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Estado de Minas ECONOMIA

Por que PIB perdeu for�a no 3� tri e ser� desafio para Lula em 2023

Economia cresceu 0,4%, abaixo da m�dia de 1,2% do 1� semestre. Juros altos, risco de recess�o global e fim do efeito da reabertura p�s-pandemia tornam cen�rio desafiador para 2023.


01/12/2022 09:26 - atualizado 01/12/2022 10:12


Consumidores na Ladeira Porto Geral, rua de comércio popular em São Paulo
Setor de servi�os impulsionou a atividade no 3� trimestre, mas cen�rio deve ser mais dif�cil � frente (foto: Getty Images)

A economia brasileira cresceu 0,4% no terceiro trimestre, em rela��o ao trimestre anterior, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica) nesta quarta-feira (1/12).

resultado ficou abaixo da expectativa dos analistas, que era de uma alta de 0,6% para o PIB (Produto Interno Bruto) de julho a setembro. E representa uma desacelera��o em rela��o ao crescimento m�dio de 1,2% registrado no primeiro semestre deste ano.

Na compara��o anual, o avan�o do PIB foi de 3,6%.

Para economistas, a perda de �mpeto da atividade no terceiro trimestre � apenas o in�cio do que vem pela frente.

Com juros altos, risco de recess�o global e o fim do efeito da reabertura p�s-pandemia, o crescimento do PIB promete ser um desafio para o presidente eleito Luiz In�cio Lula da Silva (PT) a partir de 2023.

Entenda por que Lula deve enfrentar um cen�rio muito mais desafiador na economia em seu terceiro mandato, do que enfrentou em 2003.

Por que PIB cresceu no 3º tri, mas menos do que antes

O setor de servi�os, que representa quase 70% do PIB, foi o principal destaque da atividade no terceiro trimestre, com alta de 1,1% em rela��o ao trimestre anterior.

"Ainda vemos o setor terci�rio como protagonista, puxando o crescimento da atividade no curto prazo", diz Rodolfo Margato, vice-presidente de pesquisa econ�mica da XP Investimentos.

Segundo o economista, dois fatores principais explicam isso: o primeiro � ainda o efeito da reabertura da economia ap�s a pandemia, com impacto positivo sobre segmentos como transportes e armazenagem, servi�os prestados �s fam�lias e turismo e hospedagem.


Mulheres lavando o cabelo em salão de beleza no Rio de Janeiro
Reabertura p�s-pandemia ainda impacta positivamente alguns ramos da atividade, como servi�os prestados �s fam�lias (foto: AFP)

O segundo fator � a amplia��o da renda dispon�vel das fam�lias.

"Temos o Aux�lio Brasil de R$ 600, os saques extraordin�rios do FGTS, outros aux�lios implementados nos �ltimos meses [para caminhoneiros, taxistas e a amplia��o do Vale G�s, por exemplo] e, em paralelo, uma recupera��o do mercado de trabalho, embora a popula��o empregada esteja crescendo a um ritmo mais modesto", observa Margato.

"Al�m disso, depois de longa trajet�ria de queda, os sal�rios m�dios da economia come�aram a crescer em termos reais [isto �, descontada a infla��o]", cita o analista. A desacelera��o da infla��o no trimestre, devido � redu��o dos impostos sobre combust�veis �s v�speras da elei��o, tamb�m contribuiu para essa melhora da renda.

Ainda na ponta da oferta, a ind�stria registrou alta de 0,8% e a agropecu�ria teve recuo de 0,9%, sempre em rela��o ao trimestre anterior. A queda no agro contrariou a previs�o dos analistas, que era de crescimento para esse setor no trimestre.

J� no lado da demanda, investimentos (2,8%), consumo das fam�lias (1%) e consumo do governo (1,3%) registraram altas, enquanto no setor externo as exporta��es em alta de 3,6%, cresceram menos do que as importa��es, com avan�o de 5,8%.

E por que o PIB cresceu menos do que na primeira metade do ano?

"O principal fator � a pol�tica monet�ria, que se traduz em condi��es de cr�dito mais restritivas", avalia o economista da XP, lembrando que o endividamento e o comprometimento da renda das fam�lias com servi�o da d�vida est�o nas m�ximas hist�ricas, segundo dados do Banco Central.

A Selic, taxa b�sica de juros da economia brasileira, est� atualmente em 13,75%, maior patamar desde novembro de 2016. Os juros elevados funcionam como um freio para a economia, tornando mais caro para as empresas investirem e para as fam�lias tomarem empr�stimos.

As dificuldades para o crescimento do PIB � frente

Diante dessa tend�ncia de desacelera��o da atividade, os economistas esperam que o PIB perca ainda mais for�a no quarto trimestre, podendo ficar pr�ximo da estabilidade em rela��o ao terceiro trimestre.

Para 2022, a expectativa � de uma alta de 2,8% do PIB no ano, segundo o boletim Focus do Banco Central. Mas, para 2023, a estimativa � de um crescimento de apenas 0,7%.

Segundo o economista da XP, tr�s fatores principais explicam essa desacelera��o esperada para a atividade no pr�ximo ano. O primeiro deles � a pol�tica monet�ria contracionista — isto �, com juros em n�vel que inibe a atividade econ�mica.

"Para al�m da Selic, que deve permanecer em 13,75% pelo menos at� o final do primeiro semestre, na nossa vis�o, vemos outras taxas com tend�ncia de alta. Tem um pr�mio de risco maior embutido na curva de juros, isso acaba penalizando a atividade produtiva", diz Margato.

O segundo fator � a desacelera��o da economia global, sob efeito da alta de juros nos Estados Unidos e outros pa�ses para conter a infla��o; da crise energ�tica na Europa em decorr�ncia da guerra na Ucr�nia; e da desacelera��o da China, impactada por sua pol�tica de "covid zero".


Verificação de covid em Pequim
China deve crescer menos do que nos �ltimos anos, em parte devido � pol�tica de 'covid zero' (foto: Getty Images)

"N�o esperamos uma recess�o, mas algumas regi�es devem sofrer contra��o do PIB, como parte relevante da Europa. E a China deve crescer bem abaixo do seu padr�o dos �ltimos anos", afirma o economista.

O terceiro fator, segundo Margato, � a dissipa��o dos benef�cios da reabertura econ�mica sobre alguns ramos da atividade.

"Logo ap�s a reabertura, h� um movimento mais forte de retomada. Ainda vemos os benef�cios dessa din�mica, mas naturalmente a contribui��o para o PIB vai sendo menor com o passar dos trimestres, � algo natural", observa o analista.

Fim dos est�mulos eleitoreiros e queda das commodities

Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre-FGV (Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas), destaca ainda que a partir do pr�ximo ano a economia n�o contar� mais com os est�mulos criados pelo governo Jair Bolsonaro (PL) �s v�speras da elei��o.

Os aux�lios para taxistas, caminhoneiros, o Vale G�s com valor ampliado e a redu��o a zero das al�quotas de PIS-Pasep e Cofins sobre combust�veis s�o todas medidas que acabam em dezembro de 2022.


Homem abastecendo carro
Redu��o dos impostos federais sobre combust�veis acaba em dezembro, o que deve impactar a infla��o a partir de janeiro (foto: Getty Images)

"A queda da infla��o foi tempor�ria e j� a partir do quarto trimestre n�o teremos mais a defla��o que tivemos [no terceiro trimestre]. Al�m disso, h� um processo de normaliza��o da economia, que se beneficiou das condi��es de crescimento [com a reabertura]", diz Matos.

Sergio Vale, da MB Associados, cita tamb�m a expectativa de pre�os de commodities mais est�veis ou at� em queda em 2023, ap�s uma forte alta esse ano sob efeito da guerra na Ucr�nia.

"N�o teremos o crescimento [de pre�os] que tivemos esse ano. Pelo contr�rio, come�amos a ter uma queda na m�dia nos pre�os em reais de commodities, o que j� est� acontecendo. Quando juntamos isso � recess�o mundial, � taxa de juros elevada aqui e � incerteza fiscal, temos um cen�rio desestimulante para o crescimento econ�mico", diz Vale.

O que pode fazer o PIB crescer mais

Para os economistas, apesar dos ventos contr�rios, o crescimento do PIB em 2023 ainda pode ser melhor do que o esperado atualmente. Mas isso, segundo eles, vai depender de o governo sinalizar uma pol�tica fiscal cr�vel, com perspectiva de estabiliza��o da d�vida p�blica a m�dio e longo prazo.

"As incertezas da pol�tica fiscal acabam se traduzindo num c�mbio mais depreciado, numa piora dos ativos financeiros e das expectativas de infla��o no m�dio prazo e isso limita o espa�o para o Banco Central cortar juros — na verdade ele pode at� eventualmente ver a necessidade de elevar a taxa de juros para combater a infla��o, embora esse n�o seja nosso cen�rio-base", diz Margato, da XP.

Segundo o economista, caso o governo consiga indicar previsibilidade na pol�tica fiscal, o Brasil tem muito potencial para atrair investimentos no pr�ximo governo, principalmente na economia verde.


Usina eólica no Rio Grande do Sul
Com pol�tica fiscal cr�vel, Brasil tem muito potencial para atrair investimentos, principalmente na economia verde, dizem economistas (foto: Getty Images)

"Enquanto a infla��o n�o for totalmente debelada, n�o teremos garantia de uma acelera��o do crescimento", avalia Silvia Matos, do Ibre-FGV.

"Se conseguirmos reduzir o risco-pa�s, isso faria o c�mbio se valorizar e ajudaria a combater a infla��o, permitindo a redu��o de juros. Encontrar espa�o para a pol�tica social, sem perder de vista o controle da d�vida e continuar a agenda de reformas seria importante, pois ainda temos um espa�o muito grande no Brasil para melhoria do ambiente de neg�cios."

Principal cotado para o Minist�rio da Fazenda, Fernando Haddad disse na semana passada em evento da Febraban (Federa��o Brasileira de Bancos) que a reforma tribut�ria ser� prioridade em 2023.

A economista da FGV acredita que, se o novo governo retomar a proposta de reforma tribut�ria de Bernard Appy (que tramitou na C�mara como PEC 45) e conseguir aprov�-la com o embalo de in�cio de governo, isso pode criar uma perspectiva muito mais favor�vel.

Sem espa�o para est�mulo ao consumo

Matos avalia ainda que n�o h� mais espa�o para uma pol�tica econ�mica de crescimento baseada no est�mulo ao consumo, como nos governos petistas anteriores.

Isso porque o Estado n�o tem mais dinheiro, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econ�mico e Social) sofreu mudan�as que impedem ele de ser usado como no passado, e o Banco Central � agora independente — o que significa que ele agir� para controlar a infla��o subindo juros, caso isso seja necess�rio.

Al�m disso, nos anos 2000, a amplia��o do acesso ao cr�dito teve papel importante no est�mulo ao consumo e j� n�o h� mais condi��o para isso, com o endividamento das fam�lias atualmente em n�vel recorde, avalia a coordenadora do Boletim Macro.

"Nos primeiros governos Lula, vivemos um per�odo que o mundo cresceu muito, com taxas de juros muito baixas. Isso permitiu que a gente fosse junto, porque era uma onda muito favor�vel. Agora a onda � ao contr�rio", diz Matos.

"Ent�o eu digo o seguinte: eu n�o queria estar aqui em 2023, preferia estar em 2003 iniciando o governo, seria muito mais f�cil para ter bons resultados", brinca a economista.

- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-63817000


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