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Estado de Minas

Traficantes de �rg�os torturavam v�timas no Sul de Minas

EM localiza fam�lias de v�timas do que a Justi�a trata como 'm�fia dos transplantes' e ouve den�ncias de que pacientes que deveriam estar no CTI passavam at� fome em enfermarias


postado em 26/02/2013 06:00 / atualizado em 27/02/2013 18:00

Vista da Irmandade Santa Casa de Misericordia de Poços da Caldas. (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
Vista da Irmandade Santa Casa de Misericordia de Po�os da Caldas. (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)


Po�os de Caldas, Bandeira do Sul e  Carvalh�polis – Estudos da �rea de seguran�a p�blica definem “m�fia” como uma organiza��o com estrutura hier�rquica definida, m�ltiplas atividades criminosas e influ�ncia velada sobre o poder p�blico. Treze anos depois das primeiras den�ncias de assassinato de pacientes para tr�fico de �rg�os humanos em Po�os de Caldas, no Sul de Minas, esse � o tipo de grupo descrito por promotores e ju�zes de Belo Horizonte que tomaram a frente das apura��es e das a��es judiciais que resultaram delas. Os trabalhos se referem a uma s�rie de den�ncias, encabe�adas por pelo menos oito mortes suspeitas e transa��es il�citas de �rg�os por meio de uma lista de receptores paralela � oficial. Mais impressionante do que os relatos sobre o grupo de m�dicos suspeito de deixar pacientes definhar deliberadamente e at� retirar v�sceras de v�timas ainda vivas, por�m, s�o relatos de horror feitos por parentes dessas pessoas. A reabertura das investiga��es leva alguns desses familiares, localizados pelo Estado de Minas, a reviver os dias de ang�stia enfrentados durante as interna��es na Santa Casa de Po�os de Caldas, na qual operava o grupo investigado, e onde, segundo contam, pacientes chegavam a passar fome enquanto, de acordo com a Justi�a, eram deixados para morrer.

As den�ncias, segundo autoridades que assumiram os processos, passaram anos diante do descaso oficial de policiais e promotores locais. A primeira senten�a , divulgada na �ltima semana, saiu depois da designa��o de autoridades de fora para assumir os casos. Nela foram condenados em primeira inst�ncia quatro r�us, todos m�dicos. Alexandre Crispino Zincone, de 48 anos, recebeu pena de 11 anos e meio de pris�o; Jo�o Alberto Go�s Brand�o, de 44, Celso Roberto Frasson Scafi, de 50, e Cl�udio Rog�rio Carneiro Fernandes, de 53, foram condenados a oito anos cada um. Todas as penas s�o em regime fechado, embora os r�us possam recorrer em liberdade. As acusa��es contra F�lix Herman Gamarra Alc�ntara, de 71, e G�rsio Zincone, de 77, caducaram, devido ao fato de serem maiores de 70 anos, embora a Justi�a tenha considerados  procedentes fatos pelos quais foram denunciados. A defesa dos acusados informou j� ter recorrido da decis�o.

O �nico caso julgado diz respeito � morte de Jos� Domingos Carvalho, que faleceu em 2001, aos 38 anos. Segundo senten�a de primeira inst�ncia, ele foi morto na Santa Casa de Po�os de Caldas para ter os �rg�os traficados. Mais de 12 anos depois de enterr�-lo, seus parentes, assim como de outras supostas v�timas da organiza��o, vivem hoje uma ang�stia. N�o sabem se foi sua autoriza��o no papel da MG Sul Transplantes – entidade criada em Po�os de Caldas para burlar a lista de espera oficial de receptores de �rg�os e tecidos, segundo a Justi�a – que permitiu ao grupo investigado tirar a vida do paciente para lucrar com rins, c�rneas, cora��o e f�gado. “A gente leva a pessoa para o hospital para ver ela sair bem. Para ser curada. N�o para morrer nas m�os de quem deveria salvar”, desabafa o pedreiro J�nior Aparecido de Carvalho, hoje com 26 anos, filho da v�tima.

"Tiraram o meu pai. Tive de ser pai para meu irm�o aos 14 anos. Isso nunca vai sarar", J�nior Aparecido de Carvalho, filho de Jos� Domingos Carvalho, diante do t�mulo do pai, morto na Santa Casa de Po�os de Caldas em 2001, aos 38 anos, para ter �rg�os traficados, segundo senten�a judicial (foto: Marcos Michelin/EM/D.A Press)
A morte do pai ainda assombra o rapaz, que tinha apenas 14 anos quando o enterrou. “Meu filho, n�o esquece de ajudar sua m�e e de preparar os queijos para a gente pescar quando eu sair daqui do hospital.” Foram as �ltimas palavras do pai para J�nior. Antes de ser levado para a unidade de sa�de de onde s� sairia morto, Jos� Domingos sofreu mal s�bito e desmaiou em casa. Foi transportado para o posto m�dico da sua cidade, Bandeira do Sul, e depois para Po�os de Caldas, a 19 quil�metros, onde se internou na Santa Casa. Foi l� que a fam�lia viu o homem piorar sem receber o que julgaram ser um tratamento adequado. “Meu pai ficou ali seis dias, no meio de 10 pacientes. Um dia, encontramos com ele tentando fugir. Perguntamos o que tinha acontecido e ele disse: ‘Vou sair, porque estou morto de fome. Ningu�m me d� comida’”, lembra J�nior. Depois do epis�dio e dos protestos da fam�lia, o homem recebeu um pouco de sopa. “Quase comeu o prato, de tanta fome”, lembra, entristecido, o filho.

Trechos da senten�a que condenou os m�dicos respons�veis pelo atendimento do pai de J�nior refor�am as suspeitas da fam�lia. “Verifica-se que o paciente n�o teve o tratamento adequado, pois desde o in�cio o interesse das equipes m�dicas era na retirada de seus �rg�os para fins de transplante. N�o se concebe um paciente com um quadro t�o grave ficar internado dias na enfermaria geral”, escreveu o juiz Narciso Alvarenga Monteiro de Castro, da da 1ª Vara Criminal de Po�os, que julgou o caso, referindo-se ao diagn�stico de aneurisma da v�tima.

No sexto dia de interna��o, quando os parentes foram visitar Jos� Domingos, s� encontraram o par de chinelos dele sob a cama. Foi quando a fam�lia foi informada da morte cerebral. “Veio uma psic�loga conversar com a gente por duas horas sobre a doa��o dos �rg�os. Disse que uma pessoa poderia voltar a ver por causa das c�rneas do meu pai. A gente estava muito triste, mas concordou”, relembra J�nior. Foi s� depois do enterro, quando a fam�lia se resumiu � m�e, catadora de caf�, ao irm�o, ent�o com 6 anos e a J�nior, que veio a segunda pior not�cia: a suspeita de tr�fico de �rg�os. “Foi a Pol�cia Federal que nos procurou e contou tudo. Tiraram o meu pai. Tive de ser pai para meu irm�o aos 14 anos. Isso nunca vai sarar.”

Confira o depoimento:

 

 


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