
Enviado especial
Doha – Acabou uma Copa do Mundo sem precedentes. Investimento recorde (mais de R$ 1,2 trilh�o), custos altos para os torcedores e uma log�stica interna facilitada s�o alguns dos fatores que tornaram �nico o torneio sediado no Catar. Entre cr�ticas e elogios, o pa�s considera positivo o saldo final do megaevento. Por um lado, houve muita festa com a quarta maior m�dia de p�blico da hist�ria. Por outro, reclama��es sobretudo pelo tratamento a LGBTQIAP+, mulheres e trabalhadores imigrantes. Terminada a competi��o, j� � hora de pensar no que vai ser a pr�xima. Em 2026, Canad�, M�xico e Estados Unidos receber�o uma edi��o muito diferente em rela��o ao que foi no Oriente M�dio. O Estado de Minas/Superesportes lista cinco diferen�as deste Mundial para o que vai ocorrer daqui a tr�s anos e meio.
Formato
A primeira e mais �bvia diferen�a � no formato de disputa da Copa do Mundo. Desde a edi��o de 1998, s�o 32 participantes divididos em oito grupos de quatro sele��es. Os dois primeiros avan�am ao mata-mata, que tem oitavas, quartas, semi e a grande final.
No Mundial da Am�rica do Norte, ser�o 48 vagas, em formato ainda n�o definido pela Fifa. A divis�o de vagas por confedera��o ser� a AFC (�sia): oito times e mais um na repescagem; CAF (�frica): nove equipes e mais um na repescagem; Concacaf (Am�ricas Central e do Norte): seis times e mais um na repescagem e Conmebol (Am�rica do Sul): seis equipes e mais um na repescagem; OFC (Oceania): um time e UEFA (Europa): 16 equipes.
Dist�ncias
Outra diferen�a significativa � em rela��o ao deslocamento interno de torcedores. No Catar, a maior dist�ncia entre os oito est�dios era de aproximadamente 68km – percurso de carro do Al Janoub, em Al Wakrah, ao Al Bayt, no meio do deserto de Al Khor. Foi poss�vel fazer qualquer trajeto com transporte p�blico gratuito, por meio do nov�ssimo metr� de Doha ou o �nibus express disponibilizado pela organiza��o em dias de jogos.
Em 2026, a log�stica – cr�tica marcante nos Mundiais do Brasil, em 2014, e na R�ssia, em 2018 – voltar� a ser uma quest�o discut�vel. A Fifa escolheu 16 cidades-sede para a competi��o: tr�s no M�xico, duas no Canad� e 11 nos Estados Unidos. Naturalmente, pela dist�ncia entre os pa�ses, as viagens de avi�o voltar�o a ser uma constante para torcedores e jornalistas.
No Catar, rep�rteres credenciados puderam acompanhar at� dois jogos por dia. Ao fim da competi��o, houve jornalistas que compareceram a mais de 30, algo impens�vel em outras edi��es. Entre torcedores, o influenciador brasileiro Lucas Tylty bateu o recorde mundial de partidas em uma mesma Copa e se prop�s a frequentar cada uma das 64, da abertura � final.
Daqui a quatro anos, a maior dist�ncia entre cidades ser� 70 vezes maior do que os 68km do Catar. Quase 5 mil km separam Vancouver, no Canad�, e a Cidade do M�xico. Voos diretos entre as duas sedes demoram cerca de seis horas.
Ainda n�o se sabe exatamente como a Fifa distribuir� as sele��es entre as 16 cidades. A tend�ncia � que a entidade separe os jogos de cada grupo por regi�o ou pa�s, a exemplo do que fez em 2002, no Mundial dividido entre Jap�o e Coreia do Sul. � poss�vel que, por exemplo, uma sele��o jogue toda a fase inicial da Copa em uma s� regi�o para diminuir os deslocamentos.
"Vamos tentar organizar a Copa de um jeito que as sele��es e os f�s n�o tenham que viajar muito. No momento oportuno, vamos decidir o local da abertura e o palco da final", assegurou o presidente da Fifa, Gianni Infantino.
Infraestrutura
O Catar fez a Copa do Mundo mais cara da hist�ria ao investir cerca de R$ 1,2 trilh�o em obras de infraestrutura, como est�dios, rodovias, metr� e at� uma cidade. Lusail, palco da final de ontem, entre Argentina e Fran�a, foi constru�da do zero para receber dez jogos do Mundial.
V�rias arenas gigantes foram erguidas em um pa�s sem tradi��o no futebol. “Quando assistimos a jogos, costumamos assistir de casa mesmo”, disse o motorista catari Khalouf. Justamente por isso, a organiza��o local decidiu desmantelar a maioria dos est�dios e transform�-los em estabelecimentos comerciais, mesquitas e centros m�dicos, por exemplo.
Para 2026, a Fifa espera que tudo seja bem diferente, tanto nos investimentos em infraestrutura, quanto no legado deixado pela competi��o. Estados Unidos, M�xico e Canad� t�m tradi��es bem diferentes no futebol, mas uma coisa em comum: grandes e modernos est�dios para receber a Copa. Comparado ao Catar, quase nada precisar� ser feito.
Pre�os
“N�s n�o estamos em condi��es para isso”, resumiu o argentino Adrian Pablo De Reatti, que saiu de Buenos Aires para acompanhar a sele��o no Oriente M�dio. Ele conta que, muitos dos 30 mil compatriotas que viajaram ao Catar tiveram que fazer “loucuras” financeiras para conseguir assistir � campanha da Alviceleste.
De fato, a Copa do Catar � a mais cara da hist�ria n�o apenas em investimentos da organiza��o, mas tamb�m para os torcedores. Estima-se que era necess�rio pelo menos R$ 30 mil para ficar dez dias no pa�s, considerando passagens, hospedagem, alimenta��o e ingressos.
N�o que o pr�ximo Mundial v� ser barato para a torcida, mas a expectativa � que haja maior flexibilidade para que cada um adapte a viagem � pr�pria realidade financeira. No Catar, n�o havia possibilidade de se hospedar em locais de custo mais baixo, como hostel ou AirBnB, por exemplo. As op��es estavam limitadas aos estabelecimentos oficiais da Fifa, o que tornou tudo mais caro.
Outro custo bem alto no Catar foi a alimenta��o, por dois motivos principais: por estar no meio do deserto, o que naturalmente faz com que tenha que importar a maior parte dos alimentos, e por ter uma renda m�dia consideravelmente superior ao resto do planeta.
Em 2026, haver� o ponto negativo de provavelmente se gastar mais com passagens a�reas. Por�m, os custos com hospedagem e alimenta��o certamente ser�o bem menores.
Cultura, pol�tica e comportamento
A Copa do Mundo do Catar foi muito criticada no Ocidente pela criminaliza��o � popula��o LGBTQIAP . Em v�rios epis�dios, a bandeira do arco-�ris foi barrada na porta dos est�dios. Foi ainda um Mundial com pouqu�ssimas mulheres nas arquibancadas. S�o v�rios os fatores que justificam isso, como as leis e os costumes locais que afastaram o p�blico feminino das arenas, al�m do fato de ser um pa�s majoritariamente masculino. Cerca de 70% da popula��o � composta por trabalhadores imigrantes. A maioria � formada por homens que se mudam para o Catar sem as fam�lias.
N�o que machismo, homofobia e maus tratos a imigrantes n�o existam nos pa�ses-sede da pr�xima Copa do Mundo. Pelo contr�rio. Mas a expectativa para 2026 � que v�rias causas sociais e pol�ticas n�o sejam combatidas pelos governos locais. Outro protagonista que volta � a cerveja, �tem de luxo proibido no entorno dos est�dios no Catar.
Sedes da Copa 2026
- Estados Unidos: Atlanta, Boston, Dallas, Houston, Kansas City, Los Angeles, Miami, Nova York/Nova Jersey, Filad�lfia, S�o Francisco e Seattle
- Canad�: Vancouver e Toronto
- M�xico: Guadalajara, Cidade do M�xico e Monterrey.
