Imprud�ncia torna a Rodovia da Morte ainda mais perigosa

Paulo Henrique Lobato

Hoje � uma data triste para a fam�lia do empres�rio Adahyr Geraldo Syrio J�nior, de 32 anos. H� exatamente quatro anos, ele viu o irm�o, Alberty, morrer na Rodovia da Morte, como � conhecido o trecho de 110 quil�metros da BR-381 entre Belo Horizonte e Jo�o Monlevade. Os dois estavam numa van atingida por um caminh�o carregado com vergalh�es que passou direto na curva do km 435, depois de Sabar�, em alta velocidade. A imprud�ncia do condutor do caminh�o deixou seis mortos e 13 feridos. Todos ocupantes da van, que levava universit�rios da capital para Caet�.

O desrespeito �s leis de tr�nsito � o tema da segunda reportagem sobre os 50 anos da primeira morte no trecho mais perigoso da BR-381. O acidente que matou Alberty e feriu Adahyr ocorreu a cinco quil�metros da curva em que Te�filo Severino, a primeira v�tima da Rodovia da Morte, foi atropelado. Se a via fosse duplicada e houvesse divis�o f�sica entre as dire��es opostas, possivelmente o caminh�o n�o teria atingido a van com universit�rios. Mas a demora de autoridades para revitalizar o trecho – os editais para duplica��o est�o suspensos, com promessa de retomada no fim do m�s – n�o � o �nico problema na rodovia.

A imprud�ncia tamb�m contribui para o alto n�mero de mortes. De 2007 a 2012, foram 461 �bitos, segundo balan�o da Pol�cia Rodovi�ria Federal (PRF). Para se ter ideia do quanto usu�rios – motoristas, passageiros, ciclistas e pedestres – ignoram as leis de tr�nsito, balan�o da PRF indica a aplica��o de 12.832 multas em 2012 – m�dia de 35 por dia. Para piorar, a primeira infra��o no ranking em 2012, com 3.746 ocorr�ncias, foi a ultrapassagem em local proibido. O n�mero ganha dimens�o uma vez que o tra�ado sinuoso da estrada, com cerca de uma curva a cada 500 metros, facilita colis�es frontais, principais causas de mortes. Dos 461 �bitos registrados no trecho entre 2007 e 2012, 207 – 45% do total – ocorreram em raz�o desse tipo de batida, de acordo com a PRF.

Radares

O Dnit instalou radares ao longo da via na tentativa de inibir o excesso de velocidade. Um dos equipamentos foi colocado na curva em que o caminh�o atingiu a van com universit�rios. A medida veio tarde para os seis ocupantes do escolar. “Toda vez que passo naquele trecho… � complicado falar. Meu irm�o completaria 30 anos em 2013. Morreu muito novo. Montamos um grupo, o S.O.S. BR-381, e j� fomos a Bras�lia, ao Dnit. E o que conseguimos? A rodovia ainda n�o foi duplicada”, lamentou Adahyr. No dia 13, ele e moradores de Caet� planejam interromper o tr�nsito no trevo de acesso � cidade, como forma de pressionar o poder p�blico a acelerar o processo de duplica��o da Rodovia da Morte.

O Dnit, por sua vez, n�o tem previs�o de quando publicar� o edital para licitar a obra. O deputado federal F�bio Ramalho (PV), o Fabinho Lideran�a, por�m, teve uma reuni�o com representantes do �rg�o, na �ltima semana, e diz que o governo assegurou que os novos editais ser�o publicados ainda este m�s. Em 2013, todos os editais que previam interven��es na pista foram suspensos. A medida deixou o caminhoneiro Geraldo Ricardo Lana, de 50 anos, indignado. Ele passa todas as semanas pelo trecho. “Levo carga seca de Belo Horizonte a Vit�ria (ES) e nessa estrada prec�ria. Todo ano preciso trocar o amortecedor por causa do asfalto ruim. Gasto no m�nimo R$ 840”, disse.

Ranking das multas
Infra��o    2012
Ultrapassagem proibida    3.746    
Transitar pelo acostamento    1.744    
Ve�culo sem licen�a    1.127
Ultrapassagem pelo acostamento    634    
Motorista sem CNH    594
Ve�culo em mau estado de conserva��o    549
Passageiro sem cinto de seguran�a    458
Condutor sem cinco de seguran�a    455
Ve�culo sem documento de porte obrigat�rio    442
Ultrapassar pela contram�o em viadutos    256
Outras    2.827
Total    12.832

50 anos de perigo
Na primeira reportagem da s�rie sobre os 50 anos do primeiro �bito na Rodovia da Morte, o Estado de Minas relatou dramas e traumas de quem perdeu parentes no trecho e mostrou que a estrada continua oferecendo risco. No trecho de 110 quil�metros entre BH e Jo�o Monlevade, a estrutura defasada, o tra�ado sinuoso e a m� conserva��o das pistas exp�em quem passa pela rodovia a risco.