
O trote com conota��es racistas e uma refer�ncia ao nazismo ocorrido na semana passada na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) continua gerando rep�dio � atitude dos estudantes, mobilizando associa��es estudantis e outras institui��es no estado.
Al�m do encontro que come�ou no in�cio da tarde na Pra�a de Servi�os do c�mpus Pampulha, com representantes do Centro Acad�mico Afonso Pena (CAAP), representante dos alunos de Direito, a Assembleia Nacional dos Estudantes - Livre (ANEL) e o Movimento Mulheres em Luta (MML) v�o participar de duas reuni�es sobre o caso nesta ter�a-feira: ao meio-dia na Faculdade de Direito, tamb�m com participa��o do CAAP e �s 17h na arena da Faculdade de Filosofia e Ci�ncias Humanas (Fafich), tamb�m na Pampulha.
O caso ganhou repercuss�o nacional na segunda-feira, com duas fotos divulgadas em um perfil no Facebook que mostram uma estudante com o corpo pintado com tinta preta, acorrentada e puxada por um veterano. Ela ostenta uma placa com os dizeres “caloura Chica da Silva”, em refer�ncia � famosa escrava que viveu em Diamantina no s�culo 18, liberta ap�s se envolver com um contratador de diamantes. Em outra foto, um calouro est� amarrado a uma pilastra enquanto outros tr�s estudantes fazem uma sauda��o nazista. Um deles pintou um bigode semelhante ao do ditador alem�o Adolf Hitler. Al�m da situa��es mostradas nas imagens, a ANEL foi informada de que algumas alunas tiveram que ingerir bebida alco�lica de um funil em formato de p�nis.

Segundo Juliana Rocha, da executiva nacional da ANEL em Minas Gerais e estudante de Veterin�ria na UFMG, os trotes agressivos na universidade s�o comuns. “A gente ficou sabendo desse trote pelo Facebook, vimos as fotos e imediatamente decidimos fazer uma reuni�o a respeito. A gente entende que a quest�o dos trotes opressores � recorrente na universidade. O caso do Direito � um caso de racismo absurdo, mas � mais um que acontece na nossa universidade hoje”, diz a estudante.
“A gente enxerga que existe um mito de que n�o existe racismo no nosso pa�s. Somada a isso a falta de negros nas universidades p�blicas, isso refor�a a quest�o da opress�o ao negro. O racismo n�o � natural e pode se expressar de diversas formas, n�o foi uma 'brincadeira' foi uma agress�o que extrapola o limite dos alunos e dos envolvidos. Isso agride a todos os negros. N�o se pode naturalizar esse caso de agress�o racista. Fazendo tamb�m alus�o ao nazismo que matou centenas de pessoas. Fazer apologia a isso � crime”, explica. A convoca��o para as reuni�es de hoje foi feita atrav�s de um evento no Facebook para atrair diferentes setores da sociedade. A estudante ressaltou que a administra��o central da universidade deve tomar para si a responsabilidade de punir os envolvidos.
O presidente da Federa��o Israelita do Estado de Minas Gerais (FISEMG), Marcos Brafman, informou que a institui��o est� acompanhando atentamente o epis�dio e que a comiss�o jur�dica avalia o assunto. “A princ�pio, os atos praticados configuram crime no artigo 20 da Lei 7716/89 (crime da racismo). � evidente que num primeiro momento cabe � Faculdade de Direito apurar o que aconteceu e na pr�pria faculdade. As pessoas que fizeram isso, como s�o maiores de idade, naturalmente t�m que ser responsabilizadas pelo que fizeram. Porque isso est� previsto no C�digo Penal, que � incita��o � discrimina��o e o racismo. O artigo 20 � bem claro, que � incitar a discrimina��o ou preconceito de ra�a, cor, etnia, religi�o ou proced�ncia nacional. Ainda mais sendo feito por estudantes de direito”, destaca Marcos Brafman.
Repercuss�o na UFMG
O Diret�rio Central dos Estudantes (DCE) da UFMG tamb�m repudiou o trote da Faculdade de Direito em nota divulgada ontem. “A universidade passa hoje por um processo de transforma��o, incluindo cada vez mais os setores populares, exclu�dos dela at� ent�o. Este tipo de a��o vai na contram�o da universidade que acreditamos e � fruto do pensamento conservador vigente, que n�o aceita as mudan�as de car�ter popular”, diz a nota.
O CAAP, em reuni�o extraordin�ria tamb�m na segunda-feira ouviu os envolvidos, se manifestou contra o trote e tamb�m contra a abordagem que os envolvidos vem sofrendo pela internet. “(...) o Centro Acad�mico, respaldado pelas diversas opini�es manifestadas pelo corpo discente, recebidas em Reuni�o Geral Extraordin�ria do dia 18 de mar�o, e pelos depoimentos dos veteranos e calouros participantes do trote, repudia veementemente a atitude ocorrida, bem como o ass�dio virtual que tem reca�do sobre os protagonistas das fotos. Ressaltamos, ainda, que devem ser respeitados os direitos individuais de todos os envolvidos”.
A UFMG est� apurando os fatos e, na tarde de segunda-feira, vice-reitora Rocksane de Carvalho Norton informou que os alunos respons�veis pelo trote podem at� ser expulsos da universidade. Em mar�o do ano passado, a dire��o da UFMG j� havia informado que iriam punir os veteranos que insistiam em fazer as brincadeiras. A pol�tica de toler�ncia zero surgiu depois que estudantes de turismo relataram que duas calouras foram amarradas a um poste. Os veteranos se vestiram de policiais militares e colocaram camisinhas na ponta de cassetetes, obrigando os novos universit�rios a introduzir o objeto na boca.