
Desde pequeno Wellington Vitorino, de 26 anos, j� ouvia da fam�lia que a mudan�a na sua realidade partiria da educa��o. "Em casa nunca faltou nada, mas tamb�m nunca sobrou", diz ele, que estudou em escola p�blica e se tornou o primeiro brasileiro negro aprovado para cursar MBA no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, uma das mais prestigiadas universidades do mundo.
Nascido em Niter�i, Wellington morou grande parte da vida ali perto, em S�o Gon�alo. Ap�s cursar todas as s�ries em col�gios p�blicos, recebeu uma bolsa em uma escola de elite da zona sul carioca. No vestibular, foi aprovado em todas as universidades e tirou nota mil na reda��o do Enem, optando pela bolsa integral do ProUni para Administra��o de Empresas no Ibmec. Seu olhar j� se voltava para o empreendedorismo.
Claro, veio tudo muito devagar. Aos 8 anos, Wellington ajudava o pai a vender de tudo como ambulante na Praia de Saquarema. Aos 12, iniciou um neg�cio de revenda de picol�s - e acabou sendo autorizado pelos policiais da �rea a vender dentro do Batalh�o da Pol�cia Militar. Foi a primeira virada em sua vida, admitiu.
Aos picol�s ele acrescentou a venda de doces: abriu 23 pontos de venda na cidade. Envolveu a fam�lia, contratou a tia e mais um freelancer para auxiliar nas entregas. At� os 17 anos, nunca abandonou o ponto de venda no batalh�o. Tamb�m prestava contas de seus boletins ao coronel da institui��o, que lhe conseguiu uma bolsa de 50% em uma escola particular de S�o Gon�alo. A outra metade Wellington insistiu em pagar com o lucro dos doces.
O novo patamar veio em 2012, quando viu uma palestra sobre neg�cios e carreira e mandou ao palestrante um e-mail contando sua hist�ria. O gesto valeu-lhe uma bolsa integral para o terceiro ano do ensino m�dio na Escola Parque. Foi um per�odo conturbado, com notas baixas e uma rotina ingrata, das 7h �s 20h, sem tempo para estudar e compensar a defasagem entre ensino p�blico e privado. "No 1º bimestre, fui reprovado em seis disciplinas." Por�m, n�o desanimou. Uma ex-professora arrumou um local mais perto da escola para ele ficar - ele chegou a dormir, por oito meses, na sala dos professores de uma escola p�blica no Leblon.
ProL�der
No Ibmec, ele se destacou como bolsista e monitor da institui��o. Entrou num processo seletivo em 2015, na Funda��o Estudar, e foi um dos 24 escolhidos entre mais de 60 mil candidatos. No final ganhou o pr�mio de bolsista do ano, entregue pelo fundador, Jorge Paulo Lemann.
Foi ent�o que, percebendo a import�ncia dos jovens no futuro do Pa�s, criou o ProL�der, para ajudar a formar jovens lideran�as. "A cada passo que se d� na vida, precisamos levar outras pessoas conosco. Esse � um dos objetivos do ProL�der", afirma.
Dessa ideia derivou outra, a cria��o do Instituto Four, organiza��o sem fins lucrativos que forma e desenvolve jovens l�deres que pensam em maneiras de resolver desafios do Brasil. A organiza��o � respons�vel pelo ProL�der, que formou mais de 200 lideran�as para atuarem no meio p�blico, pol�tico e empreendedor. A busca pela diversidade tamb�m faz parte dos princ�pios do instituto. "Desde 2016, j� fal�vamos de inclus�o e diversidade de g�nero, etnia, orienta��o sexual, classe social. E tamb�m buscamos jovens fora dos eixos de Sul e Sudeste", acrescenta. O ProL�der j� teve jovens que se tornaram prefeitos, vereadores, investidores e receberam pr�mios, al�m de dois aprovados na Universidade Harvard, tamb�m nos EUA.
O instituto tamb�m � o respons�vel pelo Four Summit, confer�ncia que debate as principais �reas estrat�gicas do Brasil, com foco em inova��o e tecnologia. A 1.ª edi��o, em 2019, reuniu cerca de 700 pessoas, com mais de 90 palestrantes, em dois dias de evento.
MIT e a pol�tica
O sonho em estudar no MIT formou-se aos poucos, desde a gradua��o. Ap�s algumas viagens aos Estados Unidos para conhecer universidades - financiado pela Funda��o Educar e por outros empres�rios -, a vontade de cursar o MBA s� aumentava. Tentou duas vezes, foi aprovado na segunda.
Agora, Wellington est� preparando sua mudan�a para Boston, sede da escola. O plano � iniciar o curso, com dura��o de dois anos, ainda em agosto. O programa de MBA d� o t�tulo de mestre em neg�cios. Para tanto, ele vai se afastar por um tempo da diretoria executiva do Instituto Four, mas n�o pretende abandonar a institui��o.
Wellington tamb�m n�o descarta a possibilidade de se candidatar a cargos p�blicos. "Primeiro quero trabalhar e contribuir no ramo empresarial por 20 anos. E depois, sim, entrar na vida pol�tica", admite. "Pol�ticas p�blicas s�o fundamentais para diminuir a desigualdade social no Brasil."
As informa��es s�o do jornal O Estado de S. Paulo.