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Estado de Minas

Pesquisa diz que maioria de caminhoneiros envolvidos em acidente usava drogas

Pesquisa in�dita com caminhoneiros mostra que maioria dos envolvidos em acidentes usava drogas que espantam o sono, mas alteram comportamento e p�em zumbis � solta em estradas


postado em 06/05/2012 07:15 / atualizado em 06/05/2012 11:53

Caminhoneiro da cidade de Anapolis, em Goias, fala sobre o uso de estimulantes proibidos no estacionamento da CEASA-MG.(foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
Caminhoneiro da cidade de Anapolis, em Goias, fala sobre o uso de estimulantes proibidos no estacionamento da CEASA-MG. (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)
 

Caminhoneiros que batem, tombam seus ve�culos ou atropelam pedestres nas estradas que conduzem a Minas Gerais guiam sem dormir, turbinados por estimulantes � base de anfetaminas. A propor��o � o que indica pesquisa da Faculdade de Ci�ncias M�dicas de Minas Gerais com condutores de ve�culos de carga nas Centrais de Abastecimento de Minas Gerais (CeasaMinas), em Contagem, na Grande BH. O trabalho in�dito mostra que 50,9% dos condutores de cargas que se acidentaram fazia uso das drogas conhecidas como rebites, cuja import�ncia no universo dos desastres nunca foi estudada a fundo. A estat�stica � ainda mais alarmante quando se leva em conta que praticamente um a cada dois acidentes em rodovias mineiras no ano passado teve envolvimento de carretas e caminh�es, como mostrou a s�rie “Homens-bomba ao volante”, publicada pelo Estado de Minas entre janeiro e fevereiro.

Motoristas que tomam anfetaminas se tornam euf�ricos, t�m a capacidade de julgamento afetada e n�o dormem por horas a fio. O risco de causar um acidente quando seus reflexos falharem ou de dormirem quando o efeito do rebite passar � 95% maior do que o de quem n�o consome drogas. A propor��o � resultado do c�lculo de preval�ncia feito pela equipe de pesquisa da Faculdade de Ci�ncias M�dicas, coordenada pelo professor e m�dico-perito Leandro Duarte de Carvalho. “Conclu�mos que o problema das anfetaminas nas estradas � t�o grave quanto o do �lcool nas ruas da cidade. E � algo de que o caminhoneiro dificilmente consegue escapar, na situa��o atual, com a press�o, o prazo de entrega, os pr�mios, as comiss�es, tudo para apress�-lo”, considera o m�dico.

A pesquisa foi feita com entrevistas entre 2008 e 2010 e ser� apresentada neste ano no 22º Congresso da Academia Internacional de Medicina Legal (IALM), em Istambul, na Turquia. Foram 216 entrevistados, dos quais 51,3% admitiram fazer uso de anfetaminas para dirigir. A CeasaMinas foi escolhida por concentrar motoristas de diversas as estradas do Brasil, que t�m um prazo de entrega mais r�gido, por transportar quase sempre produtos perec�veis. “� importante que n�o culpemos apenas os caminhoneiros, taxando-os de irrespons�veis. A condi��o de trabalho da categoria � muito ruim”, alerta Carvalho. “Numa certa per�cia que fiz, o caminhoneiro acidentado disse ter dirigido por 17 horas direto. N�o acreditei, porque � um esfor�o desumano. Solicitei os registros da empresa. Para minha surpresa, os dados confirmaram a alega��o do motorista”, conta o m�dico.

O que parecia caso isolado se mostrou quase uma regra depois da pesquisa. Dos entrevistados que consomem anfetaminas, 86,9% afirmaram conduzir o ve�culo por mais de 13 horas ininterruptas, sendo que 75,8% disseram dormir menos de cinco horas di�rias. A frequ�ncia de utiliza��o da droga tamb�m � alta: 57,1% dos entrevistados afirmaram usar os estimulantes pelo menos tr�s vezes por semana. “Tomo rebite direto para rodar por tr�s dias seguidos. Se n�o for assim, n�o dou conta. E � meu pr�prio patr�o quem diz para n�o esquecer dele (do rebite)”, admite um caminhoneiro de An�polis (Goi�s) que roda 820 quil�metros at� Minas para entregar 17 toneladas de abacaxi na CeasaMinas. A rotina j� conduziu a acidentes. No �ltimo, o efeito do rebite passou e o caminhoneiro dormiu de repente, atingindo a traseira de uma carreta que seguia na frente. Assustado, acordou entre as ferragens retorcidas, sentindo dores lancinantes.

A situa��o que envolve profissionais como ele � t�o grave que somente um acordo que envolvesse sindicatos, empresas, fiscais das pol�cias rodovi�rias, Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (Dnit) e Departamentos de Estradas de Rodagem poderia resolv�-la, afirma o m�dico perito Leandro Carvalho. “Os sindicatos n�o deixam as empresas fiscalizar os caminhoneiros e fazer testes espec�ficos para dosagens de subst�ncias. Muitas empresas tamb�m n�o se empenham, pois exigem muito dos caminhoneiros”, considera. Enquanto isso, a fiscaliza��o � in�cua. “Os baf�metros brasileiros n�o conseguem apontar quem usou drogas, uma vez que s�o desenhados para detectar a presen�a de �lcool. Temos de mudar nossa mentalidade. As anfetaminas est�o matando nas estradas e equipamentos de testes r�pidos para essas subst�ncias s�o mais baratos que um etil�metro. Mas falta interesse para motivar uma fiscaliza��o adequada destes condutores”, alerta o especialista.

"Rodei tr�s dias vidrado. Nem lembro do rebite passando. S� apaguei. Dei por mim todo cortado, no meio dos ferros do meu caminh�o e os da traseira da carreta em que bati. A dor era demais. Achei que fosse morrer"
, caminhoneiro de 33 anos, de An�polis (GO)


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