fachada do banco central

A expectativa � que o Banco Central reduza em 0,25 ponto percentual a taxa Selic, que ir� para 13,50% ao ano

Marcello Casal Jr/Agencia Brasil
Seja na taxa do cr�dito para fazer um empr�stimo ou tomar um financiamento no banco, at� o pre�o de mercadorias importadas e o mercado de trabalho, a taxa Selic exerce importante influ�ncia sobre uma s�rie de vari�veis no dia a dia de todas as pessoas.
 
"A taxa Selic representa o custo do dinheiro. Ela � um instrumento da pol�tica econ�mica do pa�s usada para controlar a infla��o", afirma Clay Gon�alves, planejador financeiro CFP da plataforma SuperRico.
 
Para os consumidores uma Selic alta implica em um maior custo de cr�dito, tornando o financiamento de bens muito mais caro, diz Vicente Guimar�es, CEO da empresa de an�lise de investimentos VG Research.
 
Para as empresas, uma Selic em patamar elevado implica em um maior custo para o financiamento de projetos produtivos, o que tende a reduzir a expans�o dos neg�cios, acrescenta o especialista.
 
Nesta quarta-feira (2/8), o Banco Central (BC) deve tomar uma decis�o sobre a taxa. A expectativa predominante no mercado � de redu��o em 0,25 ponto percentual, para 13,50% ao ano.
Ao longo dos �ltimos meses, o presidente Luiz In�cio Lula da Silva fez diversas cr�ticas � decis�o do BC de n�o ter iniciado antes o ciclo de queda da Selic, de modo a permitir um aumento do consumo das fam�lias. 
 
Entenda a seguir os principais impactos que a taxa b�sica de juros definida pela autoridade monet�ria causa para indiv�duos e empresas.

Impacto da taxa selic no cr�dito e na infla��o 

Segundo Rachel de S�, chefe de economia da Rico, um dos impactos mais claros da taxa Selic � nos juros dos financiamentos, seja para pessoas ou para empresas.
 
"A Selic � importante na vida das pessoas porque ela vai servir de base para todos os juros da economia, como empr�stimos, financiamentos e investimentos", afirma a especialista.
 
Por isso, quando o BC eleva os juros, todas as taxas praticadas no mercado tamb�m sobem, embora n�o na mesma propor��o, diz a chefe de economia da Rico, acrescentando que o contr�rio tamb�m � verdadeiro. Ou seja, quando o BC reduz os juros, as taxas de mercado s�o reduzidas.
 
A taxa Selic, explica Enrico Cozzolino, chefe de an�lise da Levante, � o instrumento que o BC tem � sua disposi��o para controlar a infla��o, aumentando os juros quando os pre�os est�o acima da meta estabelecida pelo CMN (Conselho Monet�rio Nacional) e encarecendo o cr�dito, e diminuindo quando os pre�os est�o abaixo dos patamares desej�veis para estimular a economia.
 
A taxa Selic influencia desde as taxas de empr�stimos pessoais, de financiamentos imobili�rios, do cart�o de cr�dito, do cheque especial, at� os empr�stimos para as empresas, entre outras, diz Clay, da SuperRico.
 
No entanto, como a redu��o dos juros ocorre de forma gradual e comedida, o impacto nos juros segue a mesma intensidade.
Um levantamento feito pela Anefac (Associa��o Nacional dos Executivos de Finan�as, Administra��o e Contabilidade) mostra que a redu��o da taxa b�sica de juros de 13,75% para 13,50% ao ano acaba tendo um efeito muito pequeno nas opera��es de cr�dito.
 
"Este fato ocorre uma vez que existe um deslocamento muito grande entre a taxa Selic e as taxas de juros cobradas aos consumidores que, na m�dia da pessoa f�sica, atingem 126,26% ao ano", diz a Anefac.
 
Com a Selic em 13,50%, a taxa m�dia de juros praticada pelo mercado � pessoa f�sica � de 7,02% ao m�s, e de 125,72% ao ano, indica estudo da Anefac. Quando a taxa b�sica era de 13,75%, a taxa era de 7,04% ao m�s, e de 126,23% ao ano.
Na hip�tese menos prov�vel de um corte de meio ponto, no qual a Selic baixaria para 13,25%, a taxa m�dia de juros praticada pelo mercado � pessoa f�sica � de 7,00% ao m�s, e de 125,22% ao ano.
 
A chefe de economia da Rico acrescenta que a Selic tamb�m guarda rela��o com o poder de compra das pessoas. Por um lado, uma taxa de juros mais alta torna o cr�dito mais caro, inibindo a contrata��o de cr�dito nos bancos, mas, ao mesmo tempo, reduz a infla��o e estimula o consumo.
 
"A Selic � um rem�dio amargo, mas para combater um problema pior que � a infla��o alta, que, se sai do controle, � muito ruim para as fam�lias, principalmente para a popula��o mais pobre que n�o tem como proteger o seu poder de compra", afirma a especialista.

C�mbio e expectativas para a economia

A especialista da Rico diz ainda que a Selic tamb�m acaba afetando o c�mbio. Isso porque, quando a taxa est� mais alta, ela atrai mais investimentos para o pa�s e tende a causar uma deprecia��o do d�lar, o que acaba sendo positivo para o controle da infla��o ao reduzir o pre�o de produtos importados.
 
Al�m disso, a taxa b�sica de juros tamb�m � importante para balizar a expectativa das pessoas sobre o futuro da economia.
Se as pessoas esperam que uma Selic em um patamar baixo vai abrir espa�o para a infla��o subir, automaticamente essa expectativa passa a ser embutida nos pre�os de servi�os e mercadorias mesmo antes que os pre�os de um modo geral subam de fato, diz Cozzolino, da Levante.

Mercado de trabalho e servi�os 

A chefe de economia da Rico afirma que, � medida que uma Selic alta atua para desaquecer o ritmo da atividade econ�mica de modo a trazer a infla��o para baixo, ela acaba afetando tamb�m o mercado de trabalho.
 
Quanto menor o ritmo de crescimento da economia, menos as empresas v�o vender em produtos e servi�os, e menor ser� a necessidade de m�o de obra.
 
"S� � poss�vel contratar novos colaboradores ou n�o demitir os atuais se a empresa estiver produzindo o suficiente para aumentar a sua taxa de crescimento. Com o cr�dito mais caro, a produ��o diminui e o desemprego aumenta, bem como n�o h� gera��o de novos empregos", diz a planejadora financeira da SuperRico.
 
Por outro lado, quando a Selic est� em patamares mais baixos, a tend�ncia � de um aquecimento da atividade econ�mica, com as empresas contratando mais funcion�rios para fazer frente � demanda por suas mercadorias.
"Existe um ponto de equil�brio entre o quanto o mercado de trabalho est� aquecido e a press�o sobre os sal�rios e, consequentemente, a infla��o", diz Rachel.
 
Quanto menor o desemprego, mais dif�cil � para a empresa encontrar funcion�rios e maior precisa ser o sal�rio oferecido para atrair pessoas qualificadas para as vagas. E, quanto maior o sal�rio, maior o poder de compra, com reflexo para a infla��o.
 
"O mercado de trabalho aquecido e os sal�rios e a infla��o em alta pressionam o setor de servi�os, que � o mais dif�cil de controlar com a Selic. � desde a manicure at� o pequeno restaurante que, com receio de que os pre�os v�o continuar subindo, j� v�o antecipando o ajuste nos servi�os cobrados", diz Rachel.

Investimentos

O chefe de an�lise da Levante afirma que a Selic tamb�m impacta diretamente o rendimento dos investimentos no mercado financeiro.
 
Como serve de baliza para todas as outras aplica��es financeiras de renda fixa, uma taxa b�sica de juros mais alta torna mais atraente a aplica��o em t�tulos p�blicos emitidos pelo governo para se financiar ou em t�tulos privados de grandes empresas.
 
Al�m da pr�pria Selic, os juros dessas aplica��es financeiras tamb�m levam em conta os juros futuros, que s�o as taxas esperadas pelos investidores no futuro, afirma Cozzolino.
 
Ele acrescenta que, quando a taxa entra em trajet�ria de queda, o racional se inverte, e o rendimento das aplica��es tamb�m vai diminuir.
 
Segundo levantamento realizado a pedido da reportagem por Andrew Storfer, diretor de economia da Anefac, com a nova taxa de juros de 13,50%, um investimento de R$ 1.000 no t�tulo p�blico Tesouro Selic resulta em um rendimento l�quido de R$ 111,92 em um intervalo de 12 meses, com a incid�ncia de juros de 13,57%, j� descontado o IR (Imposto de Renda) de 17,5%.
 
At� meados de junho, quando da �ltima reuni�o do Copom (Comit� de Pol�tica Monet�ria), em que a Selic ainda estava em 13,75%, a mesma aplica��o rendia R$ 114 em um ano.
 
Na hip�tese menos prov�vel de um corte de meio ponto, de acordo com o levantamento de Storfer, um investimento de R$ 1.000 no t�tulo p�blico Tesouro Selic resulta em um rendimento l�quido de R$ 109,86 em um intervalo de 12 meses, com a incid�ncia de juros de 13,32%, j� descontado o IR (Imposto de Renda) de 17,5%. At� meados de junho, quando da �ltima reuni�o do Copom (Comit� de Pol�tica Monet�ria), em que a Selic ainda estava em 13,75%, a mesma aplica��o rendia R$ 114 em um ano.
 
A chefe de economia da Rico afirma ainda que a Selic tem uma rela��o inversa com as a��es na Bolsa de Valores. Quando os juros sobem, a tend�ncia � que as a��es, na m�dia, recuem. Tanto porque o interesse do investidor se volta mais para a renda fixa, com redu��o da participa��o em renda vari�vel, como porque o custo do financiamento para as empresas aumenta, com impacto negativo na lucratividade da opera��o e, consequentemente, para o pre�o da a��o. "Se uma empresa est� com uma d�vida grande, quanto maior a taxa de juros, mais dif�cil ser� sua situa��o financeira."
 
Guimar�es, da VG Research, afirma que 1 ponto percentual a mais da Selic causa um aumento de dezenas ou at� de centenas de milh�es a serem pagos em juros por ano por uma empresa. "Obviamente, isso impacta diretamente a lucratividade das empresas."