Petrobras estar vendendo gasolina nas refinarias abaixo do pre�o praticado no mercado internacional.
A Paridade de Pre�o Internacional (PPI), adotada pela estatal desde 2016, determina que a petroleira cobre, ao vender combust�veis para as distribuidoras brasileiras, pre�os compat�veis com os do exterior.
"A Petrobras, em teoria, continua seguindo a paridade internacional, mas passou a repassar muito rapidamente as quedas de pre�o e est� demorando mais para repassar as altas", diz o economista Rafael Schiozer, professor de finan�as da FGV EAESP.
A defasagem ocorre porque desde setembro as cota��es internacionais do petr�leo e derivados voltaram a subir, devido a cortes na oferta por pa�ses produtores reunidos na Organiza��o dos Pa�ses Exportadores de Petr�leo (Opep).

Antes disso, por�m, o pre�o dos combust�veis no Brasil estava em queda devido, principalmente, � redu��o do valor do barril de petr�leo no mercado internacional e da taxa de c�mbio.
Em junho, o governo tamb�m aprovou medidas tribut�rias para reduzir o pre�o dos combust�veis, como a lei que limita o ICMS sobre itens como diesel, gasolina, energia el�trica, comunica��es e transporte coletivo e o corte dos impostos federais Cide e PIS/Cofins sobre esses produtos.
Por que os pre�os nos postos est�o subindo ent�o?
Al�m dos ajustes naturais do mercado devido ao aumento da demanda, o crescimento nos pre�os pode estar sendo influenciado pelos repasses da refinaria de Mataripe, na Bahia.
Dado que a empresa � hoje respons�vel por cerca de 14% da capacidade total de refino do pa�s, um aumento nos valores praticados por ela tem influ�ncia na m�dia de pre�os nacional e, especialmente, nos valores repassados pelos postos de gasolina na regi�o Nordeste.
Para Schiozer, a varia��o na taxa de c�mbio tamb�m pode estar agindo sobre o pre�os dos combust�veis, j� que o petr�leo � comercializado em d�lares no mercado internacional.
"O c�mbio interfere no pre�o da gasolina importada e, indiretamente, na que � refinada no Brasil", diz. "O d�lar ficou rondando os R$ 5,10 por um bom tempo e agora est� em R$ 5,32, s�o quase 5% de aumento."
Na ter�a-feira (25), a moeda americana ganhou 0,26% frente ao real, a R$5,316 na compra e a R$5,317 na venda.
Juliana Inhasz, do Insper, afirma ainda que as varia��es recentes no c�mbio tamb�m podem estar por tr�s da decis�o da refinaria de Mataripe de aumentar seus pre�os.
"O c�mbio deveria influenciar mais os pre�os praticados pela Petrobras do que pelas refinarias, mas existe um impacto tamb�m", diz.
"O c�mbio pode intervir principalmente no aumento do custo para trazer a mat�ria-prima para o Brasil."

Por que a demora para repassar os pre�os?
Na opini�o de Pedro Rodrigues, do CBIE, a defasagem da Petrobras em rela��o aos pre�os internacionais pode estar sendo motivada por um desejo de evitar reajustes constantes provocados por um mercado muito vol�til.
"A velocidade dos repasses faz parte da pol�tica de cada dire��o da estatal. E a l�gica muitas vezes � de esperar para subir o pre�o at� o limite das possibilidades comerciais e financeiras da empresa para n�o reduzir o consumo", diz.
Mas para Rafael Schiozer, da FGV EAESP, a demora em repassar os valores pode ter tamb�m liga��o com as elei��es marcadas para o pr�ximo domingo (30/10), quando o presidente Jair Bolsonaro (PL) disputa a reelei��o contra Luiz In�cio Lula da Silva (PT).
"Depois das elei��es, � prov�vel que a Petrobras repasse os valores que segurou at� agora", diz o economista.
Segundo uma reportagem do jornal O Globo, t�cnicos da estatal e parte da diretoria afirmam que j� seria necess�rio reajustar os pre�os, mas que o governo tem pressionado para evitar um aumento de pre�os antes do segundo turno das elei��es, marcado para domingo (30).
Em entrevista neste m�s ao canal epbr, o diretor-executivo de Explora��o e Produ��o da Petrobras, Fernando Borges, afirmou que a estatal beneficia a sociedade brasileira ao demorar mais para elevar os pre�os dos combust�veis.
O executivo ponderou que h� atualmente um momento de volatilidade grande no mercado internacional de petr�leo dentro de um mesmo dia e que a empresa evita repassar esses movimentos de imediato ao mercado interno.
Mas reconheceu que a companhia reduziu pre�os em velocidade maior do que considera para elevar pre�os.
Segundo Schiozer, o governo do atual presidente escalou o atual presidente da estatal, Caio M�rio Paes de Andrade, j� com a inten��o de atrasar os reajustes para fins eleitorais.
"Ele n�o pode dizer que n�o vai seguir a paridade, mas ele pode ter algum poder discricion�rio para controlar a velocidade com que faz os ajustes."
J� Juliana Inhasz aposta em uma combina��o dos fatores mercadol�gicos e pol�ticos. "H� claramente um represamento de pre�os para evitar aumentos �s portas do segundo turno", diz.
"Ao mesmo tempo, vimos recentemente oscila��es grandes no pre�o do petr�leo - e a Petrobras pode estar tentando evitar mudan�as e estresses desnecess�rios na economia esperando um pouco mais para reajustar o pre�o".
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63408354