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Estado de Minas EDUCA��O

O bem-sucedido m�todo para acabar com o bullying nas escolas

O bullying pode tornar a vida das crian�as um inferno e causar problemas de sa�de, mas cientistas est�o descobrindo maneiras poderosas de combat�-lo


19/05/2022 08:07 - atualizado 19/05/2022 17:41

Meninas falando pelas costas de outra em vestiário na escola
(foto: Getty Images)

Lady Gaga, Shawn Mendes, Blake Lively, Karen Elson, Eminem, Kate Middleton e Mike Nichols — estas s�o apenas algumas pessoas que falaram sobre suas experi�ncias como v�timas de bullying na escola e a dor que isso causou a elas na inf�ncia e em etapas posteriores da vida.




Meus algozes na escola eram uma dupla de Daniels, na zona rural de Yorkshire. Eles tinham o h�bito de imitar e zombar de tudo o que eu dizia, de modo que eu mal ousava falar em sala de aula.

Qualquer pessoa que tenha sido v�tima de bullying quando crian�a entender� os sentimentos de vergonha que este tipo de experi�ncia pode trazer. E as consequ�ncias n�o param por a�.

Pesquisas recentes sugerem que os efeitos do bullying infantil podem durar d�cadas, com mudan�as duradouras que podem nos colocar em maior risco de problemas de sa�de mental e f�sicos.

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Tais descobertas est�o levando um n�mero cada vez maior de educadores a mudar seu ponto de vista sobre o bullying — de um elemento inevit�vel do crescimento para uma viola��o dos direitos humanos das crian�as.

"As pessoas costumavam pensar que o bullying nas escolas � um comportamento normal e que, em alguns casos, poderia at� ser algo bom — porque forma o car�ter", explica Louise Arseneault, professora de psicologia do desenvolvimento da Universidade King's College London, no Reino Unido.

"Demorou muito tempo para [os pesquisadores] come�arem a considerar o comportamento de bullying como algo que pode ser realmente prejudicial".

Diante desta mudan�a de mentalidade, muitos pesquisadores est�o testando v�rios programas para combater o bullying — com algumas estrat�gias novas animadoras para criar um ambiente escolar mais gentil.

Mente inflamada, corpo inflamado

Pode haver pouca d�vida de que o bullying � um s�rio risco para a sa�de mental das crian�as a curto prazo, com as consequ�ncias mais not�veis %u200B%u200Bsendo ansiedade elevada, depress�o e pensamento paranoico.

Embora alguns destes sintomas possam desaparecer naturalmente quando o bullying acaba, muitas v�timas continuam sofrendo um risco maior de problemas de sa�de mental.


Lady Gaga
Lady Gaga � uma das celebridades que falou abertamente sobre sua experi�ncia com bullying (foto: Getty Images)

De acordo com um artigo recente da Harvard Review of Psychiatry, uma mulher que sofreu bullying quando crian�a tem 27 vezes mais chance de ter transtorno de p�nico no in�cio da vida adulta.

Entre os homens, o bullying na inf�ncia resultou em um aumento de 18 vezes em pensamentos e comportamentos suicidas.

"Existem todas essas associa��es, que s�o s�lidas e reproduzidas em diferentes amostras", diz Arseneault.

O bullying tamb�m tem consequ�ncias prolongadas para a vida social das pessoas: muitas v�timas acham mais dif�cil fazer amigos na vida adulta e s�o menos propensas a viver com um parceiro de longo prazo.

Uma possibilidade � que tenham dificuldade de confiar nas pessoas ao seu redor.

"As crian�as que sofreram bullying podem interpretar as rela��es sociais de uma forma mais amea�adora", observa Arseneault.

Por fim, h� os custos acad�micos e econ�micos. O bullying prejudica as notas das v�timas, o que, por sua vez, reduz suas perspectivas de emprego — o que significa que s�o mais propensas � instabilidade financeira e ao desemprego no in�cio da vida adulta e na meia-idade.

A pesquisa de Arseneault sugere que o estresse resultante pode afetar o corpo por d�cadas ap�s o ocorrido.

Ao analisar dados de um estudo longitudinal de 50 anos, ela descobriu que o bullying frequente entre os sete e 11 anos estava associado a n�veis acentuadamente mais altos de inflama��o aos 45 anos.

� importante ressaltar que a rela��o permaneceu mesmo depois que ela controlou uma s�rie de outros fatores, incluindo alimenta��o, pr�tica de atividade f�sica e tabagismo.

Isso � importante, uma vez que a inflama��o elevada pode prejudicar o sistema imunol�gico e contribuir para o desgaste dos nossos �rg�os, levando a condi��es como diabetes e doen�as cardiovasculares.

Redes de prote��o

Juntas, estas descobertas sugerem que as tentativas de eliminar o bullying n�o s�o apenas um imperativo moral para aliviar o sofrimento imediato das crian�as, como podem oferecer benef�cios a longo prazo para a sa�de da popula��o.

Quando eu estava na escola no Reino Unido nos anos 1990 e in�cio dos anos 2000, n�o havia campanhas sistem�ticas para combater o bullying de forma mais ampla. Os professores puniriam certos comportamentos — se fossem observados.

Mas a responsabilidade era do aluno de relatar o problema, o que significa que muitos casos foram ignorados.

Alguns professores endossariam tacitamente o bullying, fechando os olhos para quest�es �bvias, enquanto outros — uma minoria rara, mas t�xica — se aliaram ativamente aos agressores.

Certos tipos de bullying tamb�m podem ser tolerados porque refletem preconceitos sociais mais amplos.

Por exemplo, uma propor��o significativa de filhos de m�es l�sbicas relatou em um estudo longitudinal ser alvo de provoca��es ou bullying por causa do seu arranjo familiar, embora o apoio parental tenha amortecido o impacto. Os jovens LGBTQ tamb�m s�o mais propensos a sofrer bullying e outras agress�es na escola.

As escolas, no entanto, tendiam a ignorar o bullying homof�bico no passado.

Felizmente, pesquisas em andamento podem fornecer agora algumas estrat�gias antibullying comprovadas que podem ajudar.

O Olweus Bullying Prevention Program � um dos programas mais amplamente testados. Foi desenvolvido pelo falecido psic�logo sueco-noruegu�s Dan Olweus, que liderou grande parte das primeiras pesquisas acad�micas sobre vitimiza��o infantil.

O programa se baseia na ideia de que casos individuais de bullying s�o muitas vezes produto de uma cultura mais ampla que tolera a vitimiza��o. Como resultado, tenta abordar todo o ecossistema escolar para evitar que o mau comportamento prospere.

Como muitas outras interven��es, o Programa Olweus come�a com o reconhecimento do problema. Por este motivo, as escolas devem preparar um question�rio para perguntar aos alunos sobre suas experi�ncias.

"Saber o que est� acontecendo � muito importante e pode orientar seus esfor�os de preven��o ao bullying", diz Susan Limber, professora de psicologia do desenvolvimento da Universidade Clemson, na Carolina do Sul, nos EUA.

O Programa Olweus incentiva a escola a estabelecer expectativas muito claras do que � um comportamento aceit�vel — e as consequ�ncias se violarem essas regras.

"As [san��es] n�o devem ser uma surpresa para a crian�a", diz Limber.

Os adultos devem atuar como exemplos positivos a seguir, que refor�am os bons comportamentos e mostram toler�ncia zero para qualquer forma de vitimiza��o.

Tamb�m devem aprender a identificar os locais dentro da escola onde o bullying � mais prov�vel de ocorrer e supervision�-los regularmente.


Menino segurando a cabeça de colega em vestiário na escola
(foto: Getty Images)

"Todos os adultos da escola precisam de algum treinamento b�sico sobre bullying — as pessoas que trabalham na cantina, os motoristas de �nibus, os inspetores", indica Limber.

Nas salas de aula as pr�prias crian�as realizam reuni�es para discutir a natureza do bullying — e as formas como podem ajudar os alunos que s�o v�timas deste mau comportamento.

O objetivo, com tudo isso, � garantir que a mensagem antibullying esteja enraizada na cultura da institui��o.

Ao trabalhar com Olweus, Limber testou o programa em v�rios cen�rios, incluindo a implementa��o em larga escala em mais de 200 escolas na Pensilv�nia.

Suas an�lises sugerem que o programa resultou em 2 mil casos a menos de bullying em dois anos. � importante ressaltar que os pesquisadores tamb�m observaram mudan�as na atitude geral das popula��es escolares em rela��o ao bullying, incluindo maior empatia pelas v�timas.

Os resultados de Limber n�o s�o os �nicos a mostrar que campanhas sistem�ticas contra o bullying podem gerar mudan�as positivas.


Crianças fazem fila em refeitório de escola
Todos os funcion�rios da escola devem estar alertas para poss�veis sinais de intimida��o e bullying (foto: Getty Images)

Uma meta-an�lise recente, que analisou os resultados de 69 ensaios, concluiu que as campanhas antibullying na escola n�o apenas reduzem a vitimiza��o, como tamb�m melhoram a sa�de mental geral dos alunos.

Curiosamente, a dura��o dos programas n�o pareceu prever suas chances de sucesso.

"At� mesmo algumas semanas de interven��o foram eficazes", diz David Fraguas, do Instituto de Psiquiatria e Sa�de Mental do Hospital Cl�nico San Carlos, em Madri, na Espanha, que foi o principal autor do estudo.

Apesar das fortes evid�ncias, estas interven��es ainda n�o foram incorporadas aos programas nacionais de educa��o da maioria dos condados.

"N�o estamos fazendo o que sabemos agora ser eficaz", diz ele.

Compartilhar � cuidar

O bullying n�o acaba na escola, � claro, e Limber argumenta que os pais e cuidadores devem estar atentos a sinais que indicam que pode haver um problema.

"Voc� deve ser proativo e puxar o assunto — n�o espere que ele apare�a", diz ela.

"Voc� pode fazer isso como parte de uma conversa do tipo: 'Como v�o as coisas com seus amigos? Voc� tem algum problema?'."

Ela enfatiza que o adulto deve levar a s�rio as preocupa��es da crian�a — mesmo que pare�am triviais de uma perspectiva externa —, ao mesmo tempo que mant�m a cabe�a fria.

"Ou�a atentamente e tente manter suas emo��es sob controle enquanto escuta."

O cuidador deve evitar fazer sugest�es precipitadas de como a crian�a pode lidar com o problema, j� que isso �s vezes pode dar a sensa��o de que a v�tima � de alguma forma culpada pela experi�ncia.


Pessoa apanhando em corredor
Todos os locais onde o bullying possa ocorrer dentro da institui��o de ensino devem ser supervisionados (foto: Getty Images)

Se for o caso, o pai ou respons�vel deve iniciar uma conversa com a escola, que deve elaborar imediatamente um plano para garantir que a crian�a se sinta segura.

"A primeira coisa � se concentrar nessa crian�a e em suas experi�ncias."

Crescer raramente ser� f�cil: as crian�as e os adolescentes est�o aprendendo a gerenciar as rela��es sociais e isso vir� acompanhado de m�goa e aborrecimento.

Mas, como adultos, podemos fazer um trabalho muito melhor ensinando �s crian�as que certos tipos de comportamento nunca s�o aceit�veis: n�o h� ningu�m para culpar, a n�o ser os pr�prios agressores.

Estas li��es poderiam ter um impacto generalizado na sa�de e na felicidade de muitas gera��es futuras.

Leia a vers�o original desta reportagem (em ingl�s) no site BBC Future.

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