Supermercado

Entre os 10% mais pobres, a renda m�dia do trabalho foi de R$ 365 no ano passado. Assim, poderia comprar o equivalente a apenas 0,48 cesta b�sica em S�o Paulo

Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press
A renda m�dia dos trabalhadores 10% mais pobres no Brasil n�o era suficiente para comprar meia cesta b�sica em uma cidade como S�o Paulo em 2022. � o n�mero mais baixo na s�rie hist�rica, com dados a partir de 2012.

Enquanto isso, o rendimento do trabalho dos 10% mais ricos permitia adquirir quase 14 cestas, em m�dia.

Considerando a renda m�dia de todos os trabalhadores (R$ 2.659), essa rela��o foi de 3,49 cestas em 2022. Trata-se de outra m�nima da s�rie iniciada em 2012. A m�xima foi de 5,15 em 2014.

As conclus�es s�o de um levantamento elaborado pelo economista Bruno Imaizumi, da LCA Consultores, com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estat�stica) e do Dieese (Departamento Intersindical de Estat�stica e Estudos Socioecon�micos).

"A primeira mensagem dos resultados � sobre aquilo que a gente conhece: o Brasil � um pa�s pobre e muito desigual, um dos mais desiguais do mundo", afirma Imaizumi.

O levantamento usa estat�sticas do IBGE sobre a renda m�dia obtida pelos brasileiros com o trabalho ao longo do ano passado. O indicador desconsidera o rendimento recebido a partir de outras fontes, como os benef�cios sociais, que t�m impacto entre as camadas mais pobres da popula��o.

Os dados de renda nacionais s�o cruzados no levantamento com o pre�o da cesta b�sica pesquisada pelo Dieese a cada m�s na cidade de S�o Paulo. Em uma m�dia de 2022, o custo de compra desses alimentos ficou em R$ 762 na capital paulista.

Entre os 10% mais pobres, a renda m�dia do trabalho foi de R$ 365 no ano passado. Assim, poderia comprar o equivalente a apenas 0,48 cesta b�sica em S�o Paulo. � a primeira vez que essa rela��o fica um pouco abaixo de 0,5 na s�rie hist�rica, com dados a partir de 2012.

No caso dos 10% mais ricos, o rendimento m�dio do trabalho foi de R$ 10.497 no Brasil em 2022. O valor seria suficiente para adquirir 13,77 cestas b�sicas � �poca em S�o Paulo. Tamb�m � o menor resultado da s�rie.

Conforme o levantamento, o m�ximo que os 10% mais pobres conseguiram comprar com a renda do trabalho foi o equivalente a 0,7 cesta b�sica. Isso ocorreu em 2014. Entre os 10% mais ricos, o recorde foi de 21,16 cestas b�sicas, tamb�m em 2014.

Imaizumi avalia que, nos �ltimos anos, os alimentos subiram de pre�o devido a uma combina��o de fatores. A lista incluiu o desarranjo das cadeias produtivas na pandemia, o impacto da Guerra da Ucr�nia sobre as cota��es de commodities agr�colas e os problemas clim�ticos no Brasil.

Com a escalada dos pre�os, o poder de consumo dos trabalhadores encolheu. "Tudo isso contribuiu para um poder de compra menor. Obviamente, o cen�rio � muito mais delicado para os mais pobres", diz o economista.

Outras compara��es do levantamento tamb�m ilustram as diferen�as no poder de consumo dos trabalhadores.

Em 2022, a renda do trabalho dos 5% mais pobres (R$ 227) comprava somente 0,3 cesta b�sica. J� o rendimento da parcela 1% mais rica (R$ 29.198) conseguia adquirir 38,31 cestas.

CEN�RIO PARA 2023

Segundo Imaizumi, o quadro � mais positivo para os consumidores em 2023. Em parte, isso ocorre porque os pre�os dos alimentos d�o sinais de al�vio em um cen�rio de oferta maior de produtos. Neste ano, o Brasil vive os reflexos do aumento da safra agr�cola, cujas proje��es indicam recorde.

Os pre�os da alimenta��o no domic�lio acumularam queda (defla��o) de 0,62% em 12 meses at� agosto, conforme o IPCA (�ndice Nacional de Pre�os ao Consumidor Amplo), divulgado pelo IBGE. Como mostrou a Folha de S. Paulo, � a primeira vez que esse segmento mostra redu��o no acumulado desde maio de 2018.

"A not�cia positiva para 2023 � que a gente est� observando queda no n�vel de pre�os, mas nada comparado ao que t�nhamos antes da pandemia", pondera Imaizumi.

"Em 2023, a gente tem aumento real do sal�rio m�nimo, uma certa recomposi��o do mercado de trabalho, manuten��o de benef�cios sociais [...]. Tudo isso tem contribu�do para um cen�rio um pouco mais positivo", acrescenta.

Segundo o Ipea (Instituto de Pesquisa Econ�mica Aplicada), a infla��o das fam�lias mais pobres acumulou alta de 3,7% em 12 meses at� agosto. O avan�o dos pre�os foi menor do que o verificado entre as mais ricas (5,89%).

Os c�lculos do Ipea levam em considera��o os dados do IPCA e as diferen�as na composi��o das cestas de consumo em cada faixa de renda.

Em termos proporcionais, os alimentos absorvem uma fatia maior do or�amento dos mais pobres. O al�vio dos pre�os da comida em 2023 � apontado como um dos motivos para a alta menor da infla��o para essa camada da popula��o.

A Reforma Tribut�ria em discuss�o no pa�s prev� a cria��o de uma cesta b�sica nacional. Atualmente, a rela��o de produtos varia de acordo com o tratamento tribut�rio concedido em cada estado.

Em seu levantamento, o Dieese pesquisa 12 ou 13 alimentos b�sicos, dependendo da capital. A lista � baseada no decreto de 1938 que instituiu a ideia de cesta b�sica no Brasil.

Como a Folha de S. Paulo mostrou, a defini��o de uma lista nacional de produtos � vista por especialistas como um desafio na reforma. Isso porque diferentes setores podem pressionar em busca do tratamento tribut�rio especial para suas mercadorias. Al�m disso, h� diferen�as regionais na dieta dos brasileiros.