Os resultados de aprendizagem dos estudantes brasileiros s�o absolutamente preocupantes. E n�o se trata de opini�o ou de an�lise de terceiros: a conclus�o � do pr�prio Minist�rio da Educa��o (MEC), que escancarou a cat�strofe do ensino no pa�s usando termos pesados para caracterizar os resultados do Sistema de Avalia��o da Educa��o B�sica (Saeb). � �nfima a porcentagem de alunos do 5º e do 9º do n�vel fundamental com conhecimento adequado em portugu�s e matem�tica. Pior ainda � a situa��o do 3º ano do ensino m�dio, s�rie na qual sete em cada 10 jovens n�o conseguiram sequer aprender o b�sico. Minas Gerais e Belo Horizonte acompanham a derrocada nacional, com n�meros ruins de uma ponta a outra e um 9º ano merecedor de aten��o especial. O momento de transi��o do ensino fundamental para o m�dio se apresenta como um divisor de �guas turvas, ao mostrar a decad�ncia de aprendizado ao longo das s�ries iniciais e anunciar um fim desastroso na etapa seguinte.
Mais de 5,4 milh�es de estudantes do 5º e 9º ano do ensino fundamental, e da 3ª s�rie do ensino m�dio, de mais de 70 mil escolas foram avaliados com testes de l�ngua portuguesa e matem�tica. Tamb�m foram aplicados question�rios para diretores, professores e estudantes. Em Minas Gerais, que tem desempenho superior � m�dia nacional em todas as etapas avaliadas, 85% dos alunos do 5º anos t�m conhecimento insuficiente ou b�sico em portugu�s e 82% deles, em matem�tica. Essa � a porcentagem tamb�m dos alunos da rede de Belo Horizonte que aprendem apenas at� o b�sico os conte�dos da l�ngua materna e aqueles relacionados aos n�meros.
No 9º ano, a queda no aprendizado impressiona. De acordo com o Saeb, a cada 100 alunos, dois aprendem portugu�s de maneira adequada em Minas Gerais e menos de tr�s a cada 100 aprendem matem�tica como deveriam – mesma propor��o para os alunos de BH em rela��o � l�ngua portuguesa. Na capital, somente 3,1% dominam como desej�vel a disciplina ligada a contas e f�rmulas.
Na �ltima etapa da educa��o b�sica, quando os estudantes est�o a um passo de entrar no ensino superior, a trag�dia se completa: em Minas, 0,84% dos alunos aprendem portugu�s como deveriam e 2,1%, a matem�tica. No pa�s e no estado, cerca de 70%, ou seja, sete em cada 10 estudantes, aprendem quase nada nas duas disciplinas, tendo o conhecimento tido como insuficiente. A rede municipal atende apenas o ensino fundamental, por isso, n�o h� dados da capital.
“O ensino m�dio brasileiro revelado pelo Saeb 2017 � um desastre. O desempenho insuficiente dos nossos estudantes, edi��o ap�s edi��o da avalia��o, confirma a import�ncia das mudan�as que trouxemos com o novo ensino m�dio”, afirmou, na coletiva de apresenta��o dos dados no fim da semana passada, o ministro da Educa��o, Rossieli Soares. Autora da Matriz de Refer�ncia do Saeb na d�cada de 1990 e presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep), Maria In�s Fini defende a busca por solu��es inovadoras. “Lamentavelmente, os resultados n�o registram ganhos de aprendizagens das nossas crian�as e jovens. O Saeb 2017 evidencia, mais uma vez, a urg�ncia da implanta��o e do apoio a revolucion�rios programas iniciados pelo novo ensino m�dio, pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC), o Mais Alfabetiza��o, e o ensino em tempo integral, para citar s� alguns. � desalentador o confronto com esses resultados”, diz.
Diante desse cen�rio, a gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Ita� Social, Patricia Mota Guedes, considera urgente a necessidade de um olhar espec�fico para o 9º ano, na tentativa de barrar o que os n�meros mostram. “Temos conseguido uma evolu��o nos anos iniciais do fundamental, sobretudo em l�ngua portuguesa, mas a matem�tica � ainda um desafio e um gargalo. J� os anos finais parecem uma etapa esquecida, n�o tendo recebido aten��o de programas nem iniciativas federais e de outros entes p�blicos”, diz. “Foi elaborado o novo ensino m�dio, foram pensadas pol�ticas de alfabetiza��o em colabora��o com estados, munic�pios e entidades, mas n�o houve um olhar espec�fico para o 9º ano, que � uma etapa cr�tica. Parte dos problemas do n�vel m�dio pode ser explicada pelo mau desempenho nos anos finais, quando o aluno n�o vai bem e, por isso, opta por deixar a escola ou seguir nessas condi��es”, afirma.
REPET�NCIA Patricia lembra que as taxas de reprova��o, que nos anos finais do fundamental sobem de maneira exponencial e n�o aparecem no Saeb, s�o as consequ�ncias do mau desempenho. “Os estudantes come�am a ser reprovados de forma intensa no 3° ano do fundamental e se intensifica nos anos finais, onde h� uma defasagem idade/s�rie muito grande, com alunos que repetiram dois ou tr�s anos. H� ainda uma cultura de que o aluno que repete aprende mais, e isso n�o � verdade. Como a escola n�o muda suas pr�ticas, ele acaba abandonando”, ressalta a especialista.
A gerente do Ita� Social destaca ainda que os dados mostram o n�vel de comprometimento das metas do Plano Nacional de Educa��o (PNE) relativas � qualidade do aprendizado at� 2021. “Estamos muito longe e isso � motivo de mais um grande pacto nacional. N�o h� f�rmula m�gica e sabemos que tem muitas evid�ncias e converg�ncias que precisam ser feitas no n�vel sist�mico pelas secretarias de Educa��o. O desafio � como fazer essa grande mudan�a”, diz. “A situa��o � preocupante e � preciso ir al�m do diagn�stico.”
Uma das sa�das, segundo Patricia Guedes, � mapear as redes de ensino que conseguiram avan�ar, a fim de se reconhecer esfor�os e trazer luz a quem procura sair do gargalo. Para a especialista, o gargalo no 9º ano � escancarado ano ap�s ano em outros indicadores, entre eles o Censo Escolar, que deixa claro a necessidade de a �ltima s�rie do n�vel fundamental ser objeto de pol�ticas p�blicas para consertar a situa��o e de articula��o entre estados e munic�pios.
ACIMA DA M�DIA Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Educa��o (SEE) destacou que Minas Gerais melhorou, no geral, no desempenho em matem�tica e l�ngua portuguesa, em todos os n�veis de ensino avaliados, em rela��o � �ltima avalia��o, feita em 2015. “Inclusive, o estado figura entre outros nove da Federa��o que conseguiram apresentar, em todas as etapas, em l�ngua portuguesa e matem�tica, profici�ncia acima da m�dia nacional”, ressalta o texto. A secretaria credita o destaque ao desempenho no ensino m�dio da rede estadual, cujos estudantes obtiveram nota 268,49 em portugu�s, aumento de 5,8 pontos em rela��o a 2015, a pontua��o mineira ficou em 262,96. J� em matem�tica, a nota dos estudantes do n�vel m�dio pulou de 265,2, em 2015, para 271,6, em 2017, aumento de 6,4 pontos.
“Para a Secretaria de Educa��o, o resultado do desempenho � ainda mais significativo se considerarmos que, de 2015 a 2016, mais de 47 mil jovens que estavam fora da escola retornaram aos estudos, um n�mero recorde. Isso �, os dados mostram que eles n�o s� voltaram a estudar, como voltaram para aprender mais e melhor. J� de 2016 a 2017, mais de 8 mil estudantes retornaram aos estudos, sem que esses eventos afetassem os nossos resultados”, afirma a nota.
No ensino fundamental da rede estadual, os resultados tamb�m s�o tidos como significativos. No 5º ano, houve aumento no rendimento em portugu�s – passando de 220,54, em 2015, para 225,61, em 2017 – e em matem�tica – de 230,9, em 2015, a 232,7, em 2017. Houve aumento tamb�m em portugu�s no 9º ano, que passou de 253,57 pontos para 254,91. A secretaria reconhece o decr�scimo de rendimento em matem�tica, no 9º ano, “o que mostra que precisamos investir nessa �rea de conhecimento, que � sempre um gargalo para todas as redes”, diz o texto.
Tamb�m procurada, a Secretaria Municipal de Educa��o informou que n�o teve tempo h�bil para analisar os resultados do Saeb.