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Estado de Minas LEI DE COTAS - 10 ANOS

UFMG: como a Lei de Cotas multiplicou universit�rios negros e ind�genas

Faltam dados oficiais sobre impacto geral da reserva de vagas, mas estudo da Federal indica que o sistema ampliou diversidade �tnica no ensino superior


11/09/2022 04:00 - atualizado 12/09/2022 07:46
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Belo Horizonte - MG. Pataxós e Xacriabás colan grau na UFMG. Na foto, ritual Xacriabá
Integrante de tribo em solenidade na Reitoria da UFMG: segundo estudo da universidade, total de universit�rios negros e ind�genas em institui��es federais e estaduais saltou de menos de 8 mil para 86 mil entre 2009 e 2016 (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press - 21/5/19)

 

Apesar da aus�ncia de documento mostrando o impacto das cotas na educa��o superior brasileira, pesquisa nacional coordenada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) d� uma ideia das mudan�as causadas pelas a��es afirmativas numa das modalidades que ela contempla: a inclus�o de negros e ind�genas nos c�mpus pa�s afora.

Esse grupo de cotistas parte de um total de 7.889 novas matr�culas no ano de 2009 e chega a 2016 com 86.717 registros em universidades federais e estaduais brasileiras, mais de 10 vezes mais alunos que no primeiro momento observado.

 

� o que indica o estudo “Reafirmando direitos: Trajet�rias de estudantes cotistas negros (as) no ensino superior brasileiro”, publicado em 2019, considerado o �nico levantamento do tipo financiado pelo Minist�rio da Educa��o (MEC). Foi coordenado pelo Programa A��es Afirmativas na UFMG, tendo como respons�vel Rodrigo Ednilson de Jesus, doutor em educa��o e coordenador-geral do programa. E contou com seis equipes regionais: nas universidades Federal do Amap� (Unifap), do Rio Grande do Norte (UFRN), do Rec�ncavo da Bahia (UFRB), de S�o Carlos (Ufscar), de Goi�s (UFG) e de Santa Catarina (UFSC).

 

O documento revela que, depois dessa fase de grande crescimento, as entradas de alunos pretos, pardos e ind�genas por meio de programas de reserva de vagas chegam ao ano de 2016 representando 21,18% do total de ingressos em universidades federais e estaduais. Em 2009, esse percentual era de apenas 2,29%. E, em 2012, ano da publica��o da Lei 12.711, os cotistas negros e ind�genas respondiam por 3,24% dos “calouros”.

 

Ainda em 2009, dos 344.326 ingressos, apenas 7.801 registros (2,27%) eram de estudantes negros que acessaram a universidade por meio de estrat�gias para reserva de vagas, ao passo que 12,7% eram negros que ingressaram por ampla concorr�ncia ou outra forma de acesso. “Esse processo culmina, em 2016, com a primeira vez em toda a s�rie em que os negros cotistas aparecem em maior quantidade que os negros n�o cotistas”, diz o texto. “Os resultados sugerem que a maior parte dos estudantes cotistas negros e ind�genas acessam a universidade por meio de crit�rios que associam caracter�sticas �tnicas � trajet�ria escolar. Estabelecendo as combina��es referentes aos tipos de reserva, esses resultados ficam ainda mais evidentes”, completa.

 

Dos 86.717 ingressantes cotistas negros e ind�genas, 30.312 tiveram acesso �s cotas a partir de crit�rio �tnico e referente. Aqueles que al�m da classifica��o �tnica e da trajet�ria escolar ainda foram classificados no programa de reserva de vagas em fun��o da renda domicilia representam 24,4% do total de cotistas negros e ind�genas, a segunda situa��o mais frequente. As reservas exclusivamente do tipo �tnico ou de escola p�blica representam, respectivamente, 15% e 13,3% do total dos ingressantes cotistas no ano de 2016.

 

PERSPECTIVA


Ela esperou quatro anos para entrar na faculdade desde a formatura no ensino m�dio. Para Ana Mariana Flor�ncio Afonso Meireles Lima, de 24 anos, a educa��o p�blica, que havia frequentado durante toda a sua vida parava no ensino m�dio. Universidade, ainda mais gratuita, n�o passava pela esperan�a de futuro da garota, cujas perspectivas iam at� a papelaria, onde tinha um emprego tempor�rio. “Tudo mudou quando meu tio me deu oportunidade de fazer um cursinho. J� estava mais velha e entendi que a vida seria mais dif�cil se eu n�o tivesse um diploma”, conta. No Chromos, ela descobriu letras, curso para o qual entrou com as cotas.

 

“Antes eu achava que n�o poderia passar na UFMG. Foi muito emocionante descobrir que, sim, eu podia. Mesmo com cota, tive de me esfor�ar para ser aprovada. Saber que tinha capacidade mudou algo em mim, me deu confian�a”, relata a estudante do 6º per�odo. “Hoje n�o me preocupa o fato de ter diploma, com o que vou lidar depois. Escola p�blica n�o � problema s� para os alunos, mas tamb�m para os profissionais que trabalham nela, e minha vontade � ensinar ingl�s na rede p�blica. Foram meus professores que mudaram minha vis�o de vida e queria passar isso para os meninos. Mas a valoriza��o dos docentes me preocupa”, avalia Ana Mariana.

 

“O aluno tem que acreditar nele mesmo e deixar de lado a ideia de que estudante de escola p�blica n�o pode entrar na faculdade que quer. E entender que � uma luta. Muita gente sai da rede particular para entrar na faculdade que quer, e a gente tem que insistir mais. E saber que n�o � f�cil para ningu�m, mas tamb�m n�o � imposs�vel para ningu�m”, aconselha.

 

“Mudou a cara da UFMG”

 

Se, h� 10 anos, questionamentos associaram cotas � poss�vel redu��o da qualidade de ensino nas universidades federais, hoje parece claro que o temor n�o se concretizou. M�rito, esfor�o e assist�ncia aos estudantes comp�em a f�rmula de sucesso dos alunos cotistas na Universidade Federal de Minas Gerais. “Para n�s, � muito claro: no primeiro semestre, as notas s�o um pouco diferentes no in�cio, mas ao fim do segundo semestre n�o tem mais diferen�a de rendimento entre quem entra por cotas e pela ampla concorr�ncia”, afirma a reitora da UFMG, Sandra Goulart.

 

Ela cita estudo que mostra ainda mais: estudantes assistidos pela Funda��o Mendes Pimentel (Fump) t�m menor evas�o. Entre quem entra pela ampla concorr�ncia, � maior o n�mero de estudantes que deixam de lado suas vagas. “O grande problema do ensino superior no Brasil � que o aluno entra e n�o consegue se manter. Isso sinaliza que as pol�ticas de perman�ncia t�m impacto importante entre os que precisam da cota. Por isso � t�o importante mant�-la: mudou a  universidade e deu oportunidade de fazer curso superior a muitas pessoas que historicamente foram exclu�das”, avalia.

 

“Mudou a cara da UFMG. Lembro-me de falar na primeira turma de medicina (com cotistas). � visual. Antigamente, n�o v�amos pessoas pardas ou pretas em cursos considerados de maior prest�gio social, como medicina, engenharia, odontologia... Hoje, vemos tamb�m ind�genas e pessoas com defici�ncia. Da� a ideia de UFMG plural: ela tem outra cara e, por isso, necessidade de inclus�o”, completa a reitora.

 

Aluna do 4º per�odo de bacharelado em estudos liter�rios, Deynaba Kane, de 20 anos, faz parte da gera��o mais atual de cotistas da UFMG. Apesar de enfrentar um percurso �rduo, ela considera que o amor pelo estudo � seu grande combust�vel. 

 

A jovem � filha de m�e brasileira e pai senegal�s, que chegou ao Brasil por meio de uma bolsa da Unesco para estudar sobre a cultura negra no pa�s.

 

O pai e o irm�o, que faz engenharia mec�nica, s�o suas maiores refer�ncias, de quem sempre teve no aprendizado o principal instrumento de luta. “Sou uma mulher negra de escola p�blica e tive que criar um escudo para me proteger e cuidar do meu futuro. Estudo � meu �nico meio de acesso a uma transforma��o n�o s� econ�mica, mas como pessoa. Aprender � saber lidar, saber se impor diante dos conflitos, se engrandecer, antes de conseguir dinheiro e estabilidade financeira.”

 

Ela quer fugir de mais um estigma: de que quem se forma em letras vai direto para a sala de aula. Deynaba quer se permitir mais: enveredar na pesquisa e usar a �rea de humanas, por meio da pr�tica docente, m�sica e literatura, para conscientizar outras pessoas. “Pol�ticas afirmativas s�o formas de reparar uma hist�ria excludente que segue se desenvolvendo, entendendo que pontos de partida s�o diferentes. J� nasci numa sociedade racista, que me negou muitos direitos, � hora de correr atr�s disso com ajuda do Estado. � preciso dar voz a negros, ind�genas, todos que passamos por sofrimento hist�rico, reservar lugar na sociedade para afirmar quem n�s somos. Entrar na universidade � tamb�m afirmar nossa hist�ria.” 


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