Em Minas, escolas particulares tamb�m est�o abaixo da meta de desempenho

Os principais indicadores do ensino b�sico escancararam, nos �ltimos dias, a fragilidade e a inefici�ncia da educa��o no pa�s. Nas salas de aula, portugu�s e matem�tica, simplesmente, n�o est�o sendo aprendidos. O mais recente desses diagn�sticos, o �ndice de Desenvolvimento da Educa��o B�sica (Ideb) 2017, divulgado na semana passada, mostra um caminho imenso ainda a ser percorrido para se atingir patamares minimamente aceit�veis. Se no resultado nacional os n�meros s�o tr�gicos, mais catastr�ficos ainda s�o os individuais. Em Minas Gerais, nenhuma rede, seja p�blica ou privada, atingiu a meta de desempenho proposta para o ano.

O Ideb � uma iniciativa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais An�sio Teixeira (Inep), vinculado ao Minist�rio da Educa��o (MEC), para medir o desempenho do sistema educacional brasileiro a partir da combina��o entre a profici�ncia obtida pelos estudantes no Sistema de Avalia��o B�sica (Saeb) e a taxa de aprova��o, indicador que tem influ�ncia na progress�o dos estudantes entre etapas/anos na educa��o b�sica. Ele tem uma escala que vai de 0 a 10 – quanto mais alta a nota, melhor � o desempenho – e � medido a cada dois anos. Em cada edi��o, um alvo � estabelecido. H� uma meta nacional e tamb�m uma individual, por meio da qual cada estado, munic�pio, rede de ensino e at� mesmo as escolas tra�am um par�metro, que � pactuado com o governo federal para ser cumprido no per�odo e que leva em conta v�rios pontos, como caracter�sticas regionais e o hist�rico do diagn�stico.

Os resultados de 2017 ecoam um aprendizado p�fio em portugu�s e matem�tica. No Ideb e no Saeb, a hist�ria se repete: os estudantes v�o bem nos anos iniciais do ensino fundamental (1º ao 5º ano), derrapam nos finais (6º ao 9º ano) e culminam na grande trag�dia que se tornou o ensino m�dio do Brasil, conforme palavras do pr�prio ministro da Educa��o, Rossieli Soares.

SUPERA��O Nos anos iniciais, Minas Gerais vem superando as metas ao longo dos �ltimos anos, chegando a 2017 com 0,3 ponto acima do estabelecido. O Ideb total do estado (todas as redes de ensino) ficou em 6,5 – a proje��o era de 6,2. Em Belo Horizonte, a meta vem sendo cumprida desde 2009. No ano passado, o �ndice foi de 6,3 – 0,2 ponto acima da proje��o feita pela rede municipal (veja arte). Nos anos finais, o cen�rio muda. O Ideb do estado ficou muito abaixo do pretendido. A meta era de 5,2 e o alcan�ado foi 4,7.

Na compara��o entre rede p�blica e as escolas privadas, o desastre � semelhante: a primeira ficou 0,5 ponto abaixo do estabelecido (4,5 contra 5) e a outra, 0,4 ponto a menos (7 contra 7,4). Em BH, as metas para os anos finais foram alcan�adas at� 2013. Em 2015 e 2017, a rede da Prefeitura n�o conseguiu o feito. Nesta edi��o do Ideb, ficou 0,2 ponto atr�s da meta e na anterior, 0,1 ponto.

No ensino m�dio, o v�o entre o resultado pretendido e o conquistado se amplia. O Ideb total do estado � de 3,9, frente a uma meta de 5,1. Na rede particular, o �ndice � de 6,3 para uma meta de 7,1 e na rede estadual, a diferen�a ultrapassa um ponto (Ideb de 3,6 e meta de 4,8). N�o h� dados para a rede municipal, pois o n�vel m�dio � de responsabilidade dos estados.

Outro par�metro escancara a discrep�ncia. Nos anos iniciais do fundamental, dos 753 munic�pios mineiros com meta calculada para 2017, 629 (83,5%) alcan�aram o �ndice estabelecido. Minas Gerais � o segundo estado com o maior percentual, atr�s apenas do Cear� (99,5%).

J� nos anos finais, a propor��o despenca: apenas 21,6% das 847 cidades com meta calculada para esta edi��o (183) cumpriram o par�metro pactuado. No ensino m�dio, a situa��o � para l� de cr�tica. O Ideb dos munic�pios foram analisados em quatro faixas diferentes – at� 3,1; de 3,2 a 4,1; 4,2 a 5,1; e 5,2 ou mais. Quase 80% alcan�aram pontua��es que n�o chegam nem perto da meta nacional para o ensino m�dio (4,7).

DESAFIOS “Os avan�os nos anos iniciais para todas as redes s�o muito altos. Os desafios surgem a partir dos anos finais, mas o maior deles � o ensino m�dio. E s�o desafios que v�o se acumulando: de estrutura f�sica das escolas, de forma��o adequada de professores, entre outros. Um conjunto de fatores faz com que quando se chega ao ensino m�dio eles sejam t�o grandes e, assim, haja muito mais dificuldade para avan�ar”, afirma a coordenadora de Implementa��o do Ita� Social, Sonia Dias. Ela lembra ainda que do 6º ao 9º ano h� um agravante: s�o per�odos de grande reten��o.

"NOT�CIA TR�GICA" As metas nacionais do Ideb tamb�m n�o s�o motivo de comemora��o. Depois de tr�s edi��es consecutivas sem altera��o, o �ndice do ensino m�dio avan�ou apenas 0,1 ponto em 2017. De 3,7 em 2015, atingiu 3,8 em 2017 – a meta estabelecida para 2017 � de 4,7. “Foi um crescimento inexpressivo. Estamos muito distantes das metas propostas. � mais uma not�cia tr�gica para o ensino m�dio do Brasil”, disse o ministro da Educa��o Rossieli Soares, durante a divulga��o dos resultados. Em Minas, houve crescimento de 0,2 ponto, saindo de 3,7 em 2015 para 3,9 este ano. Os resultados do Ideb mostram que, apesar de o pa�s ter melhorado seu desempenho nos anos finais do ensino fundamental, alcan�ando, em 2017, um �ndice igual a 4,7, a meta proposta, de 5, n�o foi atingida. O pa�s segue melhorando seu desempenho nos anos iniciais do ensino fundamental, alcan�ando em 2017, um �ndice igual a 5,8. A meta proposta foi superada em 0,3 ponto.

Corrida contra as defici�ncias

Enquanto a taxa de reprova��o nos anos iniciais do ensino fundamental � de apenas 2,6% em Minas Gerais, nos finais ela sobe e chega a 12,4% no 9º per�odo. Na 1ª s�rie do n�vel m�dio, salta para 28%. “As dificuldades do fundamental 2 v�o se acumulando e, no 9º ano, a decis�o de ir ou n�o para o ensino m�dio se coloca para muitos jovens, que n�o pensam em continuar por causa de defici�ncias que enfrentam ao longo do percurso escolar. Isso mostra que, para se ter resultado no ensino m�dio � preciso trabalhar em todos os n�veis, mas, principalmente, o fundamental 2”, diz  a coordenadora de Implementa��o do Ita� Social, S�nia Dias.

A Secretaria de Estado de Educa��o afirmou, por meio de nota, que vem trabalhando para melhorar a qualidade de todos os n�veis de ensino. Informou que, desde 2015, cerca de 55 mil jovens que estavam fora da escola retornaram aos estudos e que, nos �ltimos tr�s anos, fez campanhas para levar de volta � sala de aula o estudante do ensino m�dio. Entre elas,  a Virada da Educa��o, com o objetivo de reverter a  evas�o escolar. “Em 2015, cerca de 14% dos estudantes de 15 a 17 anos estavam fora da escola e 40% desses estudantes apresentavam distor��o idade/s�rie”, diz a nota.

Entre as medidas tomadas para a melhoria da qualidade, a SEE citou a abertura de turmas do n�vel m�dio no hor�rio noturno; a cria��o da Rede de Educa��o Profissional, que ofereceu mais de 44 mil vagas em 34 cursos, e a oferta do Ensino M�dio em Tempo Integral, hoje em 79 escolas. Na melhoria da aprendizagem, o destaque � para o Acompanhamento Pedag�gico Diferenciado (APD), que investiu na ajuda espec�fica a estudantes com maior dificuldade em leitura e escrita.

A Secretaria Municipal de Educa��o de Belo Horizonte informou, tamb�m por meio de nota, que “os resultados do Ideb mostram que a rede apresentou avan�os”. Acrescentou que s�o promovidas diversas a��es, projetos e programas que abrangem o universo de conhecimento da educa��o infantil e do ensino fundamental. Leituras em Conex�o e Gincana de Matem�tica s�o algumas das iniciativas relacionadas ao ensino de matem�tica e l�ngua portuguesa. “Al�m disso, a secretaria investe na forma��o continuada dos profissionais”, concluiu o texto.

O Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) foi procurado para comentar os resultados na rede, mas n�o deu retorno.