
O pontap� inicial para a Copa do Mundo, ontem, no Catar, repercute nas ruas de Belo Horizonte, onde torcedores aguardam com ansiedade a estreia da Sele��o Brasileira, na pr�xima quinta-feira, mas j� movimentam o com�rcio. Por�m, enquanto lojistas esperam que o Mundial, nas proximidades de datas como a Black Friday e o Natal, ponha em jogo R$ 2 bilh�es a mais na economia da cidade, consumidores ainda est�o em clima de cautela. Assustados com a chamada “infla��o da Copa”, muitos optam por fazer bastante pesquisa de pre�os antes de levar itens em verde-amarelo para casa.
� o que faz a comerciante Ana J�lia, de 26 anos, dona de um bar no Bairro Serrano, na Regi�o da Pampulha, em Belo Horizonte. Ela foi ao Centro da capital em busca de itens para decorar o estabelecimento, e tamb�m na expectativa de aumentar as vendas durante o torneio. “Espero vender muito. Acho que as pessoas v�o sair para a rua, beber, aproveitar a Copa.” A jovem n�o tem estimativa de faturamento, mas acredita que as pessoas v�o consumir mais. Por�m, antes de comprar os produtos para enfeitar o bar, ela disse que estava pesquisando pre�os pelas lojas da regi�o.
O auxiliar de servi�os gerais Ricardo Maciel, de 50, adota a mesma t�tica. “Hoje s� vim para olhar”, disse ele, diante de uma das lojas do Centro. Ele trabalha para o atacante do Atl�tico, o chileno Eduardo Vargas, e estava � procura de bandeirinhas para decorar a casa do jogador. Maciel conta que a decora��o foi um pedido dos filhos de Vargas que, segundo ele, v�o torcer para a Sele��o Brasileira, assim como o funcion�rio. “Espero que eles tragam esse caneco, porque n�s j� passamos vexame demais”, brinca.
“KIT TORCIDA”
De fato, n�meros mostram que o brasileiro precisa ficar atento para n�o ter surpresas no bolso na hora de torcer para a Sele��o na Copa. Um levantamento feito pela XP mostra que os itens mais consumidos durante o torneio chegaram a registrar altas de at� 100% desde a �ltima edi��o do evento, h� quatro anos (veja gr�fico). Produtos como cerveja, carnes e televisores, que t�m alta na demanda devido ao Mundial, registram infla��o de dois d�gitos desde 2018.

Se o brasileiro quiser trocar a TV por um modelo maior ou melhor, deve desembolsar em m�dia 17% mais neste ano em rela��o ao que gastaria em 2018. Curioso � que esse � o �nico item a registrar quedas consistentes de pre�o desde 2006, atribu�dos a ganhos de produtividade e mudan�a r�pida da tecnologia. Diante dos efeitos da pandemia, por�m, com o aumento da demanda e o setor severamente afetado pelo rompimento da cadeia global de suprimentos, os pre�os passaram a subir.
J� se a ideia � fazer um churrasco em casa para acompanhar o jogo, o brasileiro vai desembolsar em m�dia 80% mais para comprar a carne, 18% a mais para cerveja e 24% para o refrigerante e a �gua. “A alta do primeiro item est� associada � maior demanda global, eleva��o dos custos de gr�os e queda da �rea de pastagens com a crise h�drica de 2020 e 2021. Cerveja e refrigerante, em paralelo, tiveram alta relevante de custos, especialmente de embalagens, com cota��o em d�lares”, afirma J�ssica Oliveira, l�der regional da XP Inc. em Minas Gerais.
Existem tamb�m aqueles que preferem acompanhar os jogos fora de casa, em um bar, por exemplo. Nesse caso, o torcedor vai gastar cerca de 15% a mais para comprar a cerveja e 20% a mais para �gua e refrigerante. “A infla��o � levemente menor em compara��o � compra no supermercado, mas vale lembrar que, na m�dia, consumir fora do domic�lio � 15% mais caro”, ressalta a executiva.
O peso da amarelinha
Outro item que pode pesar no bolso do torcedor � a camisa oficial da Sele��o Brasileira. Cotada a R$ 349,99 (pre�o no site oficial da Nike), supera em 40% o valor cobrado em 2018, bem acima da infla��o acumulada no per�odo, de 26,8%. � importante lembrar que o setor de vestu�rio bateu recordes para varia��o em 12 meses – a maior desde 1995, em meio ao Plano Real – e chegou a alcan�ar 16,66% em julho.O fen�meno pode ser explicado por dois fatores: desajustes nas cadeias que fornecem mat�ria prima para o setor, for�ando o repasse do aumento de custos para os consumidores; e retomada do consumo com a reabertura da economia em meio ao quadro anterior. Por fim, o aumento e volatilidade do c�mbio tamb�m contribuem, j� que o produto � tabelado, ou seja, tem o mesmo valor em d�lares para todo o mundo.
Outra tradi��o que pode impactar no or�amento do torcedor � a miss�o de completar o �lbum da Copa, j� que o produto oficial (vers�o tradicional) subiu 16,5%, enquanto o pacote com cinco figurinhas dobrou de pre�o – varia��o observada tamb�m em rela��o � Copa anterior.

Setor de eventos na expectativa
Para criar aquele clima t�pico de festa, o sonho do hexa vai reunir amigos, fam�lia e colegas de trabalho em uma s�rie de eventos, com direito a shows e atra��es paralelas para acompanhar os jogos da Sele��o Brasileira de Norte a Sul do pa�s. A vice-presidente do Sindicato das Empresas de Promo��o, Organiza��o e Montagem de Feiras, Congressos e Eventos de Minas Gerais (Sindiprom), Karla Delfim, prev� que, depois de quase dois anos sem grandes eventos presenciais, haver� ainda mais envolvimento dos mineiros com a competi��o. Motivo mais que suficiente para que o setor tor�a para sair da defensiva para a qual foi empurrado no auge da pandemia.
“As pessoas querem voltar a se encontrar e se conectar. O brasileiro quer ter seu momento de respiro. A Copa vai vir para coroar tudo isso. Al�m dos jogos do Brasil, estamos vendo eventos programados para assistir � disputa de outras na��es que tamb�m s�o �cones no esporte mundial”, analisa. A pandemia fez com que o setor tivesse uma debandada de m�o de obra. Agora, empresas enfrentam dificuldades para recuperar pessoal. “Tivemos dois anos muito dif�ceis. Estamos em um momento de revitaliza��o. Temos muita gente nova no mercado, porque, infelizmente, perdemos muitos profissionais qualificados, que migraram de segmento no per�odo de pandemia. A curva de eventos aumentou demais, mas a m�o de obra n�o voltou”, conta.
Apesar disso, o setor tem conseguido se reerguer e comemora o aquecimento dos neg�cios impulsionado pela Copa do Mundo e tamb�m pelo reagendamento de eventos cancelados no per�odo de pandemia. “Muitos eventos que foram cancelados ou adiados nos �ltimos dois anos est�o acontecendo agora em 2022. � uma excelente oportunidade de gerar emprego e renda”, completa Karla Delfim.