
Dos 1,6 mil alunos da Escola Estadual Maur�cio Murgel, no Bairro Nova Su��a, na Regi�o Oeste de Belo Horizonte, 43 s�o surdos. Eles est�o distribu�dos em quatro turmas, do 1º ao 3º ano do ensino m�dio. Nas turmas mistas, h� cerca de 28 estudantes sem defici�ncia na audi��o e 10 a 12 sem capacidade de ouvir. Nessas turmas, h� presen�a constante de uma int�rprete de Libras, respons�vel pela comunica��o entre professores e alunos e deles com os colegas. Aluna do 1º ano, Anne Rocha Marotta, de 17 anos, estudava numa escola especializada, que fechou ano passado. Ela conta que interage mais com os colegas surdos e que, no in�cio, teve um pouco de medo, pois se sentia sozinha. Mas, agora, est� totalmente integrada. “Acho importante estudar o fundamental numa escola especial e o n�vel m�dio numa classe mista, para me acostumar com os alunos ouvintes e com o mercado de trabalho”, diz.
O colega dela Wesley Klismann Ferreira Val�rio, tamb�m de 17, come�ou a vida escolar numa escola comum, mas logo passou para a especializada. “N�o tinha int�rprete nem intera��o com outros alunos”, lembra. Ele reclama que falta acessibilidade em algumas institui��es: “Fiz um curso de computa��o durante um ano e nunca teve int�rprete. Falta acessibilidade e sensibilidade”.
Int�rprete da escola, a pedagoga Elisete Aparecida Rocha Gomes diz que, apesar dos desafios, historicamente � preciso ressaltar as melhoras na educa��o dos surdos. “O grande desafio hoje � humano: ter profissionais qualificados e capazes de entender que � preciso haver um m�todo para esses alunos. N�o h� curso de forma��o de int�rprete e n�o h� libras na UFMG nem na PUC. Um curso de 40 horas num semestre n�o � suficiente para aprender nem o alfabeto”, diz, se referindo � legisla��o que determina a Libras como componente curricular obrigat�rio nos cursos de forma��o de professores para o exerc�cio do magist�rio, em n�vel m�dio e superior, e nos cursos de fonoaudiologia, de institui��es de ensino p�blicas e privadas, do sistema federal de ensino.
H� 10 anos, a Maur�cio Murgel oferece um curso de Libras, liderado por um professor surdo que ensina a toda a comunidade escolar interessada. “O tema do Enem n�o me surpreendeu, porque � assunto que est� atrelado ao nosso cotidiano e passa despercebido por aqueles que n�o querem v�-lo”, afirma a diretora do col�gio, S�nia Marinho Amaral de Resende. “Hoje (ontem), o Brasil acordou diferente, pensando nesse tema t�o pr�ximo a cada um de n�s. Penso que boas a��es e pol�ticas educacionais ser�o implementadas num futuro pr�ximo, pois, quando um assunto gera reflex�o, gera tamb�m boas a��es futuras.”

Uma volta no ve�culo � suficiente para identificar o problema. A partir da�, Ot�vio compra o cat�logo, desmonta tudo e pede na empresa, pela numera��o, as pe�as que est�o estragadas. “Ele percebe o problema pela vibra��o do trator. Com carro � igual”, explica Jos� Maur�cio. Ot�vio se formou no ensino m�dio na Maur�cio Murgel, mas n�o quis prosseguir os estudos. “Ele fala que � dif�cil. N�o � todo lugar que tem int�rprete. Muitas vezes, o professor n�o tem a bondade de saber se o aluno surdo est� entendendo ou n�o. E � assim na vida cotidiana. O ref�gio dele foi ir para a ro�a e trabalhar l�.”
“Desde pequeno comecei a falar em Libras. Completei o 3º ano, apesar de todas as dificuldades”, afirma Ot�vio. Ele conta que a mudan�a de col�gio foi dif�cil. A escola do ensino m�dio era muito boa, mas os professores e alunos n�o sabem libras, se o int�rprete faltava n�o consegu�amos entender nada. Fic�vamos esperando a aula acabar sem compreender o que o professor falava.”
Para S�nia Marinho, h� tr�s grandes desafios. O primeiro s�o as escolas p�blicas ou particulares abrirem as portas para a inclus�o e acreditar que todo ser humano tem um potencial capaz de remover barreiras, independentemente de uma obriga��o legal. O segundo s�o os educadores perceberem que todos s�o capazes de aprender, desde que se respeite o tempo de cada um. E o terceiro � abrir o mercado de trabalho. “Esses desafios t�m a ver com quest�es nobres, que s�o solidariedade e compaix�o. A partir da�, nos tornamos seres humanos melhores.”
INVESTIMENTO Minas Gerais deve contar, ano que vem, com um curso t�cnico de tradutor int�rprete de l�ngua brasileira de sinais (Libras) na rede estadual de ensino. A nova modalidade visa suprir a demanda crescente por esses profissionais e amenizar a dificuldade de contrata��o em alguns munic�pios do interior do estado. A Secretaria de Estado de Educa��o (SEE) informou que o curso ainda est� em processo de formata��o para definir as unidades que v�o ofertar as aulas e n�mero de vagas.
De acordo com dados do Censo Escolar 2016, a rede estadual de ensino conta com 2.996 alunos com defici�ncia auditiva. S�o 1.530 surdos, 1.455 com defici�ncia auditiva parcial e 11 surdos-cegos. Em Belo Horizonte, h� 398 alunos, sendo que 259 s�o surdos, 138 com defici�ncia auditiva parcial e 1 surdo-cego. Atualmente, cerca de 1,3 mil tradutores int�rpretes de Libras atuam nas escolas estaduais mineiras, segundo a SEE.
Ela informou que mant�m o funcionamento de cinco Centros de Apoio � Pessoa com Surdez/CAS estaduais (Montes Claros, Belo Horizonte, Diamantina, Uberaba e Varginha) e dois n�cleos de capacita��o na �rea (Janu�ria e Governador Valadares), que s�o respons�veis pela capacita��o de professores e tradutores int�rpretes de Libras, al�m da orienta��o pedag�gica para a educa��o de surdos na rede estadual de ensino.