Lula em cerim�nia no Pal�cio do Planalto
A escalada nos alimentos -que subiram cerca de 45% nos �ltimos tr�s anos- afeta diretamente a maior parcela dos eleitores do presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), fam�lias mais pobres com renda at� dois sal�rios m�nimos, e pode ter impacto em sua popularidade.
Na v�spera do segundo turno em 2022, o petista tinha 61% das inten��es de voto nesse segmento dos eleitores, ante 33% de Jair Bolsonaro (PL).
O discurso do mandat�rio contra os juros altos, metas de infla��o e autonomia do BC tende a piorar o cen�rio da infla��o de alimentos, pois tem pressionado para cima o valor do d�lar, moeda de refer�ncia para pre�os de commodities agr�colas.
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Entre as poucas exce��es est� a alimenta��o, a grande "puxadora" da infla��o nos �ltimos anos. Nos �ltimos 12 meses at� janeiro, a alta foi de 11,3%, maior do que os a 7,8% no mesmo per�odo at� janeiro de 2022.
No segundo semestre de 2022, a dissipa��o de choques em cadeias produtivas causados pela pandemia e nos pre�os da energia (pela guerra na Ucr�nia), al�m da pol�tica de juros altos do BC, levaram o IGP-M a convergir para a infla��o oficial (IPCA) medida pelo IBGE.
Uma boa not�cia, pois sugere que n�o haver� grandes press�es adicionais sobre o IPCA no resto do ano.
Mesmo assim, a pesquisa Focus do BC vem, h� oito semanas, elevando a expectativa de infla��o para 2023. Ela chegou a 5,78% nesta semana, praticamente igual aos 5,79% do IPCA em 2022. J� a meta de infla��o do BC para este ano � de 3,25%, com toler�ncia at� 4,75%.
O principal entrave para a queda maior dos pre�os segue na alimenta��o. "Na infla��o, alimentos pesam mais do que qualquer outra coisa. V�o de cerca de 15% nas fam�lias com renda at� 40 sal�rios m�nimos [R$ 52.080] at� 30% naquelas at� dois [R$ 2.604]", diz Andr� Braz, coordenador do �ndice de Pre�os ao Consumidor (IPC) do Ibre-FGV.
Braz afirma que o cen�rio de desaquecimento e alta de juros em v�rias economias (sobretudo EUA e Europa) levar� � redu��o nos pre�os de algumas commodities agr�colas, o que pode favorecer o Brasil. Por outro lado, o d�lar mais caro internamente teria o efeito inverso, j� que a moeda � refer�ncia para esses pre�os.
H� uma semana, o d�lar chegou a cair abaixo de R$ 5, menor taxa desde junho passado. Mas voltou � faixa de R$ 5,20 ap�s reiteradas cr�ticas de Lula sobre a condu��o da pol�tica monet�ria pelo Banco Central.
Braz afirma que a queda j� verificada no IGP-M e os juros elevados praticados pelo BC poder�o aliviar, dentro de alguns meses, a infla��o no geral.
"O problema � que a economia tamb�m acabar� deprimida l� na frente", diz. Em sua opini�o, a comunica��o do Banco Central em rela��o � infla��o, quando h� choques inevit�veis e transit�rios como os que ocorreram na pandemia e com a guerra na Ucr�nia, deveria ser mais transparente, para evitar carga de juros t�o fortes.
Para Guilherme Moreira, coordenador do IPC da Fipe (Funda��o Instituto de Pesquisas Econ�micas, da USP), "a cota��o do d�lar seguir� como fator de incerteza" para os alimentos. O d�lar 'tem vontade' de cair e seria importante traz�-lo a um patamar mais baixo."
A Fipe projeta para 2023 infla��o de alimentos de 8,3%, somando-se � alta de 46,5% no tri�nio 2020-2022. "A 'sensa��o t�rmica' dos mais pobres com a infla��o de alimentos � a pior poss�vel", diz Moreira. Ele prev� que a queda em outros itens (servi�os e bens dur�veis, como eletrodom�sticos, por exemplo) segurem o �ndice geral --enquanto alimentos seguir�o pressionando.
Segundo Maria Andr�ia Lameiras, pesquisadora do Ipea (Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada), n�o h� registro de classes trabalhadoras que tenham tido reajustes salariais de 50% nos �ltimos tr�s anos. "Portanto, ainda que a infla��o de alimentos desacelere, ela segue subindo, com efeitos sobre a renda, sobretudo dos mais pobres."
Lameiras concorda que poderia haver algum al�vio se o d�lar se desvalorizasse frente o real, mas lembra que, em 2023, muitos munic�pios brasileiros j� come�aram a aumentar tarifas de transporte urbano, congeladas nos anos da pandemia -o que deve impactar tamb�m no or�amento dos mais pobres.
� prov�vel tamb�m que o governo promova a reonera��o dos impostos sobre a gasolina a partir de mar�o. Pelas proje��es do Ibre-FGV, em vez de uma infla��o de 0,4% em mar�o, o �ndice pode chegar a 1,2%.
Para Jos� Francisco Lima Gon�alves, economista-chefe do Fator, embora a ret�rica de Lula n�o ajude a controlar os pre�os de alimentos (por pressionar o d�lar), o presidente estaria lan�ando m�o do discurso contra o BC para justificar, antecipadamente, o baixo crescimento previsto para este ano e o impacto da infla��o sobre os mais pobres.
"Em v�rios pa�ses do mundo, o d�lar t�m ca�do mais do que no Brasil, onde a batalha contra a infla��o est� longe de ter sido ganha. Nesse sentido, o discurso de Lula n�o ajuda", diz Gon�alves.
Outra maneira de se analisar o comportamento dos pre�os � olhar para os chamados n�cleos da infla��o calculados pelo BC, que retiram da conta pre�os vol�teis ou outras interfer�ncias n�o recorrentes. V�rios n�cleos apresentam taxas acima da infla��o m�dia, o que mostra a resili�ncia da infla��o.
Outro indicativo � o chamado �ndice de difus�o da infla��o, que mede a quantidade de produtos e servi�os que subiram no m�s em rela��o ao total de itens pesquisado pelo IBGE.
Em m�dias m�veis trimestrais calculadas desde agosto de 2022, o �ndice vem se mantendo em 65% -o que significa que, entre cada 10 itens, 6,5 est�o subindo. At� a pandemia, o �ndice apurava m�dias de 40% a 45%.
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