Nos últimos dez anos, o rendimento médio das pessoas que estudaram 16 anos ou mais caiu 16,7%, mostra a pesquisa

Nos �ltimos dez anos, o rendimento m�dio das pessoas que estudaram 16 anos ou mais caiu 16,7%, mostra a pesquisa

Freepik / Divulga��o

Os �ltimos dez anos foram tr�gicos em termos de renda e qualidade de empregos para os brasileiros que se esfor�aram para estudar mais, terminar o ensino m�dio ou ingressar na faculdade. No conjunto dos trabalhadores, foram os que mais perderam. Jovens e adultos que estudaram de 12 a 16 anos (ou mais) tiveram perda de renda mais acentuada que os menos escolarizados. Houve ainda abrupto aumento da informalidade entre eles, que atingiu tamb�m pessoas que estudaram de 9 a 11 anos. A conclus�o � de pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Getulio Vargas (Ibre-FGV) com base em dados do IBGE, da Pesquisa Nacional por Amostra de Domic�lios Cont�nua (PnadC). 

Os resultados revelam uma economia que cria predominantemente empregos de baixa qualidade e pouco produtivos. Isso empurra os mais escolarizados para vagas que pagam menos e que s�o, cada vez mais, informais —comprometendo o crescimento potencial do pa�s. No geral, despencou tamb�m a vantagem, em termos de rendimentos do trabalho, de quem estudou mais de 16 anos em rela��o aos brasileiros que passaram menos de um ano na escola.

Em 2012, o retorno positivo da educa��o na renda nessa compara��o chegava a 641%. No segundo trimestre deste ano, o pr�mio era de apenas 353%. Entre os que tinham de 12 a 15 anos de estudo (comparados aos com menos de um ano), o percentual caiu de 193% para 102%. Nos mesmos dez anos (2012-2023), o rendimento m�dio dos que estudaram entre 12 e 15 anos recuou -11,2%. Para aqueles que estudaram 16 anos ou mais, o tombo foi ainda maior: -16,7%.

"O ensino superior est� dando menos retorno no Brasil; uma novidade muito ruim. � um claro indicador de uma economia pouco din�mica, com empresas pouco ativas, e com outras mais produtivas que n�o crescem", afirma Fernando Veloso, um dos autores do trabalho. "Como essas empresas n�o evoluem por todas as mazelas que conhecemos —sistema tribut�rio, infraestrutura, economia fechada—, o pessoal chega ao ensino superior, mas ou n�o tem trabalho ou o sal�rio que esperava".

CONTAS P�BLICAS

Al�m do ambiente de neg�cios em geral ruim, os pesquisadores afirmam que o desequil�brio nas contas p�blicas � um dos principais fatores a empurrar os mais escolarizados para empregos de baixa qualidade. Nos �ltimos oito anos, a rela��o entre a d�vida bruta do pa�s e o PIB (principal indicador de solv�ncia) saltou 17 pontos, para 74,1%. Deficit�rio, o governo federal precisa pagar juros altos para se financiar, levando empresas e consumidores a se retrair.

H� poucos dias, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que incertezas sobre o compromisso do governo com a consolida��o fiscal elevaram o juro de equil�brio (capaz de manter os pre�os est�veis) de 3% para 4,5% ao ano —o que desestimula investimentos produtivos. No in�cio da d�cada passada, a taxa de investimentos como propor��o do PIB era de 19,3%. Hoje, � de 17,2%.

"� aquela hist�ria do engenheiro formado dirigindo Uber. Porque gerar um emprego para um engenheiro requer investimentos de muitos milhares de reais. O cara dirigindo Uber custa R$ 2 mil por m�s na Localiza [onde aluga o ve�culo]. Assim, ele gera sua renda, o que � sinal de falta de dinamismo da economia", diz Fernando de Holanda Barbosa, outro dos autores.
� o caso de Fernando Siqueira, 39, formado em curso superior de Gest�o da Tecnologia da Informa��o. Ap�s se graduar em 2019, passou a trabalhar formalizado em uma empresa na �rea que pagava R$ 2,1 mil ao m�s. Depois, foi para uma terceirizada, recebendo R$ 3,4 mil. Por fim, resolveu neste ano abandonar o setor e migrar para a Uber, ganhando R$ 6 mil l�quidos ao m�s (com um dia de folga na semana e um domingo a cada dois finais de semana). "Tenho outros amigos com ensino superior nessa mesma situa��o", afirma.

Siqueira � exce��o. Apesar de ter ca�do na informalidade, conseguiu aumentar seus rendimentos nos �ltimos dez anos. Na m�dia, segundo o Ibre-FGV, a renda dos trabalhadores (formais e informais) com 16 anos ou mais de estudo caiu, entre 2012 e 2023, de R$ 7.211 para R$ 6.008, em valores corrigidos pela infla��o.

Nesta mesma faixa superior de instru��o, a informalidade dobrou entre 2015 (in�cio da crise gerada ao final do governo Dilma Rousseff) e 2023: passou de 1,9 milh�o de trabalhadores para 4,1 milh�es. Os informais em rela��o ao total de ocupados com este n�vel de escolaridade aumentaram de 14% para 19,5% (+5,5 pontos percentuais)

Para aqueles com 12 a 15 anos de estudo, o rendimento m�dio (formal e informal) tamb�m caiu de 2012 a 2023, de R$ 2.630 para R$ 2.336. O total de informais nesta faixa subiu de 10 milh�es para 14,9 milh�es. Entre eles, a taxa de informalidade saltou 6,6 pontos, de 27% para 33,6%.

De 2012 a 2023, a renda do trabalho s� aumentou para os menos escolarizados. Entre os que n�o chegaram a completar um ano de estudo, os rendimentos subiram 27,5%. Para eles, houve leve queda na taxa de informalidade, de 75,2% para 72,5%.

A maior parte do ganho deste segmento, no entanto, ocorreu a partir do come�o de 2020, com a chegada da pandemia. Uma das explica��es � que, com o isolamento social, houve valoriza��o da m�o de obra menos qualificada disposta a trabalhar naquele per�odo.

Um atenuante nessas conclus�es, segundo a equipe de pesquisadores (que inclui Jana�na Feij� e Paulo Peruchetti) � que a propor��o da popula��o ocupada com mais de 12 anos de estudo passou de 49,8% para 66,5% de 2012 a 2023, tornando-se menos escassa. Isso aumentaria a concorr�ncia entre os mais escolarizados, diminuindo sal�rios. "Mas, mesmo com o aumento da oferta [de pessoas mais educadas], o retorno da educa��o no mercado de trabalho n�o deveria estar caindo nessa magnitude", diz Veloso.

Desemprego

Na �ltima quinta-feira, o IBGE anunciou que a taxa m�dia de desemprego no trimestre encerrado em julho cedeu para 7,9%, a menor desde trimestre equivalente em 2014 (7%). Na sexta, ap�s resultado do PIB do segundo trimestre acima do esperado ( 0,9% ante trimestre anterior), consultorias passaram a estimar o crescimento neste ano em 3%, com mais empregos.
"As pessoas olham o mercado de trabalho e acham que est� bombando. Mas ainda n�o atingimos os rendimentos do pr�-pandemia. Estamos gerando empregos ruins, que pagam pouco. Agora, essa novidade. Ela pega os com maior escolaridade, justamente os que pareciam mais protegidos", afirma Veloso.