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Estado de Minas TRABALHO

O que emperra a implanta��o da jornada semanal de 4 dias no Brasil

Especialistas apontam que redu��o de forma obrigat�ria da carga do trabalhador s� seria poss�vel com mudan�a constitucional


16/08/2021 16:00 - atualizado 16/08/2021 16:26

A reforma das leis trabalhistas pode vir a reduzir a jornada de trabalho com possíveis efeitos diretos na renda do trabalhador(foto: Getty Images)
A reforma das leis trabalhistas pode vir a reduzir a jornada de trabalho com poss�veis efeitos diretos na renda do trabalhador (foto: Getty Images)

N�o h� nada que impe�a que uma empresa em funcionamento no Brasil encurte a jornada de trabalho para apenas quatro dias por semana. Mas uma mudan�a geral, uma norma que reduza de forma obrigat�ria a carga laboral do trabalhador, s� seria poss�vel com mudan�a constitucional.

 

 

 

Em uma �poca que experimentos assim t�m ocorrido em diversas partes do mundo — Isl�ndia, Espanha, Jap�o e Nova Zel�ndia, por exemplo —, a BBC News Brasil conversou com especialistas para entender as possibilidades e os entraves de algo semelhante no Brasil.

O cen�rio mais fact�vel, do ponto de vista jur�dico, seria a decis�o empresarial de reduzir a jornada mantendo o mesmo sal�rio. Nesse sentido, j� que o trabalhador seria beneficiado, a mudan�a poderia ser realizada de forma unilateral pelo empregador. Que ainda, na situa��o de novos contratados, poderia j� determinar o sal�rio considerando a jornada diminu�da, se for o caso.

"N�o existe nenhum impedimento legal. Nunca foi proibido contratar algu�m para trabalhar menos horas do que o m�ximo permitido por lei", afirma a advogada Maria Lucia Benhame, especialista em direito sindical.

"Do ponto de vista legislativo, o que h� s�o limites m�ximos. N�o temos limites m�nimos", ressalta o jurista Vin�cius Fluminhan, professor de direito trabalhista da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.

"Uma redu��o dos dias de trabalho, respeitando os dias de descanso, e dentro dos limites de 44 horas semanais seria perfeitamente poss�vel", disse Fluminhan.

A jornada m�xima de trabalho � fixada pela Constitui��o Federal. No texto, de 1988, ficou determinado que ela n�o pode exceder 44 horas semanais — antes, eram 48 horas.

H� algumas regras: diariamente, o n�mero de horas trabalhadas deve ser de, no m�ximo 8 horas — com a possibilidade de no m�ximo 2 horas adicionais, as tais horas extras. E uma s�rie de determina��es prevendo o descanso do trabalho.


Na Islândia, teste com jornada de trabalho mais curta foi um grande sucesso, dizem pesquisadores(foto: Getty Images)
Na Isl�ndia, teste com jornada de trabalho mais curta foi um grande sucesso, dizem pesquisadores (foto: Getty Images)

"Temos descansos intrajornada e interjornada", explica a advogada Fab�ola Marques, professora da Pontif�cia Universidade Cat�lica de S�o Paulo (PUC-SP) e ex-presidente da Associa��o dos Advogados Trabalhistas de S�o Paulo. "O intrajornada � um intervalo de 1 a 2 horas, um per�odo n�o pago, que � para garantir o direito do empregado de descansar e se alimentar. J� a interjornada � aquele intervalo que deve existir entre o fim de uma jornada at� o dia seguinte: no m�nimo 11 horas."

E h� a previs�o de um descanso semanal, pelo menos uma vez por semana, preferencialmente — mas n�o obrigatoriamente — aos domingos. E o descanso anual, claro, as f�rias.

Ou seja: qualquer mudan�a de jornada precisa atentar para seguir respeitando esses par�metros b�sicos. Mas, pela lei, tais altera��es j� s�o permitidas.

Em outras palavras, o empregador n�o pode decidir contar com o seu empregado apenas quatro dias da semana mas espremer toda a mesma carga hor�ria nesses dias, excedendo as 10 horas di�rias permitidas pela lei. "Mas nada impede que a empresa tenha uma jornada de 40 horas semanais e queira fazer um acordo de compensa��o com seus empregados, dividindo em quatro dias de 10 horas de trabalho", exemplifica Benhame.

A situa��o come�a a se tornar mais complexa se a decis�o de redu��o de jornada for acompanhada do plano de tamb�m diminuir o sal�rio — ainda que seja mantido valor proporcional, ou seja, o ganho por hora trabalhada seja o mesmo.

"Se for para reduzir a carga e n�o reduzir sal�rio, n�o tem nenhum tipo de problema [jur�dico] para o empregador. O empregador pode chegar para seu funcion�rio e falar: 'vou lhe pagar o mesmo e voc� vai trabalhar s� quatro dias por semana, e voc� vai ter de alguma maneira fazer tudo o que fazia em cinco dias, se virar na produtividade'", comenta o jurista Bruno Boris, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.

"O problema seria reduzir o sal�rio, j� que para isso n�o h� uma legisla��o espec�fica. Se for para reduzir o sal�rio, � preciso ter algum acordo coletivo", acrescenta ele.

"A jurisprud�ncia n�o aceita que haja redu��o salarial, ainda que proporcional", ressalta Benhame. "Os trabalhadores gozam da prerrogativa da famosa irredutibilidade dos sal�rios", acrescenta Fluminhan.

"A Constitui��o estabelece que o sal�rio � irredut�vel. Mesmo que seja interesse do trabalhador, numa situa��o hipot�tica de ele quiser reduzir a jornada e aceitar diminuir o sal�rio, � preciso uma conven��o, a participa��o do sindicato. A �nica exce��o constitucional prevista � se houver acordo ou conven��o coletiva de trabalho, a necessidade da participa��o do sindicato dos empregados autorizando essa redu��o", explica Marques.


Diversos países têm experimentado mudanças na jornada semanal de trabalho(foto: Getty Images)
Diversos pa�ses t�m experimentado mudan�as na jornada semanal de trabalho (foto: Getty Images)

A advogada conta que, na pr�tica, essa redu��o � praticamente imposs�vel. Seu escrit�rio atende a um grupo de escolas de idiomas e, conforme ela conta, � relativamente comum que professores pe�am para ter a carga hor�ria reduzida — aceitando um pagamento inferior, compat�vel com a nova escala — porque em determinado momento precisam de mais tempo para se dedicar a outras atividades.

"J� chamamos o sindicato para expor essa situa��o e eles dizem, claramente, que em raz�o de quest�es pol�ticas n�o autorizam qualquer tipo de redu��o e 'se voc� quiser fazer, pega uma autoriza��o por escrito do seu empregado, mas vai continuar correndo o risco de, l� na frente, enfrentar uma a��o trabalhista'", relata.

J� para novos contratados, a situa��o inicial � mais simples — embora as consequ�ncias podem ser complicadas.

Por um lado, o empregador pode decidir pagar menos para os rec�m-ingressantes na empresa que forem trabalhar menos horas, mas se houver a manuten��o salarial daqueles que j� desempenhavam as mesmas fun��es, os novatos t�m direito a reclamar judicialmente no futuro.

"O empregador pode vir a ter problemas com equipara��o salarial entre aqueles que fa�am a mesma fun��o", ressalta a advogada Tatiana Ferraz Andrade, professora da Faculdade Dam�sio.

Redu��o geral

Por outro lado, um movimento de redu��o geral no m�ximo de horas permitidas de trabalho por semana necessitaria de uma mudan�a na Constitui��o, que pode ser feita por meio de uma Proposta de Emenda Constitucional, a chamada PEC.

"Uma mudan�a constitucional n�o � simples. E claramente o atual governo e o atual Congresso t�m muito pouco espa�o para fazer um debate como esse", avalia Fausto Augusto Junior, diretor t�cnico do Departamento Intersindical de Estat�stica e Estudos Socioecon�micos (Dieese).

"Talvez no futuro, com uma altera��o da vis�o do que o Congresso tem em rela��o a esse debate, alguma coisa possa ser alterada. Hoje isso n�o � uma prioridade: o aumento dos custos das empresas � a t�nica dos empregadores", disse Augusto Junior.

Ele argumenta que "alterar a vis�o das empresas com rela��o a isso � fundamental", sobretudo num cen�rio de altas taxas de desemprego.

"Para a frente, esse debate precisa ganhar corpo, junto a um pacto da sociedade, compreendendo que o emprego, o trabalho remunerado, � um direito de todos e o Estado precisa intervir para garantir isso", afirma.

"Se n�o garantir de um lado, vai acabar tendo de pagar a conta de outro jeito, �s vezes de forma muito mais complicada", diz ele.

"Mas o Brasil n�o tem tradi��o nessas grandes negocia��es. � preciso avan�ar na ideia de que � muito melhor mais gente empregada com jornadas menores, mais qualidade de vida, do que voc� ter um contingente gigante de pessoas desempregadas", diz Augusto Junior.

"Esse � um acordo que a gente vai ter de construir socialmente. N�o � f�cil porque a vis�o do empresariado brasileiro � aqu�m dessas quest�es que temos visto em outros lugares do mundo", acrescenta.

Fluminhan tamb�m n�o v� possibilidades de isso acontecer em breve. Mas cr� que uma medida assim contribuiria para reduzir o desemprego, j� que muitas empresas precisariam ter mais funcion�rios.

"Seria, em tese, uma maneira de redistribuir as vagas de trabalho. Essa discuss�o j� foi feita pela Organiza��o Internacional do Trabalho: a redu��o de jornada proporciona um aumento da oferta de emprego para aqueles que est�o desocupados", afirma.

O professor acredita que seria uma ideia que "casaria muito bem" com pol�ticas inclusivas.

"Por exemplo, a absor��o de m�o de obra de pessoas mais velhas, que poderiam se beneficiar de trabalhos por apenas tr�s ou quatro dias por semana. E mesmo alguns grupos de portadores de defici�ncia grave, que teriam uma jornada mais curta", comenta ele.

"Isso acabaria diminuindo a concentra��o da demanda na assist�ncia social, que � o que acontece muitas vezes, proporcionando uma inclus�o de verdade. Trabalho pode significar redu��o de despesa em pol�ticas de a��o social."

"E, de modo geral, n�o podemos negar que tal medida pode proporcionar bem-estar para o trabalhador, com ganho de qualidade de vida ao ter mais tempo livre", acrescenta.


Especialista afirma que mudança em jornada semanal no Brasil pode acarretar aumento do duplo emprego, seja oficial ou por meio de bicos(foto: Getty Images)
Especialista afirma que mudan�a em jornada semanal no Brasil pode acarretar aumento do duplo emprego, seja oficial ou por meio de bicos (foto: Getty Images)

Contudo, o professor Fluminhan ressalta que, no Brasil, essa mudan�a poderia acarretar num efeito colateral: o aumento do duplo emprego, seja oficial, seja por meio de bicos.

"� uma caracter�stica nossa, da nossa economia, de nosso mercado de trabalho, decorrente do fato de termos remunera��es baixas", explica.

"Metade dos trabalhadores hoje ganha um sal�rio m�nimo ou pouco mais do que isso. Ent�o uma medida como essa, mesmo que venha com o intuito de trazer maior conforto, maior bem-estar para o trabalhador que teria mais tempo livre para usufruir do �cio, traria um risco de as pessoas procurarem um segundo emprego", acrescenta.

O tiro poderia, ent�o, sair pela culatra. Em vez de tr�s dias livres para o lazer, a pr�tica esportiva e as atividades familiares, muitos trabalhadores teriam jornadas duplas "encavaladas", com o objetivo de melhorar os ganhos.

Fluminhan cita como exemplo o que j� ocorre em algumas profiss�es com jornadas de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso — de atividades de seguran�a a sa�de, passando por servi�os de portaria: � muito comum que esses profissionais utilizem o tempo dilatado entre uma jornada oficial e outra para um emprego paralelo ou a pr�tica de bicos.

"Assim, a jornada reduzida pode funcionar como um convite � sobrejornada, ao excesso de jornada. E ter�amos uma situa��o pior do que a original, com os sal�rios baixos incentivando a busca por um segundo emprego", contextualiza.

"O segundo emprego n�o � obviamente algo ilegal, mas � importante destacar que pode aumentar o clima de estresse, o cansa�o. E em muitos casos pode ser perigoso, j� que o excesso de jornada fatalmente acarreta uma performance negativa em algum momento, levando a acidentes que podem causar danos n�o s� ao pr�prio trabalhador mas tamb�m a terceiros", atenta ele.

"Ou seja: se for diminuir dias de trabalho pensando em aumentar a produtividade com um trabalhador mais descansado, na verdade pode acontecer um tiro no p�. Talvez uma forma de resolver isso seria exigir exclusividade do trabalhador, que pode constar em contrato, embora seja uma regra que precise de alguma justificativa", comenta ele.

"A redu��o de jornada est� muito distante do nosso cen�rio. Pode ser que muitas empresas tenham interesse em promover isso, para segurar um excelente profissional, garantir a ele uma vantagem… Um motivo para manter um alto executivo… Mas a maior parte dos trabalhadores est� distante disso", reflete a advogada Marques.

"Para que ocorresse no Brasil, seria preciso uma reforma total, tribut�ria, altera��o na pr�pria legisla��o trabalhista garantindo uma presen�a maior dos sindicatos… N�o vejo possibilidade de isso ocorrer no Brasil, pelo menos n�o nos pr�ximos 30 anos."

Entraves

Benhame acredita que reduzir a jornada de trabalho � uma situa��o que, no Brasil, bate de frente com a percep��o da produtividade e o pr�prio cen�rio econ�mico adverso.

"As empresas, especialmente hoje, n�o t�m condi��es de manter o valor do sal�rio de seus empregados e abrir m�o de horas de trabalho deles. Existem estudos mostrando que o trabalhador brasileiro � menos produtivo do que de outros pa�ses, o que torna isso extremamente dif�cil de ocorrer", diz ela.


Um sonho para muitos, a jornada de trabalho de quatro dias por semana tem sido cada vez mais discutida no mundo(foto: Getty Images)
Um sonho para muitos, a jornada de trabalho de quatro dias por semana tem sido cada vez mais discutida no mundo (foto: Getty Images)

De acordo com c�lculos realizados em 2019 pelo soci�logo e professor Jos� Pastore, professor aposentado da Universidade de S�o Paulo (USP) e presidente do Conselho de Emprego e Rela��es do Trabalho da Federa��o do Com�rcio de Bens, Servi�os e Turismo de S�o Paulo (Fecomercio), um trabalhador brasileiro gasta uma hora para realizar o que um americano faz em 15 minutos, um alem�o em 20 minutos e um coreano tamb�m em 20.

E a culpa n�o � da enrola��o, das pausas para o cafezinho ou mesmo de qualquer sentimento de pregui�a.

A baixa produtividade � decorrente de um conjunto de caracter�sticas que passa pelas defici�ncias do capital humano — baixa qualifica��o dos trabalhadores —, do capital f�sico — tecnologia obsoleta e mal gerida — e do capital financeiro — investimentos equivocados — e se somam a problemas de infraestrutura e de burocracia. Esse balaio todo que nos acostumamos a chamar de "custo Brasil".

"Ent�o h� um entrave pr�tico, econ�mico, de produtividade", ressalta Benhame. "O trabalhador brasileiro tem baixa forma��o, forma��o de baixa qualidade, que acarreta em produtividade bem menor do que em outras partes do mundo. Isso torna [uma eventual redu��o de jornada] mais dif�cil do que fazer uma mera altera��o na lei."

"Por isso que quando se tenta trazer modelos externos para o Brasil, � preciso atentar para a realidade socioecon�mica de cada pa�s. Comparar o Brasil com a Isl�ndia n�o � uma boa, nem do ponto de vista econ�mico nem quanto ao desenvolvimento social", complementa a advogada.

"Nossa realidade � de Am�rica Latina, de trabalhador pouco produtivo e pouco preparado", diz ela.

"Al�m disso, nenhuma empresa hoje tem condi��o de aumentar seu custo de m�o de obra reduzindo o trabalho que recebe. Portanto, trata-se de um planejamento para o futuro: h� muitos anos ou�o falar disso, de redu��o de jornada, mas se n�o for feito um incremento na educa��o, com boas forma��es, isso n�o vai ser poss�vel", acrescenta Benhame.

Para ela, uma redu��o de jornada s� ser� poss�vel quando a produtividade for mantida em menos dias de trabalho.

Segundo estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Funda��o Get�lio Vargas, contudo, a produtividade do brasileiro n�o vem aumentando nas �ltimas d�cadas de forma significativa, mesmo com as melhorias tecnol�gicas e o aumento da escolaridade.

A an�lise demonstrou que de 1981 a 2018, a taxa de produtividade do trabalhador do Brasil avan�ou apenas 0,4%.

Para o professor Bruno Boris, h� tamb�m um tabu social: a ideia de que � preciso trabalhar todos os chamados dias �teis.

"No Brasil h� um aspecto cultural muito forte em rela��o a acreditar que o trabalho de 8 horas, di�rio, � o certo. E trabalhar menos do que isso n�o seria adequado ou produtivo", comenta ele.

"Acredito que o trabalhador brasileiro � dos que mais trabalham [em termos de horas] no mundo. Sabemos que h� empresas que, mesmo sendo ilegal, orientam os funcion�rios para bater o ponto e depois voltar para a mesa para trabalhar mais."

Al�m disso, ele lembra que diante de um cen�rio em que o trabalhador j� "custa caro", devido aos encargos trabalhistas, sobretudo para o pequeno empres�rio, a ideia de reduzir o tempo de trabalho sem mexer nos vencimentos seria de grande dificuldade.

Por outro lado, se isso fosse acompanhado de algum incentivo, alguma desonera��o para o empregador, a "sobra de mais dinheiro no bolso do empregado seria, em um pa�s em desenvolvimento como o nosso, algo interessante".

Ao observar o cen�rio empresarial, Boris constata que alguns segmentos teriam mais facilidade para se adaptar a tal mudan�a. "E essas empresas, aderindo ao formato, fariam disso um chamariz para novos empregados, uma vantagem, um benef�cio, como as empresas que d�o seis meses de licen�a maternidade, enquanto o m�nimo legal � de quatro meses", compara.


"Acredito que o trabalhador brasileiro � dos que mais trabalham [em termos de horas] no mundo", diz professor (foto: Getty Images)

E, enquanto isso for feito apenas em alguns setores, funcionaria como um bal�o de ensaio. "Um teste, uma transi��o, para que o mercado veja se aceita bem isso, para s� depois eventualmente uma legisla��o possa vir a tornar isso oficial — o que acho bem distante ainda para a realidade brasileira", complementa.

"Isso faria com que todo mundo quisesse trabalhar nessas empresas com apenas quatro dias de trabalho por semana", comenta a advogada Marques.

"Mas quando pensamos nessa possibilidade, observando o que vem ocorrendo no mundo, acho que no Brasil ainda � algo fora da realidade, principalmente no momento atual, com esse tipo de governo que estamos enfrentando, esse Legislativo que n�o se mexe para fazer altera��es razo�veis, essa reforma trabalhista que n�o trouxe vantagem ao trabalhador, ao contr�rio, trouxe in�meros preju�zos."

Fluminhan tamb�m entende que as empresas podem usar isso como marketing pr�prio. "Seria uma forma de melhorar sua imagem, utilizando um selo, ressaltando que elas fazem quest�o de que seus funcion�rios convivam mais com a fam�lia, aproveitem a vida e saibam usar o �cio, n�o vivam apenas o trabalho ostensivo", salienta.

"Pode ser uma forma de as empresas explorarem a ideia, da mesma maneira que muitas falam em sustentabilidade, respeito ao meio ambiente e diversidade. � um jeito de mostrarem que s�o abertas, modernas, democr�ticas. Uma empresa que exige menos dias de trabalho de seus funcion�rios vai poder ganhar fama por isso."

"Percebo que as empresas hoje realmente est�o falando que a quest�o � aumentar a produtividade do funcion�rio, com ele feliz e descansado", comenta Ferraz Andrade, que tem entre seus clientes diversas startups.

"Mas � uma quest�o cultural e de gest�o. As empresas no Brasil ainda est�o aprendendo a lidar com o teletrabalho, principalmente com rela��o ao controle de jornada. � preciso um pouco de cautela", acrescenta.

Augusto Junior, do Dieese, lembra que, para que as empresas fa�am essa mudan�a de modo individual, "os mecanismos legais existem e s�o bem seguros".

"� �bvio que se voc� implementa um novo padr�o de jornada no pa�s, voc� altera o pre�o m�dio do m�o de obra, altera as condi��es gerais da sociedade, viabiliza outras formas de reorganiza��o do trabalho e da produ��o", enumera.

"E muitos empres�rios, com vis�o antiga, s�o contra qualquer altera��o que altere sensivelmente a forma e a distribui��o da renda no pa�s. Mas � algo ainda em constru��o."

"Por outro lado, h� empresas que acham que isso vale a pena. Elas v�o construindo alternativas", comenta ele.

Em sua vis�o, quando um n�mero consider�vel de empregadores tiver feito alguma mudan�a nesse sentido, haver� mais espa�o para um debate nacional.

"Para que consigamos ter uma negocia��o, uma pol�tica de longo prazo de redu��o de jornada, um novo padr�o de trabalho", diz.

"Talvez nem tanto para os quatro dias, mas talvez para 40 horas por semana, depois para 36 horas… Se as mudan�as forem sendo implementadas gradualmente, vai se construindo algum mecanismo cuja inten��o l� na frente seja estabelecer uma jornada menor, acertada socialmente. Essa foi uma proposta que chegou a ser discutida uma d�cada atr�s, quando o Brasil caminhava para o pleno emprego."

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