Os dados divulgados pelo IBGE mostram que a queda no IPCA foi puxada por grupos como alimenta��o e bebidas e transportes
Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
Os n�meros do �ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho apontaram a primeira defla��o do ano no contexto nacional, com recuo da infla��o em 0,08% em rela��o ao m�s anterior. No lado oposto do cen�rio, Belo Horizonte teve um aumento de pre�os de 0,31%, puxado, essencialmente, pelos aumentos do pre�o da energia el�trica e da tarifa dos �nibus na capital mineira neste per�odo. Os resultados mostram, em BH, o impacto de gastos espec�ficos no or�amento das fam�lias, e, no Brasil, apontam para um aumento da press�o pela redu��o da taxa de juros pelo Banco Central e maior estabilidade no custo de vida nos meses vindouros.
Os dados, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica (IBGE) ontem, mostram que a queda no IPCA foi puxada por grupos como alimenta��o e bebidas e transportes, que representaram impacto de -0,14 e -0,08 ponto percentual no �ndice geral. Por outro lado, os custos relacionados � habita��o tiveram uma alta de 0,69% em rela��o a maio.
Para Gelton Pinto Coelho, membro efetivo do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), a queda inflacion�ria deste m�s reflete os impactos da pol�tica econ�mica do governo federal. Ele tra�a um paralelo com a queda de setembro do ano passado para comparar como dois governos diferentes podem interferir nos indicadores com resultados semelhantes e m�todos distintos.
"As duas quedas v�o mostrar a mesma coisa de formas diferentes. Ambas tratam da influ�ncia do governo federal atuando na pol�tica econ�mica. No ano passado, em um cen�rio eleitoral, houve uma retirada de tributos, provocando uma queda de arrecada��o que est� sendo paga este ano. J� a queda deste m�s mostra uma atua��o do governo federal reduzindo pre�os de forma mais direta na quest�o dos combust�veis, do financiamento da produ��o, na redu��o de pre�os para a ind�stria automobil�stica, e tamb�m nas exporta��es. S�o atua��es econ�micas diferentes”, avalia.
Em rela��o � compara��o com a �ltima defla��o para o m�s de junho, registrada em 2017, o economista tamb�m aponta a distin��o de pol�ticas econ�micas como fator que explica essa diferen�a de resultados para o per�odo. H� seis anos, tratava-se de uma guinada para um governo de l�gica mais liberal ap�s anos de mais interven��o. Agora, o sentido � o inverso.
“Estamos vivendo um per�odo de mudan�a no cen�rio brasileiro e, em 2017, tamb�m tratava-se de um encerramento de ciclo. A partir de 2016 come�ou a se desmontar os estoques da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que regulava os pre�os dos alimentos que a popula��o consome e passou a ser mais regulado pela lei de mercado. Agora come�ou a se recompor esse estoque. O PAA (Programa de Aquisi��o de Alimentos), por exemplo, voc� vai ver muitas prefeituras adquirindo com recursos federais esses alimentos neste ano e isso influencia na queda do pre�o dos alimentos”, explicou.
Diante dos resultados da infla��o de junho e da avalia��o de que eles revelam resultados de um planejamento econ�mico do governo, o economista da Funda��o Instituto de Pesquisas Econ�micas, Administrativas e Cont�beis de Minas Gerais (Ipead) da UFMG, Diogo Santos, acredita que o cen�rio dos pr�ximos meses permite uma tranquilidade maior no planejamento econ�mico para as fam�lias brasileiras. “Do ponto de vista mais pr�tico � importante dizer que estamos vivendo um momento de maior controle do custo de vida. Nem sempre isso quer dizer que as coisas est�o mais baratas, mas que os pre�os pararam de crescer. Isso abre espa�o no or�amento das fam�lias para comprar outros bens, para quitar d�vidas e ter um planejamento com prazo estendido”, comentou.
Na contram�o O cen�rio entre o Brasil e Belo Horizonte deve ser alterado a partir do pr�ximo m�s diante da redu��o da passagem do �nibus na cidade , v�lida desde 8 de julho. Para Diogo Santos, economista do Ipead-UFMG, BH tamb�m deve alcan�ar o patamar de defla��o na pr�xima divulga��o dos dados mensais pelo IBGE. “No caso de BH, a nossa expectativa para julho � de uma queda, uma varia��o negativa a partir de julho, especialmente por conta do transporte urbano. A queda da passagem de �nibus de R$ 6 para R$ 4,50 vai ser a principal diferen�a ao longo do m�s e, certamente, vai tornar esse �ndice negativo, porque tem um impacto muito grande no custo de vida”, analisa.
A tarifa dos coletivos em BH teve um aumento de 33,3% no final de abril. A manuten��o da passagem principal da cidade em R$ 6 durante todo o m�s de junho � apontada como um fator que n�o permitiu maior peso no �ndice final de servi�os que tiveram queda de pre�o como alimenta��o e bebidas, com varia��o de - 0,92%, e de artigos de limpeza, com redu��o de – 0,24%. Os gastos com habita��o em Belo Horizonte tiveram a maior varia��o, com aumento de 3,49% em rela��o ao m�s anterior. Um dos motivos � tamb�m apontado como raz�o para a manuten��o da varia��o positiva da infla��o na capital mineira: o aumento do pre�o da conta de luz, que teve reajuste de 13,66%, como explica Santos.
“Outro fator em Belo Horizonte tamb�m foi o reajuste da Cemig. Tivemos autorizado pela Aneel (Ag�ncia Nacional de Energia El�trica) um reajuste de cerca de 10% em maio, ent�o esse reajuste vai impactar a infla��o dos meses seguintes. O IBGE destaca esse como um desses elementos que segurou a queda na infla��o em BH”, analisa.
A energia � um dos pontos que influencia em diversos gastos. Para os economistas ouvidos pela reportagem, � importante ressaltar que a varia��o de custos � um resultado de diversos fatores que precisam ser levados em conta na avalia��o da infla��o. O pre�o dos alimentos em BH, por exemplo, caiu, enquanto comer fora de casa se tornou mais caro. Isso � um reflexo das despesas agregadas ao funcionamento de um bar ou restaurante, como o pre�o da conta de luz e do g�s de cozinha.
Guerra contra BC ganha novo argumento
Com a primeira varia��o negativa do IPCA no ano, o governo federal ganha novo argumento no debate para a redu��o da taxa b�sica de juros, a Selic. Com o �ndice estacionado em 13,75% desde agosto do ano passado, a redu��o do percentual tornou-se uma das pautas econ�micas priorit�rias do presidente Luiz In�cio Lula da Silva (PT), que coleciona declara��es pedindo a revis�o da medida pelo Banco Central.
A conten��o da infla��o � o principal argumento para a manuten��o dos juros altos pelo Banco Central. Mesmo com os indicadores do IPCA sob controle nos �ltimos meses, a varia��o negativa � vista como um trunfo do governo para que a Selic seja revista na pr�xima reuni�o do Comit� de Pol�tica Monet�ria (Copom), �rg�o do Banco Central respons�vel pela determina��o da taxa.
“A defla��o � um argumento muito s�lido para a redu��o dos juros. Hoje essa n�o � mais uma fala do governo, e se tornou um pedido do setor varejista, de constru��o, de produ��o de vestu�rio. O mercado como um todo j� est� sinalizando isso. Vale destacar que uma coisa � o mercado do boletim Focus, com agentes econ�micos e operadores de mercado e outra coisa � o mercado amplo de quem est� na ponta, precisando de cr�dito para ampliar empresas e oportunidades de emprego”, destaca.
An�lise da not�cia
Queda ser� de curta dura��o
Marc�lio de Moraes
A defla��o do IPCA em junho n�o deve se repertir em julho no pa�s. Isso porque o programa de descontos nos carros novos, a redu��o dos combust�veis e em alimentos como carne e leite provocaram a defla��o do m�s passado. Os carros n�o tem mais o desconto, os combust�veis tiver a volta dos impostos, a entressafra deve barrar queda maror nos alimentos.
Com isso, o IPCA deve voltar a ser positivo este m�s. No sentido contr�rio, Belo Horizonte deve registrar defla��o este m�s, com a redu��o da tarifa de �nibus de R$ 6 para R$ 4,50. Embora volte a ser positiva n�o h� nenhum risco de descontrole dos pre�os de agora at� o fim do ano, nem mesmo o in�cio dos cortes de juros que o Banco Central deve promover a partir do in�cio de agosto. A queda da cotaa��o do d�lar tamb�m favorece � redu�a� de pre�os.
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