
Em rep�dio ao trote ocorrido sexta-feira no pr�dio da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), organiza��es do movimento estudantil deve realizar um protesto hoje, data que a Organiza��o das Na��es Unidas (ONU) instituiu como Dia Internacional de Combate ao Racismo. A concentra��o dos manifestantes est� prevista para as 8h, na Pra�a Afonso Arinos, no Centro de Belo Horizonte. Por volta das 9h, o grupo segue para um p�tio no terceiro andar do edif�cio, onde uma encena��o coletiva pretende criticar piadas e “brincadeiras” de conota��o preconceituosa.
O ato, que inclui a distribui��o de panfletos e cartazes, tem a participa��o do Diret�rio Central dos Estudantes (DCE) da UFMG, da Assembleia Nacional de Estudantes Livre (Anel), da Uni�o Estadual dos Estudantes (UEE), do Sindicato dos Trabalhadores nas Institui��es Federais de Ensino (Sindifes) e da Uni�o de Negros pela Igualdade (Unegro). “A ideia � dialogar com o fato de algumas pessoas acharem que o que aconteceu no trote foi uma brincadeira”, explica a estudante de psicologia Andressa de Ara�jo Moreira, da Anel.
O que parte dos alunos da faculdade tem considerado uma “brincadeira de mau gosto” s�o as cenas mostradas em fotos divulgadas na internet. Em uma delas, uma jovem, com o corpo tingido de preto, tem uma placa em que se l� “caloura Chica da Silva” e as m�os atadas por uma corrente segurada por um veterano. Em outra foto, ao lado de um calouro amarrado a uma pilastra, tr�s veteranos fazem sauda��o semelhante � dos nazistas, um deles com um bigode pintado parecido com o do ditador Adolf Hitler.
As entidades autoras do manifesto divergem com rela��o � puni��o. “O que temos que cobrar � conscientiza��o, que a cada semestre se fa�a uma campanha contra o racismo e outras formas de preconceito. As faculdades tamb�m devem ficar mais atentas, deve haver uma fiscaliza��o mais eficaz por parte dos colegiados e coordena��es de cursos”, opina o presidente da UEE, o estudante de hist�ria Rafael Leal.
Presidente da se��o mineira da Unegro, o estudante de ci�ncias do Estado Alexandre Braga acredita que os alunos n�o devam ser expulsos. “Eles e outros que tenham feito trotes ofensivos t�m que pegar uma suspens�o de tr�s meses. Isso ajudaria a evitar que esses casos se repetissem”, sugere. Ele acusa de omiss�o a dire��o da faculdade e o Centro Acad�mico Afonso Pena (Caap), que n�o teriam feito nada para evitar o trote.
No in�cio da noite de ontem, a diretoria do Caap divulgou nota de rep�dio ao trote em que “se compromete a continuar agindo contra pr�ticas discriminat�rias e, de hoje em diante, posicionar-se contra trotes universit�rios tradicionalmente ocorridos nesta e em outras faculdades.”
Chafurdando na lama
Tr�s v�deos dispon�veis no YouTube mostram que os trotes violentos na Faculdade de Direito da UFMG n�o s�o novidade. O primeiro, que mereceu uma reportagem do SBT em 2010, exibe cenas dos calouros sendo chamados de burros, recebendo ovos na cabe�a e sendo obrigados a mergulhar em lama espalhada no Espa�o Livre Jos� Carlos da Matta Machado, administrado pelo Centro Acad�mico Afonso Pena (Caap). O segundo, feito em 5 de outubro do ano passado, foi postado por um estudante que critica o estado do p�tio da faculdade, cheio de legumes e verduras misturados a lama. No �udio, o narrador denuncia que os calouros foram obrigados a rastejar no barro e diz que isso ocorre no in�cio de todo semestre. O terceiro, de 2011, exibe uma “maratona” constrangedora: calouros de ambos os sexos, vestindo fraldas geri�tricas, s�o obrigados a disputar uma corrida na Pra�a Afonso Arinos, durante o dia e no meio do tr�nsito.
Nova den�ncia de racismo na UFMG
Em meio � como��o provocada pelo trote de conota��o racista e nazista promovido h� menos de uma semana na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, outra acusa��o de preconceito no ambiente da UFMG vem � tona. A escola de educa��o b�sica e profissional da institui��o, o Centro Pedag�gico, abriu ontem processo administrativo para apurar a den�ncia de que um professor teria chamado de “macaco” um aluno do 8° ano, de 15 anos. A comiss�o criada para averiguar o caso tem 60 dias para apresentar suas conclus�es.
Segundo a diretora da escola, T�nia Lima Costa, o caso ocorreu na segunda-feira. O professor de portugu�s saiu da sala de aula, depois de deixar os alunos assistindo ao filme � procura da felicidade. “Quando ele voltou, os meninos estavam euf�ricos”, relata. Foi quando o homem chamou o garoto de “macaco”, segundo ele mesmo admitiu � diretora, embora tenha alegado que n�o o fez de forma racista. “Ele disse que foi porque os meninos estavam fazendo um barulho parecido com o animal, que estavam fazendo macaquices. Mesmo assim, nada justifica o xingamento”, afirma.
T�nia soube do ocorrido por meio de outro professor. “Pedi ao aluno que me acompanhasse, para conversar com minha equipe pedag�gica. Quando cheguei � sala da dire��o, os pais j� estavam l� e me contaram o que tinha acontecido. Depois, falamos com o professor denunciado, a monitora que estava na sala, o aluno ofendido e os demais estudantes”, conta.
A diretora diz que nunca havia tido not�cia de conduta reprov�vel por parte do educador, funcion�rio do col�gio h� cerca de 20 anos. Caso fique configurada a ofensa racista, o acusado pode ser advertido ou receber puni��es mais severas, como suspens�o ou demiss�o. “Repudiamos qualquer atitude preconceituosa. A escola � p�blica e democr�tica. Um fato como esse mancha nossa hist�ria”, ressalta a dirigente. O professor n�o foi encontrado para comentar o caso.
A m�e do estudante, que n�o quis se identificar, disse a uma emissora de TV que pretendia registrar um boletim de ocorr�ncia na Pol�cia Militar. “O professor passou um filme e saiu da sala. Quando ele retornou, todos estavam falando alto e rindo. O meu filho riu um pouco mais alto. O professor pediu que todos sa�ssem. A� ele disse para o meu filho: 'Voc� vai ficar. Agora quero ver voc� rir, macaco. Ri, macaco’”, afirmou. “Meu filho est� muito chateado.”