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Estado de Minas

Calmante Rivotril vira febre em Minas Gerais

Estudo revela que mais de 15 milh�es de comprimidos de Rivotril foram distribu�dos pelo SUS em apenas 10 cidades mineiras em 2012. Uso abusivo do tarja preta para ins�nia e ansiedade preocupa m�dicos


postado em 25/01/2013 00:12 / atualizado em 25/01/2013 07:21

Luciane Evans



Tristeza, ansiedade, ins�nia e ang�stia sem motivos aparentes t�m tornado muita gente dependente de um medicamento tarja preta com �ndice de depend�ncia maior ou semelhante ao �lcool e � coca�na. Levantamento in�dito do Sindicato dos Farmac�uticos de Minas Gerais (Sinfarmig), obtido com exclusividade pelo Estado de Minas, aponta que o uso de Rivotril, cujo princ�pio ativo � o clonazepam, explode na rede p�blica das 10 cidades avaliadas, que consumiram juntas mais de 15 milh�es de comprimidos distribu�dos pelo Sistema �nico de Sa�de (SUS) em 2012. Chama a aten��o o consumo em cidades pequenas, como Bonfim, na Grande BH, onde s� no ano passado foram distribu�dos 70 mil comprimidos para os pouco mais de 6 mil moradores, uma m�dia de 10 para cada.

A realidade acende o alerta na classe m�dica, que tenta encontrar justificativas para os dados que v�o desde falta de toler�ncia das pessoas em lidar com as frustra��es at� a prescri��o equivocada dos m�dicos. A droga, prescrita a quem sofre de ansiedade, ins�nia e depress�o, � a tarja preta mais consumida no Brasil. Segundo a Ag�ncia Nacional de Vigil�ncia Sanit�ria (Anvisa), s� em 2011 foram 18,45 milh�es de caixas com 30 comprimidos (553 milh�es de p�lulas) vendidas nas farm�cias particulares no Brasil, um aumento de 36% em rela��o a 2010. Cada uma pode custar at� R$ 10.

Por se tratar de medica��o controlada, s� � adquirida com receita. “Os dados da Sinfarmig se referem aos rem�dios distribu�dos pelo SUS, n�o contemplam as compras feitas em farm�cias privadas. Por isso, a situa��o � perigosa. Trata-se de um consumo expressivo e um grave problema de sa�de p�blica que merece a aten��o das autoridades”, afirma o diretor do sindicato, Rilke Novato P�blio, acrescentando que as doses causam depend�ncia e efeitos colaterais, como sonol�ncia, dificuldades no processo de aprendizagem, perda da mem�ria e at� parada card�aca.

“Se me tirarem essa droga, n�o dormiria nunca mais. Sou viciada”, avisa Luciana Vieira, de 34 anos, moradora de Bonfim, na Grande BH. Desde 2007, quando apresentou sintomas de depress�o, ela toma o rem�dio. “N�o conseguia dormir, ficava ansiosa e muito triste. Desde ent�o, tomo dois comprimidos toda noite”, conta. Ela diz que h� algum tempo a medica��o passou a n�o fazer efeito e o m�dico optou por outros antidepressivos associados ao Rivotril. “Aqui na cidade todos tomam. N�o temos muito o que fazer, n�o h� lazer para n�s”, reclama Luciana, preocupada com efeitos da medica��o. “Outro dia, n�o sentia mais os meus bra�os.”

Nelson Parreiras Lara, de 57, tamb�m morador de Bonfim, conta que h� seis anos toma a medica��o e tem aumentado o uso. Hoje toma quatro por dia. Ele mostra os p�s inchados, que, segundo ele, s�o resultado dos comprimidos.

"Meu filho, R�mulo, de 9 anos, teve diagn�stico de depress�o. Os m�dicos receitaram Rivotril, e ele est� dormindo bem e n�o chora tanto" - Gesiane de Oliveira, dona de casa de Piedade dos Gerais (foto: Cristina Horta/EM/D.A Press)
Preocupada com a realidade, a rec�m-empossada secret�ria municipal de Sa�de, Rose Marie Marques, diz que vai estudar o assunto a fundo. “A quantidade de consultas para a psiquiatria tamb�m � alta. � curioso tantas pessoas usarem uma medi��o forte como essa”, desconfia.

Demanda Em Piedade dos Gerais, a demanda por Rivotril aumenta 10% a cada ano, segundo a Secretaria Municipal de Sa�de. Esta semana, os comprimidos estavam em falta no �nico posto de sa�de da cidade, mas havia a medica��o em gotas. “A demanda � alta. Mais de 70% dos moradores s�o dependentes da medica��o”, lamenta o secret�rio de Sa�de de Piedade dos Gerais, Vicente Nicodeno dos Santos. Os profissionais de sa�de dizem estar de m�os atadas. “O n�mero � bem maior. Sabemos que pacientes passam medica��es para os vizinhos e amigos. Al�m disso, h� os que compram em farm�cias at� sem receita”, alerta a farmac�utica Simone Amorim. Segundo ela, uma caixa com 30 comprimidos � suficiente para um m�s, “mas poucos tomam uma p�lula por dia. Geralmente, s�o tr�s ou quatro.”

S�o pessoas dependentes h� muito tempo. “N�o temos o que fazer. Se tirarmos a medica��o, � poss�vel que tenham um surto”, comenta o cl�nico geral do munic�pio, Geraldo Carlos Caixeta.

“Piedade dos Gerais � tranquila, mas h� uma ansiedade, uma tristeza”, comenta Gra�a Francisco de Jesus, de 64 anos, que h� sete anos toma os comprimidos. “Meu filho, R�mulo, de 9 anos, teve diagn�stico de depress�o. Os m�dicos receitaram Rivotril, e ele est� dormindo bem e n�o chora tanto”, conta Gesiane de Oliveira, que durante a gravidez diz ter tido depress�o. “Aqui, quase todo mundo tem.”

 


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